Projeto 30 Anos Alunorte
Entrevista de Normando Pantoja de Queiroz
Entrevistado por Lígia Scalise
Barcarena, 15 de julho de 2025
00:18
P1 - Obrigada viu, por ter vindo. E eu vou pedir para você começar me dizendo seu nome inteiro, a sua data de nascimento, dia, mês e ano e a cidade que você nasceu?
R - Meu nome é Normando Pantoja de Queiroz, minha data de nascimento é 3 de fevereiro de 1964. Eu nasci em Belém do Pará.
00:37
P1 - Quando você nasceu, os seus pais, antes de tudo, eles vieram de onde? Eles são do Pará?
R - Meus pais nasceram na Ilha do Marajó, um em Ponta de Pedra, outro em Soure. E se conheceram em Belém do Pará. Meu pai saiu novo de lá, de Soure, acho que era com 19 anos. E minha mãe também veio de Ponta de Pedra com a família para cá. Se conheceram e nasceram uma família de quatro filhos.
P1 - Você é o caçula?
R - Eu sou o caçulinha da mamãe. E desses quatro filhos era uma mulher e três homens. E infelizmente a minha irmã faleceu com 19 anos, com problema de leucemia. Naquela época, uns 40 anos atrás, não tinha todo esse recurso, então ela foi a óbito. E ficaram três homens e minha mãe era a rainha do lar. Quer dizer, rainha do lar por causa dos homens. Mas aí, ela era costureira, e costurava bastante, excelente. Uma costureira de mão cheia. E o meu pai, ele era ajudante de loja, de arrumação de loja, tudinho isso aí.
01:48
P1 - Qual era o nome de seus pais?
R - Minha mãe é Círia de Nazaré Pantoja de Queiroz e meu pai é Norberto Sarmento Queiroz. Mas ele era uma excelente educação pra gente. Todos os três filhos são formados, graças a Deus, Graças a eles também, né? Que a educação deles… Foram excelentes com a gente. E minha mãe trabalhava muito, até três horas da manhã. Enquanto a gente estava estudando, ela estava lá trabalhando, costurando até três horas da manhã. Me lembro muito bem de Natal, Ano Novo, o negócio acontecendo lá, e ela costurando lá para poder manter a...
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Entrevista de Normando Pantoja de Queiroz
Entrevistado por Lígia Scalise
Barcarena, 15 de julho de 2025
00:18
P1 - Obrigada viu, por ter vindo. E eu vou pedir para você começar me dizendo seu nome inteiro, a sua data de nascimento, dia, mês e ano e a cidade que você nasceu?
R - Meu nome é Normando Pantoja de Queiroz, minha data de nascimento é 3 de fevereiro de 1964. Eu nasci em Belém do Pará.
00:37
P1 - Quando você nasceu, os seus pais, antes de tudo, eles vieram de onde? Eles são do Pará?
R - Meus pais nasceram na Ilha do Marajó, um em Ponta de Pedra, outro em Soure. E se conheceram em Belém do Pará. Meu pai saiu novo de lá, de Soure, acho que era com 19 anos. E minha mãe também veio de Ponta de Pedra com a família para cá. Se conheceram e nasceram uma família de quatro filhos.
P1 - Você é o caçula?
R - Eu sou o caçulinha da mamãe. E desses quatro filhos era uma mulher e três homens. E infelizmente a minha irmã faleceu com 19 anos, com problema de leucemia. Naquela época, uns 40 anos atrás, não tinha todo esse recurso, então ela foi a óbito. E ficaram três homens e minha mãe era a rainha do lar. Quer dizer, rainha do lar por causa dos homens. Mas aí, ela era costureira, e costurava bastante, excelente. Uma costureira de mão cheia. E o meu pai, ele era ajudante de loja, de arrumação de loja, tudinho isso aí.
01:48
P1 - Qual era o nome de seus pais?
R - Minha mãe é Círia de Nazaré Pantoja de Queiroz e meu pai é Norberto Sarmento Queiroz. Mas ele era uma excelente educação pra gente. Todos os três filhos são formados, graças a Deus, Graças a eles também, né? Que a educação deles… Foram excelentes com a gente. E minha mãe trabalhava muito, até três horas da manhã. Enquanto a gente estava estudando, ela estava lá trabalhando, costurando até três horas da manhã. Me lembro muito bem de Natal, Ano Novo, o negócio acontecendo lá, e ela costurando lá para poder manter a família. E meu pai, nunca faltava nada para a gente, mas no Natal nunca faltava nada, não faltava nada, estava tudo organizado lá. Um bom exemplo que ele dava para a gente.
02:34
P1 - Quando você nasceu, ela te contou como foi esse nascimento? Se foi no hospital, se foi parto normal? Por que escolheu seu nome de Normando?
R - Esse nome de Normando eu nunca entendi o por que o Normando? Ela falou que era um amigo da família, que já existia esse nome, e ela gostou e colocou Normando. E aí, eu fui pesquisar na internet e tem vários Normando pela cidade. Inclusive, o prefeito de Belém, o nome dele é Normando. Quer dizer, o sobrenome dele é Normando, Igor Normando o sobrenome. E tem uma família em Belém também com o sobrenome Normando. E o meu é nome Normando.
03:13
P1 - Qual é o nome dos seus irmãos?
R - O nome do meu irmão é Nocírio Pantoja Queiroz. O que é o Nocírio? É Norberto, que é do meu pai, é Círio, da minha mãe. Que a minha mãe nasceu dia 13 de outubro, dia do Círio de Nazaré. O nome dela é Círia de Nazaré. Aí, juntou os dois, deu Nocírio que é o mais velho. Ele é geólogo, aposentado da Petrobrás, hoje. Está bem, graças a Deus. Meu outro irmão, é o Norberto Júnior, e é professor de Educação Física, também aposentado.
3:47
P1 - E os outros? Tem mais.
R - Não, são três. Eram quatro. Uma faleceu.
P1 - Então, o nome dela?
R - É Ana Clivia Pantoja Queiroz. Ela estava estudando para ser… Magistério.
P1 - Então, tem os No alguma coisa, né?
R - É!
P1 - Nocírio, Normando e Norberto.
R - Exatamente. Só Ana Clivia que saiu do No.
04:03
P1 - E ela falou do dia do seu nascimento, ela chegou a contar?
R - Não, ela não chegou a contar. Até isso, uma ideia que eu hoje eu não posso nem perguntar, que os dois já foram embora, já. Eu não entendi porque não tive essa ideia de perguntar como foi o meu nascimento. Não tive essa ideia.
04:21
P1 - E a casa, como que era?
R - A nossa casa… Meu pai foi o primeiro morador dessa rua que eles moram, que ainda tem a casa lá, que é na Pedro Miranda, passagem com a Eline. Ele foi o primeiro morador de lá. Ele que puxou água, puxou luz pra lá, tudinha, foi o primeiro morador. E falava muito bem, que como a casa era dentro do mato. Naquela época era mato lá. Então, tinha cobra, tinha aranha, tinha tudo. Dizia minha mãe que dormia com mosquiteiro. Sabe o que é mosquiteiro, não é? Dormia com mosquiteiro por causa de cobra, de aranha. A gente vivia numa rua que no início a rua era ponte, tinha alagado, embaixo era ponte. Mas assim, meu pai sempre foi muito assim, cuidar muito da casa. Então, não deixava nada faltar na casa, tranquilo. Mas a gente morava assim… E nossa vivência, foi uma infância muito boa.
05:15
P1 - Mas me descreve a casa.
R - A minha casa era uma casa de dois pavimentos, de madeira. Em cima tinham três quartos, embaixo, sala, cozinha, sala, a sala da minha mãe de costura, tinha uma varanda, tinha uma cozinha e um quintal grande. E neste quintal a gente criava pato, galinha, porcos. Eu me lembro que seis horas da tarde eu tinha que pegar o milho e jogar para as galinhas, para os porcos, tudinho isso aí. E tinha um cachorro, o Shazam, na época, o nome do cachorro era Shazam, um cachorro muito bom pra gente. Tivemos três pets nessa época, era o Shazam, o Fly e a Cocota, que a Cocota era um pequinês da minha mãe.
06:06
P1 - E esses bichos, galinha, porco, pato. Era para criar, para vender, para comer?
R - Não, era para a nossa subsistência mesmo, só para a gente. Não era para vender.
P1 - E você está me falando de uma infância que você teve boa. Mas como era a vida deles? Era uma vida de aperto, era uma vida…
R - Era uma vida de aperto, muito aperto. Cria três filhos para colocar para estudar, faculdade. Era uma vida de muito aperto. Mas eles, assim, eles não deixavam transparecer esse aperto pra gente, entendeu? Isso que era o mais importante, eles não deixavam transparecer esse aperto para a gente, estava tudo bem. Mas a gente sabia que tinha o aperto. Mas estava tudo bem, o que a gente precisava… Não faltava para a gente nada, em termos de…. Não era luxo, mas não faltava nada. Naquela época, comer galinha de domingo era fantástico. Então, porra, tinha galinhada no domingo. Vamos lá. Boa, legal! E assim, os parentes vinha tudo para a nossa casa. A minha mãe também era a caçula das irmãs, então todo mundo vinha para casa. Era muito bom. Uma infância gostosa, brincava na rua, papagaio, peteca, bola de gude, que vocês chamam no sul. Mas assim, eu não tenho… Também tem o televizinho, que meu pai não conseguia dinheiro para comprar uma televisão, ia para a janela do vizinho lá para assistir televisão, ficar no televizinho lá. Mas assim, foi gostosa, muito boa. Na época que criança brincava na rua.
7:33
P1 - E você como caçulinha, tinha alguma regalia?
R - Como sempre, os caçulas tem uma regalia. Inclusive, eu estava conversando com a minha esposa, que o meu irmão mais velho, quando ele entrou na faculdade. Foi o primeiro a entrar na faculdade, geólogo, foi muito bom. E ele começou também a fazer estágio e tal. Então, ele já começa a ajudar. Então, ele comprava sapato pra mim, roupa pra mim, eu me lembro muito bem disso. Que ele já começava a me ajudar.
08:05
P1 - Qual que é a distância entre vocês de idade?
R - São três anos de cada um. São três anos de cada um. Hoje está com 68 anos. Mas assim….
P1 - E vocês são parecidos fisicamente, os irmãos, os pais?
R - Somos, somos, parecidos, muito parecidos.
08:23 - Como que era o seu pai, como que era a sua mãe fisicamente?
R - Minha mãe é linda, era linda, maravilhosa, linda, linda, linda. Dizem que a minha mãe parece comigo, por isso que eu sou bonito. Minha mãe era bonita, tinha um rosto muito bonito, nariz afilado. Meu pai já era mais um pouco cabocla, assim, mas também… Os dois dançavam muito, adoravam dançar. Iam para festa dançavam, dançavam até… Então, era um casal que todo mundo olhava assim, estavam dançando. E a gente foi nesse ritmo, a gente pegou também o dançar com eles. Então, a gente dança muito também.
08:49
P1 - O que eles dançavam, que ritmo?
R - Todos os ritmos. Eles dançavam todos os ritmos. Minha mãe adorava festa, minha mãe. Minha mãe, na época que ela era nova, os irmãos tinham uma escola de samba. Me esqueci o nome da escola de samba agora. Era lá na 14 de março. Eles tinham uma escola de samba. A minha mãe era sambista, então minha mãe gostava de samba, gostava de música, gostava de viajar. Minha mãe viajou muito, Amsterdã, Portugal. A minha mãe, apesar de pouco dinheiro, mas ela conseguia viajar.
09:23
P1 - E seu pai acompanhava?
R - Não, meu pai não acompanhava, meu pai não gostava de viajar. “Não, vai, deixa que eu fique aqui.” Ele não acompanhava. Infelizmente ele não acompanhava. Ele queria ir para Soure, Soure não tem jeito, todo o mês de julho, Soure, acabava as aulas, todo mundo pra Soure. E era muito bom lá, muito bom.
09:44
P1 - E a sua mãe que fazia a roupa de vocês?
R - A minha mãe ia, não tinha shopping center, mas ia na João Alfredo, que é a rua de comércio aqui em Belém, ela ia ver as roupas, comprava tecido e fazia pra gente. A gente não tinha dinheiro pra comprar. Ou então, como ela costurava muito, sobrava os retalhos e dos retalhos, ela fazia roupa pra gente.
10:20
P1 - Estava sempre lá, arrumadinho.
R - Sempre arrumadinho, sempre dentro do trinques, como falava. Muito bom, muito bom, muito bom.
10:27
P1 - Normando, você falou que o Natal era especial. Por que?
R - Porque meu pai, ele não deixava a gente sem brinquedo e sem a comida do Natal. Ele ia, um certo dia, vamos lá, escolhe o que vocês querem aqui. E fazia em prestações a perder de vista. Mas Natal ele estava lá com a gente. Não faltava nada, graças a Deus.
10:50
P1 - Você lembra de algum brinquedo que você quis e ficou muito feliz?
R - Um robozinho que andava assim, todo assim. Naquela época o robô não tinha muita articulações, então ele andava todo assim. Aí, ele comprou pra mim.
P1 - Vocês tinham quantos anos?
R - Eu acho que eu tinha uns oito anos nessa época. Oito anos.
11:03
P1 - E quais eram as regras da casa?
