Há um instante na vida em que o coração, já cansado de apenas sentir, pede para escrever. Talvez seja porque a memória começa a se encher de vozes, risos, abraços que já não cabem mais só dentro de nós. É como se o tempo, com sua pressa silenciosa, dissesse: “coloque no papel, antes que o vento leve”. E então, sem planejar, eu me descobri escritor da minha própria vida, guardião das lembranças de uma família que me fez ser quem sou.
Escrever tornou-se um ato de amor. Cada palavra que brota da minha mão é como um afago em quem já partiu, como se eu conseguisse chamar de volta para perto aqueles que a saudade insiste em manter longe. Há uma ternura inexplicável em revisitar a infância: a casa cheia, o cheiro de café passado na hora, os pés descalços correndo no quintal, as histórias contadas à beira da mesa. É doce, mas também é dolorido, porque lembrar é também reconhecer que o tempo não para e que muitos já seguiram viagem para além da vida.
Ainda assim, escrever me ensina algo precioso: envelhecer é privilégio. É poder contar histórias que outros não tiveram tempo de deixar. É ser testemunha das gerações que vieram antes e das que estão chegando agora. É poder olhar para trás com lágrimas nos olhos, mas também com um sorriso nos lábios, porque, se houve despedidas, também houve encontros; se houve silêncios, também houve músicas que ainda ecoam dentro de mim.
Meu editor pede que eu pare, que eu dê um tempo, que eu deixe o livro respirar. Ele me diz: “já temos páginas suficientes para contar uma vida inteira”. Mas como deter o rio da memória, se a cada dia ele me traz uma nova correnteza? Como dizer ao coração para não escrever, se escrever é a forma que ele encontrou de continuar vivendo? Então, obedeço pela metade: deixo o livro de família em repouso, mas abro um novo espaço, um caderno em branco, para que outras palavras possam florescer.
Talvez este seja meu destino: nunca parar de...
Continuar leituraHá um instante na vida em que o coração, já cansado de apenas sentir, pede para escrever. Talvez seja porque a memória começa a se encher de vozes, risos, abraços que já não cabem mais só dentro de nós. É como se o tempo, com sua pressa silenciosa, dissesse: “coloque no papel, antes que o vento leve”. E então, sem planejar, eu me descobri escritor da minha própria vida, guardião das lembranças de uma família que me fez ser quem sou.
Escrever tornou-se um ato de amor. Cada palavra que brota da minha mão é como um afago em quem já partiu, como se eu conseguisse chamar de volta para perto aqueles que a saudade insiste em manter longe. Há uma ternura inexplicável em revisitar a infância: a casa cheia, o cheiro de café passado na hora, os pés descalços correndo no quintal, as histórias contadas à beira da mesa. É doce, mas também é dolorido, porque lembrar é também reconhecer que o tempo não para e que muitos já seguiram viagem para além da vida.
Ainda assim, escrever me ensina algo precioso: envelhecer é privilégio. É poder contar histórias que outros não tiveram tempo de deixar. É ser testemunha das gerações que vieram antes e das que estão chegando agora. É poder olhar para trás com lágrimas nos olhos, mas também com um sorriso nos lábios, porque, se houve despedidas, também houve encontros; se houve silêncios, também houve músicas que ainda ecoam dentro de mim.
Meu editor pede que eu pare, que eu dê um tempo, que eu deixe o livro respirar. Ele me diz: “já temos páginas suficientes para contar uma vida inteira”. Mas como deter o rio da memória, se a cada dia ele me traz uma nova correnteza? Como dizer ao coração para não escrever, se escrever é a forma que ele encontrou de continuar vivendo? Então, obedeço pela metade: deixo o livro de família em repouso, mas abro um novo espaço, um caderno em branco, para que outras palavras possam florescer.
Talvez este seja meu destino: nunca parar de escrever. Se não for sobre a família, será sobre o amor; se não for sobre o passado, será sobre o presente; se não for sobre mim, será sobre os outros, porque todos carregamos histórias que merecem ser contadas.
