Projeto 30 Alunorte
Entrevista de Sebastião Soares de Souza Júnior
Entrevistado por Ligia Scalise
Barcarena, 19 de julho de 2025
Transcrita por Selma Paiva
(00:15) P1 – Sebastião, eu vou pedir pra você começar falando seu nome inteiro, sua data de nascimento, dia, mês e ano e a cidade onde você nasceu.
R1 - Bem, eu sou Sebastião Soares de Souza Júnior, né? Nasci em 31 de julho de 1960, em Belém do Pará, na que hoje é 25 de Setembro, por trás do Bosque Rodrigues Alves.
(00:40) P1 - Alguém te contou como é que foi seu dia de nascimento?
R1 - Não, assim, com detalhes não, né? Só falou que deu tudo certo. (risos)
(00:51) P1 - Foi no hospital?
R1 - Foi.
(00:53) P1 - E o teu nome? Alguém te explicou por que Sebastião?
R1 - É porque o meu pai era Sebastião Soares de Souza Neto. Aí ele colocou Sebastião Soares de Souza Júnior, para dar uma sequência, né?
(01:05) P1 - Quem eram seus pais?
R1 - Era o Sebastião Soares de Souza Neto e Silvina Monteiro de Souza.
(01:12) P1 - De onde eles são?
R1 - Eles nasceram em Cafezal, município próximo ali, de Igarapé-Açu, Maracanã.
(01:20) P1 - Pará?
R1 - Pará.
(01:22) P1 - E você sabe como eles se conheceram e foram parar lá em Belém?
R1 - Bem, eles eram vizinhos, aí se conheceram lá em Cafezal mesmo. Eles casaram, tiveram a primeira filha, minha irmã mais velha, nasceu ainda lá. E depois eles vieram pra Belém, pra uma busca de melhores resultados, busca de trabalho, de coisas novas. Eles vieram, tinha só a minha irmã mais velha.
(01:47) P1 - E vocês são quantos irmãos?
R1 - Nós somos cinco. E mais um de criação, que a minha mãe criou desde... antes dela ter o primeiro filho, ela criou um, que era sobrinho dela. Então, o nosso irmão mais velho era de criação. Depois ela teve três meninas, aí eu sou o quarto e depois meu irmão mais novo. Meu caso teve um caso interessante, porque como já tinham três meninas, não esperava mais que viesse...
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Entrevista de Sebastião Soares de Souza Júnior
Entrevistado por Ligia Scalise
Barcarena, 19 de julho de 2025
Transcrita por Selma Paiva
(00:15) P1 – Sebastião, eu vou pedir pra você começar falando seu nome inteiro, sua data de nascimento, dia, mês e ano e a cidade onde você nasceu.
R1 - Bem, eu sou Sebastião Soares de Souza Júnior, né? Nasci em 31 de julho de 1960, em Belém do Pará, na que hoje é 25 de Setembro, por trás do Bosque Rodrigues Alves.
(00:40) P1 - Alguém te contou como é que foi seu dia de nascimento?
R1 - Não, assim, com detalhes não, né? Só falou que deu tudo certo. (risos)
(00:51) P1 - Foi no hospital?
R1 - Foi.
(00:53) P1 - E o teu nome? Alguém te explicou por que Sebastião?
R1 - É porque o meu pai era Sebastião Soares de Souza Neto. Aí ele colocou Sebastião Soares de Souza Júnior, para dar uma sequência, né?
(01:05) P1 - Quem eram seus pais?
R1 - Era o Sebastião Soares de Souza Neto e Silvina Monteiro de Souza.
(01:12) P1 - De onde eles são?
R1 - Eles nasceram em Cafezal, município próximo ali, de Igarapé-Açu, Maracanã.
(01:20) P1 - Pará?
R1 - Pará.
(01:22) P1 - E você sabe como eles se conheceram e foram parar lá em Belém?
R1 - Bem, eles eram vizinhos, aí se conheceram lá em Cafezal mesmo. Eles casaram, tiveram a primeira filha, minha irmã mais velha, nasceu ainda lá. E depois eles vieram pra Belém, pra uma busca de melhores resultados, busca de trabalho, de coisas novas. Eles vieram, tinha só a minha irmã mais velha.
(01:47) P1 - E vocês são quantos irmãos?
R1 - Nós somos cinco. E mais um de criação, que a minha mãe criou desde... antes dela ter o primeiro filho, ela criou um, que era sobrinho dela. Então, o nosso irmão mais velho era de criação. Depois ela teve três meninas, aí eu sou o quarto e depois meu irmão mais novo. Meu caso teve um caso interessante, porque como já tinham três meninas, não esperava mais que viesse (risos) um menino, né? Aí, quando eu vim, ela disse que foi uma festa. (risos)
(02:19) P1 - Como que era a vida deles, no momento que você nasceu? O que eles faziam?
R1 - A minha mãe era costureira, né? Na realidade, os dois. Meu pai fazia terno também. Ele era alfaiate, que chamava, na época e a minha mãe era costureira.
(02:36) P1 - E a vida deles era uma vida ‘apertada’, difícil?
R1 - Sim, sim, sim. Eles vieram para cá e a minha mãe trabalhou em supermercado, até para ajudar na sequência da nossa criação. Ela largou a costura, foi para o supermercado. Trabalhou muitos anos. E o meu pai continuou, depois ele adquiriu um carro e passou a taxista, aí começou a rodar como taxista.
(03:03) P1 - Como eles se pareciam, fisicamente?
R1 - Olha, eu sou um pouco dos dois, né? Só que meu pai era um rosto mais fino e minha mãe um rosto mais... como é que eu diria?... redondo, né? Então, era muito bonita a minha mãe. (risos)
(03:22) P1 - Pequenininha?
R1 - É, um metro e 65 centímetros.
(03:29) P1 - E o cabelo?
R1 - Cabelos longos, lisos. Acredito que talvez um pouco mais puxado para liso, mesmo. E o do meu pai já era pro lado mais encaracolado.
(03:42) P1 - Emociona falar deles?
R1 - Emociona. (risos)
(03:47) P1 - Uma memória boa, né?
R1 - Sim. Eu não tenho mais meu pai, (choro) mas minha mãe está aí.
(03:57) P1 - Ela está com quantos anos?
R11 - Noventa. Bem ainda.
(04:05) P1 - Mora em Belém?
R1 - Ela mora em Belém. Hoje ela mora com minha irmã. Aí a gente ainda está com ela, não conseguiu mais ficar na casa dela sozinha, né? Ela sempre quis ficar na casa dela e hoje ela está, não pode mais ficar sozinha. (choro)
(04:30) P1 - Como que era a casa que vocês cresceram?
R1 – Eram bons momentos. Nossa casa era bem grande, o terreno, ali na Vileta, próximo à Duque. Depois que gente saiu da 25, a gente passou pra Vileta. Então, era um quintal muito grande. Então, lá a gente jogava bola, cemitério que chamavam, na época que eles pegaram, tênis de quadra. Eu comprava aquela raquete, jogava tênis. Meu irmão mais novo é dois anos mais novo que eu. Então, a gente jogava bola direto. Tipo assim: chovia e a gente ia pro quintal. Oito, nove horas da noite a gente estava jogando bola. Só nós dois. (risos) Foi muito boa a nossa infância. E na rua, a Vileta, na época, chamava de pedregulho, a rua. E a gente jogava bola naquele pedregulho. Agora com a turma toda da rua, né? Era muito bacana.
(05:28) P1 - Você e seu irmão eram mais próximos, por que eram dois meninos?
R1 - Sim. Nós éramos bem próximos. Nós éramos os mais novos e os dois meninos. O meu irmão de criação já era mais velho. Já era uma diferença muito grande.
(05:44) P1 - E suas irmãs?
R1 - Minhas irmãs eram... sempre foram também muito de esporte. Tenho uma irmã que foi atleta do Pará, hoje ela é do Rotary, diretora dessas modalidades esportivas, ela já foi da Federação de Atletismo, ela lida com tudo isso, foi atleta do Pará, ela corria, fazia atletismo. Hoje ela está nos bastidores.
(06:15) P1 - Qual o nome dos seus irmãos? O nome deles.
R1 - O Adamir é o mais velho, que é o de criação. Depois veio a Sônia, filha mais velha. Depois a Sandra. Depois a Silvia. Aí veio eu, Sebastião. Meu pai me homenageou com o nome dele. E o Silvandro, mais novo.
(06:36) P1 - Todo mundo com S?
R1 - É, todos com S, porque meu pai era Sebastião e a minha mãe Silvina. Então, eles seguiram a linha de manter todos com S. (risos)
(06:47) P1 - Você falou que a sua chegada foi uma festa. O que você lembra? O que te contaram?
R1 - Dessa época não tenho muitas lembranças. Minha mãe dizia que eu era muito chorão. Que eu era o mais chorão de todos, o mais tolo, que ela dizia. (risos) Ela dizia que eu era o mais querido da minha avó, que era a mãe dela. Ela dizia que eu era o mais querido.
(07:15) P1 - É o filhinho, né? Como que eles eram como pais? Eles eram calmos, bravos?
R1 - O meu pai era muito calmo. Ele falava pouco, não era de muitas palavras. Ele conversava, mas não era assim, de se envolver muito. Minha mãe não, minha mãe sempre foi daquelas que queria resolver tudo. Chegava, ia no colégio ver se a gente estava no colégio mesmo. Era daquelas mães mesmo ‘corujinha’, para saber cada passo que a gente dava. Ela era bem rígida, nesse aspecto. Andava mesmo, queria saber de tudo, controlar tudo, inclusive meu pai também. (risos) Inclusive meu pai tinha que ‘andar na linha’ dela também.
(08:04) P1 - Quais eram as regras de casa, assim, que você lembra?