R - Todo mundo ajuda. Porque minha mãe era a única mulher, ela costurava. Então, tinha a semana de um para lavar o banheiro, um para lavar a louça, outro pra varrer a casa e encera a casa. Como é que a gente encereva a casa? Tinha o escovão, um sentava no escovão, o outro puxava, aí o outro, revezava, puxa pra cá. Então, era assim, porque a casa era de madeira, e tinha que encerar, ficar bem enceradinho, bem bonitinho, entendeu? Bem caprichoso. Então, a gente encereva a cara assim, um sentava, outro puxava. E era dia de sábado que acontecia, todo sábado tinha que encerar a casa.
P1 - E tinha música tocando?
R - Tinha música tocando, aquelas músicas assim, e também… Como eu era caçula, ficava em casa, aí, antes de ir para a escola, não tinha nada, eu ficar brincando sozinho lá. Naquela época tinha muito filme de faroeste. Então, ficava brincando lá, que eu era o índio e o soldado ao mesmo tempo. Eu atirava e morria, atirava e morria. Mas era bom, era gostoso. Hoje, pô, o meu filho não tem isso, só computador, PS5. “Bora ali ver qualquer coisa.” Mas não tem jeito. Época dele, a gente não pode reclamar.
12:34
P1 - E eles eram tranquilos ou eles também eram bravos?
R - Eles eram assim, justos. Eram justos, na hora que tinha que puxar a orelha, puxava, e na hora que tinha que dar carinho dava. Mas dava mais carinho que puxava a orelha.
12:48
P1 - E você como criança, como você era?
R - Eu era um pouco assim… Eu gostava muito de brincar com pessoas mais adultas, não sei porque, devido meus irmãos serem maiores, tudo eu ia junto com ele, jogar bola com eles, tudo que eles iam eu acompanhava. Então… Mas eu era um pouco travesso, travesso.
P1 - Conta aí uma travessura?
R - Ah, papagaio aqui, pipa lá. Papagaio, a gente corria muito atrás de papagaio na rua e tal. E um dia eu fui pular no cercado que dava para a vizinha para pegar um papagaio, quando eu pulei, tinha um prego, pulei em cima de um prego, o pé em cima do prego. Aí, hospital. Outra travessura. Tinha um filme na televisão, que a gente assistia, me esqueci agora o nome, a memória não está boa. Então, eu quis fazer… Minha mãe, tinha a máquina de costura, e tinha aquela roda no meio, né? Aí, eu estava no carro lá, hummmm… Seriado de aventura, os carros iam com duas rodas. Aí, que foi que eu fiz, pisei na parede para o carro ficar em duas rodas. Só que a máquina veio pum na minha testa. Eu tenho uma marca bem aqui assim. Aí, veio. Minha sorte foi que tinha uma mesa, ela bateu na minha cabeça e ficou na mesa, se não hoje eu não estaria fazendo essa entrevista hoje com vocês. Então, a mesa deu aqui, bati minha cabeça, meu pai… A gente mora próximo do pronto socorro, aí meu pai enrolou uma flanela que ele tinha aqui, me levou pro hospital, que é próximo, aí pronto. Se não hoje eu não estaria fazendo essa entrevista aqui com vocês.
14:09
P1 - Meu Deus! Imagina o desespero do seu pai.
R - Eu já engoli espinha de peixe, aquela parte redonda do peixe assim, eu fui engolir, aí ficou preso aqui, aí meu irmão, que é mais velho, me levou pro hospital. Aí, na hora de entrar na sala… Sala de cirurgia, porque não tinha como tirar. Fazer cirurgia, aí eu chorava, “Não deixa, não deixa, não deixa me levar, não deixa mano. Porque tiveram que relocar meu maxilar aqui para poder tirar a espinha.
P1 - Meu Deus!
R - Por isso que agora eu estou contando que é bom, né? Mas no dia é apavorante, mas depois a gente acha graça.
14:50
P1 - Você tinha um sonho quando você era menino?
R - Eu tinha um sonho de ser oficial da Marinha. Colecionava negócio de navios e tal. E depois eu perdi esse sonho. Não sei, não deu mais. Depois fui crescendo, crescendo, o sonho não foi muito… E também dentro desse período de infância, quem tomava conta de mim era minha irmã, e depois ela morreu, não deu mais. Mas quem tomava conta de mim era minha irmã. Minha mãe trabalhava e minha irmã cuidava da gente, levava para o colégio, essas coisas tudinho.
15:21
P1 - E tinha vô, vó, tia?
R - Tinha vó, que ficava… O meu avô, por parte de pai, de mãe, eu não conheci. Mas eu tinha minha avó, que ela ficava muito bem, ela ficava lá no saguão esperando o bananeiro passar, que chamava, “Dona Maria”, ela pegava a banana, e ela ficava cutucando o cabelo dela aqui assim, penteando, penteando, penteando aquele cabelo bem branquinho, penteando sentada, esperando ele passar para pegar a banana dela. Ela ficava bem assim, sentadinha, esperando. E o meu avô, por parte de pai, a minha avó por parte de pai, eu não conheci, eu conheci o meu avô, que era o Carneirão. Aquele caboclo de souro memo, com aquele chapeuzão, e aquele pé chato, andando descalço. E esse era meu avô. Eu conheci meu avô assim. A casa lá em Soures, do meu pai, casa de barro e palha. A casa de barro, tinha uma sala, uma varanda e uma cozinha. Não, uma sala, um quarto, uma cozinha. Só! Terreno grande, mas era só isso aí.
16:32
P1 - E vocês iam para lá nas férias?
R - Nas férias.
P1 - E aí, era uma diversão?
R - Muita, muita diversão, muita, muita, muita diversão, muita. Então, a gente brincava, tinha muita praia. O búfalo, quando chegava a noite, no navio, porque a gente ia no navio à noite, Presidente Vargas. Aí, a gente ia com uma lanterna, porque na época os búfalos ficavam tudo na rua. Então, tinha que ir com a lanterna para não pisar no búfalo. Tinha que desviar do búfalo para chegar lá. Tinha muito morcego, tinha muita fruta no terreno. Era coisa gostosa.
17:04
P1 - Você tinha medo quando era criança?
R - Tinha, tinha medo assim. Acho que toda criança tem medo num primeiro impacto. Tem medo sim.
17:20
P1 - E a escola, me conta dessa época da escola?
R - Eu estudei no primeiro, acho que logo que eu fui para escola, estudei numa escola chamada XXII de Outubro, que era uma escola que tinha convênio com o trabalho do meu pai e não pagava, a gente ia para essa escola. Uma escola muito boa também. Quem me levava era a minha irmã, ficava próximo a minha casa. E depois eu fui crescendo e fui para o Ju Chamom, era um colégio muito bom, que tem no meu bairro, era referência essa escola. O meu segundo grau, tudo foi em escola pública. Era o JU Chamom, depois eu fiz escola técnica, então foi tudo muito bom.
18:08
P1 - Você gostava de estudar?
R - Eu gosto de estudar, eu gosto de estudar.
P1 - Era bom aluno?
R - Sempre bom aluno. Graças a Deus! Sempre fui um bom aluno, sempre.
P1 - Sua mãe não precisava pegar no pé para estudar?
R - Não. De ninguém em casa ela precisava pegar no pé, de ninguém. Todos sabiam a hora de estudar, sabia o que tinha que fazer. Devido a disciplina e a educação, a gente tem que estudar. “A única coisa que eu posso dar para vocês é estudo, não posso dar mais nada, não vai ter nada. É o estudo. Então, vocês vão ter que estudar para poder ter o reconhecimento de vocês.” Então, sempre tive que estudar. Então, se a fuga é essa para ter alguma coisa, vamos estudar. Tem que estudar, não tem jeito.
18:27
P1 - Você entendeu isso desde pequenininho?
R - Sim. E passo isso pra o meu filho. Olha, a fuga tua é estudar, se não estudar… Naquela época dizia assim: se não estudar, tu vai puxar carroça. “Se tu não estudar, vai puxar carroça.” Então, o estudo sempre foi presente na nossa vida, Graças a Deus.
18:45
P1 - E você falou da sua irmã, né? Então, a memória mais forte era dessa época que ela levava vocês para a escola?
R - Ela cuidava da gente, né? Porque minha mãe estava costurando, ela estava cuidando da gente. Aí, ela que era nossa mãe, praticamente. Porque minha mãe não tinha tempo.
P1 - A sua mãe estava trabalhando mais em casa?
R - Quando eu era pequeno, minha mãe trabalhava fora, depois, quando a minha irmã já estava para falecer, que ela teve leucemia, minha mãe deixou o trabalho e veio cuidar da gente.
19:11
P1 - Com quantos anos ela ficou doente?
R - Com 19 anos. Ela foi passar as férias no Rio, que a gente tem parente no Rio, foi passar as férias no Rio, quando voltou de lá, já voltou com uma leucemia.
P1 - Como é que foi?
R - Foi triste. Eu acho que eu tinha 10 , 12, 11 anos, por aí.
P1 - O que você lembra?
R - Ah, do sofrimento dela. Ela gritava muito, com dores nas juntas. E tinha época que vinha aquela, “Ah, está curada.” Quando ela chegou do Rio para cá, que ela foi passar as férias, voltou já com a doença. Doença, não, explorou, a doença explorou lá. E o médico deu quatro dias de vida para ela. Ela durou ainda um ano e quatro meses. Mas aí, foi isso, muito sacrificio. Lembro muito do médico falar que não tinha recurso para curar essa doença. Que muito tempo atrás, a leucemia não tinha muito recurso. Testando medicamento aqui, medicamento ali. Minha mãe chorando para lá. Mas assim, sempre com a fé em Deus, que isso ia mudar. Sempre rezando, sempre… Que a nossa mãe é muito católica, então sempre rezando que tudo ia dar certo. Mas chegou a hora, Deus levou, e a gente não pode reclamar, a gente tem só que agradecer tudo e seguir em frente.
19:48
P1 - Nesse um ano e quatro meses que ela ficou doente, ela ficou em casa ou no hospital?
R - Ficava em casa e no hospital. Em casa, hospital. Baixava tudo em cima dela, ficava no hospital duas semanas, uma semana, depois voltava para casa. Aí, teve uma época que foi em outubro, ela morreu em janeiro, quando foi em outubro, assim, do ano anterior, deu aquela melhora. “Está curada, Graças a Deus, está curada.” Mas depois deu a queda.
P1 - E vocês conversavam sobre isso naquela época, em casa?
R - A minha mãe conversava muito com o meu irmão mais velho, não comigo, com o meu irmão mais velho. Conversava muito, saber como é que eram as coisas. E aí, ela se apegou muito a meu irmão mais velho. Então, meu irmão mais velho, ficou assim, sendo como um blindado por ela, porque ela não queria perder também o meu irmão mais velho. Então, ela começou a muito se agarrar a meu irmão mais velho, ficar com ele. Inclusive, quando ele foi para a universidade, e chegou tarde em casa. Ela estava desesperada, não sei o que. “Mãe, eu estou chegando agora.” “Não, não quero perder meu filho.” Quer dizer, ela ficou com aquela, ainda… Mas com o tempo isso foi passando e passando. Aí, ela começou a sair, viajar e pronto. Aí, ficou mais tranquila.
21:12
P1 - Mas você tinha só 10 anos, né? Pra você era difícil tentar entender o que estava acontecendo, né?
R - Pra entender o que estava acontecendo, eu sabia o que era, mas não entendia porque isso estava acontecendo. Então, eu sabia que eu ia perder minha irmã, que era minha mãe, no caso, que ela cuidava de mim.
P1 - Qual a sua última memória com ela? Uma memória boa?
R - Uma memória boa é que ela estava fazendo jantar pra mim. E memória ruim, foi um preconceito, porque a gente tem a pele escura, negro, né? E fomos na casa de um amigo dela, não, da amiga dela próxima de casa. Pessoal um pouco de posse, e a minha irmã estava na porta esperando a amiga dela vir. Aí, de repente, veio o pai dela, chegando da feira, ou qualquer coisa. “O que é que vocês querem aqui, seus caras? O que vocês querem? O que estão fazendo aqui na minha casa? Vão embora daqui!” Aí, eu olhei para a minha irmã, a minha irmã olhou, aí veio a filha do cara lá. “É minha amiga, não sei o quê…” Aí, a minha irmã, não, bora ir embora. Eu fiquei assim… Até hoje eu tenho esse pensamento, até hoje isso vem na minha cabeça. Eu passo pela casa lá, eu fico olhando lá e digo, mas tudo bem, deixa pra lá, deixa pra lá, vamos embora.
P1 - Ele achou que vocês eram...
R - Um pedinte, sei lá, pedindo comida, pedindo alguma coisa assim. Mas é... Depois eu pensei bem, digo, não, deixa pra lá isso. Isso não vai levar nada pra mim.
22:41
P1 - E o jantar era o quê?
R - Ah, te falei daquela galinhada de domingo? Era galinha, galinha. Galinha lá era coisa importante, naquela época.
P1 - A que ela fez?
R - Sim, porque ela fazia muita comida, minha irmã. Ela cozinhava bem, cozinhava bastante.
22:56
P1 - E aí, depois que ela morreu, como é que ficou essa família? Como é que você cresceu, a adolescência?
R - Olha, não vou dizer que foi difícil, porque os parentes ajudaram muito. Os parentes ajudaram, acolheram muito. Então, tinha prima que vinha pra casa, pra poder dar um conforto pra minha mãe, os irmãos dela, que eram duas, a minha mãe, minha tia, e mais seis irmãos. Então, todo mundo acolheu, todo mundo foi acolhendo. As amigas, isso foi muito importante pra minha mãe, as amigas, que acolheram a minha mãe. E o trabalho dela. O trabalho dela também ajudou muito. O trabalho dela ajudou muito, muito, muito, ela seguir na vida para ajudar a gente. Mas foi bom. São coisas que têm que acontecer, que Deus coloca na nossa vida, que a gente tem que refletir o que pode vir de bom, trazer, sair de bom disso para a gente.