Escrever é meu romance eterno. É a mão que acaricia a memória, é o abraço que consola a saudade, é a promessa de que nada será completamente esquecido enquanto houver tinta, papel e coração.
Há um instante na vida em que o coração, já cansado de apenas sentir, pede para escrever. Talvez seja porque a memória começa a se encher de vozes, risos, abraços que já não cabem mais só dentro de nós. É como se o tempo, com sua pressa silenciosa, dissesse: “coloque no papel, antes que o vento leve”. E então, sem planejar, eu me descobri escritor da minha própria vida, guardião das lembranças de uma família que me fez ser quem sou.
Escrever tornou-se um ato de amor. Cada palavra que brota da minha mão é como um afago em quem já partiu, como se eu conseguisse chamar de volta para perto aqueles que a saudade insiste em manter longe. Há uma ternura inexplicável em revisitar a infância: a casa cheia, o cheiro de café passado na hora, os pés descalços correndo no quintal, as histórias contadas à beira da mesa. É doce, mas também é dolorido, porque lembrar é também reconhecer que o tempo não para e que muitos já seguiram viagem para além da vida.
Ainda assim, escrever me ensina algo precioso: envelhecer é privilégio. É poder contar histórias que outros não tiveram tempo de deixar. É ser testemunha das gerações que vieram antes e das que estão chegando agora. É poder olhar para trás com lágrimas nos olhos, mas também com um sorriso nos lábios, porque, se houve despedidas, também houve encontros; se houve silêncios, também houve músicas que ainda ecoam dentro de mim.
Meu editor pede que eu pare, que eu dê um tempo, que eu deixe o livro respirar. Ele me diz: “já temos páginas suficientes para contar uma vida inteira”. Mas como deter o rio da memória, se a cada dia ele me traz uma nova correnteza? Como dizer ao coração para não escrever, se escrever é a forma que ele encontrou de continuar vivendo? Então, obedeço pela metade: deixo o livro de família em repouso, mas abro um novo espaço, um caderno em branco, para que outras palavras possam florescer.
Talvez este seja meu destino: nunca parar de escrever. Se não for sobre a família, será sobre o amor; se não for sobre o passado, será sobre o presente; se não for sobre mim, será sobre os outros, porque todos carregamos histórias que merecem ser contadas.
Escrever é meu romance eterno. É a mão que acaricia a memória, é o abraço que consola a saudade, é a promessa de que nada será completamente esquecido enquanto houver tinta, papel e coração.
Escrever se tornou, para mim, o mais delicado dos romances. Não é um romance de duas pessoas, mas de um ser humano com o próprio tempo, com a vida e com tudo aquilo que insiste em permanecer dentro da alma. Quando a caneta toca o papel — ou quando os dedos se apressam no teclado — sinto como se abrisse uma janela secreta, por onde escapa a poesia que o cotidiano, às vezes, tenta esconder.
Comecei escrevendo sobre a minha família, acreditando que seria apenas um registro, uma lembrança para os que viessem depois. Mas descobri, com surpresa e encantamento, que cada memória é uma flor que, ao ser tocada, espalha sementes para todos os lados. Agora, já não escrevo apenas sobre o que vivi: escrevo também sobre o que sonhei, sobre o que perdi, sobre aquilo que ainda espero encontrar.
O coração humano é vasto demais para caber em um único livro. É por isso que nascem outros: porque sempre há mais a dizer, mais a sentir, mais a compartilhar. Este novo caminho que abro diante de mim não é feito apenas de lembranças; é feito de perguntas, de olhares demorados para o pôr do sol, de silêncios que guardam mais do que mil palavras, de encontros inesperados que mudam o rumo de uma vida inteira.
Quero escrever sobre o amor em suas muitas formas: o amor que começa como faísca e se torna incêndio, o amor que dura mesmo depois da despedida, o amor que não se diz em palavras, mas em gestos pequenos e quase invisíveis. Quero escrever sobre o tempo, esse senhor misterioso que nos tira tanto e, ainda assim, nos oferece a beleza de cada manhã. Quero escrever sobre a vida que pulsa nas coisas simples: no cheiro da terra molhada, na música que brota de uma janela distante, no sorriso que nasce sem motivo.