R1 - Olha, primeiro era deixar tudo organizado, limpo, estudar. Ela sempre colocava bem a parte de estudar. Ela não queria que a gente, tipo assim, saísse para a rua para vender nada, que às vezes naquela época tinha coisa: “Não, eu trabalho para trazer tudo para dentro de casa. Não quero vocês na rua”, né? Ela sempre foi desse aspecto de manter a gente, como se fosse manter e preservar, né? “Vocês estão aqui é para estudar, para cuidar da casa, não é para sair”. Aí como a gente tinha um ambiente bom e uma área muito boa, era a rua que vinha para dentro de casa. (risos) Os colegas que vinham, pra jogar bola lá pra casa, essas coisas. Aí realmente a gente não precisava sair muito, mesmo.
(08:52) P1 - E você me falou que você teve uma infância boa. Você lembra de algum momento, às vezes, um aniversário que marcou, um Natal?
R1 - Nós tivemos vários, assim, de comemorações, né? Um que marcou foi mais na parte quando ela já estava mais velha, porque ela foi começando a perder um pouco a memória. A gente, sempre, todo ano queria fazer mais coisas para ver se ela interagia, para ver se ela se lembrava. Aí foi quando a gente fez mais festa pra ela, foi quando ela ficou mais velha.
(09:32) P1 - Mas enquanto criança, você tinha festa de aniversário?
R1 - Tinha, mas as lembranças são poucas já, dessa época. Na parte de infância mesmo, já lembro mais a parte depois dos dez, 12 anos, que aí já tenho uma lembrança melhor.
(09:52) P1 - E dos dez, 12 anos, você tinha algum sonho? Você queria ser alguma coisa?
R1 - Olha, o que eu sonhava, sempre sonhei, foi ser tipo piloto de avião, aeronave espacial. Eu tinha esse sonho. (risos) Não consegui, mas eu tentei ainda buscar. Era o meu sonho pilotar avião. Até astronauta, a gente ficava olhando aquelas coisas, pensava nisso. Até hoje minha mulher diz que eu assisto muito isso. Ela me pega sempre assistindo essas séries de universos, aquelas coisas. É um tema muito interessante pra mim, sempre foi.
(10:36) P1 - E você sabe de onde começou? Você viu na TV?
R1 - Não sei de onde começou. Sei que foi pela TV mesmo, assim, de começar a ver. Começou pelo homem lá na lua, (risos) a gente vendo aquilo. E também acho que imagem de avião, sempre achei muito bacana as aeronaves, pilotar, ter aquele controle, né? Você dentro de uma máquina voar, literalmente, é muito bacana.
(11:08) P1 - Você era um menino sonhador, Sebastião?
R1 - Sim, eu sempre pensava nos bens para frente. Eu tive, da minha primeira mulher, um garoto que é o Michel, que é o mais velho. Desde lá eu comecei pensar: - nessa época eu tinha 22 anos – “Eu tenho que buscar alguma coisa melhor para conquistar, que agora eu já tenho um filho”. Não sabia que depois ainda vinha mais. (risos) Mas naquela época, como eu estava muito inseguro, 22 anos, estava saindo da escola técnica. Aí foi quando eu comecei a virar adulto, ‘virar a página’ do... deixar o menino para trás.
(11:59) P1 - Esse menino ainda, pensando nele aqui, como é foi a adolescência?
R1 - A adolescência foi muito bacana, legal.
(12:08) P1 – Me conta.
R1 - Eu fiz, na adolescência, muito esporte, desde o colégio, joguei muito handebol, voleibol e isso tudo competitivo, sempre fui competitivo, sempre consegui. Futebol. Eu jogava por ganhar dinheiro jogando futebol amador, para jogar. Amador, mas a gente ia jogar em certos lugares, eles pagavam para eu jogar, porque eu não era profissional. Cheguei a treinar em time profissional, mas nunca fui para frente nesse aspecto, de virar um profissional do futebol, mas o pessoal dizia que eu era muito bom de bola.
(12:50) P1 - Qual que era a posição?
R1 - Jogava no meio-campo. Tipo o que chamam hoje de volante, meio-campista ali, nessa faixa de campo que eu gostava de jogar.
(13:02) P1 - E você queria ser profissional?
R1 – Na época eu queria, sim, mas eu fui levado muito também pelas coisas boas que proporcionavam: dinheiro, uma cervejinha aqui, uma festa ali. Aí eu não fui um que era disciplinado, como atleta, para seguir o lado profissional. Aí eu acho que essa falta de disciplina me atrapalhou.
(13:27) P1 - E futebol era uma paixão também para torcer?
R1 - Sim, sim.
(13:32) P1 - Para quem que você torce?
R1 - Eu sou do ‘papão’. (risos) A minha família toda é, desde os meus pais, todos eram Paissandu e a gente foi crescendo sempre com Paissandu.
(13:43) P1 - E isso também fez parte da adolescência? Assistir o jogo, torceu em casa?
R1 – Sim, bastante. Porque como a gente gostava muito de bola e tinha um campo de futebol no quintal, então essa nossa adolescência, infância, foi tudo - principalmente adolescência - voltado mais pro futebol, do que pros outros esportes. Por exemplo, que a minha irmã fez atletismo, aí eu tinha o meu cunhado, que casou com ela, também era atleta. Aí eu ainda cheguei também a me arriscar no atletismo, mas eu não gostei muito (risos) e rapidamente eu saí. Era muito esforço. (risos)
(14:23) P1 - E na adolescência essa escola era estadual, particular?
R1 - Era tudo estadual. Quando eu estudei naquele Colégio Dom Pedro II, na Lomas, ali bem ao lado do Bosque, que a gente morava lá próximo. Aí também estudei no Jarbas Passarinho, que é um colégio por trás do Bosque também. Aí depois que nós mudamos para a Vileta, eu passei o Colégio Rodrigues Pinage, que é no Chaco. Tudo do governo. E depois eu fui para a escola técnica.
(14:56) p1 - Você era um bom aluno?
R1 - Sim.
(14:58) P1 - Gostava de estudar?
R1 - Gostava. Agora, eu tinha um estilo de estudo meio diferenciado, por isso que a minha mãe às vezes ia ver se eu estava lá. (risos) Porque, por exemplo, na escola técnica, a gente usava aquelas batas. Era mais bata que a gente colocava por cima e não precisava farda. Aí eu pegava em casa, saía pronto, pegava a bata, embolava, ‘botava’ no bolso. Eu não usava caderno no colégio. Eu usava papel almaço, aquelas folhas. Aí eu dobrava tudo e ‘botava’ no bolso. Aí eu chegava na escola, ‘botava’ a bata, desembrulhava o papel e assistia a aula e ia anotando. Aí, quando eu chegava em casa, eu pegava o caderno, a minha folha e passava para o caderno. Aí eu dizia pra ela: “Estudo duas vezes: quando eu anoto e quando eu chego em casa. Geralmente eu não precisava estudar muito depois, pra prova, porque isso já me dava um respaldo bom de entendimento, sabe? Só quer a mamãe desconfiava disso: “Mas tu não leva caderno, tu sai daqui pronto, como é que tu vai para a escola?” Eu digo: “Eu vou, mãe, eu vou”. Aí, de vez em quando ela ia lá, dar essa incerta, sabe, desconfiada: “Mas será que esse ‘cara’ vai mesmo? (risos) Será que esse ‘cara’ está indo mesmo para a escola?” E todas as vezes que ela foi, eu estava lá. (risos)
(16:28) P1 - Você não era de faltar?
R1 - Às vezes faltava, mas não era assim, um monte de coisa, só quando era alguma coisa especial.
(16:34) P1 - E tinha muitos amigos, na escola?
R1 - Tinha, tinha. Eu jogava handebol na escola técnica. Lá foi mais handebol que eu jogava, na escola técnica. E eu também era bom de handebol. Então, eu tinha vaga em todos os times que se formavam lá. Então, o círculo de amizade lá dentro era bem grande mesmo.
(16:58) P1 - E esse irmão estava perto, na escola também?
R1 - Não, ele não fez escola técnica. Meu irmão, né?
(17:02) P1 – É.
R1 - Não, ele fez o... também do estado, mas não escola técnica.
(17:09) P1 - E a escola técnica era em quê?
R1 - Que curso?
(17:14) P1 – É.
R1 - É metalurgia que eu fiz lá.
(17:17) P1 - E por que você escolheu isso?
R1 - Pensando na Albras.
(17:21) P1 - Você já tinha em mente?
R1 - Sim. Quando eu fiz a prova, já pensando na Albras. Naquela época, pelo que se ouvia falar, era a empresa grande que poderia dar maiores e melhores oportunidades. Então, já me preparei, já foi o curso justamente pensando na Albras.
(17:48) P1 - Mas você era um rapaz que gostava de esportes. E a metalurgia entrou onde, no interesse de gostar de metalurgia?
R1 - O primeiro passo foi pensar que, como a Albras era uma metalúrgica, que seria trabalhar com alumínio e eu também avaliei o que precisa para lá: eram os cursos de eletrotécnica; metalurgia; mineração também, menos, mas também poderia e o que encaixava melhor foi a metalurgia, para buscar o acesso, de ter um respaldo no curso técnico, para poder entrar. Porque se fosse, por exemplo, só com o segundo grau, que chama hoje, era mais difícil. E tendo curso técnico, não. E realmente foi isso que me colocou rapidamente também, na Albras.
(18:38) P1 - E você tinha na família seu irmão de criação ou alguém que estava por esse caminho também?
R1 - Não.
(18:47) P1 - Foi sozinho, mesmo?
R1 - Sozinho. (risos) Aí depois eu trouxe esse meu irmão mais novo, ainda chegou a trabalhar em eletrotécnica.
(18:56) P1 - Você já tinha trabalhado? Qual foi seu primeiro emprego? Quando foi?