P1 - E o que que você extraiu de bom?
R - Bom? É a união da família. Foi a união da família. Nós nos unimos mais. Então, antes de ir para o colégio, que tinha o intermediário naquela época, tinha um horário intermediário, que era das 11h da manhã às 2h da tarde.
24:23
P1 - Você estava me contando que o que você tirou desse aprendizado foi a união entre vocês, né?
R - Foi a união. A minha mãe começou a dividir as tarefas, porque não tinha mais uma mulher em casa para ajudar. Então, antes de ir para a escola, que eu estudava no intermediário, das 11h da manhã até as 2h30 da tarde. Aí, tinha que fazer o arroz, deixar o arroz pronto, deixar tudo pronto, porque minha mãe estava costurando. Estava lá costurando para ganhar o dinheiro dela, para ganhar dinheiro para a família. E a gente tinha que deixar o arroz pronto, deixar o bife já preparado. Tinha que catar… Naquela época o feijão e o arroz vinham muito sujos, cheios de pedra. Hoje não, tá tudo limpinho, mas antigamente vinha tudo cheio de pedra, então tinha que catar o feijão, o arroz, pra tirar as pedras, deixar tudo organizado. De manhã cedo já tinha lá, tá aqui o arroz, tá aqui o feijão pra catar, deixando na água para amolecer e fazer antes de ir pra aula, deixar tudo organizado aí. Aí o outro meu irmão já chegava, já fazia, então tinha que limpar a casa, tudo isso aí. Então, a união da família… Tinha, claro, também não era só união, tinha as brigas. “Não, hoje não é meu dia.” “Não, hoje é o teu dia.” “Não, não, não sei o que…” Trocava as coisas, né? Mas…
25:33
P1 - Você gostava de cozinhar, é?
R - Não, cozinhar, não. O meu negócio era mais limpar a casa, organizar a casa. Cozinhar eu não gostava muito, não. Não gostava muito, não. Mas arrumar a casa, limpar a casa, eu gostava.
25:45
P1 - E o seu pai, nessas horas, estava trabalhando?
R - Meu pai trabalhava, saia cedo de casa, sete horas da manhã, chegava para almoçar, saia, voltava seis horas da tarde. Sábado ele trabalhava até seis horas. Meu pai trabalhava muito. A nossa casa, como eu te falei, era primeiro morador, era muito mato, alagava. E aí, ele pegava, comprava areia, a gente tinha que carregar essa areia pra colocar dentro de casa, porque enchia. Então, foi tudo um processo, assim, de, sabe, de sobe a casa, tá tudo bem, aí passa um ano, dois anos, depois enche de novo, aí compra mais material, aí vamos fazendo a casa. Sai da casa de madeira, vai para a casa de alvenaria. Então, todo esse processo de evolução, aconteceu também com a evolução nossa em termos de trabalhar e estudar. Então, toda essa evolução também veio a partir do meu irmão mais velho, que foi para Petrobras, aí começou a ajudar, depois foi outro meu irmão, aí depois fui eu, então teve uma evolução da família neste termo. Mas assim, nós trabalhávamos muito para deixar a casa, para não alagar, então tinha que carregar aquela terra ali todinha, de sábado e domingo, carregando a terra, deixando lá. Então, foi um sacrifício que hoje a gente dá valor. E aí, fala pro outro, “olha, meu filho, tu tá bem aí, mas cuidado. Tu tá bem, bem, mas tu não sabe o que eu passei por aqui. Então, dá valor para o que a gente dá pra ti.”
27:15
P1 - Chegou a alagar?
R - A casa? Alagava a casa, enchia. Até… Há uns cinco, sete anos atrás, a casa estava muito baixa, o meu pai, quando a minha mãe faleceu, aí eu falei, “ó, pai…” A casa continua de dois andares. “Vamos deixar aqui embaixo, vamos morar em cima.” “Não, não sei o que.” Sabe como é, né? “Não, vamos fazer.” Aí, abandonamos embaixo e fizemos a casa pra cima. Aí, agora nunca mais alagou. Mas assim, a geladeira ficava boiando lá, fogão ficava boiando. Tudinho isso aí.
P1 - Perdia, né?
R - A gente perdia. Perdia móvel. Perdia muito móvel. Mas, sempre perseverando. Nunca desistindo.
28:05
P1 - E aí, comprava de novo?
R - Comprava, fazia, comprava, vamos fazer. Então, deixava lá um pouquinho, “dá pra segurar?” “Dá, depois a gente compra outro.
P1 - Quando é que chegou a televisão na sua casa?
R - Agora tu me pegastes. Mas foi assim, a televisão chegou em casa, não era colorida, a gente colocava um papel celofone, acho que era o nome, para colorir assim, para dar aquele colorido na televisão. Mas foi legal. Meu pai sempre batalhou pela família, pra ter o que a gente podia ter. Sempre, sempre, sempre, sempre. Ah, não tem hoje, mas a gente vai conseguir, um dia a gente vai chegar nessa aqui. Aí foi assim, com a televisão, a geladeira. Aí, já vem o som, naquela época aqueles móveis de som grandão. Porque também meu irmão começou a trabalhar, começou a ajudar e a família começou a ter mais posse.
29:06
P1 - Tinha carro na infância?
R - Na infância, não. Eu ia muito para Mosqueiro com meus vizinhos que convidavam, e eu ia para Mosqueiro com meus vizinhos. Muito bem, meu vizinho era oficial da PM, os filhos dele lá, a gente ia junto com eles. Assim, na barca, né? Vamos lá, vamos todo mundo. Aí, sim. A gente não tinha carro, o meu pai não tinha carro.
29:28
P1 - Da infância, qual que é a memória mais marcante?
R - Boa ou ruim? Eu acho que a memória mais marcante que eu tenho da minha infância é quando eu consegui esse robôzinho que eu peguei. Eu dormia com ele. Eu acho que tudo marcou, mas o que mais marcou foi isso para mim.
P1 - E aí começou a adolescência. Quem era o jovem?
R - Ah, rapaz, os meus irmãos ficavam mais presos em casa. O outro, meu irmão do meio, que é professor de educação, ele treinava ginástica olímpica. Então, ele competia muito, ele viajava muito pra competir ginástica olímpica. E eu já era o mais festeiro, gostava mais de festa, de dançar, de dançar carimbó no meu colégio. Eu entrava no grupo de carimbó do meu colégio. Fiz ginástica também junto com meu irmão, ginástica olímpica, me lembro muito bem que eu fiz ginástica olímpica com o meu irmão. E eu gostava mais assim, eu era mais extrovertido. E meu irmão era mais quietinho. Eu não, eu já gostava de festa, gostava muito de festa.
30:52
P1 - Fazia amigo?
R - Faço amigo, quando tenho, faço amigo. Quando eu comecei, eu saí, eu fiz a escola técnica, minha mãe conseguiu uma vaga na Escola Técnica devido à costura, porque ela conhecia a diretora. A diretora disse: eu vou arranjar uma vaga para o teu filho na escola, para todos os três. Então, nós entramos na Escola Técnica também devido à costura que minha mãe fazia, porque conhecia a diretora. Então, deu essa expectativa para a gente, graças a Deus. E na Escola Técnica eu fazia eletrotécnica. E também na Escola Magalhães Barata, que era a Escola Técnica Estadual, eu fazia edificações. Então, eu fazia os dois ao mesmo tempo. Então, chegou uma hora que o meu limite não estava dando mais para conciliar os dois. Aí, eu larguei edificações e fiquei só com a Escola Técnica na parte de eletrotécnica. Então, na parte de eletrotécnica eu era muito competitivo, queria tirar notas boas, competitivo e tal. Tinha um grupinho lá que era muito competitivo e a gente só queria ter nota boa. E também participei da Escola Técnica na parte de bolsista. Eu era bolsista de lá, porque a gente trabalhava de manhã e de tarde ficava na aula. Então, eu era bolsista de lá. E a Escola Técnica abriu muitas portas pra mim, muita coisa boa.
32:13
P1 - Aí, você fez tanto amizade quanto você aprendeu o rumo da tua carreira, assim?
R - É, o ruim da minha carreira foi essa, foi na escola técnica. Muita amizade, até hoje tenho amizade da escola técnica, até hoje a gente se conversa, tem… Muito, muito mesmo.
P1 - Você aprontou na adolescência?
R - Aprontei, assim, aprontei. Qual é o adolesente que não apronta? Tem alguns que são mais quietos, né? Mas aprontei. Eu comecei, depois que eu comecei na escola técnica, eu... Na parte de ginástica olímpica, a gente ia muito treinar. Então, a gente, às vezes, saía do treino, ia para a escola, aí minha mãe me dava o dinheiro para pegar o ônibus. Aí, o meu horário era de uma da tarde até às cinco da tarde. Aí uma da tarde, bora ir de ônibus, a gente pula a roleta e economiza uma grana. E na volta, a gente não paga o ônibus, a gente vem a pé, e passa na padaria e pega meio-pão com manteiga e uma Coca-Cola. Então, todo dia era isso, economizava para comer o meio-pão com manteiga e uma Coca-Cola. Entendeu? Em termos de aprontar… Deixa eu ver se eu me lembro de alguma coisa de aprontar... Não, só era muito namorador. Só namorador. Não tinha assim, de aprontar. Não.
33:39
P1 - Quando é que você começou a namorar, então?
R - Paquerá, né? Namorar não, naquela época, namorar era muito forte, naquela época. Acho que eu tinha uns 17 anos, já estava começando a paquerar.
P1 - E aí, quando é que começou a namorar de verdade?
R - De verdade? Esse namora mesmo firme? Peraí, eu estava na escola técnica. Acho que quando eu saí da escola técnica, em 82, aí comecei a namorar. Que na escola técnica, era mais brincadeira, não tinha muita… Coisa de criança. Tinha algum flerte, mas nada de namoro. Mas, assim, era mais estudo.
34:27
P1 - E foi importante o dia da formatura?
R - Foi, claro que foi importante. Quem fez a minha roupa da formatura foi a minha mãe. Ela que fez toda a minha roupa de formatura, foi muito importante. Até hoje eu me lembro que ela fez. Ela foi no comércio, viu como é que era, fez tudinho. A minha era diferenciada porque foi minha mãe que fez. Minha mãe que fez.
P1 - E eles foram lá no dia da festa?
R - Todas as minhas formaturas, meus irmãos… Porque eu tenho duas graduações, eu sou engenheiro e sou economista. Então, essas minhas duas gerações, todos os meus irmãos, minha mãe, meu pai, acompanharam todas essas minhas formaturas. Então, é isso aí, a gente nunca deixou de participar de alguma coisa. Tanto do meu irmão quando se formou em geólogo, o outro que se formou em Educação Física, a gente sempre apoiando, sempre estava lá. Nunca deixava de ir... “Ah, não vou, não.” Sempre apoiando, estava lá. Vamos lá prestigiar. E, assim, quando eu fiz a escola técnica, foi a oportunidade que eu tive de entrar para a indústria.
35:31 Você falou que quando você terminou a escola técnica, foi quando você entrou na indústria.
R - É, quando eu estava na escola técnica, no meu último ano de escola técnica, eu tinha ido viajar para Macapá, para uma visita na usina de Paredão, em Macapá. Então, como eu fazia eletrotécnica, nós fomos numa visita para lá. E nessa, tive a oportunidade de ter um cartaz lá sobre o ciclo da Amazônia, que seria a Alunorte e Albrás. Só que eu não dei muita bola. Aí, depois fui para Tucuruí, uma visita no Tucuruí também, também não dei muita bola. Quando eu cheguei de viagem, que eu comecei no meu trabalho na escola, no mesmo cartaz lá, grandão, “você tem que se inscrever para o ciclo….” Aí, eu digo, vou me inscrever nisso. Aí, me inscrevi, fiz a inscrição. Era para os alunos que estavam formados e que já iam se formar naquele ano. Aí eu me inscrevi, vamos ver o que vai acontecer nisso. Vamos lá. Aí, tá. Eu fui selecionado de muitas pessoas da minha área. Eu fui selecionado para fazer entrevista, para fazer o teste psicotécnico. Até digo que o teste era de doido, porque foi o dia todo, de manhã até a noite eu fazendo teste psicotécnico. Meu Deus do céu, o que é isso? Aí, de 200 ficaram 100, depois ficaram 50, depois ficaram 25. Aí, nesses 25 que fizeram, aí quando cheguei em casa, falei, ó, passei. Foi maior alegria e tal. Mas eu digo, ainda tem mais uma peneira ainda, desses 25, só vão 20, para fazer um curso no Rio de Janeiro, no Evaldo Lodi, no Senac do Evaldo Lodi, para passar um ano no Rio. Mas desses 25, tinha que tirar 5 e deixar só 20. E foi um, assim, um... Tivemos aqui em Belém um envelhamento, que chamava de envelhamento para fazer o curso no Rio. Então, aquilo foi extremamente vantajoso para a gente. Até hoje, quem fez esse curso comigo, que ainda tem gente da Albrás que fez esse curso comigo junto… Foi o melhor curso que nós fizemos para embasar a nossa parte técnica e teórica da coisa. Porque a gente já tinha da escola técnica, vinha com aquela bagagem, de cálculo numérico, cálculo 1, cálculo 2, física. Então, isso aí já era um diferencial. E com mais esse curso que a gente estava fazendo aqui em Belém, foi um curso de quatro meses para nivelar, que era só cálculo, só física, só química, mas coisa que se via na universidade. A gente já estava fazendo ali. Então, desses 25, tivemos a peneira para 20. E eu fui selecionado para esses 20. E foi a primeira vez que eu viajei de avião, para o Rio de Janeiro. Eu nunca tinha viajado de avião, foi a primeira vez que eu viajei.