Este livro não tem pressa. Ele é feito para ser lido como quem bebe um vinho devagar, saboreando cada gole. É feito para os que acreditam que a vida, apesar das dores e das perdas, é um romance que vale a pena ser contado.
Se no livro de família eu fui guardião das memórias, neste eu me torno peregrino das emoções. Caminharei por dentro de mim e também pelos caminhos dos outros, e cada crônica, cada reflexão, será uma tentativa de traduzir em palavras aquilo que, no fundo, todos nós sentimos, mas nem sempre conseguimos dizer.
Porque escrever, afinal, é isto: transformar a vida em eternidade.
Há momentos em que a vida parece pedir silêncio, mas dentro de mim só cresce a vontade de escrever. Não escrevo para ser lido, escrevo para existir. Cada palavra que nasce é como uma chama pequena, acendendo um canto escuro do coração.
Descobri que recordar não é apenas visitar o passado — é reencontrar a mim mesmo em cada lembrança. É ouvir, no eco distante da infância, a voz da mãe chamando para o jantar, o riso dos irmãos correndo pelo quintal, o cheiro do bolo assando no forno. Mas também é sentir o vazio dos que já se foram, e compreender que amar é sempre viver com um pouco de saudade.
Há uma beleza imensa em perceber que envelhecer não é perder a juventude, mas ganhar camadas de memória, como um livro que se escreve página por página. Cada ruga é uma linha de poesia que o tempo escreve em nós, cada lágrima é uma palavra sublinhada pela intensidade da vida.
Escrever é meu modo de amar. Amar quem já partiu, amar quem permanece, amar até os desconhecidos que talvez encontrem nestas linhas um reflexo de si mesmos. Quando escrevo, me sinto acompanhado — como se todas as pessoas que amei estivessem sentadas ao meu redor, escutando, sorrindo, acenando com ternura.
E é por isso que não quero parar. Mesmo que me peçam descanso, mesmo que digam que já há páginas demais, sei que, enquanto houver fôlego em mim, haverá mais uma história, mais um devaneio, mais um gesto de amor colocado em palavras.
Porque a vida é breve, mas a escrita... a escrita é infinita. Ela estende os dias, multiplica os instantes, transforma o que dói em consolo e o que alegra em eternidade.
E, se um dia me perguntarem por que nunca deixei de escrever, responderei com simplicidade: porque cada palavra foi uma maneira de dizer “eu vivi, eu amei, eu senti”.
O tempo é um artista silencioso. Ele pinta nossas vidas em tons que às vezes não compreendemos: uns dias em aquarela, suaves e claros como manhãs de primavera; outros, em traços fortes, quase ásperos, que parecem rasgar a tela da existência. Mas, no fundo, há sempre delicadeza na maneira como ele nos ensina.
Na infância, o tempo é generoso: abre os dias largos, deixa que o sol se demore mais no quintal, nos dá a sensação de que tudo será eterno. Quando crescemos, ele se torna apressado, quase impaciente, como quem nos lembra que precisamos escolher caminhos, plantar sonhos, construir destinos. E, quando a velhice se aproxima, o tempo se torna sábio e lento: ensina a olhar para trás com ternura, a aceitar que a vida é feita de chegadas e partidas, a agradecer por cada instante que ainda se abre diante de nós.
Sim, envelhecer é um privilégio. Há dor, é verdade — a dor de perder, de sentir a ausência, de carregar silêncios que antes eram vozes. Mas também há beleza: é quando compreendemos que cada rosto querido que partiu não se perdeu de fato, apenas mudou de lugar dentro de nós. Agora eles habitam em nossas palavras, em nossos gestos, na forma como aprendemos a amar.