R1 - Na realidade eu entrei... na época, como eu falei, quando nasceu meu filho, digo: “Pô, tenho que ganhar algum dinheiro também”. Na época tinha o Grupo Pão de Açúcar em Belém, ali aquele da José Malcher, que era um grupo Pão de Açúcar. Eu entrei no extra de final de ano, aqueles que são contratados para trabalhar só o período de final de ano, na parte de crediário do Jumbo, que era o Jumbo ali, do grupo Pão de Açúcar. Aí, quando eu cheguei lá, eu trabalhei no dezembro, eles gostaram do meu trabalho, aí me contrataram. Aí eu passei quase três anos lá. Eu cheguei a encarregado de cartão de crédito do Jumbo.
(19:43) P1 - Foi seu primeiro emprego, então?
R1 – Foi.
(19:45) P1 - Antes só ganhava dinheirinho jogando futebol, fazendo uns ‘bicos’ assim.
R1 – É, hum-hum.
(19:50) P1 - Então, quando é que você entrou no Pão de Açúcar, no Grupo Pão de Açúcar?
R1 - Acho que foi por volta de 1982, mais ou menos.
(19:58) P1 - E já tinha se formado no curso técnico?
R1 – Ainda não, estava me formando. Estava faltando acho que dois semestres. Tanto, prova que eu saí, quando eu saí, porque quando eu comecei trabalhar lá, eu tive problemas com o horário, porque às vezes o comércio tem que ficar até 21 horas, o movimento está bom, a venda está muita e eu estudava à noite. Aí começou a dar um conflito, aí eu tranquei a matrícula e continuei o trabalho. E depois de um ano aí, quando já estava pensando em Albras, mudar, comércio, aquela coisa também de ficar até tarde, aí eu inverti as coisas: “Agora não, vou sair do trabalho e vou voltar a estudar”.
(20:53) P1 – Tá. Então, um pouquinho antes você conheceu a sua primeira esposa, foi isso? A mãe de seu filho.
R1 - É, do mais velho.
(21:02) P1 - Onde que vocês se conheceram?
R1 - Lá na Vileta mesmo, era vizinha. (risos)
(21:09) P1 - História parecida dos seus pais.
R1 - Isso, aí ficou nesse lado.
(21:16) P1 - Aí começaram a namorar e aí ela engravidou?
R1 – Foi. A gente não ficou muito tempo junto, não.
(21:21) P1 - Quando que nasceu seu primeiro filho?
R1 - 2022. Não. 1982.
(21:36) P1 - Qual é nome dele?
R1 - É Michel.
(21:37) P1 - Nasceu em 1982 o Michel. Como é que foi para o Sebastião virar pai?
R1 – Foi uma ‘barra’! (risos) É porque a gente, na realidade, não tinha um convívio assim, era mais coisa de garoto ainda, de irresponsável. A gente se conheceu, foi namorando, namorando e acabou acontecendo. Aí quando a gente ficou: “Vamos ficar junto?” “Não sei, fica difícil ficar junto”. Teve que partir para o... aí eu fui - ele nasceu - conhecer, o peguei no colo: “Esse é meu filho mesmo”. Aí falei pra ela: “Olha, ‘bora’ ver, que agora tem duas opções. Se eu tiver alguma coisa amanhã, ele vai ter. Se eu não tiver vão ser dois ‘lisos’, né, mas eu vou correr atrás (risos) de conseguir alguma coisa pra ele, pra colocar”. E por isso que eu fui atrás de trabalho logo.
(22:41) P1 - E como é que foi contar pra sua mãe e pro seu pai que você virou pai?
R1 - Já souberam, depois foi muita bronca. Principalmente a mamãe, que ela... o papai só escutava, mas a mamãe foi muito dura, de irresponsável pra cima, né?
(22:58) P1 - E aí você continuou morando com seus pais e aí trabalhava?
R1 - Sim.
(23:04) P1 – Me conta?
R1 - É, trabalhava, continuei morando lá. Aí não durou muito com essa moça, com a Rita. Aí nós nos separamos, na realidade. Continuei a vida, conheci outra garota lá, também da vizinhança. (risos) Com essa foi que, como eu já tinha tido essa experiência, de vir sem ter planejado, eu já ‘pisei no freio’, disse: “Não, agora...”. Com essa eu já fiquei junto. Ela chegou a morar um pouco lá na casa da minha mãe, comigo, que é a mãe do dono da casa. Aí ficamos, aí foi quando já surgiu a proposta da Albras, que eu estava fazendo já o processo, porque quando... assim que eu saí do Pão de Açúcar e voltei, já faltava acho que um semestre, eu me formei, já mandei currículo, já coloquei. Aí nós entramos no... chamaram, era uma oportunidade de recrutamento da Albras para lideranças, com perfil de liderança. Aí foram muitos testes e dessas pessoas entraram sete, seis comigo. Seis paraenses e um maranhense, nesse processo, já em 1985, que eu entrei na Albras, na partida da Redução 1.
(24:45) P1 - Você era um garoto jovem também?
R1 - É, eu estava com 25 anos.
(24:49) P1 - E já era líder?
R1 - Sim, nós entramos... o processo era para liderança. Nós entramos no cargo de operador 4. O operador 4 era o último nível de operador. Mas, por exemplo, nós nunca fomos operadores. Nós já entramos só no último nível de operador, mas já treinando para líder. Em um ano passei para líder de produção. Em dois anos, era supervisor. E no terceiro, quarto ano, era especialista. Técnico de Processo, que chama. Na época era Técnico de Processo.
(25:26) P1 - Mas você se mudou para Barcarena?
R1 - Sim.
(25:29) P1 - Como é foi essa mudança? Sair da casa dos pais pela primeira vez, morar numa cidade nova?
R1 - Primeiro eu mudei pra Barcarena, no Conjunto Romeu Teixeira, tipo o alojamento da Albras. Aí eu trabalhava, ia no ônibus de Barcarena para Albras, todos os dias. Ia e voltava, a gente ia para Belém só nos finais de semana, dormia lá em Barcarena mesmo. Aí pedi a casa, nessa época eles estavam construindo essas casas. Aí eu, como já estava com a Maidana, já convivia com ela, só não queria ter filho ainda. (risos) Aí pedi a casa e, quando saiu a casa, nós mudamos pra cá, eu e ela.
(26:14) P1 - Foi um choque? Foi muito diferente?
R1 - Foi, mas foi um choque bom. Pra mim foi muito bom. Que queira ou não queira, a gente sempre acha que está incomodando. Quando era só eu como filho, não, mas quando você põe uma outra pessoa, a gente se sente, talvez, que esteja incomodando. Então, pra mim foi um choque de lado bom da coisa, quando saiu a casa aqui. Eu mudei de imediato.
(26:42) P1 - E gostava da cidade?
R1 - Gostei. Aqui, quando a gente chegou, não tinha literalmente nada. Tinha um trailerzinho ali, próximo daquela rua diagonal, que o ‘cara’ ainda vendia lá um refrigerante, tipo uma venda. Mas acho que não tinha nenhum comércio aqui. Na praia existia uma casa só, no Caripi, naquela primeira curva. Era o ‘seu’ Pedro, acho, que chama. Era a única casa que tinha no Caripi, na primeira curva que você faz, para lá, para onde dobra, não tinha mais nada por ali. Era só ali, naquela esquina, que tinha a casa do ‘seu’ Pedro lá. Isso em 1985, 1986.
(27:32) P1 - E aí você tinha a sensação de que era uma cidade que estava começando junto com vocês?
R1 - Sim, sim. Porque realmente, literalmente foi isso mesmo. Nós ajudamos a construir essa cidade, a planta da Albras. Nessa época eu trabalhei na partida da Redução 1. Aí eu fui transferido para a Redução 2. Aí eu trabalhei na partida da Redução 2. Já nessa época eu era supervisor. Depois da Redução 2 a gente pegou... aí eu já não fui mais transferido. Ainda teve a partida 3 e da 4, só que já me fixaram na 2. Eu já fiquei como funcionário efetivo da Redução 2. Aí fiquei lá por dez anos, até o convite para ir para a Alunorte.
(28:22) P1 - Nesses primeiros dez anos, até um pouquinho mais, de Albras, como que era a tua rotina? Trabalhava muito?
R1 – Por exemplo: na partida principalmente, era muito, porque a gente também estava aprendendo com os japoneses, com o pessoal, principalmente os mineiros que vieram, que já tinham experiência lá de mina, de forno de redução. Então, para a gente aprender, eu sempre fui daqueles que sempre gostei de me envolver bastante, aprender, não só nos livros, mas ver a parte prática também, da coisa. Então, para mim, não tinha horário. Era sempre colocando atrás de aprender mesmo. Nós tivemos, por exemplo, dois pontos também em que a gente trabalhou muito, foi a greve. Não lembro bem o período de greve. E o outro período foi o blackout, que foi uma parada de energia, acho que mais de 12 horas, parada grande de energia, então nós perdemos quase que todos os fornos. Chegou ao ponto de tipo assim: talvez vá ter que fechar isso aqui porque, por exemplo, os fornos de redução, o alumínio líquido fica dentro do forno, líquido. Com a falta de energia, foi só solidificando, porque você tem duas fontes de energia, o ânodo e o cátodo embaixo, que é o fundo do forno é o cátodo. E o ânodo é o que coloca pra corrente passar, por dentro do alumínio. Aí é ela que faz o alumínio ficar líquido, ali. Quando começou a solidificar, depois que voltou pra partir, a gente partia segurando uma tampa de forno como escudo, porque quando você colocava o ânodo em cima do alumínio solidificado, dentro da cuba e passava a corrente, aí era como se você estivesse injetando calor para derreter o alumínio, aí dava aqueles tiros, pelotas de alumínio projetavam, né? A gente tinha que partir o forno com uma tampa aqui. É coisa assim de: ou ‘mete a cara’, ou não sai.
(30:35) P1 - E aí a rotina era trabalhar e voltar pra casa? Sua esposa estava lá?