38:55
P1 Quando você foi para os outros lugares, você foi de ônibus?
R - De ônibus.
P1 - Caramba!
Aí nunca tinha viajado de avião.
P1 - Que ano que foi isso?
R - Foi em 1984. 1982 eu acabei, eu fiz estágio na Celpa, como estagiário da Celpa, que eu era caçador de gato. Gato é o cara que faz gato na rede elétrica. Eu era caçador de gatos, ia lá na casa da pessoa, desligava o disjuntor lá, o som estava tocando lá, e multava as pessoas. Aí, passei aí nos 20, agradeci muito para Deus, minha mãe ficou muito feliz. E eu tive que ir para o Rio de Janeiro, passar um ano.
39:37
P1 - E aí, como é que foi entrar no avião pela primeira vez?
R - Tu imagina só, né? Pô, como é que é, eu vim aqui... Mas aí eu comecei a ler antes também, para ver como é que, como é que faz. Aí, não foi assim tão assustador, mas, assim, foi... Tinha alguns colegas que já tinham viajado... “Não, é assim, fica assim, te acalma e tal.” Mas foi bom. Foi a primeira viagem de avião e daí não parei mais de viajar de avião, gostei.
P1 - Ver o mundo lá de cima...
R - Deu nervosismo, deu nervosismo. Não vou negar, deu um nervosismo, mas, assim, era tudo novo, né? Tudo, assim, que era uma coisa esplêndida para mim. Pô, legal, estou indo para o Rio de Janeiro, vou ver meus parentes lá. Estou viajando de avião pela primeira vez. Legal.
40:24
P1 - Você não tinha saído ainda da casa dos pais?
R - Nunca tinha saído da casa dos meus pais. Nunca.
P1 - Foi um chororô?
R - Foi um chororô. Foi um chororô da minha mãe, que ela falou, meu caçula estava indo embora de casa. Foi um chororô. Mas assim, do meu lado, eu tive um choro, mas assim… Jovem quer aventura, quer ver o novo, então não pensa nas consequências da mãe, do pai. Mas assim, foi uma experiência muito boa para mim, tanto de vida como profissional. De vida porque eu tive que me virar. Eu morava com um amigo meu, que hoje é meu compadre, que é o Rui Silva, ele saiu da empresa e voltou de novo agora. O Rui Silva, não sei se você conhece o Rui Silva. Então, ele morava no meu quarto comigo. Eram 20... Até hoje o nosso grupo é chamado Grupo dos 20. Eram 20 adolescentes morando no mesmo prédio, no mesmo hotel, lá no centro da cidade do Rio de Janeiro, na Praça Tiradentes. O hotel era Dom Pedro. Ficavam, assim, um por andar. E, nessa época, foi o boom da AIDS. Então, onde a gente morava, nesse hotel, na Praça Tiradentes, não sei se vocês conhecem a Praça Tiradentes no Rio de Janeiro? De um lado da praça eram as prostitutas e do outro lado eram os gays. Então, a gente tinha que passar por tudo isso para chegar no hotel. E foi uma experiência de vida muito boa para mim. Aprendi a me virar cedo, a lavar minha roupa, a lavar minhas cuecas, a ficar doente, a cuidar um do outro. Vamos lá, cuida aqui, tá doente, vamos comprar remédio. Entendeu? A passar os perrengues da vida de solteiro. Quando tem a mamãe, tudo... Sorte que… Eu passei para Albras, o complexo era o Albrás e Alunorte, mas a Albras que estava em evidência, a Alunorte estava parada. Aí, fui pela Albrás.
42:25
P1 - E o que você achou do Rio de Janeiro, da cidade, quando você chegou e viu?
R - Maravilhosa. Maravilhosa. Coisa assim, que eu pensei que eu nunca ia visitar o Rio de Janeiro, nessa proporção que eu tive. Então, maravilhoso. Por que eu digo na proporção? Porque aí tinha o salário da Albrás, e tinha ajuda de custo do Senai. Então, para um jovem solteiro que não tinha nada, com todo o dinheiro na mão, aquilo era esplêndido, né? Então, eu podia fazer tudo o que eu queria fazer, da seguinte forma: ia para o cinema, ia para o shopping, ia conhecer as coisas boas do Rio de Janeiro, todos os pontos turísticos do Rio de Janeiro. Conheci todos os pontos turísticos do Rio de Janeiro. A nossa aula começava segunda-feira, meio-dia, terminava sexta-feira, meio-dia. Então, imagina, vinte adolescentes. Adolescente não, já uns adolescentes e outros mais velhos. Só homem, no mesmo hotel. Todo mundo também, esplêndido, porque estava no Rio de Janeiro, conhecendo as coisas. Na época, foi muito bom. Na época, também surgiu o pop, o rock pop do Brasil, em 1984, 1985. E aí, eu conheci muitas coisas boas lá. Fui para o Fla-Flu, que eu sou Fluminense, eu sou Paissandu, mas eu gosto do Fluminense. Então, fui para o Maracanã, vi como era o Maracanã, o pó de arroz, sabe?
P1 - O pão de açúcar.
R - O pão de açúcar, Cristo Redentor, Paquetá. Tudo isso eu conheci. Eu queria conhecer a Praia Grande, onde tem um presídio. Só que não deu para conhecer, tinha lá um passeio, mas não deu para conhecer. Mas assim, toda a parte do Rio de Janeiro, a gente conhecia, porque a gente estava com recurso e tinha tempo. Às vezes saía em bando. E depois que começamos a acostumar, aí já sabia, vou a pé, vou andar de trem, andar no metrô, essas coisas todas assim. Então, no primeiro momento, eu andava em bando. Tinha até uma lembrança, que nós estávamos saindo do Evaldo Lodi, que é o Senai Evaldo do Lodi, que fica em Benfica. E chegou um cara do nosso lado, olhando para a gente. Aí, teve um amigo meu que se afastou. Ele disse: olha, não se afasta não, eu sei a hora que vocês saem daqui, eu sei a hora que vocês entram e a hora que você saem, tá? Então, não faz não, senão eu dou um tiro na tua cara. Aí, todo mundo, puta, e agora, cara? Aí, entramos num ônibus, que eu não sei se era o 274, ou 374, não lembro. Entramos no ônibus, que é o Benfica Centro, e o cara entrou, e falou: olha, toma cuidado vocês, não vão tirar graças comigo, senão eu sei tudo de vocês aqui, tá? Eu sei como é que vocês chegam aqui. Ali desceu. Aí, ficou assim… Pô, o cara monitorava a gente. A gente nem sabia, o cara monitorava a gente ali. Aí, eu falei, então tem que andar com mais cuidado aqui. A gente estava bem solto, mas depois começamos a andar com mais cuidado.
45:57
P1 - De onde será que ele era?
R - Era de lá mesmo, de Benfica. Mas ele queria fazer o roubo dele, mas assim... Aí, desse dia, a gente, opa, vamos ter mais cuidado agora, vamos separar as pessoas, não vamos andar em bando, vamos ter cuidado.
P1 - E a cidade era muito diferente de Belém, Rio e Belém?
R - Sim, muito diferente. Assim, eu digo que Rio é uma cidade que faz a gente ficar novo, rejuvenesce a gente. Quando eu vou passar as férias no Rio, que até ainda vou passar férias no Rio, parece que as pessoas são muito novas, parece que elas se cuidam. Então, passam para a gente uma coisa de saúde, de beleza. Então, eu gosto do Rio de Janeiro. E, naquela época, eu era muito encantado com o Rio de Janeiro. Então, era muito bom. Teve pessoas do nosso grupo que vieram em outubro para ver o Sírio e voltaram. Outras, não. Eu não vim. Eu preferi ficar lá para economizar uma grana.
P1 - Quanto tempo você ficou lá?
R - Ficamos nove meses lá. Nove meses no Rio de Janeiro. Porque nós ficamos fazendo o curso de instrumentação, que em Belém não tinha o curso de instrumentação. Só tinha no Rio e tinha em Santos. E relocaram a gente para o Rio de Janeiro. E tinha um estágio numa refinaria de alumina também, que era da Vale, acho que era a Rio Sul, e a gente ia fazer o estágio lá também. Então, saía do Senai, depois ia fazer o estágio lá. E junto, no paralelo, eu tinha o pessoal da Petrobras também, me lembro muito bem, o pessoal da Petrobras fez esse mesmo curso, mas em outra turma também. Então, era um curso que na época era bem assim, selecionado para as pessoas. Não era todo mundo que fez esse curso. Só para as empresas mesmo que fizeram esse curso. Que era um curso de instrumentação. Então, era um curso bem... como se diz? Cobiçado pelas pessoas. Mas poucas pessoas faziam.
48:05
P1 - E você sentia saudade de alguma coisa quando você estava lá no Rio?
R - Da comida. Da nossa comida, né? Porque lá... A comida do Rio de Janeiro o que é? É feijoada, né? Mas, assim, o resto mesmo da comida nossa, o vatapá, o pato no tucupi, o açaí, não tinha, né? As frutas não tinham. Então… Eu fui experimentar um açaí, nada. Fui experimentar um tacacá na Tijuca, nada. Ah, falar em Tijuca, foi um bairro que eu me identifiquei muito, com a Tijuca. Tem muito paraense lá. Tinha muito paraense, tinha até o Sírio, eu acompanhei o Sírio de Nazaré lá, na Tijuca. Então, assim, foi um bairro que me identificou muito. Eu olhei, assim, um bairro que me lembrava muito aqui de Belém, lembrava muito de Belém. Tijuca é um bairro que me lembra muito de Belém.
48:49
P1 - E tinha telefone nessa época pra ligar pra sua mãe?
R - Tinha, tinha telefone lá. Lá no hotel tinha o telefone. Não tinha o celular, mas tinha o telefone. Tinha, sim, o telefone. Graças a Deus tinha o telefone para fazer… Tinha carta, né? Naquela época tinha carta também. Fazia carta, mandava carta pra mãe. Tinha o telefone, tinha a carta.
P1 - Ah, deve ter sido bom, né?
R - Foi bom, foi muito bom. Foi uma experiência de vida, tanto pessoal como profissional, muito bom. Foi lá que eu aprendi também a ser um pouco independente, né? Não depender muito dos meus pais, em termos de fazer para mim. Eu comecei a ser independente, tem que fazer, eu tenho que correr atrás do meu prejuízo, eu que tenho que correr atrás do meu prejuízo, to aqui. Tinha parente lá? Tinha, mas não é a mesma coisa que a mãe e o pai, né? O parente eu ia só visitar. E nessa época que eu fui, o meu irmão foi também chamado pra Petrobras, na mesma época. Então, ficou no Rio também fazendo um curso, e aí eu ia visitá-lo lá em Botafogo. Mas assim, como ele estava estudando também muito, não tinha tempo, sábado, domingo, de vez em quando que a gente se encontrava lá e ficava junto. Mas assim, não dava porque ele também era estudando e eu também estudando por um lado.
50:18
P1 - E o seu dinheirinho, o que você fazia?
R - Passeava muito. Comprava muita roupa, passeava muito. E deixei alguma coisinha guardada também pra mim.
P1 - E aí você queria voltar? O estágio ia acabar, tinha que voltar? Como é que era?
R - O estágio acabou, tinha que voltar. E voltar foi bom. Digo, não, está na hora de voltar mesmo para casa. Já passou a empolgação daqui, tem que voltar para casa, está na hora mesmo de voltar para casa. Bora colocar tudo em prática o que nós aprendemos aqui.
50:46
P1 - E aí, como é que foi? Você voltou para casa dos seus pais?
R - Sim. Voltei para casa dos meus pais. Voltei para casa dos meus pais, depois vim para Barcarena. Passava de segunda a sexta em Barcarena, final de semana ia para casa.
P1 - Outra aventura, né?
R - É outra aventura, porque aqui não tinha nada. Hoje tem tudo aí, tem hotel, tudinho. Mas aqui não tinha nada. Era só um alojamento lá, os sapos, os grilos, só isso. Não tinha nada aqui.
P1 - Você gostava?
R - E o que eu estou te falando, quando você é novo, tudo é bom, tudo é tranquilo, tudo é maravilhoso. Tinha os japoneses que vinham para cá, na época, porque a tecnologia, eles tinham a tecnologia também, para ajudar, e o fator de ações, o maior era o deles, eles tinham que tomar conta do que era deles. Então, tinha uma integração com a gente. Jogava bola, jogava muita bola. Naquela época não tinha... As casas eram todas abertas, a vila era fechada. Então, você podia deixar tudo aberto que não tinha problema nenhum. Então, a gente tinha muito trabalho, porque era descoberta. Tudo que nós aprendemos lá, tínhamos que aplicar aqui. Pessoas que já tinham trabalhado com isso, que estavam no nosso grupo, ensinavam para a gente, a gente estava ali. Então, foi uma questão de aprendizado. No início foi só aprendizado, conhecimento, ir buscando as coisas para conhecer, estudar bastante. Então, assim, era uma aventura de descoberta, de descoberta das coisas. Descoberta da minha profissão, descoberta de estar em uma indústria que eu nunca tive, uma construção, que estava construindo as coisas ainda, não tinha nada. Tudo que eu via no papel, eu tinha que ver agora na prática. Foi uma descoberta muito boa. Foi um aprendizado importantíssimo. Toda bagagem que eu tenho hoje, profissional, vem desde lá. Desde lá de baixo. Foi essa construção. Porque eu cheguei na Albras, estava iniciando a Albras, estava tudo em construção, não tinha nada. Então, tudo foi essa descoberta. O que era uma instrumentação, o que era um transmissor, o que era isso aqui. Então, foi tudo ali, descoberta. Um desenho que eu não sabia ler, o cara me ensinava, não, é assim. Então, foi uma aprendizagem excelente. Então, eu digo que eu não me arrependo de nada, faria tudo de novo.