Escrever sobre o tempo é também escrever sobre o amor. Porque só quem ama sente a urgência de guardar as horas, de congelar os instantes, de transformar em eternidade aquilo que o relógio insiste em roubar. É no amor que o tempo encontra seu maior desafio: ele pode desgastar o corpo, mas não consegue apagar a lembrança de um olhar, de um toque, de um sorriso que marcou para sempre.
E talvez seja essa a razão pela qual escrevo sem descanso: porque sei que, ao colocar no papel, eu engano o tempo. Transformo em permanência aquilo que parecia passageiro. Dou à saudade um corpo de palavra. Dou à memória um coração novo.
Escrever, no fim das contas, é um pacto secreto com a delicadeza da vida: mesmo sabendo que tudo passa, eu insisto em registrar como se fosse eterno.
O amor é o grande mistério que move a vida. Não falo apenas do amor entre dois corpos que se buscam, mas do amor em todas as suas moradas: o amor que nasce no silêncio de um olhar, o amor que cresce no cuidado de uma mãe, o amor que se esconde no sacrifício de um pai, o amor que se espalha entre amigos que se reconhecem como irmãos.
Há quem pense que o amor se mede em grandes gestos, mas ele é feito de detalhes quase invisíveis. É o café servido ainda quente, o bilhete deixado na mesa, o abraço que chega sem pedir licença, o sorriso que diz “estou aqui” mesmo quando não há palavras. O amor verdadeiro não grita, não exige, não precisa de palco: ele floresce em segredo, como uma rosa que se abre durante a madrugada.
Com o tempo, descobri que o amor não é algo que temos, mas algo que somos. Quando amamos, transbordamos. Tornamo-nos mais generosos, mais humanos, mais próximos daquilo que é divino. O amor é a ponte entre o que é passageiro e o que é eterno. Tudo o que amamos, de algum modo, nunca morre — porque passa a existir dentro de nós como chama que o vento não apaga.
E mesmo quando dói, mesmo quando parte, mesmo quando se transforma em saudade, o amor continua sendo presente. Porque amar é, antes de tudo, permitir-se viver de forma inteira. Quem ama não guarda reservas: entrega-se ao instante, oferece-se ao outro, escreve no coração uma história que o tempo não consegue apagar.
Escrevo sobre o amor porque é impossível não o escrever. Ele está em cada linha que nasce, em cada memória que guardo, em cada silêncio que transformo em palavra. Talvez toda a minha escrita seja apenas isso: uma declaração interminável de amor à vida e às pessoas que cruzaram meu caminho.
E, se um dia me perguntarem o que aprendi com a escrita, direi sem hesitar: aprendi que o amor é a única herança que realmente deixamos no mundo.
A saudade é uma companheira que chega sem ser chamada e, ainda assim, nunca nos abandona. Ela se instala no peito como quem acende uma vela que não se apaga: ora ilumina, ora queima, mas sempre permanece.
É curioso como a saudade se apresenta em formas diferentes. Às vezes, é um nó na garganta quando ouvimos uma música antiga. Outras vezes, é um sorriso inesperado ao sentir um perfume que nos leva de volta a um abraço que já não existe. Há dias em que ela pesa como pedra, e outros em que é leve como brisa — quase doce, como se dissesse: “olha, você viveu algo tão bonito que vale a pena ser lembrado”.
Sim, a saudade dói. Dói porque nos lembra do que já não volta, do que o tempo levou, das pessoas que seguimos amando mesmo além da vida. Mas também é verdade que só sente saudade quem amou de verdade. Ela é a prova silenciosa de que algo foi tão grande, tão intenso, tão verdadeiro, que se recusou a desaparecer.
Escrevendo, aprendi que a saudade também pode ser consolo. Quando coloco no papel as lembranças de quem já se foi, é como se eu abrisse uma porta e eles entrassem novamente, sentando-se ao meu lado, sorrindo outra vez, respirando dentro das palavras. É por isso que digo: a saudade não é ausência, é presença em outra forma.
E, de certo modo, é ela quem nos ensina a valorizar o instante. Porque, quando sabemos que tudo pode se tornar saudade, passamos a viver com mais delicadeza. Cada abraço se torna sagrado, cada riso é guardado como tesouro, cada olhar é gravado como promessa de eternidade.
