Eu me chamo Sílvia Helena Baltazar Medeiros, sou nascida em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro. Eu tenho terceiro grau completo. Eu tenho uma formação extremamente eclética, eu sou fonoaudióloga, pedagoga e fiz uma especialização em psicomotricidade. Atualmente eu me dedico à questão ambiental. Eu fui professora formada em nível médio, depois eu fiz a minha primeira graduação em fonoaudiologia. Atendia paciente, sempre trabalhei com neurologia infantil. Eu fazia atendimento de paciente com paralisia cerebral, com sequelas motoras, mas depois de um determinado tempo resolvi montar uma escola. No fim, quase ao tempo de minha graduação, eu fui trabalhar como “fono” numa escola. Eu fui trabalhar numa escola e aí a professora teve que se ausentar por motivo de gravidez, eu me ofereci também para trabalhar, para dar aula, embora “fono”, mas eu era professora formada a nível médio e fiquei dando aula. Aí resolvi sair dali, resolvi montar algo meu, mas eu precisava estar qualificada para poder atuar dentro de uma escola. Não queria mais trabalhar para ninguém. Eu fui trabalhar com educação infantil e fiz outra graduação que para poder dar sustentabilidade ao meu exercício, porque embora trabalhasse dentro da educação infantil, de uma forma preventiva, me faltava algo, fui fazer pedagogia. Eu digo que foram os melhores anos da minha vida cursando pedagogia, cai de cabeça em pesquisa e por eu sempre ter essa tendência à questão neurológica eu fui pesquisar. Tornei-me pesquisadora em distúrbio, não em distúrbio de aprendizagem, eu fui trazendo questões que poderiam vir coibir futuros problemas de aprendizagem, caí para a psicomotricidade. Eu já tinha um conhecimento construído na faculdade de “fono”, eu trouxe para pedagogia a minha prática. Comecei a estudar trazendo a psicomotricidade como propedêutica de aprendizagem escolar. Em um dado momento, as coisas já não iam bem, o mundo estava em crise e eu fui...
Continuar leituraEu me chamo Sílvia Helena Baltazar Medeiros, sou nascida em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro. Eu tenho terceiro grau completo. Eu tenho uma formação extremamente eclética, eu sou fonoaudióloga, pedagoga e fiz uma especialização em psicomotricidade. Atualmente eu me dedico à questão ambiental. Eu fui professora formada em nível médio, depois eu fiz a minha primeira graduação em fonoaudiologia. Atendia paciente, sempre trabalhei com neurologia infantil. Eu fazia atendimento de paciente com paralisia cerebral, com sequelas motoras, mas depois de um determinado tempo resolvi montar uma escola. No fim, quase ao tempo de minha graduação, eu fui trabalhar como “fono” numa escola. Eu fui trabalhar numa escola e aí a professora teve que se ausentar por motivo de gravidez, eu me ofereci também para trabalhar, para dar aula, embora “fono”, mas eu era professora formada a nível médio e fiquei dando aula. Aí resolvi sair dali, resolvi montar algo meu, mas eu precisava estar qualificada para poder atuar dentro de uma escola. Não queria mais trabalhar para ninguém. Eu fui trabalhar com educação infantil e fiz outra graduação que para poder dar sustentabilidade ao meu exercício, porque embora trabalhasse dentro da educação infantil, de uma forma preventiva, me faltava algo, fui fazer pedagogia. Eu digo que foram os melhores anos da minha vida cursando pedagogia, cai de cabeça em pesquisa e por eu sempre ter essa tendência à questão neurológica eu fui pesquisar. Tornei-me pesquisadora em distúrbio, não em distúrbio de aprendizagem, eu fui trazendo questões que poderiam vir coibir futuros problemas de aprendizagem, caí para a psicomotricidade. Eu já tinha um conhecimento construído na faculdade de “fono”, eu trouxe para pedagogia a minha prática. Comecei a estudar trazendo a psicomotricidade como propedêutica de aprendizagem escolar. Em um dado momento, as coisas já não iam bem, o mundo estava em crise e eu fui obrigada a fechar a escola. Eis que me surge o convite de trabalhar com a Dora Cordeiro que é assim, uma pessoa que eu conheço há muitos anos e eu fui a ela e ela receptivamente me acolheu. Eu trabalho com a Dora diretamente, deixei bem claro para ela que a minha experiência com o meio ambiente era nenhuma e ela: “Não. Vamos nos adequar, vamos ver, mas