53:20
P1 - Qual foi o seu cargo, então, quando você entrou para a Albras?
R - Meu cargo era instrumentista. Naquela época era instrumentista.
P1 - Em 80 e?
R - 1984. Dia 2 de abril de 1984. Instrumentista.
P1 - E aí, começa a me falar, então, desse começo de carreira. O que você fazia? Como era tudo? Quais eram as dificuldades?
R - Pois é, a dificuldade mais era depois de sair da fábrica para ir para o alojamento. Porque aí já não tinha mais nada, não tinha... O que ia ver? Nada, só era mato. Tinha que ir dormir. Ficar batendo papo e tal, para ir dormir. Jogando uma bola, para ir dormir. Mas assim, conheci várias pessoas maravilhosas, que hoje já foram embora daqui da terra. Pessoas que me instruíram bastante. Colegas que me conduziram, que já tinham trabalhado em outras empresas, me conduziram, dizendo como é que eu tinha que agir em certas coisas.
P1 - Você começou sua carreira na Albrás, então?
R - Eu tive um único emprego, que eu digo, que foi só a Albrás e a Alunorte. O estágio que eu fiz foi na Selva, mas emprego mesmo, carteira assinada, foi Albrás. Eu não sei o que é outro emprego? Não sei o que é outra fábrica? Não sei o que é. Eu comecei na Albrás e estou terminando aqui na Alunorte. Espero ter mais alguns anos de vida aí para poder acabar com a minha carreira assim, bem, sem nenhum arranhão.
54:25
P1 - Normando, quando começou na Albrás, era difícil? Você queria ficar? Qual era a promessa?
R - A promessa era o seguinte, que naquela época, quando a gente entrou na Albrás, a remuneração era muito boa. Era melhor que qualquer serviço de Belém. Então, a gente tinha uma remuneração muito boa. E a promessa era crescimento. “Não, vocês vão crescer com a empresa, vocês vão ter…” A ideia é que a gente fosse crescer com a empresa. As coisas começaram a dar bem, se dar bem, foram muito bem. Teve um monte de promoções e tal. Aí, eu passei para técnico depois. Eu era da instrumentação, da redução. Era dividido, redução, anodo, anodo verde, anodo cozido, e utilidades. Eu era da redução. E depois teve uma um ciclo de troca, vamos trocar vocês para cá. Então, a gente aprendia muito com os japoneses, eles tinham muita tecnologia, sabiam muito, a gente aprendia muito com eles. Aprendia muito com o Juarez, que foi o meu chefe, foi professor no Senai e veio ser o meu chefe aqui. Então, aprendia muito com ele, sabe? Várias pessoas. O Machado, que inclusive foi até o aniversário dele semana passada, Machado, sabe? O Newton, foi meu chefe, um cara excelente. Então, essas pessoas, que já trabalhavam em outras indústrias, outras refinarias, vieram para ensinar a gente. O Brasil também, foi outro cara. Então, vieram para ensinar a gente. Era tudo garoto novo, saindo de escola técnica, ninguém sabia nada. Então, eles vieram para acolher a gente e ensinar. Então, foi muito bom. Foram profissionais que deram a mão pra gente, que hoje eu agradeço muito. Sou muito agradecido por eles, tá? Que ensinaram a gente, tanto a parte de seguir na indústria, como a parte também de pessoa.
55:58
P1 - E você queria ficar?
R - Queria ficar. Queria ficar aqui, queria ficar aqui, mas chegou num certo limite meu, que eu já estava no último nível de técnico. Olhava pra um lado, olhava para o outro, só se o meu chefe morresse. Eu falei: cara, então aqui não dá pra ficar. Aí, o que foi que eu fiz. A dificuldade para chegar em Belém era muita, eram duas horas de viagem.
P1 - De quê?
R - De Barcarena até Belém.
P1 - Mas de ônibus?
R - De barco. Não tinha alça viária, não tinha lancha, não tinha nada. Só era o barcão mesmo que tinha, que era o Mazagão e Capitão Equaria. Eram duas horas de viagem para chegar em Belém. E as aulas começavam às sete horas da noite. A gente chegava lá, eram oito e meia da noite. Aí, eu comecei a fazer um curso de redes, um curso livre, de três anos no CESEP. Eu chegava lá tarde da noite.
56:46
P1 - Você trabalhava aqui, estudava lá e dormia aqui?
R - Não, eu dormia em Belém e vinha de manhã. Acordava quatro horas da manhã e pegava um outro barco pra vir pra cá. Isso na época que começou a ter transporte todo dia. Porque antigamente era só sexta-feira, ir para Belém e voltava na segunda. Não tinha como você ir para Belém. Só se fosse daquele popopozinho, que leva umas três, quatro horas para chegar em Belém.
P1 - O que é o popopozinho?
R - É um barco que faz popopo... O ouvido fica surdo. Então, naquela época, não tinha essa vantagem de chegar em Belém tão cedo para poder estudar. Não tinha. Aí, eu fiz esse curso. Legal. Até hoje, o presidente do Cabana Clube, se formou junto comigo também. Como eu disse, o estudo estava sempre presente na minha vida. Eu queria estudar, queria estudar. Eu digo, a Albrás não vai mais me dar nenhuma chance de crescer, crescimento aqui. Então, eu tenho que arranjar um curso que eu possa ficar em Belém e crescer, abrir minhas portas. Aí, eu fiz esse curso, foi legal, do CESEP. Aí, começou a ter transporte para Belém todo dia. Eu digo, vou fazer um vestibular para a economia. Porque a economia pode me abrir uma porta em banco, um sistema financeiro, vou fazer isso. Aí, eu fiz.
58:14
P1 - Faculdade.
R - Faculdade. Passei, e ia todo dia. Só que eu chegava todo dia atrasado. Não chegava na hora, chegava todo dia atrasado. Então, os cinco anos que eu fiz, eu fiz, chegava atrasado, mas eu era o melhor aluno em sala. Entendeu? Porque depois da aula tinha que estudar, voltar, final de semana estudar. E trabalhar e estudar. Então, toda a minha vida, quem me conhece aqui dentro da fábrica, sabe que eu fiz vários cursos, indo e voltando para Belém, naquela época, trabalhando e estudando. Eu não era casado, ainda era solteiro. Aí, eu casei...
58:58
P1 - Onde você conheceu ela?
R - Conheci ela através de uma prima minha, numa festa.
P1 - Como é que ela chama?
R - Não, chamava. Ela chama Débora, mas separei dela. Aí, eu estou com uma outra esposa. Aí, a Débora, que é a mãe do meu filho, que é o Gabriel. Hoje ele está com 24 anos. Ele mora em Joinville com ela. E é professor de Educação Física.
P1 - Ele ou ela?
R - Ele. O meu filho. Ele tem 24 anos. É o Gabriel Brandão. E aí eu ia para Belém e voltava todo dia. Todo dia. Aí, a gente comprava o jornal não para ler, mas para colocar no barco para a gente deitar e dormir. Porque o barco saía às cinco horas da manhã, tinha que chegar lá às quatro, então tinha que dormir no barco. Não era para ler o jornal, era para deitar lá e dormir. Colocar lá no chão e dormir. Aí, eu me formei em economia, indo e voltando todo dia nessa situação. Tinha até o motorista de táxi, até que hoje eu encontro com ele, que levava eu e mais quatro para a universidade. Ele já esperava a gente lá para ir para a universidade. Mas a gente chegava atrasado. Mas não tinha problema. “Professor, o negócio é esse, esse e esse.” Mas antes de entrar na universidade, para a economia, eu passei no vestibular para engenharia químico, na UFPA. Porém, eu só fazia uma aula à noite, duas aulas à noite, que era por demanda, não lembro mais o nome, que você se inscrevia, quero essa matéria, essa matéria, na aula, pá! E tinha uma matéria dia de sábado. Aí, eu fui falar para o professor… Até hoje eu encontro ele, eu converso com ele. Eu falei: professor, eu trabalho em Barcarena, não tem como eu vir aqui, dá para disponibilizar mais matéria dia de sábado para mim? Ele disse: não, não é a universidade que tem que se adaptar a você, é você que tem que se adaptar à universidade. Aí, eu falei: tá bom, professor, então eu acho que eu não vou me adaptar à universidade, não vai dar para mim. Aí, ele ficou me olhando… Até hoje eu encontro ele, eu falo: olha, foi boa aquela tua dica lá, viu? Eu gostei. Ele acha graça. Aí, eu deixei o curso, no segundo semestre. Falei: então… Fui fazer economia à noite. Aí, à noite dava para fazer. Acabei o curso de economia. E foi nesse interino, quase no último ano, no quarto ano, que surgiu a oportunidade de ir para Alunorte. Tinha as pessoas que se inscreviam para ir para Alunorte e tinham as pessoas que eram convidadas para ir para Alunorte. E o Jorge Aldir, que era um gerente de produção, eu já tinha feito vários trabalhos para ele de instrumentação. Aí, ele falou, tu queres vir comigo para a Alunorte? “Eu quero.” “Quer mesmo?” “Quero.” “Então, eu vou falar com o teu chefe amanhã, tu vais comigo pra lá.”
1:02:01
P1 - Por que você queria?
R - Porque eu queria mudar. Porque onde eu estava, eu estava parado. Não tinha mais o que crescer.
P1 - E Alunorte parecia ser algo...
R - A Alunorte seria um negócio que ia dar, assim, opa, uma oportunidade boa, pela minha universidade que eu estava fazendo, que não era a parte técnica, mas era uma universidade que podia me dar uma outra oportunidade lá. Porque o meu negócio era crescimento, não queria ficar parado, estagnado, onde eu estava.
P1 - E aí, já tinha o filho?
R - Já tinha o Gabriel.
P1 - Estava morando onde?
R - Em Belém.
P1 - Ele estava em Belém.
R - Em Belém. Aí, falei, não, é uma oportunidade que eu tenho, uma porta aberta pra poder crescer, né? Não vou ficar aqui parado esse tempo, não. A minha coisa era não querer ficar parado. Eu não queria ficar parado ali onde eu estava. Eu tinha que crescer. Então, a oportunidade era essa, digo, eu quero. Aí, ele falou com a minha gerência e tal. Meu gerente conversou comigo. “É isso que você quer? Olha, a Alunorte, é uma empresa que não está ainda estabilizada, é um negócio, o patinho feio, não vai dar certo lá.” Porque, na época, a Alunorte não ia dar certo, era mais social do que... Eu digo, não, eu quero ir. Eu quero ir. Eu vou para uma área que eu estava começando a estudar bem, que era a parte de automação. Eu era instrumentista, mas eu sempre, na Albrás, eu estava sempre com o pessoal de automação para aprender. Aí, eu aprendi muita coisa de automação e ele me levou para lá. Aí, eu fui para a Alunorte.
1:03:37
P1 - Então, você já tinha 10 anos de Albrás, né?
R - Já tinha 10 anos de Albrás. 11 anos de Albrás. Aí, eu fui para lá, eu me arrisquei. Até a minha mãe falou assim: meu filho, você vai sair de uma coisa que está estabilizada para ir para a outra. Eu falei: não, eu vou arriscar, vou arriscar, vamos lá, vou arriscar. Aí, foi assim. Aí, eu fui para Alunorte, e gostei, adorei, porque eu fiz vários cursos de automação em São Paulo. Já tinha andado de avião, já sabia. Aí, vários cursos na ABB, aprendi muita coisa. O Rui, hoje, que também é meu amigo, amigo de coração também, foi junto comigo também, nós trabalhamos, o Barata. Então, eram os três de automação. Não tinha nada, a gente não conhecia nada do que era o sistema lá. Nós aprendemos lá. Então, todo mundo cresceu junto, né? E eu era o único técnico e os dois eram engenheiros. Não tinha feito engenharia ainda, hein?
1:04:39
P1 - E tinha terminado economia?
R - Tinha terminado a economia. Aí, fui, terminei a economia. Aí, me lembro até um gerente que eu tinha, que ele chegou comigo e falou assim: o que você está pretendendo? Você está fazendo economia e está fazendo a parte técnica aqui? Aí, eu perguntei para ele se eu estava atrapalhando, o meu serviço. Ele falou, não. Então, eu digo: olha, eu sei o que eu não quero. Eu não quero ficar estagnado. Isso eu sei que eu não quero, o que eu vou fazer eu não sei. Se não está atrapalhando aqui a empresa, então eu vou continuar. Aí, eu terminei o curso de economia, e me deu a oportunidade de fazer o mestrado na UFPA. O curso de economia, que era um mestrado profissionalizante, que a Alunorte ofereceu para os engenheiros. Eu era o único que não era engenheiro. Então, teve até uma polêmica nessa parte. Ah, porque ele não é engenheiro. Mas aí o coordenador do curso, do mestrado, falou: não, não tem problema nenhum, ele tem curso superior, ele pode fazer. Eu era técnico, com formação em economia, e era o único que não era engenheiro. E fiz o curso, era sexta-feira à noite e sábado o dia todo, aqui em Barcarena. Aí, já chegava em Belém só sábado à noite. Só sábado à noite.