Se a vida fosse feita apenas de presenças, talvez não tivesse tanta profundidade. É a saudade quem dá peso às nossas memórias, quem coloca poesia nas despedidas, quem transforma o “adeus” em “para sempre”.
E, por isso, escrevendo, descubro: a saudade é uma forma de amor que se recusa a morrer.
A infância é o lugar onde a vida guarda seus tesouros mais puros. É um tempo que nunca se perde, apenas se esconde dentro de nós, esperando o momento de ser chamado pelas lembranças. Basta um cheiro, uma música ou até mesmo o som da chuva batendo no telhado para que, de repente, sejamos levados de volta ao quintal de outrora, ao chão de terra batida, ao sorriso desdentado que hoje só existe em fotografia.
Na infância, tudo era grande: o céu parecia não ter fim, o mundo cabia dentro da rua da nossa casa, e a felicidade morava em coisas tão pequenas que hoje parecem impossíveis — uma bola feita de meia, uma pipa no alto, uma tarde inteira correndo sem pressa de chegar.
Havia também a magia das histórias contadas pelos mais velhos. Sentar-se à mesa, ouvir as vozes da família, sentir o cheiro da comida se espalhando pela casa — era como estar dentro de um livro vivo, onde cada gesto era ensinamento e cada olhar carregava amor. Essas lembranças, mesmo envoltas em saudade, são como estrelas: continuam brilhando no céu da memória, mesmo quando a noite já avançou.
O mais belo da infância é que nela não existe tempo. Os dias pareciam infinitos, e a alegria não pedia motivo para existir. Talvez seja por isso que, ao lembrar dela, sentimos um misto de ternura e dor: ternura pelo que vivemos, dor por saber que não voltará.
Mas, no fundo, a infância nunca nos abandona. Ela se esconde em nossos gestos, aparece no brilho dos olhos quando rimos sem motivo, renasce cada vez que ensinamos uma criança a brincar. Ela é a raiz de tudo o que somos.
E escrever sobre a infância é como abrir um álbum de memórias invisíveis: páginas que não se rasgam, fotografias que o tempo não amarela, vozes que continuam a nos chamar pelo nome.
Sim, a infância é eterna. Vive em cada um de nós, guardada no cofre secreto do coração.
A esperança é a chama discreta que insiste em arder, mesmo quando o vento sopra forte. Ela não se exibe, não faz alarde — apenas permanece, escondida no canto mais íntimo do coração, lembrando-nos de que nenhum inverno é eterno, de que sempre há uma primavera esperando para florescer.
É curioso como a esperança se revela em pequenas coisas. Está no botão de flor que insiste em nascer entre as pedras, no riso de uma criança que corre sem medo do futuro, no olhar de quem acredita que amanhã pode ser melhor do que hoje. Ela não precisa de promessas grandiosas: basta um sopro de vida, um gesto de bondade, um raio tímido de sol atravessando a janela.
Muitas vezes confundimos esperança com ilusão, mas não são a mesma coisa. A ilusão fecha os olhos para a realidade; a esperança, ao contrário, encara a dor de frente e ainda assim acredita. É uma força silenciosa que nos levanta quando tudo parece perdido, que nos faz levantar da cama em dias de sombra, que nos convida a confiar mesmo quando não temos certeza do caminho.
Eu escrevo porque tenho esperança. Cada palavra lançada ao papel é como uma semente que deposito na terra do tempo. Talvez um dia alguém a encontre e nela descubra consolo, coragem ou mesmo um motivo para sorrir. Essa é a beleza da esperança: ela não pertence apenas a quem a sente, mas se espalha, contagia, renova.
E, no fundo, é a esperança que nos mantém vivos. Não é o passado, cheio de lembranças; nem o presente, cheio de incertezas. É o futuro, esse território invisível onde guardamos nossos sonhos. A esperança é a ponte que nos leva até lá.
