MINHA HISTÓRIA DE VIDA E A DE MEUS IRMÃOS
Nasci na cidade de Esperantina, interior do estado do Piauí. Uma cidade com características provincianas, em que os moradores mantinham hábitos e costumes simples, financeiramente, dependendo quase que exclusivamente do cultivo do campo. Como esta cidade não possuía recursos econômicos, ainda bem cedo meus pais nos trouxeram para morarmos em Teresina. Nesta época a nossa família já era um pouco crescida: meus irmãos Francisco, Luís, Gilberto, Emiliano, Antônio e Regino já lideravam os homens. Mais tarde outros irmãos iriam nascer.
Como não tínhamos condições de ter a nossa própria casa, vivíamos de casa em casa, morando de aluguel. O meu pai, João Pereira, fazia o possível para garantir o sustento da família: Sempre estava fora de casa fazendo algum serviço e levava os meus irmãos, antes do amanhecer do dia, para ajudar no trabalho nas olarias. Esse trabalho era considerado pesado, tinha o seu ardor; mas os meninos encontravam alguma forma de se divertirem, como caçar passarinhos com baladeiras. Além de trabalhar tinham que também estudar; mas, como as condições não eram favoráveis para privilegiarem os estudos, às vezes tinham que sacrificar a própria educação.
A minha primeira escola foi o Bezerra de Menezes, e a professora Priscila ensinou-me os primeiros passos da alfabetização. Também passei pelo Oscar Clark e a antiga Escola Normal, que mais tarde passou a ser chamada de Instituto de Educação. Gostava bastante de ler, desde revistas como Manchete, Capricho, Cruzeiro, Seleções até livros paradidáticos, como As aventuras de Pedrinho. Talvez esse apetite por adquirir vários tipos de conhecimento me inspirou, mais tarde, a seguir a carreira de professora.
Quanto às brincadeiras da infância e adolescência, gostava de brincar...
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MINHA HISTÓRIA DE VIDA E A DE MEUS IRMÃOS
Nasci na cidade de Esperantina, interior do estado do Piauí. Uma cidade com características provincianas, em que os moradores mantinham hábitos e costumes simples, financeiramente, dependendo quase que exclusivamente do cultivo do campo. Como esta cidade não possuía recursos econômicos, ainda bem cedo meus pais nos trouxeram para morarmos em Teresina. Nesta época a nossa família já era um pouco crescida: meus irmãos Francisco, Luís, Gilberto, Emiliano, Antônio e Regino já lideravam os homens. Mais tarde outros irmãos iriam nascer.
Como não tínhamos condições de ter a nossa própria casa, vivíamos de casa em casa, morando de aluguel. O meu pai, João Pereira, fazia o possível para garantir o sustento da família: Sempre estava fora de casa fazendo algum serviço e levava os meus irmãos, antes do amanhecer do dia, para ajudar no trabalho nas olarias. Esse trabalho era considerado pesado, tinha o seu ardor; mas os meninos encontravam alguma forma de se divertirem, como caçar passarinhos com baladeiras. Além de trabalhar tinham que também estudar; mas, como as condições não eram favoráveis para privilegiarem os estudos, às vezes tinham que sacrificar a própria educação.
A minha primeira escola foi o Bezerra de Menezes, e a professora Priscila ensinou-me os primeiros passos da alfabetização. Também passei pelo Oscar Clark e a antiga Escola Normal, que mais tarde passou a ser chamada de Instituto de Educação. Gostava bastante de ler, desde revistas como Manchete, Capricho, Cruzeiro, Seleções até livros paradidáticos, como As aventuras de Pedrinho. Talvez esse apetite por adquirir vários tipos de conhecimento me inspirou, mais tarde, a seguir a carreira de professora.
Quanto às brincadeiras da infância e adolescência, gostava de brincar de bonecas, sendo que desejei muito ganhar uma que chorasse, como presente de Papai Noel. Ele nunca apareceu debaixo de minha rede, mas usei a criatividade, improvisando bonecos de pano, caixinhas de fósforo, palitos de picolé. Outras brincadeiras que me enchiam de prazer eram as encenações de teatro, cinema e televisão que realizava com as minhas colegas até os nossos pais nos chamarem para dormirmos. Era um imaginário que fazia parte das fantasias de uma criança e adolescente sonhadora com uma transformação daquela realidade.
Havia também as feiras que se faziam nos espaços livres para onde minha mãe, Mariana, me levava. Eu tinha esse privilégio porque minhas irmãs Ivanildes e Marlene, que nasceram depois, ainda eram bem pequenas. A criança atenta, segura nos braços da mãe, contemplava, perplexa, todo aquele movimento de transeuntes e ambulantes interessados em tirar proveito nos negócios. Também ela costumava conduzir-me para o matadouro da cidade, que, pela importância comercial que exercia para a cidade, originou o nome do bairro. Ali havia uma grande aglomeração de pessoas entre as pessoas que compravam, os negociantes e os trabalhadores, com destaque para as “fateiras”, que eram aquelas mulheres encarregadas da limpeza das partes internas dos animais. A matança dos animais constituía um verdadeiro suplício para as vítimas e um espetáculo para os curiosos. Todas as partes do animal eram bem aproveitadas tanto a carne propriamente dita quanto os miúdos.