você é pedagoga...” Eu fui trabalhando na secretaria junto com ela, fui trabalhando trazendo a questão ambiental, tudo isso. Aquele momento ali me impulsionava. Eu enquanto pedagoga eu sempre estudei muito e eu adoro todos teóricos e entre eles Paulo Freire, que dizia que o bom educador era aquele que transformava um conhecimento ingênuo em epistemológico. Eu me vi dentro da secretaria de meio ambiente em algo que eu não conhecia, mas eu fui buscar e caí de cabeça. Cada dia que passa eu venho me identificando com a questão ambiental. Fui seguindo e venho tentando desenvolver. Hoje em dia eu tenho bastante conhecimento, ainda falta bastante coisa, um caminho muito longo para poder caminhar, mas eu acho que dentro da área ambiental eu já consigo estar de pé, os primeiros passos já começam a ser dados. Eu comecei a trabalhar com a Dora no começo do ano de 2009, eu a conheço há muitos anos. A mãe da Dora estudou com a minha mãe e a Dora é amiga da minha irmã de infância, mas eu a conheço de estudar na mesma escola, tudo isso, deve ter uns 30 anos. A princípio eu ia secretariar a Dora, cuidar de agenda, tudo isso, mas eu sou extremamente curiosa. Eu digo que eu sou curiosa, digamos, num termo melhor, intrometida. A Dora ia à reunião e eu tinha que ir junto, às vezes ela falava para mim: “Olha, não tem como eu ir. Tem como você ir me representar? Anota”. Daquelas minhas anotações parte surgiam inquietações de que eu ia buscar para saber o porquê que era, o porquê daquilo e foi aí que eu fui conhecendo melhor como funciona toda aquela estrutura, entendeu? Meio ambiente, primeiro setor, secretaria etc. Eu não trabalho só Agenda 21. A minha função dentro da secretaria de meio ambiente está para além. Eu sou diretora de divisão de projeto da secretaria, a gente trabalha com todas as questões relativas a meio ambiente. Então eu participo também de fórum de economia solidária, eu estive presente na conferência municipal de educação, até porque eu acredito que educação é um dos principais meios para sensibilizar, mobilizar toda a sociedade civil para construção de uma consciência ambiental, correta. Eu trabalho também buscando conhecimento, fazendo controle de credenciamento de empresas que vazam o lixo no Aterro Sanitário de Itaoca. É uma função bem eclética, toma-se todo conhecimento. Você trata desde a árvore da rua que está tomando conta dos galhos, até mesmo licenciamento de uma grande firma para poder ser implementada dentro do município e realizar e desenvolver suas funções. A secretaria de meio ambiente do município de São Gonçalo, ela era uma subsecretaria, ela foi instituída secretaria eu acho que tem um ano agora. Então ela era uma subsecretaria de infra-estrutura, obras e urbanismo, uma coisa assim. E ela tomou corpo, passou a ser secretaria há pouco tempo, porque um ano é muito pouco tempo, ainda mais no poder público, mais moroso ainda por todas as questões que já são extremamente difundidas. Dentro desse período houve toda uma tomada de conhecimento, uma apreensão do que efetivamente quais eram as funções da secretaria. Houve toda uma reestruturação do ambiente de trabalho. Nesse momento a gente vem difundindo e realizando ações. Temos ações estanques de participar de feiras e também uma ação conjunta com a secretaria, com uma subsecretaria de educação ambiental, buscando sensibilizar e mobilizar a sociedade civil por meio da escola, para o desenvolvimento de consciência ecológica ambiental. Atualmente, além de toda a reestruturação da secretaria a gente vem tentando buscar a implementação da A3P [Agenda Ambiental na Administração Pública] dentro de todo o município de São Gonçalo. É uma idéia também da Petrobras, de desenvolvimento dentro dos setores públicos, implementar a coleta seletiva, evitar o uso de copo descartável, desenvolver consciência ecológica através de ação junto ao ministério de meio ambiente, uma parceira do ministério do meio ambiente e prefeitura municipal de São Gonçalo. Eu vejo que o trabalho que a Dora vem fazendo com a sua equipe está agindo em vários meandros. É como se fosse um polvo com os seus tentáculos tentando jogar suas redes para todos os lados. Ela faz a escola porque é um trabalho bem legal. Não basta apenas pensar no povo, pensar em como eles têm que agir, vamos