Por isso, ainda que o coração às vezes doa de saudade, ainda que o corpo canse e o tempo pese, sigo escrevendo. Porque cada linha é uma maneira de dizer: a vida continua, e há sempre um amanhecer à espera.
A vida é feita de milagres tão discretos que, muitas vezes, passamos por eles sem perceber. Estamos acostumados a buscar grandes acontecimentos, mas a verdade é que a essência do existir mora nas coisas simples, nas pequenas delicadezas que dão sentido aos dias.
Há poesia no cheiro do café fresco pela manhã, no vento que bagunça os cabelos, no canto de um pássaro que insiste em acordar a cidade. Há beleza no sorriso de alguém que passa na rua e nem sabe que iluminou nossa tarde, no abraço demorado que parece costurar de volta as partes rasgadas da alma, no silêncio tranquilo de um fim de dia que nos convida a agradecer.
A simplicidade é uma linguagem secreta da vida. Ela nos ensina que não é preciso muito para ser feliz — basta saber enxergar. Quem aprende a olhar com olhos simples descobre tesouros escondidos em cada esquina: a ternura de um olhar, a lealdade de um cachorro que espera na porta, a mão estendida de um amigo, o pôr do sol que se repete e, ainda assim, nunca é igual ao anterior.
Talvez a verdadeira riqueza seja essa: colecionar momentos simples que se transformam em eternidade. Porque, no fim, não nos lembraremos das grandes conquistas materiais, mas do riso que compartilhamos, das conversas ao redor da mesa, da leveza de uma tarde sem pressa.
Escrevendo, percebo que minha maior herança não será feita de coisas, mas de palavras. Palavras simples, mas cheias de amor. Palavras que guardam gestos, que eternizam pequenos instantes, que transformam o cotidiano em poesia.
A vida não exige grandiosidade: exige presença. Estar inteiro no agora, saborear cada instante como se fosse único, agradecer pelo sopro de ar, pelo pão na mesa, pelo coração que insiste em bater.
E é assim que descubro que a simplicidade não é falta — é abundância. É ter olhos para o que realmente importa e coração para sentir que, mesmo nas coisas pequenas, mora a grandeza da vida.
Os sonhos são pássaros que habitam a alma, mesmo quando o corpo permanece preso às responsabilidades do dia a dia. Eles não perguntam se estamos prontos; apenas nos chamam a voar, a imaginar, a acreditar que há algo além do que os olhos podem ver.
Há sonhos que são silenciosos e tímidos, como uma vela acesa no canto de um quarto, e há sonhos que explodem como fogos de artifício, iluminando o céu inteiro da vida. Alguns nos levam a lugares distantes, outros nos devolvem a nós mesmos, em lembranças, paixões e descobertas que nem sabíamos existir.
Sonhar é um ato de coragem. É permitir-se acreditar que o impossível pode se tornar possível, que o horizonte não é limite, que cada amanhecer traz uma oportunidade de recomeçar. Mesmo quando a realidade insiste em nos dobrar, os sonhos permanecem: persistentes, silenciosos, insistentes. Eles são o sopro de eternidade que nos lembra que somos mais do que corpos, mais do que circunstâncias; somos possibilidades infinitas.
Escrever sobre os sonhos é, de certo modo, tocá-los com as mãos, dar-lhes forma e cor, transformá-los em algo tangível. Cada palavra é uma asa, cada frase, um voo. E, mesmo que alguns sonhos se percam no caminho, é no ato de sonhar que encontramos a força para continuar.
E a beleza é que os sonhos não envelhecem. Eles podem mudar de forma, podem adormecer por um tempo, podem até se esconder atrás de medos e preocupações, mas nunca morrem. Basta uma lembrança, uma palavra, uma esperança, para que eles levantem voo novamente, levando-nos junto com eles.
Escrevo porque sonhar é preciso. E escrever é a forma que encontrei de manter todos os meus sonhos acordados, como se o papel fosse o céu infinito onde eles podem voar livres, sem medo, sem limites, sem tempo.
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