1:05:56
P1 - E o casamento estava acompanhando?
R - Estava acompanhando. Normal, normal. Ela também estava estudando, então estava bom, o negócio estava bom. O clima estava bom, não estava… E dos 20 engenheiros que se inscreveram para o curso de mestrado, eu fui o único que entregou a tese. Eu fui o único que entregou a tese. Dos 20, ninguém entregou. Eu fui o único que se formou para o FPR.
P1 - Que ano que você se formou?
R - Olha, acho que foi 99.
P1 - Com tudo acontecendo ao mesmo tempo, né?
R - Com tudo acontecendo ao mesmo tempo. Tudo acontecendo ao mesmo tempo. A Alunorte partindo, a Alunorte dando lá. E eu estudando e tal. Foi assim. Então, foi o único que entregou. Isso eu tenho orgulho de dizer, eu fui o único que entreguei a dissertação de mestrado. Eu tenho até as fotos aqui, depois eu te mostro as fotos aí. Aí... Como eu não era engenheiro, mas tinha o curso de mestrado, eu não podia passar para engenheiro. Fui até no CREA, para ver se conseguia, não dava. Disse, eu tenho que fazer um curso de engenharia. Aí, teve um curso de engenharia no IESAM, à noite. Eu digo: é aqui que eu vou fazer.
P1 - Mais quantos anos?
R - Cinco anos. Mais cinco anos de estudo.
P1 - Isso tudo você fez com benefício da empresa ou você tinha que pagar?
R - Todos os cursos que eu fiz, todos, vou acabar um agora de gestão de projetos, MBA da FGV, estou acabando agora, vai ser minha última matéria. Todos os cursos que eu fiz foram com benefício da empresa. Agradeço muito a minha empresa. Agradeço muito a Albrás e a Alunorte, porque todos os cursos que eu fiz foram com benefício que a empresa me suportou. Não só isso, tem o transporte também. Então, tudo o que eu fiz foi o benefício que a empresa me proporcionou.
1:08:10
P1 - Me fala tudo o que você fez, porque eu estou até perdida.
R - Não, eu tenho o curso de técnico de instrumentação, que foi no Rio, que a empresa proporcionou. A economia, a empresa também, o subsídio da empresa. A pós que eu fiz de mestrado, o mestrado que eu fiz, foi a empresa que proporcionou. A gestão de projetos, também foi a empresa que me proporcionou. Eu fiz o de redes, também a empresa que me proporcionou, redes industriais. Então, tudo que a empresa me proporcionou em termos de, não só para mim, para o meu filho também. O meu filho se formou também com o benefício dela. Então, eu agarrava com incidência, digo, é aqui que eu vou pegar isso aqui, já que estão me proporcionando, então eu vou agarrar isso aqui.
P1 - Como é que funciona esse...
R - Aí, tá. Aí eu fiz o curso de...
P1 - Mas deixa eu entender antes, Normando, como é que funciona, proporcionou? Tipo, você vai lá, se inscreve, como é que é o crédito?
R - Eu me inscrevo, passo… Se eu passar no vestibular, eu passo lá, aí ela me vai subsidiar uma parte do valor… Por exemplo, ela paga o que ela paga pro colégio aqui em Barcarena. É um valor, vamos lá, R$700,00. A escola lá é R$1.500,00, ela paga R$700,00, e eu pago o resto.
P1 - Metade, metade?
R - Metade, metade. Se for metade, metade. Aqui, às vezes, aqui é mais, ou então é menos que lá. Mas ela sempre proporciona. Então, isso aí, ajuda muito. Ajuda bastante. Então, tudo que eu faço, por exemplo, o curso agora que eu tô fazendo, que eu tô terminando, graças a Deus, tá acabando agora. Eu digo que eu não vou fazer mais nenhum, mas já estou na de ideia de outro já. Gestão de projetos, o curso custa R$900,00. Eu pago e ela me reembolsa. Total o curso.
1:09:59
P1 - O investimento é em você e você devolve em trabalho bem feito.
R - Exatamente. E eu procuro sempre devolver pra mostrar que não foi à toa que ela pagou o curso pra mim. Entendeu? Então eu procuro sempre estar nesse... Devolver para empresa o que ela me dá.
P1 - Em nenhum você estudou mais ou menos?
R - Não, não tem que estudar mais ou menos, tem que estudar bem, mostrar que é bem. Em todos os cursos que eu fiz, graças a Deus, sempre minhas notas são boas, sempre são boas. Aí, eu fiz o curso de engenharia à noite, inclusive, uma das professoras, ela é minha colega de trabalho aqui, que era a Márcia Roseli, ela é minha colega de trabalho aqui, ela é minha professora lá. E algumas matérias lá que eu já sabia, então, como eu tinha feito economia, eu fiz o crédito lá, então diminuiu um pouco as matérias que eu fiz lá. E outras matérias que eu já sabia, era só para assistir aula, para não perder o… Inclusive, eu me informei antes dos meus amigos de lá, porque eles iam se formar em janeiro, eu me formei em outubro, porque eu já tinha feito todas as matérias e eu fui com o coordenador e com o reitor de lá e falei: ó, eu preciso disso, porque eu preciso de uma vaga que tem lá. Tinha uma vaga pra cá, pra mim. Digo, eu preciso dessa vaga, eu preciso desse diploma agora porque eu tenho que ir no CREA. Aí, eles fizeram tudinho lá pra mim. Foi meu filho, foi minha mãe e tal. Aí, eu fui no CREA, engenheiro. Vim pra cá, trouxe. Agradeci, na época era o Darius, que era o diretor da fábrica. Agradeci para ele, me formei graças à empresa, muito obrigado. E nessa época, na empresa, eles estavam formando coordenadores de turno, que não tinham coordenador de turno, que eram gerentes de turno. Aí, quando me formei, veio a oportunidade, você não quer ser coordenador? Primeiro momento, eu falei sim. Depois eu pensei, não, eu não quero ser coordenador. Vou trabalhar de turno, não está dando, porque vou abandonar minha família. Minha família mora em Belém, não vai dar. Meu filho ainda estava um pouco pequeno, digo, não vai dar. Eles ficaram até surpresos comigo. Mas não vai dar. Aí, me formei. Mesmo assim, eu fui, depois, promovido para engenheiro. Não teve nenhuma restrição, graças a Deus. Eu falei que eu tinha me formado, depois de dois, três meses, eu fui promovido para engenheiro. E a minha carreira veio engenheiro para cá. Hoje sou engenheiro especialista. Trabalho aí. E agradeço muito à empresa a minha formação hoje. Como eu digo, não devo nada a ninguém, assim, de outras empresas, devido à formação que a empresa me deu. Eu procuro transmitir isso para outras pessoas mais novas, que aproveitem a oportunidade que a empresa dá, vão estudar, vão, sabe? Vão estudar, tragam conhecimento. Já fui em congresso, já apresentei coisas em congresso, já fiz tudo isso aí. Então, eu sempre aproveito as oportunidades que a empresa me dá para estudar. Como eu te falei, estou acabando o curso agora de gestão de projeto, falei que eu não ia fazer mais nenhum curso, estava cansado de tanto fazer curso. Mas falei, ainda tem mais um aí para fazer. Mas eu não sei se eu vou fazer não, que é de gestão de redes. Eu não sei se eu vou fazer.
1:13:44
P1 - Esses cursos todos, você foi colhendo frutos, você foi fazendo cursos de formação superior, que você está me contando, mas você também fez curso de inglês, também foi para São Paulo fazer curso, como é que é?
R - Curso em São Paulo, é curso que a empresa oferece para a equipe que está naquele momento. Tem vários cursos que ela proporciona, que devido a carga horária, uma semana, manda você para São Paulo. A gente aproveita. Quando a gente é selecionado. Cursos fora, fiz também, palestras, principalmente de simpósios. Tudinho eu já coloquei minhas ideias que eu fiz aqui. Por exemplo, a minha dissertação de mestrado foi comunicação de rede através de Power Line. Power Line é a rede elétrica e os dados se comunicam através dela. Então, tinha empilhadeira que ela se movimenta ao longo do trilho, 300 ou 400 metros. Então, antigamente era a rádio que fazia essa comunicação, e devido à chuva e tal, parava muito. Aí, nós descobrimos essa tecnologia de comunicação através do cabo de energia elétrica. Aí, eu estudei, isso vai ser minha tese de dissertação. Aí, eu fiz, deu certo, até hoje está funcionando aí na fábrica.
1:15:07
P1 - Então, você aplicou?
R - Apliquei. Apliquei, estava funcionando e apresentei para a empresa o que eu ia fazer, gostaram e fui apresentar no simpósio também esse meu trabalho.
P1 - Você acha que você aprendeu mais pelos livros, nesses cursos todos, ou aqui no dia a dia da prática?
R - Não. A gente tem a parte teórica, que é importante também você conhecer a parte teórica, mas a prática aqui te ensina muito também. A prática, pessoas experientes que estão ao teu lado, pessoas que vêm de fora de outra empresa, traz também conhecimento, traz uma bagagem também para ti, essa troca de informações. É o que eu digo, não é porque uma pessoa que não tem um curso superior, não tenha uma sabedoria que possa passar para a gente. Eu acho que todo mundo colhendo um pouco de cada coisa, você vai se formando, você vai se engrandecendo, vai subindo. A tua mente vai aumentando, vai chegando. Os teus neurônios ficam trabalhando. Então, todo mundo, um pouquinho de cada um, te dando uma parcela, você vai aprendendo e vai obtendo os conhecimentos.
1:16:21
P1 - Eu estou entendendo que muito da sua carreira está envolvida com a educação. E a vida social em paralelo? E a vida particular, como é que estava ao mesmo tempo?
R - Não, mas eu não deixava a vida social parada, não, também. Eu gosto de dançar, minha esposa gostava de dançar, a gente dançava, viajava. Aí, depois, quando o meu filho estava com sete anos, o casamento não deu certo, me separei. Mas sem problema nenhum, foi tranquilo. Inclusive, ele quis morar comigo, não ir morar com a mãe. Então, eu que fui pai solo, no caso, né? Aí, eu criei, assim, ficou comigo. Claro, com a ajuda da minha mãe.
P1 Lá em Belém, então?
R - Em Belém, com a ajuda da minha mãe. Aí, eu chegava à noite, pegava ele, ele ficava comigo. E foi crescendo e tal. A mãe dele viajou para Joinville, e eu fiquei com ele. Eu fui pai e mãe dele. Mas sempre assim, a gente sempre estava viajando, sempre... Aí, eu conheci essa outra minha esposa, que ela é fonoaudióloga, e ela tem uma empresa. Então, ela prestava serviço aqui para a Alunorte com fonoaudiólogo. Só que eu já conhecia ela antes daqui também. Aí foi no barco, a gente ia conversando, batendo papo, papo vai, papo vem. Até que chegou o dia do flerte, né? E aí, hoje nós somos casados há dez anos, temos um filho de nove anos, que fez até aniversário agora, dia 13. E ela viaja muito, também gosta de viajar, a gente viaja muito, a vida social não pode parar, porque ela tem que beneficiar a cabeça, né? Relaxar a cabeça, deixar a cabeça tal. E eu bebia e deixei, parei de beber há uns sete anos atrás. Porque eu falei assim, vou parar de beber, porque eu quero chegar na minha velhice com uma coisa boa. Então, eu tenho que me tratar. E um dos fatos é parar de beber. E eu não deixo a minha vida social de lado, não. Eu gosto. Gosto muito de ir para estádio, ver o meu Paissandu. Gosto muito de festa, gosto de ver shows. Então, eu não deixo a minha vida social de lado, não. Claro que tem alguns finais de semana que quero dormir, quero descansar. Mas bora viajar, bora fazer, bora. A gente viaja muito.
1:18:45
P1 - O que foi para você ser pai?
R - Olha, se eu soubesse que ser pai era… Eu me casei, o meu primeiro casamento foi com 35 anos, casei com 35 anos. Se eu soubesse que filho era tão maravilhoso, eu tinha filho antes, tinha uns 4, 5 filhos. Sério. Tinha uns 4, 5 filhos. Porque é muito bom ser pai, é muito bom ter filho, aquela casa cheia de gente, muito bom, muito legal, sabe? Uma família grande, porque eu venho de uma família não muito grande, mas assim, os parentes eram muito primos, então, acostumado com muito primo, na casa, muita gente em casa, então, é muito bom. Se eu soubesse que filho era maravilhoso, eu tinha filho mais cedo, sabe? Fui casado com 35 anos, podia ter casado mais cedo... É muito bom ter filha, é maravilhoso.
P1 - O que mudou?
R - O meu filho... Outro agradecimento para a empresa. Meu filho nasceu de seis meses, cabia na palma da mão. E eu tive apoio muito grande da Albras, não faltou nada para dar apoio para o meu filho. Não faltou nada. Eu chegava, acho que o médico aqui naquela época era o Itoshi, que era o médico. Falei pra ele, está acontecendo isso e isso com o meu filho, preciso do... Porque ele tinha que ser operado da vista, que deu retina, problema de retina. E tinha que levar o equipamento da clínica para o hospital. E naquela época, acho que era 500 mil reais, na época, sei lá, uns 20 anos atrás, uns 25 anos atrás. Aí, eu não tinha essas condições financeiras pra dar assim de imediato. Aí, eu cheguei para ele, o meu filho tá assim. Ele disse, não, a empresa vai arcar com tudo. Pode ficar tranquilo. Aí foi. Foi muito bom. Desculpa.