também implementar a A3P. No transcurso do processo de implementação da Agenda 21 eu ingressei, foi quando eu tive contato pela primeira vez. Eles haviam retornado do primeiro encontro que tiveram em Rio Bonito. Eu tenho total conhecimento de como se deu o processo, de como chegou, de que lei foi implementada dentro do município para a instituição da Agenda 21, tudo isso eu tenho conhecimento sim. Eu sei que é uma articulação, que desse processo fazem parte representantes de todos setores: primeiro setor, governo; segundo setor, empresários; terceiro setor, organizações não governamentais, as ONGs; quarto setor, sociedade civil como um todo, o povo, com a associação de moradores. É uma estrutura extremamente paritária, tantos representantes do primeiro setor, tantos representantes do segundo setor, terceiro e quarto setor. Todo mundo tem direito a vez e voto. Eu tomei total ciência de como se deu essa estrutura. Embora eu tenha pego no caminho, a Dora já acompanha o processo desde o início da implementação da Agenda em São Gonçalo. Eu tive acesso a todo material e diálogos estabelecidos. Eu peguei na metade, quando eu cheguei eles já tinham se reunido em Rio Bonito e já tinham norteado quais eram os problemas e possíveis potencialidades do município, nos vários âmbitos. Em São Gonçalo começou no ano passado. Foi instituído em 2008. Em 2009, no começo de 2009, um grupo ficou três, quatro dias em Rio Bonito, numa estrutura reservada, locada pela Petrobras para poder mantê-los com tutores, com monitores, articulando todo o trabalho que seria feito. As pessoas foram divididas em eixos temáticos e ali eles iriam apontar quais eram os problemas e potencialidades do município. Eu sou uma representante do primeiro setor na Agenda 21. O movimento Agenda 21 São Gonçalo é algo bem organizado. Não posso deixar de destacar. Ultimamente, a gente tem tido reuniões mensais, mas nós chegamos a ter reuniões semanais. Depois do retorno de Rio Bonito em fevereiro, a primeira reunião foi realizada dia seis de março e nessa reunião eu já estava presente. Essa reunião foi do primeiro setor, foi realizada na sala de licitações dentro da prefeitura de São Gonçalo, porque nesse momento os setores estavam reunidos separados. Eles voltaram de Rio Bonito, o grupão, todos juntos, e depois cada um foi discutir entre os seus setores o que havia feito. Em Rio Bonito foram apontados, elencados, todos os problemas e as potencialidades do município. Eu cheguei no momento em que esses problemas já eram destacados através dos diálogos estabelecidos entre todos que estavam presentes. Em Rio Bonito, no encontro proporcionado pelo grupão, com os tutores da Petrobras, havia uma interlocução, porque eram grupos formados por representantes do primeiro, segundo, terceiro e quarto setor. Por maior conhecimento que eu possa ter da máquina, do primeiro setor, tudo isso, tem coisas que o quarto setor sabe muito mais que a gente. É o pescador, é o cara que está lá no campo trabalhando na agricultura de São Gonçalo, é o pessoal que trabalha na área de mangue. Embora eu tenha nascido e tenha sido criada em São Gonçalo, eu não tenho conhecimentos locais, porque São Gonçalo é extremamente grande, há uma adversidade total de espaços e muita riqueza cultural. Você tem várias coisas, várias opções, você tem herbário, área de mangue, área de preservação florestal. Nós temos a APA [Área de Proteção Ambiental] do Engenho Pequeno com quatro trilhas e com uma biodiversidade fantástica. Tudo isso dentro do município e muitas vezes a gente não tem conhecimento. Nesse encontro de Rio Bonito com todos os representantes o conhecimento que eu tinha eu dispunha, levava àquele outro, possibilitando uma troca. Estávamos naquele momento fazendo a tecitura de todo conhecimento do município. AGENDA 21 LOCAL / SÃO GONÇALO São Gonçalo faz o trabalho dele, Rio Bonito faz o trabalho dele, Tanguá também, eu não consigo ver uma troca entre esses municípios ainda não. Quando eu cheguei os problemas e as potencialidades foram apontados, nós passamos a discutir em setores e depois fizemos reuniões semanais com o grupão, com todos os representantes, um grupo de 40. O grupão é formado por todos representantes do nosso município. Quando a gente veio de Rio Bonito discutimos