R1 - Sim.
(30:39) P1 - O que vocês faziam para se divertir?
R1 - Era a praia. Geralmente era praia, aqui em Caripi. Era o que tinha. Às vezes um passeio em Barcarena, Abaetetuba, porque realmente na cidade mesmo não tinha alternativa nenhuma. Casa de amigos ‘rolava’ muito, churrasco aqui, churrasco ali. Sempre se reunia, pra buscar realmente um contato, porque não tinha para onde ir. Depois que foi evoluindo, a cidade foi crescendo, aí hoje já se nota, já tem muitas opções hoje.
(31:17) P1 - E naquela época eram pessoas que vinham de fora, mais do que pessoas que moravam aqui?
R1 - A maioria, a grande maioria. Tinha poucos paraenses na partida. Até operadores eram mais pessoal de fora: mineiro, principalmente; paulista. Pessoas que tinham já experiência nisso porque aqui, como era a primeira planta nossa no Pará, o paraense mesmo não conhecia.
(31:46) P1 - E você já escutava falar de Alunorte, enquanto trabalhava na Albras?
R1 - Sim, porque na realidade a Alunorte era para partir junto com a Albras. Chegou a colocar uns dois tanques só, lá. Aí, por motivos comerciais, talvez até políticos, segura a Alunorte, ‘bora’ focar na Albras. Aí foi que partiu a Albras e a Alunorte ficou na ‘geladeira’. Até esses meados de 1993, quando começou a acelerar e comercialmente subiu bastante os preços da alumina e agora vale a pena ter uma refinaria de alumínio. Porque antes você comprava alumina de fora, vinha para a Albras e já adicionava nos fornos da Albras, para fazer o alumínio. Aí já depois diz: “Não, agora vale a pena nós termos uma refinaria aqui”. Capacidade boa, dinheiro estava dando melhor e foi que virou dar sequência na construção da Alunorte.
(32:44) P1 - E aí, como é que foi essa época? Me conta o que que você lembra, que ficou marcado aí.
R1 - Olha, eu lembro, por exemplo: meu chefe imediato era o Nelcindo Gonzalez, trabalhava com ele já na Redução 2 e tinha o Jorge Aldir, que era um outro gerente, que era o que ia fazer a transição, estava saindo da... ficou encarregado das pessoas para ir para a Alunorte, porque para a Alunorte poderia ter alguém da Albras, se houvesse convite e trazer gente de fora também, porque o pessoal da Albras não conhecia, também, refinaria, que é totalmente diferente. Aí o Jorge Aldir me convidou, aí eu fui lá. O Jorge Aldir já tinha trabalhado comigo, anteriormente. Aí eu fui lá com o Nelcindo, que era o meu chefe: “Nelcindo, o Jorge Aldir me convidou para ir para a Alunorte” “Rapaz, te convidou?” “Foi” “Sabá, olha” - chamam de Sabá – “todo mundo conhece a refinaria, é muita ‘cagada’, Sabá. É muita bronca. Não vai te meter nisso, porque tu vai ver que não é bom, não. É muito problema lá”. Eu disse: “Tá bom, tá bom”. Aí eu fui lá com... voltei com Jorge Aldir, né? “Aldir, o Nelcindo falou que é melhor não ir, porque ele falou que é muito problema” “Rapaz, esse ‘cara’ está com conversa. Ele não quer que tu saia e fica te metendo - fazendo essas coisas para ti e tal - medo, falando que... não liga para isso, não. Ele não quer que tu saia, isso que sim”. Falei: “Tá bom”. Eu voltei lá com o Nelcindo: “O Aldir disse que não é bem assim, não”. Porque eu estava querendo, sabe? Coisa nova, estava dez anos ali na redução, coisa nova, viagens previstas para o treinamento, porque o Jorge Aldir já tinha enfeitado um negócio para mim, legal. (risos) Aí voltei lá com ele e ele disse: “Olha, o que tu está achando? Está querendo ir?” Eu disse: “Sim”. Ele falou: “Tá bom, mas vou te dizer uma coisa: é muita (34:47), tu vai te arrepender. Mas tudo bem, eu vou te liberar, mas tu vai te arrepender”. Essa história eu conto para o pessoal da refinaria, quando gente vê que é muito problema mesmo. O pessoal até diz hoje para mim: “Está vendo, o Nelcindo te avisou”. (risos) Porque realmente é muito problema uma refinaria. Não se compara. Porque, por exemplo, na Albras o processo é mais estático, não tem muito assim... e a alumina não, a refinaria de alumina é muito probleminha, muito equipamento móvel, muita bomba, são milhares de bombas, milhares de tanques. Tanques grandes, enormes, vocês já foram lá. Então, são mais de mil tanques que nós temos dentro daquela refinaria. Bomba multiplica aí por quatro, cinco. E isso quebrando todo dia, né? (risos) Porque tem problema, realmente. Aí foi que isso ficou marcado, né, essa parte de... e essa história eu conto, virou tipo um folclore, né? “Está vendo?”
(35:55) P1 - E você queria ir!
R1 - Nelcindo falava: “É só ‘cagada’ mesmo esse negócio, só ‘cagada’. (risos)
(36:00) P1 - Mas você queria?
R1 - Sim. Eu não conhecia, né? Por exemplo: eu gosto do que eu faço. É cansativo, mas eu gosto.
(36:07) P1 - E nesse começo você pediu demissão de um e foi contratado no outro? Como é que era?
R1 – Não. Na época era Vale do Rio Doce. Então, a gente foi como funcionário da Vale, tipo assim, porque quando foi para parte de Alunorte chamava uma área de alumina, por exemplo. A Albras tinha redução, fundição, ânodo, cátodo e alumina. Ficou uma área da Albras. A Alunorte, no início, não chamava Alunorte, era alumina, área de alumina, como se fosse a mesma empresa. Então, eu fui para lá como funcionário da Albras. Aí, só foi em 1º de agosto de 1995 que realmente mudou. Demitiram a gente dia 31 e contrataram o dia 1º. Mas a gente ficou, eu fiquei mais de um ano, quase dois anos trabalhando para a Alunorte, mas como Albras.
(36:59) P1 - E a partida foi difícil?
R1 – Foi, bastante. Por exemplo: quando eu fui para a Alunorte, fui como técnico de processo. Então, eu fui pra uma área, quando eu cheguei lá, fomos três técnicos de processo, que eram dois para a área vermelha e eu era designado para a área branca. O que falaram para nós? “Vocês vão partir, depois que partir vão estudar o processo e propor melhorias. Vocês são aquelas pessoas que vão olhar o que temos, avaliar e começar a propor melhorias”. Aí, quando começou a partida, como eu comentei ainda agora, eu gosto de me envolver, gosto de ir pra perto, eu comecei a ir pra perto, a acompanhar, porque a orientação que eu tinha era que eu não precisava ir lá, eu tinha que esperar partir e depois que partisse eu ia estudar os dados e propor melhoria. Aí eu comecei me envolver na partida dos calcinadores, que é da área branca. E nesse me envolver com a partida eu comecei já a conhecer melhor do que muitos que eram da partida. Aí o Zé Abílio, que era o gerente na época, falou com a gerência da área técnica, que era para me passar para a branca. Aí eu nem cheguei a trabalhar na área técnica, porque já nessa questão de partida eu fui efetivado na área branca. Aí já mudei, já não era mais técnico de processo, supervisor, porque é o supervisor que já era para tocar o negócio, mesmo. O técnico de processo era para aguardar, para avaliar o processo mais tarde.
(38:34) P1 - O que era a área branca?
R1 - A área branca envolve todos aqueles tanques grandes, precipitação, desde a área 41, quando a gente entra naquele lado direito todo, ali inicia a área branca. Aí pro lado esquerdo, todos os tanques grandes, calcinadores, toda a área branca. Que na época que a gente partiu, por exemplo, aí a gente cuidava, o supervisor na época cuidava dali, todas as áreas brancas. Hoje está dividida, calcinação e precipitação. Na época era uma coisa só. Como era só dois fornos, aí gente tomava conta de todo esse processo.
(39:09) P1 - E tinha muita gente trabalhando, muitos homens?
R1 - Tinha muitos alemães. Os calcinadores, o projeto é alemão, então veio muito alemão para a partida dos calcinadores. Teve uns que ficaram aí, mais de ano, os alemães. Assim como, por exemplo, os japoneses vieram para os fornos da Albras, os calcinadores da Alunorte foram alemães. Os alemães, que a tecnologia era deles, eles que vieram, para dar o suporte para gente partir.
(39:45) P1 - Eu estou aqui imaginando como é que vocês se comunicavam. (risos)
R1 – (risos) Eles começaram a aprender, mas tinha o tradutor, do lado. Mas depois eles mesmo foram começando a aprender, arranharam, claro, mas tinha o tradutor, tanto os japoneses da Albras, como... porque eu trabalhei com muitos japoneses também, que a gente se comunicava pelo tradutor do lado, ficava fazendo a interação entre a gente. E na Alunorte foi com os alemães.
(40:17) P1 - E os causos aí dos primeiros anos, quais eram?