1:20:36
P1 - Imagina. Importante, né? Ele ficou bem?
R - Tá ótimo. Tá ótimo.
P1 - Seis meses é muito frágil, né?
R - Cabia na palma da mão, assim. Quando a médica falou, até que a médica era minha amiga, a pediatra. Falou, não, Normando, pode deixar, que o teu filho vai nascer pequenino, mas vai sair tudo bem. Eu vou pegar, pode deixar. Ah, confio em ti, tu é minha amiga, eu já te conheço há muito tempo. Mas eu pensei que pequenino fosse, assim, pequeno, né? Aí, quando ela trouxe, ele cabia dentro da máscara de oxigênio. Tu imagina, uma criança dentro da máscara de oxigênio. Eu falei, não vai resistir. Mas não, está aí, 25 anos, está bem para caramba. Está bem para caramba.
P1 - E teve todo apoio, convênio?
R - Tudo, tudo, tudo. Graças a Deus, a Albras e a Alunorte me deram essa coisa, não posso dizer assim, ah, a Alunorte não me deu, não, todo apoio.
1:21:31
P1 - O que mudou em você depois que você virou pai?
R - A responsabilidade e a capacidade de ver que nem tudo é perfeito. Porque eu sou de exatas, então? Mas nem tudo é perfeito. Sempre tem um mistério. Pô, nem tudo é perfeito, cara. As coisas não são perfeitas como a gente quer, não. Como é as exatas, a lógica, tudo é perfeito. Dá para dizer que a gente tem que olhar o próximo e falar assim, não, espera aí, a gente tem que ficar no lugar dele também, bora ver o que acontece. E assim, eu ouvia muita coisa ruim lá no hospital, quando o meu filho estava lá, sabe? Muitas crianças sem esôfago. Cada vez que eu chegava lá no hospital, para fazer a visita dele. “Ah, não, morreu uma criança.” Putz, será que é meu filho? Ah, não, o Gabriel está bem. Inclusive, tem até o Gabriel, que é filho de um amigo nosso aqui da fábrica, que nasceu no mesmo dia, no mesmo hospital, que hoje ele é uma pessoa excepcional. E meu filho não. Então, quer dizer, eu sou muito abençoado, porque meu filho não tem nenhuma sequela. Nenhuma sequela. Eu sou muito bem abençoado, graças a Deus.
P1 - Eu imagino que o tanto que você investia nos seus estudos era pensando em oferecer para ele, e depois para o seu segundo filho, uma vida melhor, não é?
R - Sim, claro. A gente quer ser, como se diz, a gente quer também o nosso ego, pra poder dizer, pô, profissional eu estou bem. Mas também, o que que eu posso tirar disso pra eles, né? Então, posso proporcionar pra eles muitas coisas que eu não tinha. Então, proporciono pra eles, por exemplo, viajar. Hoje, meus filhos viajam, gramado, sair, a gente conhece quase todo o país. Mas assim, agora tem uma viagem programada para o ano, pra Disney. Quer dizer, eu nunca fui na Disney, né? Eu posso proporcionar para o meu filho isso, mas através da empresa também, que me proporcionou várias coisas. Então, a empresa me proporcionando isso, e eu sabendo tirar a vantagem também para mim e para a empresa, a gente vai longe, né? Tanto a vida pessoal como profissional.
1:24:02
P1 - Você me trouxe um ponto que eu não tinha escutado até agora. Você foi o pai e a mãe, com a ajuda da sua própria mãe, mas a pessoa é responsável pela educação desse filho, né?
R - Sim, sim.
P1 - Como é que foi isso para você?
R - No início, foi assim, fazer duas coisas, ter que fazer ali, vamos lá para o meu negócio de colégio, então... Aí... Foi um pouco dramático, no início. Mas depois eu ajustei e funcionou direitinho. Ajustei e funcionou direitinho.
P1 - E vocês foram criando uma relação?
R - Foi. Até hoje, todo dia de manhã, eu abençoo ele. Ele está com 25 anos, eu telefono para ele, olha, Deus te abençoe, tenha um bom dia hoje, tal, tal. Todo dia de manhã eu faço isso para ele. Que ele mora lá em Joinville, né? Então, até mês passados eu fui lá fazer uma visita pra ele.
1:24:51
P1 - E quando é que ele se mudou?
R - Em fevereiro desse ano.
P1 - Recente. Ele morou com você até fevereiro?
R - Aí, ele foi pra lá. Ah, tá bom. “Tu quer morar com a tua mãe?” “Quero.” “Então, tá bom, vai morar com a tua mãe.” Eu já fiz a minha parte, já te dei educação, já te dei tudo, agora... E eu reconheço também, que o pastor da igreja dele me telefonou e agradeceu pelo filho que eu fiz, que é um maravilhoso, uma educação maravilhosa, ele me agradeceu. Aí, eu disse, pô, então eu fiz a minha boa parte. Eu fiz a minha parte muito bem.
P1 - E ele está estudando?
R - Ele está trabalhando e falei para ele estudar. Olha, não para de estudar, cara. Que não é só se formar, não, tem que continuar a vida.
P1 - E ele trabalha com o quê?
R - Hoje trabalha na parte de educação, educação física. Mas ele quer largar, quer fazer outra coisa, porque ele quer trabalhar com pessoas com síndrome de Down. Ele quer trabalhar com pessoas com síndrome de Down.
1:25:55
P1 - Ele não seguiu os teus passos da indústria, então?
R - Não, não, não. Eu acho que o outro também não quer seguir os passos da indústria, porque a minha esposa tem uma clínica de fonoaudiologia. Aí, a gente fala pra ele, olha meu filho, vai estudar, vai ser médico pra tomar conta da clínica, a gente vai embora. “Não, pai, eu não quero tomar conta da clínica não, eu quero ser YouTuber.” Aí, eu olho pra ela e falo assim: não, calma, ele vai crescer, deixa ele crescer, que a gente vai ver o que ele vai ser.
P1 - Está com quantos anos?
R - Ele tá com nove. Deixa ele crescer, ele vai, ele vai chegar lá, depois ele vai ver. Aí, ele fala assim, não, eu posso até ir lá, mas eu quero ser YouTuber. Ela fica muito injuriada. “Eu vou vender essa droga então.” Deixa pra lá, não esquenta.
P1 - Como é que chama o segundo?
R - Arthur. Olha só, um é Gabriel Brandão, Arthur Galvão de Queiroz. Aí, às vezes, eu me confundia, “Brandão.” Não é Brandão, é Queiroz, é Galvão. Tá, é Galvão, é Galvão.
P1 - E o Arthur veio depois de um tempão.
R - Um tempão, 15 anos depois. Mas os dois se dão bem, graças a Deus. Ele sente muita falta do irmão. Ele até queria ir comigo agora, eu digo, não, mas eu vou lá pro teu irmão que eu quero conversar com ele, ver como é que ele tá. Então, não vai dar pra ficar brincando, tem que conversar com ele, sentar pra conversar, pra ver como é que ele tá, a situação dele.
1:27:38
P1 - E o segundo filho nasceu aos nove meses?
R - Não, graças a Deus, nasceu tranquilo, beleza, normal. Foi até estranho, porque nesse dia que nasceu, eu ia fazer uma endoscopia. Eu estava com um sobrinho meu, que veio de Manaus. Aí, eu digo, dorme aqui em casa, aí tu me leva lá na endoscopia e tal. Aí, tá bom, ti, vou dormir aí e te levo lá. Aí, na noite anterior, tinha caído o tampão. Aí, ela falou: caiu o tampão aqui. Eu falei: então, procura amanhã, vai no médico, vê como é que está, que deve estar nascendo esse negócio aí, rapaz, bora ver. Aí, eu digo, “ó, vou fazer a endoscopia, qualquer coisa tu me telefona.” “Tá.” Quando eu estou assinando lá na clínica para entrar. Ela disse: olha, vem aqui para o hospital, o moleque está nascendo já. Aí eu, puta, “não vai dar que o meu filho está nascendo.” Joguei a coisa. Já pensou se eu estou lá dentro já? Nem ia assistir o meu filho. Aí, eu corri para o hospital e o moleque nasceu. Eu digo: pô, olha aí! Aí, foi bom! E esse garoto, esse meu filho, ele é muito abençoado, ele é inteligente, ele é baterista, ele faz robótica, ele é da banda do colégio, então ele é muito ativo. E ele faz as coisas dele bem feitas, bem feitas, ele é muito ativo. Eu gosto que ele é muito ativo. Eu falo: porra, o moleque é safo. Esse aí é safo. Eu falo para a mãe dele, a gente não vai ter preocupação com ele em termos de estudo, mas tem que ver a malandragem dele, tem que compreender, organizar a malandragem dele para ele não sair desse meio aí. Mas ele é muito bom. Ele é o Arthur.
1:29:23
P1 - O Arthur parece com você?
R - Parece muito. Todinho. A mãe fala assim, não precisa nem fazer o DNA, né? Eu digo: é! Ela fica ruim, porque o pessoal fala assim, mas é a cara do pai. “Mas é o jeito da mãe, é o jeito da mãe.” Digo não, é a cara do pai.
P1 - E foi planejado?
R - Foi planejado. Foi bem planejado, graças a Deus, foi planejado.
1:29:45
P1 - Vocês casaram na igreja?
R - Na igreja eu não posso casar mais, né? Mas casamos no pastor, que foi abençoar a gente. Ela falou, mas eu quero casar na igreja. Não, vai lá na Arquidiocese de Belém, coloca um ofício, vai para o papo, vai esperar o papá dar o de acordo aí.
P1 - E ser pai depois de 15 anos?
R - Renovador. É muito renovador. É assim, te dá outro ânimo pra vida, sabe? Tu vê que a vida não para. Então, te renova, te dá mais energia, sabe? Faz você ter mais ânimo pra vida, assim, pô, a vida não para aqui, não, a vida continua, cara. Não para, não, a vida continua. Então, a gente acha que a vida para, não. É a gente que para. A vida continua. Então, a gente tem um negócio desse pra ti, depois de 15 anos. Renovou minha vida. Renovou muito a minha vida. Deu mais alegria para a minha vida. Então, eu quero viver mais 15 anos, mais 20 anos, mais 30 anos. Eu já sou aposentado. As pessoas: não vai parar? Não, calma, deixa o moleque crescer mais um pouco, aí eu paro. Enquanto isso, deixo ele lá. Mesmo assim, ainda tenho energia para trabalhar, por que eu vou parar? Pra ficar em casa? Não. Ainda tenho energia para trabalhar. Ah, vai ficar em casa com o teu filho. Não, eu fico com ele, gente fica, a gente brinca, a gente sai, a gente viaja. Então, dá para aguentar mais um pouco. Até onde a Alunorte me quiser, quando ela não me quiser mais, eu tenho que ir embora, né?
1:31:32
P1 - Qual que é o grande ensinamento que você quer deixar para os seus meninos?
R - O mais que eu quero deixar para eles, é o seguinte, que eles amem a vida, que a vida é maravilhosa, que eles não parem nunca, não se acomode, que ele vá pra frente, sempre perseguindo os desejos dele. Mas assim, com responsabilidade. Mas assim, fez, ah, eu quero ser isso, chegou lá, mas não para, cara, continua. Procura outra meta, outro objetivo, mas vai, não para. Porque isso que te dá, que te impulsiona a tu viver, tu ficar sempre feliz, sempre alegre, sempre satisfeito, porque quando você atingir sua meta, você fazer… Não, não vai. Atingiu a meta, procura outra meta e vai embora. Procura outra meta e vai embora. E tem outra coisa também. Seja resiliente e persistente. Não deixe nada te abalar. Não deixe, as coisas que vêm pra te abalar, procura ver a coisa boa daquilo ali, e tira a coisa boa dali. Não deixe nada te abalar. Isso foi sempre assim comigo. Nunca deixei nada me abalar. Claro que eu não sou de aço, não é? Ah, me abalar, não. Mas assim, vem aquele impacto no primeiro momento, mas depois você diz, não, isso não vai me abalar, não. Vou fazer desse limão uma limonada. E foi o que eu fiz aqui. Muitas coisas aqui eu fiz de um limão uma limonada, dentro dessa empresa. Muitos limões que apresentaram pra mim eu fiz a minha limonada. Então, hoje eu estou onde estou, porque eu fiz sempre uma limonada de um limão que apresentavam para mim. Tinha barreira? Tinha barreira, claro que vão aparecer barreiras na sua vida. Tanto barreiras profissionais, como barreiras de pessoas que querem também, mas você sempre tem que ter resiliência nisso. Não, isso não vai, vamos lá, a gente vai vencer isso.
1:32:20
P1 - E de onde vem essa força? Como é que você consegue manter isso firme?
R - Acho que foi mais dos meus pais, meus pais eram assim.
P1 - Exemplo, então.
R - A minha mãe trabalhava, como te falei, trabalhava de noite e nunca desistia. Nunca desistia, porque ela queria ver os filhos dela sempre formados. Meu pai também. Então, o que eu via no meu pai do trabalho dele, trabalhando de noite, sempre dava as coisas pra gente, meu pai não tinha nada, conseguia. Por que eu não posso conseguir? Por que eu não posso fazer? Eu pensei, como meu pai, que não tinha muito recurso, construiu essa casa, construiu isso aqui, dá tudo pra gente. Por que eu não posso? Posso, sim. E minha mãe também é muito católica. Era muito católica, minha mãe, né? Muito católica. Então, nunca desista e sempre acredite em Deus. Nunca desista e vá em frente. Então, é isso.