primeiramente entre os setores, com os dez representantes de cada setor, digo dez, mas são sete. Eu vejo o seguinte, a Agenda 21, é um lugar para agregar. A gente agrega opiniões. Vamos agregá-las. Às vezes temos mais pessoas de outros setores que estão dispostas a participar e por isso elas são aceitas também. É um trabalho extremamente moroso e árduo, a gente ainda está tomando para si, tomando conhecimento do próprio município para que a gente possa depois compartilhar. Eu acho que no momento a seguir, oportuno, vamos entrar em contato com os outros municípios. Quando voltamos de Rio Bonito trouxemos problemas e potencialidades do município que foram colocadas em xeque, discutidas entre os setores específicos e depois foram ao encontro com o grupão. Porque haveria toda uma preparação para um segundo encontro que seria realizado também em Rio Bonito, local reservado pela Petrobras para que todos estivessem presentes. A gente foi numa segunda feira, ficou num hotel trabalhando arduamente. Todo mundo pensa: “Foram passear”. Não fomos. O hotel era maravilhoso, às oito da manhã o café já estava servido, depois disso trabalhávamos o dia inteiro até as cinco horas da tarde. Nesses encontros iniciais discutíamos basicamente quais eram as nossas potencialidades e quais seriam as ações específicas. Se no primeiro eu apontei problemas e potencialidades na segunda seriam discutidas as ações daquelas potencialidades que o município tinha para poderem ser desenvolvidas, quais eram as ações que poderiam ser tomadas e quais eram os passos, os parceiros, que poderiam ser contatados para poder efetivar essas ações. AGENDA 21 LOCAL / SÃO GONÇALO / ATIVIDADES Começamos a pensar efetivamente Agenda 21 São Gonçalo fazendo a discussão de todo um regimento interno de Agenda 21 para ser realmente, efetivamente instituído, o nosso regimento. Retornamos a Rio Bonito, apontamos as ações que tinham que ser feitas a partir das potencialidades do município, quais os caminhos que poderiam ser seguidos e isso virou um material. Temos agora realizado reuniões mensais. Já foram eleitos, escolhidos, os representantes da secretaria executiva e secretaria de comunicação. A gente já tem toda uma estrutura formada. E esse material que foi construído é extremamente rico. Ele aponta soluções nos vários eixos, na área ambiental, de saúde, educacional, de segurança pública e como eu sou do meio ambiente, o que eu faço? Eu fiquei no estudo de ambiental e tudo aquilo que foi apontado eu faço como se fosse um feedback, eu levo pra minha secretaria e a gente tenta mover ações para poder solucionar. Por exemplo, ali na área de São Gonçalo temos a invasão das praias, daquela área de mangue, tudo isso. A Dora vem estabelecendo uma parceria entre a ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], o batalhão florestal e a gente lá do meio ambiente, tentando coibir as construções irregulares dentro dessas áreas, que foi um dos problemas apontados dentro das discussões da agenda. É difícil você que está ali setorizado tratar de licenciamento, credenciamento de firmas, não sei o que etc. Tem um número de fiscal reduzido na rua. O material é rico e tentamos implementá-lo ao máximo. São Gonçalo é abafado, parece que o ar fica pairando, pesado e a gente até brinca com o pessoal da Agenda que depois da instituição do Comperj, São Gonçalo vai virar Bangu, porque você vai a Bangu e percebe o ar pesadíssimo. E o que a Dora tem feito? Tem feito muito distribuição de mudas, mas não é distribuição de mudas aleatórias. Ela tem buscado áreas que possam ser replantadas e faz essa distribuição de mudas para a sociedade civil, mas todas essas mudas que são doadas são catalogadas, não é bem catalogar o termo correto, a pessoa tem que deixar todos seus dados, o local, ela faz um registro para ser feito um acompanhamento de como está desenvolvendo aquela muda. A gente entra em contato por telefone ou passa no local para poder ver. Estamos implementando uma ação conjunta, conscientizando através da escola, aproveitamos também a feira sócio-ambiental onde a escola estava junta e articulamos com os professores, pedindo que eles plantassem árvores dentro da escola e que as crianças acompanhassem. Outros problemas que foram apontados foram as construções irregulares. No