R1 - Olha, nós tínhamos... um caso interessante também foi, porque como gente estava aprendendo e todo equipamento novo, na realidade, apesar dos alemães que dominavam o processo, mas a gente ‘apanhou’ bastante, com eles também, mesmo eles aqui. E a gente tinha uma pressão grande da alta gerência, para partir o forno e continuar. Nessa época eu estava na partida, nesse dia eu estava lá. Não sei se vocês já foram no calcinador. É um prédio, né? O calcinador é um prédio grande, de seis andares, mais ou menos. Então, vai desde o início. Tudo é processo, mesmo. A alumina está correndo ali. Parece um prédio mesmo. Literalmente é um prédio. E a pressão do calcinador estava tão grande, que a gente sentia o prédio pulsar. Ou seja, a pressão interna do calcinador estava tão alta, que o prédio estava pulsando, já. Eu estava com o rádio, me lembro dessa época: “Não, vamos parar aqui, porque a pressão está muito alta”. Só que a alta gerência estava lá no rádio, na sala de controle. Um deles falou, acho que o maior: “Não, ‘bora’ segurar, que está produzindo”. Aí a gente, que estava na área, estava sentindo que o drama estava feio: “Só vamos falar pra ele que travou tudo aqui”. (risos) Porque ele não queria que parasse. Agora parou, parou. Desarmou, desarmou. Porque são sopradores, desarmou o soprador, porque a gente viu que realmente o negócio estava feio. Poderia até descarregar, mas poderia dar alguma coisa, um incidente, vamos dizer assim. Então, a gente foi por cautela: “Não, vamos desarmar aqui, só entre nós aqui, só passar: ‘Desarmou o soprador’”. (risos)
(42:21) P1 - A vida em risco.
R1 – Porque o pessoal sempre comenta que esse era o diretor, na época, era muito rígido. Às vezes, se a gente não fizesse, também não podia fazer na frente dele, mas a gente, lá na área, que estava vendo, se reunimos: “Desarma aí”. Só falamos: “Desarmou o soprador”. Aí ele sabia o que era. Tipo: não está comigo, mais. O equipamento que não aguentou. (risos)
(42:51) P1 - Você gostava dessa correria, dessa pressão, disso tudo?
R1 - Sempre gostei. Nunca gostei de escritório, de estar, assim, atrás de uma mesa, mesmo. Eu sempre preferi. Tanto que na Alunorte eu troquei de área. Na realidade, foi sem querer, a coisa foi acontecendo. Tipo assim: de área técnica para a área branca foi acontecendo, mas por causa desse meu jeito de não ficar esperando, de ir mesmo para a área, tentar conhecer. Eu gosto dessa, como diz o pessoal, bagunça aí. (risos)
(43:29) P1 - E por que parecia ser um bom trabalho? O que eles ofereciam, que você via como algo positivo? O que era esperançoso?
R1 - Por exemplo, o salário sempre foi bom. Desde quando gente entrou, desde quando entrei na Albras, o salário já não se comparava com o que eu ganhava no Pão de Açúcar. Nem pertinho, não. Era bem longe mesmo. O salário que eu comecei aqui, pelo que eu ganhava e lá eu já era encarregado de cartão de crédito. Então, o salário era um atrativo. O plano de saúde sempre foi um atrativo. Na época, até diziam que era mamãe Albras, por causa dos tickets. Eles davam um ticket de alimentação que você, em qualquer restaurante que você fosse, em Belém, aqui. Se bem que aqui a opção era só o mesmo que já era contratado por ela, né? Mas em Belém. E eram tantos, que eu não conseguia gastar. Às vezes eu ia para o Belém e convidava amigos de Belém, família: “’Bora’ para o restaurante. E pagava tudo com ticket, porque realmente era bastante coisa.
(44:37) P1 - Então, conseguia ajudar seu filho também, né?
R1 - Sim. Ele trabalhou comigo aqui. Hoje ele está na parte de engenheira civil, está no Mato Grosso.
(44:48) P1 - O mais velho?
R1 - É. Aí ele faz Engenharia Civil, é mestre de obra, ele presta serviço em todo o Brasil, dependendo de onde for fazer a construção. Então, hoje ele está em Mato Grosso, aí ele vem a cada 21 dias, em Belém. Já fez obras, muitas obras aí, no Brasil. (risos)
(45:11) P1 - E esse começo de vida aqui em Barcarena, com a tua esposa, com a Alunorte, como é que era? Qual era a promessa? O que você queria para você?
R1 - Quando eu vim eu já tinha esse pensamento de crescimento aqui e eu vi que a oportunidade existia realmente. Prova que os meus filhos já estudavam aqui.
(45:35) P1 – Então, você teve outro filho aqui?
R1 - Sim, porque nessa parte, depois do Michel, eu conheci a Maidana, foi a que veio e mudou pra cá, comigo. Aqui nós tivemos um casal de filhos. Depois que gente mudou, nós mudamos em 1986, aí casamos em 1987, agora vamos ter filho. (risos) Combinando, já partindo daquele princípio lá, do susto anterior, agora vamos ter filho, aí tivemos um casal, que é o Marlon e a Maite. O Marlon mora aqui, a Maite também mora lá.
(46:12) P1 - Qual a diferença de idade entre eles?
R1 - Dois anos.
(46:16) P1 - Ah, então foi rapidinho.
R1 - Foi. O Marlon trabalha na Alunorte, é gerente sênior lá. A Maite é supervisora de manutenção, também na Alunorte. Aí foram esses dois, né? Aí a gente, em 1997, se separou. Não deu certo, paciência, né? Aí eu conheci a outra, a Regina, que está atualmente comigo e com ela tem duas meninas. Tem a Rafaela, que é engenheira eletricista também na Alunorte, trabalha lá. (risos) E a Vivian, tem 17 anos ainda. Está estudando. Mas acho que ela não vai vir pra cá, não, pelo jeito. (risos)
(47:03) P1 - Quais são os anos de nascimento de seus filhos, então, só pra eu não ficar perdida aqui?
R1 - 1982 foi o Michel. Aí o Marlon foi 1988. A Maite 1990. Aí a Rafaela já foi... já tem 28. Acho que é 1990, 1996. Rafaela 1996. E a Vivian foi... está com 17. 1996... 17 voltando aí, faz as contas aí, que eu não estou lembrando. (risos)
(47:37) P1 – Também sou péssima de conta. Caramba! E aí, então, a empresa te dava estabilidade? Ela era boa para a tua família, pros seus filhos?
R1 - Sim, sim. Sempre a gente se sentiu seguro, tanto na Albras, como na Alunorte. A Hydro incorporou mais o lado pessoa, o lado humano. Ela é mais humana, vamos dizer assim, de que a Vale, na experiência que eu tive. A Vale valorizava, mas sempre toma lá, dá cá. Trabalhou, está aqui, eu estou te dando. E a Hydro a gente sente um pouco de diferença. Claro que trabalhou, tô te dando, mas tem um lado mais humano, de um cuidado maior, vamos dizer assim. Ela dá uns mimos, vamos dizer assim, pra você, que realmente você sente que está conseguindo cooperar com ela e ela te dá esse respaldo. Então, é uma coisa que eu acho bem bacana da postura da direção da Hydro.
(48:44) P1 - Você sentiu muito quando passou de uma para outra? Foi marcante?
R1 - Foi. Porque, na realidade, quando a gente passou para a Alunorte mesmo, ainda era Alunorte Vale. Só mudou que era Albras, né? Dividiu, né? Mas a Vale ainda era majoritária dos dois lados. Quando a Vale vendeu para a Hydro, aí começou a mudar. Você vê que, por exemplo, a Hydro, uma coisa que... vamos dizer, um exemplo: o pessoal andava, o mecânico saía de lá do trabalho, pegava o ônibus e vinha pra cá com a roupa de trabalho. Às vezes trocava, às vezes não trocava. E ela pegou e disse: “Não, não quero o pessoal andando sujo, na rua”. Ela criou a blusa social. Então, ela não permite que ninguém entre ou saia com o uniforme de trabalho, tem que sair com a blusa social e isso é custo, é um custo maior e valoriza o funcionário. Claro, também melhora a imagem dela, com certeza, andar todo mundo bonitinho, limpinho. (risos) Mas tem empresa que não está nem aí: “Eu quero meu lucro. Saiu daqui, se está sujo, para mim não faz diferença. Não vou gastar dinheiro com mais uniforme”. Então, ela fez isso e esse é um exemplo de que realmente a gente nota: ela tem um cuidado maior com o visual que os funcionários têm lá fora, o ‘cara’ sair, porque as pessoas saíam mesmo. Principalmente, às vezes, mecânicos, já têm aquela blusa manchada mesmo, às vezes não está mais nem suja, lavou, mas está aquela mancha. Então, saía mesmo. Agora mudou. Hoje até os mecânicos que faziam isso estão saindo tudo com blusinha social e só entra com blusa social.
(50:38) P1 - O que mais que você viu, que é importante para você, que marcou essa diferença?
R1 - Olha, o ponto forte da Hydro é esse, as pessoas. O principal é as pessoas, mesmo, em vários fatores, esse é um exemplo, mas o que marcou mais é a questão do zelo com as pessoas.
(50:58) P1 - Mas começou a ter mais atividades para vocês, de lazer também, outras oportunidades de crescimento na carreira?
R1 - Sim, sim, sim. Ela sempre demonstra a parte de aproveitar, ou seja, como se fala? Criar os líderes lá dentro. Ela está com uma ‘pegada’ muito forte com as mulheres agora, que é bom, que é legal, de valorizar as mulheres, ‘botar’ mais mulheres na liderança. E a gente vê que não é aquilo ‘empurrado’, é preparar a pessoa, porque uma empresa desse porte não dá para colocar: “Não, é porque é mulher, tu vai assumir”. Não, ela está preparando, selecionando aqui com potencial, com uma visão de futuro mesmo, preparando para ser. E nós temos muita gente boa, muitas meninas boas, mesmo.
(51:53) P1 - Não tinha mulher no começo da carreira, lá na Alunorte não tinha mulher, no começo?
R1 - Poucas, poucas, muito poucas, mesmo. Agora não, hoje, pra onde você olha, tem mulher na fábrica, em todos os níveis e em todas as coisas. Às vezes você vê essas meninas novas que entram, você até brinca: “Bracinho de Barbie”. (risos) Mas quando chega lá, elas têm demonstrado que querem, porque às vezes parece muito nova mesmo. Você olha assim: “Essa menina parece que tem 13 anos. Como é que está aqui?” (risos) Aí a menina de 19, 18, vinte... e gente lá, por exemplo, trabalho com uma que é Barcarena, mais direto, que a moça é ‘virada’. Como é que se diz? Ela cria as situações, para resolver os problemas. Isso é legal.