1:33:16
P1 - Quando é que eles morreram, Normando?
R - Minha mãe morreu... Foi em 2020. Mas não foi de Covid, não. Ela morreu porque ela tinha um problema no estômago. Ela tinha aquela bolsa que ficava aqui fora, né? Esqueci o nome dela agora. E deu complicação no estômago dela e não teve mais jeito. E meu pai morreu também agora em fevereiro, com 94 anos. Minha mãe morreu com 85, meu pai com 94. Até, eu falo, se for essa genética aí, eu vou viver mais um pouquinho aí, né? Mas meu pai morreu por complicações pulmonares mesmo, já da idade dele, não teve mais jeito.
P1 - Mas foram bem até?
R - Não, foram bem entendidos, graças a Deus, não faltava nada. Tinham três cuidadores, meu pai, tudinho, não faltava nada. O que eu podia dar de recurso, meu irmão também de recurso, nós nos unimos e demos pra ele. Graças a Deus, não faltava nada.
1:34:16
P1 - Com 61 anos de idade, qual que é o seu aprendizado aí do tempo?
R - Do tempo? É o que eu te falei. O meu aprendizado do tempo é que a vida é maravilhosa. A gente tem que viver e nunca deixar as coisas abalarem a gente. E vamos pra frente. O que tiver pra frente, vai. Eu quero viver mais um tempinho aí, se Deus quiser. Ô, meu Deus, dá mais um tempinho aí pra gente... Quero ver o meu filho se formar. Aí, tá bom. A mãe, fica com a mãe aí, ela segura a barra dela. Mas vamos ver.
1:34:52
P1 - E você tem, então, no total, 41 anos de empresa?
R - Total, 41 anos de empresa. Eu entrei em 1984.
P1 - São 30 anos de atuação da Alunorte e 41...
R - Oficialmente são 30 anos, mas vim pra cá antes, porque aqui era uma gerência da Albrás. Então, era uma gerência da Albrás, então não era Alunorte. Era uma gerência da Albrás. Aí, depois que passou a ser Alunorte. Então, nesse meu tempo todo aí... Que lá eu era o Patinho Feio. Alunorte, na época que eu vim pra cá, era o Patinho Feio, não ia dar em nada. E hoje, não, é essa grandiosidade de empresa aí, maravilhosa. E eu tenho muito orgulho de ter trabalhado aqui e ter começado lá de baixo, junto com ela. Lá, como eu digo assim, olha, pessoal que está novo aí, eu digo assim, ó, nós pavimentamos essa avenida aqui para vocês passarem direitinho. Não tem um buraco, está tudo bonitinho aí, conserve. Então, eu tenho muito orgulho disso, de ter começado lá de baixo mesmo, com ela, vim crescendo junto com ela e tal. Graças a Deus.
1:36:07
P1 - Eu ia te perguntar exatamente isso. O que te representa estar nessa história, ser parte dessa história, ter as mãos nessa história?
R - É isso mesmo. Eu digo que eu tenho... Isso aqui é um filho pra mim. É um filho que se deu bem. Nós fizemos esse filho muito bem. Não só eu, como todo mundo que começou ter esse filho aqui. Às vezes, até tem um colega meu, o Rui, que fala assim, que alguém falou pra ele, “o Normando fica chateado, não sei o quê, com as coisas que acontecem.” “Cara, isso aqui é um filho pra ele, ele criou isso. Isso aqui é um filho, então ele fica chateado mesmo. Ele vê as coisas acontecendo de ruim, e tá certo, é um filho isso aqui pra ele. Pra ele não, pra nós também.” Porque o Rui também é daqui. Então, é aquele filho que nós criamos, cresceu, adolescência, tá indo na maturidade, né? Aí, está andando com as próprias pernas já, não vai precisar mais da gente, entre aspas, mas assim, é isso, é um filho, é um pedaço do nosso... A minha adolescência foi praticamente tudo aqui. Toda a minha vida depois de 19 anos pra cá, foi tudo aqui. Eu não sei o que é outra empresa. Eu te falo, eu entrei numa fila pra dar baixa na minha carteira, na Albrás. E saí, entrei na outra fila, para entrar na Alunorte. Então, eu não sei o que é desemprego. Então…
P1 - O que ela te deu?
R - Quem?
P1 - A empresa.
R - A empresa? Ela me deu estabilidade, tanto financeira e profissional. E eu sou considerado como um profissional de respeito. Então, mas isso não foi de agora, né? Você vem desde lá, né? Então, hoje, eu tenho esse orgulho de ter essa responsabilidade, né? De poder ter contribuído com a Alunorte e ser um profissional reconhecido. Não só dentro da empresa, como fora da empresa. Sou bem reconhecido.
1:38:30
P1 - Como é que o pessoal te conhece?
R - O Normandinho. Conhece o Normandinho? Ah, eu conheço o Normandinho. É porque eu gosto muito de conversar com as pessoas, eu gosto muito de fazer amizade. Então, eu estou sempre entrando nas pessoas de uma maneira que eles não esquecem de mim.
P1 - Seus amigos aqui é como se fosse...
R - Família, né? Por exemplo, o Rui Oliveira, ele é meu compadre. Eu sou padrinho do filho dele. Eu conheci também por aqui. O Rui Matos, a gente já vive muito bem, a gente conhece muito a família um do outro, a gente vai passar…. eu vou na casa dele, aniversário, vai aniversário na minha casa. Quer dizer, tem muitas pessoas aqui dentro da empresa, esse grupo de 20, que são os 20 que entraram na Albrás em 1984, a gente tem um grupo, se forma, a gente conversa, então a gente… quer dizer. E hoje a empresa também é uma empresa como se fosse familiar, né? O filho de um amigo já está aqui dentro, enquanto o pai já saiu, aí tem o filho do filho. Então, assim, quer dizer, sou eu que não tenho filhos aqui dentro, mas todos os amigos, a maioria tem filhos aqui dentro. Então, se tornou uma empresa mais assim de família, né?
1:34:44
P1 - E o que você vê que a Alunorte deixa também como legado para a cidade de Barcarena, para o estado do Pará?
R - Ela trouxe para o estado do Pará, a profissionalização dos alunos que saíram da universidade. Por quê? Eles não tinham indústria para ir aqui em Belém. Saíam daqui de Belém, iam para o outro lado, mas agora não, ela absorve esses profissionais. Não só a parte de universidade, como a parte técnica. Então, absorve. As pessoas não precisam sair de Belém mais para estudar ou para trabalhar, porque aqui dentro… Então, ela trouxe todo esse legado, trouxe toda essa estrutura, não só a estrutura interna, mas como externa. Barcarena está crescendo. Barcarena é conhecida no mundo todo. O desenvolvimento de Barcarena virou o legado da Alunorte. A diversidade que está sendo implantada, já com cursos que estão direcionados para Alunorte, Cursos técnicos que estão sendo formados, direcionados para a Alunorte. Então, todo esse legado aí, não foi feito de uma hora para outra. Foi construído uma base, uma base até chegar ao que hoje nós temos. Uma empresa maravilhosa, uma empresa que te dá todo o apoio. Eu não posso reclamar de nada. Só gratidão. E outra coisa também, passamos por altos e baixos também, dentro da empresa. Eu já passei por vários furacões aqui, até hoje eu estou aqui me segurando. Até hoje eu estou me segurando.
P1 - De pé?
R - De pé. Segurando a bandeira da Alunorte aqui de pé, para ela não cair.
1:41:39
P1 - E você quer o que daqui para frente?
R - Olha, eu trabalhava na equipe de automação. É uma equipe excelente de automação. Eram só três pessoas, eu, o Engenheiro Barata e o Rui. Depois a empresa cresceu e cresceu também a equipe. Equipe muito boa, a automação é uma equipe respeitada, uma equipe com profissionais capacitados. E eu cheguei num nível de engenheiro de Automação, que excelente. Só que tinha que ir a outros patamares que eu queria, que era de projetos. E surgiu a oportunidade para ir para a área de projetos, e eu fui para a área de projetos. Estou adorando, por isso que eu fiz o pós na FGV de projeto, para poder conciliar, para entender mais sobre o projeto, porque quando você vai para uma área nova, você tem que entender. Chegar lá só de... Aí, eu fui estudar para buscar mais conhecimento para poder entender. E tem outro patamar. Eu estou como engenheiro especialista, daqui para frente, é só consultor. Eu não quero área gerencial. Falei muito bem, já que eu não quero a área gerencial. Minha parte é mais técnica, eu não quero a área gerencial. Não tenho nada contra gerente, nada disso, mas eu não quero a área gerencial. Então, tem a parte de consultor. Já conversei com o meu chefe, a gente está vendo os planos, como é que eu posso chegar lá? Não sei se eu vou conseguir chegar lá, mas a gente vai colocar as nossas metas para poder chegar lá. Então… Eu queria sair da empresa, o dia que eu for sair da empresa, já como consultor, dizer assim: olha, eu cheguei no consultor, cheguei no nível máximo de engenheiro, fiz a minha parte, estou dando a empresa para vocês, tchau, cuide bem dela. Mas eu cheguei no meu nível de consultor, eu não posso mais aqui. Se quiserem que eu faça alguma consultoria externa, eu posso fazer, mas eu cheguei no meu nível de consultor, proporcionei muitas coisas boas para a empresa, ela proporcionou muitas coisas boas para mim, que é uma troca, ao mesmo tempo que eu busco eu aplico aqui, ensino. E espero que a empresa viva muito mais também, e que possa também proporcionar para as pessoas que estão aqui muitas oportunidades.
1:44:25
P1 - E sonho você tem?
R - Um sonho? Um sonho que eu tenho, é de conhecer Paris. E eu vou realizar meu sonho. A minha esposa quer ir para... “Vamos para os Estados Unidos! Os Estados Unidos!” Não, eu quero conhecer Paris. Quando eu conhecer Paris, aí papai do Céu pode me levar. Não, mas é isso, um sonho... Vai na parte do conhecimento. O mundo velho, que é a Europa, tem muita história. Então, eu quero conhecer aquela história viva ali, que está ali, sabe? Eu quero ver tudo que eu li, tudo que eu estudei. Eu quero ir lá ver. Então, lá tem muita história. Eu quero conhecer essa história lá, pegando, olhando, vendo. Pô, estou aqui nessa história. Eu vi isso aqui nos livros e agora estou vendo aqui. Não, é isso que eu quero. Esse é um sonho meu. Agora, profissional, se eu sair da empresa, se a empresa...
P1 - Você já contou.
R - Um dia que não me quiser mais, eu vou ser consultor. Eu digo assim, eu não quero parar de trabalhar. Eu quero ter mais um pouco assim. Agora tá na hora de eu ter a minha hora sendo gerenciada por mim. Hoje eu vou fazer esse serviço aqui, eu vou fazer esse serviço 2, 3 meses, parar, vou viajar, não quero mais fazer qualquer coisa, entendeu? Eu quero gerenciar a minha hora lá fora. Não quero parar de trabalhar, mas eu quero gerenciar a minha hora lá fora. Porque acho que a cabeça tem que trabalhar, não pode parar. Eu tenho muito bem claro que nem o meu pai, quando meu filho estava com ele, com meu pai e com a minha mãe, meu pai levava o meu filho para o colégio, para a academia, não sei o quê. Meu pai estava aposentado, estava bem. Aí vem aquela curva que se cruza, meu filho crescendo, meu pai caindo. Porque meu filho não precisava mais do meu pai, meu pai foi, foi, foi. Entendeu? Então, eu vejo muito bem essa curva. Está muito bem na minha cabeça, meu filho… Eu não quero ter essa curva de descendência de uma vez. Claro que eu vou ter, mas não quero ser de uma vez. Ela vai ser um pouco devagar, mas eu não quero que ela seja de uma vez.
P1 - Então se manter ativo, né?
R - Manter ativo, manter ativo. Tem um plano da empresa, se essa empresa tivesse esse plano, olha, tu trabalha dois dias aqui, três dias tu fica em casa, seria ótimo pra mim. Seria ótimo pra mim, né? Mas não sei, vamos ver.
1:47:07
P1 - Então, aquele menino, caçulinha, lá de Belém, construiu essa história toda.
R - Uma história toda, uma história muito boa, uma história maravilhosa. É o que eu digo, eu só tenho gratidão, só tenho a agradecer. Meu primeiro emprego, nunca fui dispensado de nada. É o que eu digo assim, ou, claro, que Deus me protege, muito, mas assim, eu não sou muito burro, não, porque eu estou até aqui há 30 anos, né? Eu tenho alguma coisa especial, né? Tenho alguma coisa especial para estar aqui há 30 anos. Tenho alguma coisa especial, não tenho. Porque, como eu te falei, tiveram vários furacões dentro da empresa. Eu estou por aqui, então tenho alguma coisa de especial para dar para a empresa.
1:47:55
P1 - Normando, a última pergunta. Como é que você se sentiu contando essa história hoje para a gente?
R - Ah, passou um filme na minha cabeça assim, tanto de emoções, como assim, eu fiz o meu papel bem. Eu fiz o meu papel muito bem. Eu fiz o script até a mais. O script que estava feito para a minha vida, acho que eu fiz até a mais, desculpe, Deus, mas acho que eu fiz até mais do que estava feito para mim. A minha resiliência que me trouxe até aqui.
P1 - Foi longe. Obrigada viu!
R - Eu vou mais.
P1 - Tem muito mais.
R - Eu que agradeço.
P1 - Obrigada.
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