Outro ponto de atração no bairro era o campo do Itamaraty. Não possuía gramado, as traves eram sem rede e canos gigantes de concreto serviam tanto para as brincadeiras das crianças de esconde-esconde como também de arquibancadas. Mesmo assim, representava uma figura imponente naquela região, visto que para ali afluíam jogadores de diversas partes da cidade, incluindo atletas profissionais. Ali foi fundada por meus irmãos uma grande equipe de futebol chamada Bangu. Os jogos e treinos, que aconteciam constantemente naquele campo, com status de estádio, eram uma forma de socialização dos moradores. As amizades dali surgidas, sejam pela união em favor de torcer fervorosamente por um time, seja pelos bate-papos corriqueiros, tornaram-se fortalecidas, extrapolando os limites das partidas de futebol. Sendo que meu irmão Regino, que se tornou um profissional nesse esporte, foi o campeão de amizades.
Esse meu irmão era o mais novo dos homens. Uma das suas paixões que se destacara desde cedo era jogar bola. Quando não tinha bolas de plástico ou de borracha, enchia de panos um pé de meia para ficar chutando. Além do interior da casa, os espaços da rua também eram bem aproveitados para esse tipo de brincadeira. Era um líder em qualquer partida de futebol, com seus gritos de animação. Os colegas o tinham em bastante estima e respeitavam as suas indicações. O seu humor era uma das características que mais se sobressaía. Gostava de falar com emoção sobre futebol e narrava jogadas imaginárias para os sobrinhos. Esses sobrinhos o consideravam bastante, tanto pelas dicas de futebol, quanto pelo fato de andarem bastante na companhia do tio. Tinha paciência em ensinar qualquer coisa que estivesse ao seu alcance, principalmente em matéria de futebol. Como fora sempre bastante ativo, teve facilidade em ingressar no serviço militar e mais amizades arranjou nesse período. Seguiu trabalhando duro, principalmente como vigilante, até que conseguiu um emprego na INFRAERO, onde permaneceu até a aposentadoria. O futebol, entretanto, nunca deixou de fazer parte de sua vida. Seja como jogador, seja como treinador, demonstrava uma paixão intensa pelo esporte.
Outro da família que também teve uma dedicação pelo esporte foi o meu irmão Luís. Este irmão não se destacou como jogador, e sim como treinador. Tivera uma infância bastante marcada pelo trabalho em olarias e, como fora um dos primeiros irmãos, teve maior encargo dos serviços fora de casa e menos chances de estudar, mas, mesmo assim, ainda era enviado para a escola. Participava de muitas brincadeiras como diversão, tanto em casa como na rua com os colegas; isso quando terminava as suas obrigações. Jogar bola, peteca, correr com colegas, eram brincadeiras que faziam parte das folias. Entretanto, o que lhe deu mais notoriedade, que fazia parte do seu entusiasmo e dedicação foi mesmo o futebol. Neste esporte passou a maior parte da sua vida envolvido, formando e treinando times. Inclusive esteve na fundação de uma das primeiras equipes do bairro Nova Brasília.
Como pai de família, Luís sempre procurou agir com responsabilidade na criação dos filhos; não medindo esforços para levar o sustento para casa, trabalhando com afinco em serviços braçais durante sol e chuva. Procurava estar ao lado dos filhos- Antônio José, Jorge, Marisa, Renata e Fernanda-, tanto nas horas de brincadeiras, utilizando o imaginário do futebol; como nas horas de sofrimento, acompanhando ao médico, quando adoeciam. Conversava por longo tempo com a esposa Maria e estava sempre disposto dar assistência e atenção. Um período difícil, entretanto, ocorreu quando entregava-se avidamente ao hábito de consumo de bebidas alcoólicas. Houve atritos na família, mas com o passar do tempo, foram se resolvendo.
Também inclinado para o futebol foi o meu irmão Emiliano, mais conhecido como Camilo. Participou como atacante em uma temporada no Bangu, no bairro Matadouro. Não se destacou muito como o Regino, mas deixou a sua marca na equipe. Na infância, realizou os mesmos trabalhos dos demais irmãos; participou das mesmas brincadeiras e teve os seus momentos de alegria. Alegria essa que o segue ao longo da sua vida, tanto na juventude, quanto depois de casado. Sendo que, nessa etapa, continua por um bom tempo tendo que trabalhar em serviços braçais, como “canto de carro”, olarias e calçamento, para a sustentação da família. Somente após uns dez anos de casamento é que consegue emprego de vigilante e, logo depois, no serviço público nesta mesma função.
Através das lidas pelas quais passou, Camilo revela-se um homem combativo e destemido, capaz de enfrentar com resiliência os embates da vida. Um dos reveses foi a morte repentina do único filho que tinha: um rapaz que era bastante ativo, trabalhador, alegre com todo mundo, esportista. Apesar da dor imensa da separação, meu irmão reergueu a cabeça e seguiu a vida adiante. Não sucumbia nas horas mais difíceis. E assim aconteceu também na separação dos pais, de irmãos e de uma neta. Sofrimento contido, dores aprofundadas. Desta forma, Camilo passava força e superação para quem observava o seu caráter e resignação. Hoje meu irmão não se encontra mais conosco, contudo o seu legado permanece.
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