(52:56) P1 - Na área da metalúrgica?
R1 - É, na parte da precipitação. Porque, por exemplo, a parte da refinaria da Alunorte já é a parte mais química, do que metalúrgica. Já é mais a parte química, mesmo.
(53:14) P1 - E você ficou morando em Barcarena até quando? Porque eu sei que hoje você mora em Belém, de volta.
R1 - Eu fiquei até quando saiu a ponte. Eu morei mais de vinte anos aqui. Quando saiu a ponte da alça viária. Na realidade, quando saiu a alça viária, porque antes era uma dificuldade. Por exemplo: a gente ia só de popopô, que chamava, que era o barquinho, ou balsa, se fosse de carro. Uma vez que eu lembro, por exemplo, que eu fui de popopô, retornando, saindo de turno, tipo assim: saindo três horas da tarde, aí pegava o barquinho ali quatro horas da tarde, que era no Cafezal, pra atravessar pra Belém. E isso... e à tarde joga muito, a maré. Aí nós... começou, chegou no meio, deu aquela sacudida geral, que todo mundo começou a se apavorar. E era barco de linha, não era um barco exclusivo, como tem hoje, era um barco de linha. Então, tinha mulheres, crianças, adultos, idosos. O pessoal começou a gritar, né? “Volta, volta, volta”. Como que vai voltar? E outro ponto, por exemplo: as janelas eram de madeira. Sabe aquela madeira corrediça, que você levanta? E o pessoal: “Não, fecha a janela, que está...”. Eu fui: “Não, não fecha nada de janela, não. ‘Bora’ se molhar aqui, mas se esse treco a afundar, pelo menos a gente tem como sair de dentro. Se fechar aqui, já era. Todo mundo vai ficar aqui dentro”. Eu sei que a maré estava tão... a gente não conseguiu parar no Ver o Peso, foi parar lá para frente, porque ele não conseguia vencer e foi só vencendo um pouquinho e indo. Parou lá pra Cidade Velha, sei lá. (risos) Esse dia foi cruel. Aí tem várias histórias dessas viagens. O pessoal conta muito essas viagens aí, do susto que pessoa passou. Hoje em dia está melhor, porque aqueles barquinhos de antigamente eram muito inseguros. Hoje já está melhor, as lanças são maiores, já não tem tanto perigo, como tinha antes.
(55:19) P1 - Então a ideia era: foi melhor ficar morando em Barcarena, porque era mais fácil.
R1 - Sim, sim. Era mais difícil ir para Belém, vamos dizer assim, porque as balsas era uma concorrência muito grande, as filas eram muito grandes, de carro, o barco era perigoso, não tinha estrutura. Aí, depois que saiu a alça viária, foi que eu mudei para Belém.
(55:41) P1 - Que ano que foi, mais ou menos?
R1 - Acho que não sei se foi 2011, 2009, por aí, acho. Depois dos anos 2000, 2003, quando inaugurou a alça viária, eu morava nessa rua, depois dessa casa aqui, uma rua aqui. Era uma casa nesse estilo também. Eles se criaram lá, nessa outra rua. Depois do Cabana, para dentro, mais próxima do Cabana ainda. Foi lá que eu morei. Quando eu mudei, eu vendi a casa e mudei para Belém.
(56:20) P1 - E por que você decidiu voltar, então, para Belém?
R1 – Para... como se diz?... novos ares, mesmo. Tentar coisas diferentes, porque aqui gente já estava há muitos anos. E ficava assim, também teve aquela questão da época de separação. Como é que se diz? Mudar de ares, mesmo. Na realidade era mudar de ar, para ver como é que fica. (risos)
(56:53) P1 - E os filhos continuaram aqui?
R1 - Continuaram aqui, estudando aí. Depois eu voltava todo tempo também. Estava com eles todo tempo. Eles trabalhavam aqui, mas eles ainda ficaram muito tempo aí comigo, porque eu fiquei na casa, a gente tinha um sítio lá no Itupanema. Aí ficou para a mulher. A gente dividiu as coisas, né? Aí ficou para ela, eles moravam lá, moravam aqui, iam passear lá e ficavam tramitando nas duas casas.
(57:27) P1 - E você, Sebastião, estudou outras coisas, enquanto trabalhava, esses anos todos? Teve esse investimento em você também, assim?
R1 - Foi mais na parte química. Eu fiz estudo em química, até porque precisava entender melhor o processo, me dediquei mais no estudo da química.
(57:49) P1 - Teve um crescimento de carreira?
R1 – Sim. Tive do... hoje eu sou especialista de processo sênior. Aí foi com esses novos conhecimentos que gente ganhou progressões salariais, foi que deu uma equilibrada melhor.
(58:14) P1 - Teve viagens?
R1 – Sim. Atualmente não, mas já viajei bastante, porque eu fui o coordenador de partida de todas as expansões da Alunorte. Então, viajava para ver desenhos, para ver as plantas lá fora, para ver o que era que ia trazer para cá, na parte de calcinadores, de filtros lá da filtração. Desde a expansão 3, que foram os fornos C, depois forno D, E, F, G, essas expansões todas fui eu que coordenei a implantação, comissionamento e partida da planta.
(58:54) P1 - Para onde é que você viajou?
R1 - Minas, São Paulo. Foi mais Minas e São Paulo. Era uma viagem frequente, de seis meses, quatro meses. De ir lá, passar uma semana a voltar. Mais Minas e São Paulo, mais São Paulo, por causa das empresas que estavam fabricando, era mais em São Paulo.
(59:17) P1 - E a relação com seus colegas de trabalho, como é que era? Os amigos, do que vocês viveram juntos, quem eles eram, quem são?
R1 - Bem, aqui na parte da Alunorte, quando a gente fez essas expansões, eu contava muito com o César, o César (59:36), era um... porque o que eu fazia na calcinação, ele fazia na precipitação. Geralmente a gente viajava junto, ia para Belém junto. Nessa época a gente tinha um carro disponível e a estrada ainda era muito ruim, muito buraco aí na alça viária. (risos) Então, a gente até se divertia dessas coisas, de buracos. Às vezes a gente dizia: “Não, não vamos de carro, vamos de táxi”. E na sexta-feira, no táxi, pega uma cervejinha aí, vai tomando. (risos) Aí era com o César meu convívio maior, nessa parte. Dos amigos de... por exemplo: tive amizades muito fortes com o pessoal que entrou na Albras. Aqueles seis que falei, que entramos juntos. Até hoje a gente se ‘curte’ e conversa. Desses que entraram, só eu que ainda estou aí, os demais já saíram. E tem o Mário Jorge também, que entrou junto comigo, mas ele está na Albras, ele não veio para a Alunorte. E desses sete, que eram seis paraenses e um maranhense, só está eu aqui na Alunorte e o Mário Jorge, na Albras. Foi uma amizade legal nossa porque, como entramos juntos e ninguém conhecia nada aqui, não tinha nada mesmo, (risos) literalmente, foi que a gente se aproximou mais.
(01:01:08) P1 - E o clima era bom, no trabalho?
R1 - Sim, sempre foi. Sempre tivemos uma boa parceria, diria até com os, também, mais alto nível, com mais baixos, operadores também. Sempre foi muito bacana esse convívio.
(01:01:26) P1 - Vocês faziam bagunça?
R1 - Principalmente em Barcarena. Tem uma história que o Lucival conta, um dos que estavam com a gente. Às vezes a gente ia para festa lá, morava no alojamento. E eu dizia que era para ele me acordar. Aí também ele não bebia. Aí a gente começava a beber junto, ele na mesa. Aí ele conta que eu sempre pedia pra rachar a conta com ele. (risos) Ele falou: “Mas eu não bebo” “Não, bebeu porque tu não quis, a cerveja estava aí, né?” (risos) Essa história de coisa. Falou: “Me cobrava mesmo. Eu estava fazendo companhia pra ele, não bebia, ainda pagava a cerveja”. (risos) Mas era mais na brincadeira, né? Mas ele pagava mesmo. Na brincadeira eu dizia: “Paga logo a tua aí”. E também foi interessante, uma vez nós dormimos dentro do ônibus, que o ônibus ficava parado no alojamento, para abrir. Aí, não sei o que foi que houve que gente perdeu a chave. Aí, abrimos porta e dormimos dentro do ônibus, lá. O pessoal chegou para viajar e a gente já estava dentro do ônibus, aquele que vinha de Barcarena para cá. Esse tempo foi bom. Aí estava todo mundo lá, solteiro. Quem tinha esposa, mas não estava aí ainda, aí foi... a bagunça era boa. (risos)
(01:02:55) P1 - Dos momentos mais marcantes, o que você lembra, desses muitos anos de trabalho?
R1 - Olha, a mudança da saída da Albras para a Alunorte foi muito marcante. Essa parte de trabalho também, essas expansões, foi muito gratificante essa jornada. A gente aprendeu muito e foi bem reconhecido pelo trabalho que foi. Até hoje, o pessoal comenta pro outro. Foi boa, porque não teve problemas posteriores, grandes problemas estruturais, que é o principal. O estrutural é sempre o pior, porque pra você mexer depois é complicado. Esse é o cuidado maior, então foi muito marcante, essa parte. E da Albras também teve essa questão do blackout, que a gente teve que ficar lá dentro, direto. A greve acho que eu que fiquei uns cinco dias lá dentro, sem sair, dormindo lá dentro. Foram coisas marcantes, mas de problemas, que teve que a gente se doar um pouco mais, para resolver. Marcou bem.
(01:04:17) P1 - E esse crescimento da empresa, do seu trabalho, desses anos para cá, como é que está?
R1 - Nós evoluímos bem em termos de processo. Hoje nós somos a melhor alumina do mundo. Nós somos também a maior refinaria do mundo. O pessoal fala muito de China, mas China é porque eles contam várias refinarias juntas, para dizer que é maior. Mas assim, num prédio igual nós temos aqui, que está tudo ali no aglomerado, a nossa é maior do mundo mesmo. E a nossa alumina é a melhor do mundo, em termos de qualidade. Nós temos uma bauxita boa, que já ajuda e nosso processo é muito bom, muito bem controlado. A gente consegue preços bons, pela qualidade do produto que a gente disponibiliza.
(01:05:08) P1 - Como é que você se sente, sendo mãos que trabalharam nisso?
R1 - A satisfação é muito grande. Por exemplo: eu me aposentei em 2014. O pessoal sempre fala: “Sabá, ainda não parou, por quê?” Só que eu gosto do que eu faço, né? A empresa ainda está gostando do que eu faço. Então, estamos convivendo. Eu já estou com 11 anos de aposentado, porque eu tinha também aqueles anos da Albras, que era área insalubre, me aposentei com 54 anos, hoje eu estou com 64. E ainda tenho... como se diz?... reconhecimento por bom trabalho. Então, isso me motiva ainda a continuar. A minha mulher que fala que ela quer que eu trabalhe com ela. Ela faz bolsas, assim, mais para gestantes. Carrinho, faz todo o conjunto para a pessoa que vai ter nenê. Então, ela sempre está querendo que eu tomasse conta do negócio para ela. Digo: “Mas aí não sei, não, se vou conseguir ficar parado em casa, colocando”. Ela diz: “Mas não está bom de trabalhar, não?”. Eu digo: “Em breve”.
(01:06:38) P1 - Ela é costureira?
R1 - É. Ela fazia roupa, agora está mais dedicada para bolsa.
(01:06:51) P1 - E como é que foi a chegada dos seus filhos na Alunorte? Como é que... para você, um paizão?
R1 - Começou pelo Marlon, né? Na realidade, meu filho Michel trabalhou aí também. Mas só que saiu já há bastante tempo, foi para um outro lado. O Marlon entrou como trainee. Ele foi o primeiro trainee daqui da vila. Ele entrou como engenheiro trainee lá. Estava ele e a Maite disputando, que os dois são engenheiros e estava os dois disputando, só que ele ganhou dela, aí ele entrou e está com uma carreira muito boa lá, uma ascensão muito rápida, até.
(01:07:37) P1 - Ele foi o primeiro trainee da Alunorte?
R1 - Da engenharia de produção, que é a especialidade dele, porque antes só contratavam engenheiro químico para trainee, né? Aí ele conseguiu ser o primeiro não-engenheiro químico como trainee.
(01:08:00) P1 - Que ano que foi que ele entrou lá?
R1 - Foi... acho que está com uns dez anos.
(01:08:07) P1 – 2000 e...
R1 - É.
(01:08:09) P1 - Como é que você ficou, paizão, que recebeu o filho?
R1 - Pois é. O Marlon a gente tem uma história bem lá atrás, né? Quando ele estava estudando, ele se envolveu cedo também com a Tayane, então, e não trabalhava, eu já dava suporte pra ele em Belém, ele morava num apartamento meu, em Belém e eu dava sempre suporte e ia muitas vezes lá, com ele. Então, ele estudava, eu ia à noite, tomava cerveja e ficava conversando. E a gente conversava muito sobre liderança, como ele ser, como ele se comportar, como ele deveria agir, né? Vamos dizer assim. E, na realidade, até ele conta essa história, né? Ele foi se preparando, né? A gente foi se preparando. Marlon foi preparado por mim, (risos) vamos dizer assim, desde antes de entrar aí. Então, quando ele entrou ele alega que isso o ajudou bastante nessa tomada aí de carreira dele.
(01:09:08) P1 - E você se sentiu como?
R1 – Me senti realizado. (risos) Depois veio a Maite também. A Maite eu conversei menos de que com ele, ele realmente... por ser homem, por estar mais próximo também, que já estava em Belém, a Maite ainda estava para cá, aí a gente conversava bastante. E depois veio a Maite, que também entrou mais recente, está com uns dois, três anos. Aí, pra completar, depois veio a Rafaela também, Rafaela é engenheira eletricista. Aí eu digo: “Agora estou realizado”. Porque, realmente, você entrar e colocar seus filhos bem, saber que é uma empresa boa, que eles têm como no futuro progredir, aí realmente me deixa bem satisfeito e como se dever cumprido. Sentindo com aquele dever cumprido, dei a minha colaboração para eles. Ensinei a pescar, não dei o peixe, os ensinei a pescar. (risos)
(01:10:23) P1 – Sebastião, eles entraram por mérito próprio?
R11 - Sim. A Maite foi Planejamento. Ela entrou primeiro como planejadora. Depois já subiu, já foi promovida para supervisora. Ela foi a primeira mulher a ser supervisora da manutenção tradicional, da Hydro. A primeira mulher a ser supervisora de mecânicos e eletricistas. Antes não tinha sido nenhuma mulher. Eles estão quebrando barreira aí dentro. (risos)
(01:11:03) P1 - E eles ligam para você: “Pai, me ajuda”?
R1 – (risos) Atualmente não. Eu já até reclamei que, antes, quando eu passava uma mensagem, rapidamente eles respondiam. Agora eles não respondem tão rápido: “Ah, rapaz, muito ‘corre’, muito ‘corre’”, principalmente a Maite, que a parte de manutenção é mais ‘puxada’. A gente conhece da área, a gente sabe que a parte de manutenção é uma coisa, porque como quebra muito equipamento, você tem muita emergência. Ontem ela saiu nove e meia daí, da casa dela, para ir lá fazer um DDS, que o pessoal estava chegando, de 23 horas. Só que ela é da rede de mulheres também, da Hydro, aí ela que dá essas palestras.
(01:11:53) P1 - Mas lá dentro vocês têm convívio? Vocês se encontram no almoço?
R1 – Difícil, atualmente é difícil. Como eu trabalho ali na frente e eles, os dois, trabalham lá atrás, às vezes eles usam o restaurante de lá, ou às vezes o Marlon muitas vezes leva comida pra comer lá. Ela também, às vezes leva. Aí a gente se encontra, às vezes, quando eu trago alguma encomenda, aí eu digo: “Espera”. (risos) E como eu sou de Belém também, no ônibus eu chego primeiro, sete e quarenta e cinco, os ônibus daqui da Vila chegam oito e dez, aí a gente não se encontra. Na saída eu saio primeiro, eles saem meia hora depois, aí também já é horário diferente, aí acaba não se encontrando mesmo.
(01:12:35) P1 - E quando tem evento da empresa, no Cabana Clube, ou festa ou show, comemoração, vocês estão tudo juntos?
R1 - Sim, sempre tem a menina dela, que chamo bailarina das pernas grossas, que é a Alice, a minha neta. Aí tem os eventos dela e a gente vem todos, pra ir. Sempre a gente vem. Não deixa de vir. Daqui a pouco eles estão por aí, vão chegar aí.
(01:13:00) P1 - Já aconteceu alguma coisa pra você, desde que eles entraram lá, que você ficou emocionado, que foi marcante?
R1 - Tem vários pontos, né? Mas eles fizeram uma filmagem anterior, né? Já foi feita uma filmagem anterior da gente, lá dentro. Uma parte mais do lado da rotina nossa, lá dentro. Só a Rafaela que não tinha entrado ainda, mas apareceu eu, o Marlon e a Maite. Como eu sou chorão, minha mãe já disse que desde criança que eu sou chorão, (risos) até nas entrevistas lá já chorava, a Maite já chorava. A Maite puxou mais para mim, também chorona. O Marlon não, é mais controlado, vamos dizer assim.
(01:13:54) P1 - E as entrevistas e essas filmagens foram do quê? Essas filmagens foram para quê?
R1 - Eles deram, colocaram, foi para a empresa, a empresa que pediu.
(01:14:04) P1 - Mas era tipo Dia da Família, o que que era? Dia dos Pais?
R1 - Foi tipo, não, como se fosse uma homenagem mesmo para mim, tipo assim, que eles fizeram lá dentro.
(01:14:20) P1 - Você recebeu uma homenagem?
R1 - Foi. Eles me filmaram lá no trabalho, andando. E todo (01:14:28), ficou bacana. Foi uma homenagem que a empresa fez pra mim.
(01:14:33) P1 - Pensando nessas homenagens, em que momento você se sentiu, então, homenageado, valorizado?
R1 - Sim, muito, porque a gente está, vamos dizer, contando com a Albras, quarenta anos, que a gente diz. Por exemplo, eu posso dizer: “Eu ajudei a construir aqui a cidade, porque não tinha nada. Ajudei a construir a Albras, porque eu parti duas linhas, ajudei fortemente a construir a Alunorte, porque parti desde a primeira até a última linha. Isso, por si, para mim já me deixa bastante satisfeito. E também o que me deixa muito satisfeito é hoje ainda eu me sentir valorizado. Acho que 15 dias atrás eu recebi um diploma de mérito, pelo trabalho entregue durante o ano. Tem as fotos bacanas, falta jogar lá no Engaje, que eles chamam. (risos) Não consigo entrar muito lá, mas vou tentar colocar lá. Então, isso também me reforça, me deixa muito satisfeito.
(01:15:51) P1 - E você sempre quis continuar, nunca quis sair? O que te fez ficar por quarenta anos?
R1 - É, um é que eu gosto do que eu faço, então isso já ajuda bastante. E por estar aqui próximo e avaliar os mercados, eu já tive proposta para sair, mas para ficar longe da família, mesmo que fosse um pouquinho melhor, eu não vi que valia a pena, né? Aí, por isso que vou continuando, vamos dizer assim, fico continuando.
(01:16:32) P1 - E hoje como é que está a sua vida?
R1 - Está bem, está bem melhor, me sinto tranquilo, feliz, a gente faz umas festas de vez em quando. Eu estou aqui na Vila de 15 em 15 dias. Aí a gente tem um sitiozinho em Igarapé, água corrente. Chega lá, toma um banho. Fica trinta minutos daqui, na estrada que vai pra Abaetetuba. Aí a garotada adora. (risos) Assa uma carne lá, não tem coisa melhor. Faz tempo que eu não vou em Salinas, só quero ir em Igarapé agora. (risos)
(01:17:08) P1 - Você está com quantos netos?
R1 - Nove. Essa é a nona, a que chegou aí, a baixinha aí. Maria Fernanda.
(01:17:18) P1 - Nove netos?
R1 – É, tem a da Rafaela, agora, a Maria Fernanda. Aí da Maite tem dois. Marlon tem três, que são três, cinco e seis, né? E mais o Michel tem três.
(01:17:33) P1 - Você falou pra mim que ser pai foi muito marcante. E ser avô?
R1 - Melhor ainda.
(01:17:40) P1 - É? O que representa?
R1 – Sim, porque o carinho das crianças é coisa que é impagável, vamos dizer assim. Não tem coisa melhor, que te deixe mais satisfeito, de que uma criança vir te abraçar e: “Chegou o vô”. É muito gratificante. E eu adoro isso. Adoro ser avô, adoro estar com eles. Pra mim é uma terapia isso aí. (risos)
(01:18:15) P1 - E você me falou que você perdeu o seu pai, né? Quando é isso aconteceu?
R1 - Já tem uns 15 anos, mais ou menos, tem bastante tempo.
(01:18:29) P1 - Algo que a gente não esquece.
R1 – É.
(01:18:33) P1 - E você e seus irmãos, são unidos? A família se junta?
R1 - Hoje menos, né? Mas a gente já foi mais unido, quando a minha mãe estava na casa dela. Que a casa dela ainda existe, a gente não vendeu, ainda está lá, né? Só que, como ela não consegue mais ficar sozinha e mesmo com pessoas cuidando dela, aí ficava ruim pra gente, porque enquanto ela estava na casa dela eu dormia todo final de semana lá. Aí a gente fazia almoços, sábado, domingo, os irmãos iam. Aí, como ela saiu, foi pra cá da minha irmã e já não está mais... já não tem aquele gosto para as pessoas, de se reunirem lá. Aí eu continuo indo, mas também já não é mais a mesma coisa.
(01:19:23) P1 - O que é importante para você, hoje?
R1 – Nela?
(01:19:27) P1 - Não, na sua vida. O que é importante para você?
R1 - Para mim, o importante é viver bem, paz, amor. (risos) É o importante. Estar com os meus entes queridos. Isso valorizo mais. Não valorizo sair, passear sem eles, prefiro estar junto. Isso faz bem e eu sinto que sou bem acolhido, então para mim está bom. Isso me faz bem.
(01:20:00) P1 – Então, hoje é um dia que eu estou vendo que tem a família, parte dela aqui, é um dia importante?
R1 - Sim. A gente se reúne bastante, aqui. Como eu falei, tem em Igarapé, um sitiozinho lá. A gente se reúne bastante na casa da minha filha, tem uma piscininha lá também. Sempre a gente está se reunindo.
(01:20:20) P1 - Você conseguiu dar para os seus filhos, para os seus netos, uma vida que você queria proporcionar para eles?
R1 - Sim, acho que eu ajudei bastante. É mérito deles, com certeza, mas acho que eu ajudei, sim. Dei uma direção boa para eles. E eles têm hoje, na idade que eles estão, muito mais coisa do que eu tinha, na minha época. Então, isso já me diz que tive um sucesso nessa parte aí. (risos)
(01:20:46) P1 - Qual que é o legado que você deixa?
R1 - Acho que o legado é trabalho, honestidade e amor. Acho que eles conseguem passar para os filhos deles. Você vê que tem uma acolhida aí. Se você vir, por exemplo, as minhas ex-mulheres todas são amigas, convivem. Então, até isso eles dizem para mim: “O senhor conseguiu até isso”. (risos) As duas que moram aqui. Aliás, a atual e a que mora aqui, que é deles. E tem a outra também, que mora em Belém, mas também, quando se reúne... então, acho que é essa coisa que eu deixei de bom para eles, esse legado de união, de fazer a união, crescer junto, puxar, pegar na mão do outro: “’Bora’, vamos junto”. Acho que isso é importante. Aí, como família, você consegue realmente deixar as pessoas mais à vontade. E isso faz crescer, né? Isso faz crescer. Isso eles vão crescer, com certeza.
(01:21:54) P1 - Você tem algum aprendizado que você carrega, que é muito importante para você?
R1 - Aprendizado de...
(01:21:59) P1 - ... de vida.
R1 – Aprendizado?
(01:22:06) P1 - Sessenta e quatro anos ensina muita coisa, né?
R1 - É o aprendizado de vida, mais essa parte de abrir as portas mesmo, pras pessoas, para... tenho os... por exemplo: da minha família, muitos trabalham lá. Esses ex-cunhados todos trabalham lá. Ou seja, eu abri muitas portas para eles. E essa coisa coloca para a gente que você conseguiu ajudar. Isso é importante para mim. Sempre dar as oportunidades.
(01:22:48) P1 - Ser exemplo também, né?
R1 - Sim, ser exemplo é importante. Sempre a gente tenta colocar isso aí, pra fazê-los crescerem, mesmo.
(01:22:59) P1 – Você ainda tem algum sonho, Sebastião?
R1 - Um sonho: criar meus netos, (risos) estar junto com ele. O que eu penso realmente de futuro é isso: ter sempre uma estrutura de poder compartilhar com eles, estar presente. Então, para mim é o mais importante hoje, é o que eu mais sonho hoje. Não tenho grandes sonhos fora desse mundinho aqui, não.
(01:23:32) P1 - E todos os filhos e netos sabem que o vovô é sentimental?
R1 - Sabem. Todos eles sabem. (risos)
(01:23:42) P1 - E esses trinta anos, que para você é quarenta, mas esses trinta anos da Alunorte, como que é para você fazer parte disso, dessa história e ser escolhido como um dos representantes dessa história?
R1 - Olha, realmente a gente tem essa parte profissional, a gente moldou, né? Esse tempo de Alunorte, trinta anos, desde a primeira partida que a gente colocou, como contei a história do Nelcindo e do Aldir, dizendo: “É só ‘cagada’”. Realmente, a gente foi se moldando, aprendendo a lidar e se antecipar, porque realmente uma refinaria de alumina é complexa, é muito complexa. E, para você dominar, para você realmente ter condições de resolver, você tem que estar sempre se antecipando. Sempre. Porque, como são muitos problemas, se você não cuidar de um, vai ser dois, vai ser três, daqui a pouco você perdeu o controle.
(01:24:53) P1 - É como a vida, não é?
R11 – É, (risos) bem parecido. (risos) Se não cuidar, já era. E como a visão, o que se visa é lucro, né? Então, você tem que estar sempre à frente, para não reduzir produção.
(01:25:13) p1 - Mas como é que é, para você, ser parte da história desses trinta, quarenta anos, mas ser um dos escolhidos? Porque acho que esse é um ponto importante. Tem muita gente que trabalha lá dentro e você é um deles, né? Escolhido para estar aqui, participando desse projeto, contando sua história. O que isso significa?
R1 - Significa valorização. Acho que eles estão enxergando, porque alguém colocou: “Quem é, né? É o Sebastião, é o Sabá. O que ele merece? Ah, porque está há trinta anos, como você falou, né? Tem outras pessoas com trinta anos”, né? Eu acho que pelo legado, pela minha família, pelo que eu construí, dizer: “O ‘cara’ está aqui trinta anos, mas ele conseguiu colocar três filhos, todos em funções boas, cargos bons. Ou seja, ele também fez a parte dele lá fora. Fez aqui, fez lá fora, construiu lá fora. E agora, por que não dizer que ele está ajudando a gente, trazendo também bons profissionais aqui para dentro, da família?” Acho que essa parte pesou bastante. Acho que pesa, pesou bastante, para eu ser um dos escolhidos.
(01:26:28) P1 - Você se sentiu bem contando a sua história para a gente?
R1 - Sim. (risos) Com certeza. Acho que foi importante colocar, porque é um legado que a gente deixa e meus filhos vão ver depois e eles vão dizer: “Você foi importante”. Então, agradeço também, vou agradecer à empresa, agradeço vocês pela oportunidade, por tudo, por estarem aqui.
(01:27:00) P1 - E saber que a sua história vai ficar arquivada, ali no acervo, as pessoas vão ter acesso à sua história, seus netinhos, essa que acabou de passar, essa bebezinha, vai poder ver a história do vô.
R1 - Bacana. (risos) Não esperava essa parte. Pensei que seria igual ao outro, a que fez anteriormente, da que filmou lá. Mas foi mais um... agora já é diferente, né? Já é mais um tato mais acadêmico, vamos dizer assim. (risos)
(01:27:37) P1 - E aquele menininho que chegou fazendo a alegria da família, que hoje é esse homem que construiu tudo isso, como é que está?
R1 - Bem. Acho que hoje eu me sinto feliz, me sinto renovado. Vou fazer 65 anos, mas me sinto durinho, vamos dizer, (risos), me sinto forte, sinto com saúde, me sinto motivado. Então, não vou chegar ao ponto de dizer que estou iniciando, mas dizer que ainda me sinto muito bem para outras conquistas.
(01:28:25) P1 - Tem muito pela frente.
R1 – E vou buscar. (risos) Vou buscar, sim.
(01:28:30) P1 - Tem muito pela frente, não é?
R1 - Sim, tem muito pela frente.
(01:28:35) P1 - Obrigada, viu, Seba!
R1 - Obrigado.
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