diálogo estabelecido com os outros atores sociais de São Gonçalo, o que ocorreu? Eles foram apontando outras áreas e o fiscal vai lá, olha, e depois entra em contato com o batalhão florestal para ser realizada uma ação conjunta. A Dora também conseguiu uma parceria com o ICMBio da APA de Guapimirim, porque eles têm um batalhão de fiscalização que eles estendem a fiscalização por mais dez quilômetros dos seus limites. A gente vem buscando ações conjuntas. Tem sido muito enriquecedor porque o que se discute na Agenda 21, não fica só lá, é levado para a secretaria para se tornar uma ação efetiva. Eu vou ser bem sincera. Eu venho trabalhando com bastante afinco e uma coisa que eu sinto é o corporativismo. Há uma briga de vaidades. Eu consigo vislumbrar que a Agenda 21 é algo para além, mas infelizmente as pessoas tomam para si. Eu vejo que depois que se criou uma secretaria executiva as pessoas se sentem como se fossem delas esse espaço. Eu acho que as coisas não funcionam assim. É a única coisa que eu não gosto. O Fórum tem a sua secretaria executiva e a secretaria de comunicação. Se você tem uma secretaria executiva, uma secretaria de comunicação, você deveria eu acho que ter um representante de secretaria de meio ambiente. São Gonçalo não tem. A secretaria de meio ambiente não participa de nenhuma das secretarias. São representantes de primeiro, segundo, terceiro e quarto setor que formam uma secretaria executiva e secretaria de comunicação. Quando eles vieram de Rio Bonito pela primeira vez já estava mais ou menos acertado que a Dora seria uma das representantes de primeiro setor e no final não se deu isso na secretaria executiva. Porém um lado muito legal da Dora é o seguinte, independente de secretaria, dessas coisas que a gente reclama, que ela diz que são coisas pequenas, nós trouxemos para o nosso lado tudo aquilo que foi construído e, desse modo, partimos para a ação. Porque quem efetivamente vai conseguir colocar em prática é o primeiro setor. Porque vai ter uma acessibilidade maior ao poder executivo, à prefeita e aos vereadores. Aquilo que é um grito, uma ânsia, um anseio da população em geral a gente põe em prática. E assim, independente do que acontece. Eu não estou discutindo, falando assim: “Ah, o que foi discutido lá, o que foi estabelecido caiu por terra, deixa para lá”. Ela também é moradora de São Gonçalo, nascida e criada, pensa o seguinte: “A gente vai fazer pelo nosso município”. Todo investimento que foi feito está sendo aproveitado. Eu sou nascida e criada em São Gonçalo e enquanto moradora a gente sempre fica assim, entusiasmada com a história do Comperj [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro]. Aumenta a possibilidade de oferta de trabalho, de forma que São Gonçalo deixe definitivamente de ser uma cidade dormitório. Até então eu era apenas moradora, quarto setor puro, porque hoje a gente diz que a gente está primeiro setor. É um crescimento econômico para o município, a gente não pode descartar uma possibilidade de crescimento sócio econômico para o nosso município. Eu recebi com bastante entusiasmo e até com bastante satisfação, lisonjeada, enquanto moradora. Uma pessoa uma vez virou para mim e falou assim: “Você tem que ver que a Agenda 21 não é só meio ambiente”. Aí eu ainda virei para ela e falei assim: “Realmente. Efetivamente a Agenda 21 não é só meio ambiente”. Quando a gente traz a Agenda 21 e pensa Comperj, temos que pensar meio ambiente, desenvolvimento e qualidade de vida, essa tríade. Sendo que em todo município ela não é só meio ambiente. Não vamos discutir apenas a questão ambiental. A pessoa está coberta de razão, mas só que a gente não tem que deixar de vislumbrar o seguinte, que embora não seja só a questão ambiental, ela é o eixo nodal, é dela que vão partir as ações. Por quê? Porque os impactos ambientais que o município irá sofrer após a implementação, não só na fase da construção, mas durante todo o desenvolvimento de trabalho de implementação, será muito grande. Depois da construção, quando estiver em plena ação o Comperj, aumentará o fluxo de veículos, o número de habitantes, tudo isso. Em decorrência disso, o que vai acontecer? Qual vai ser o impacto ambiental? Construção de casas em áreas irregulares com a destruição de matas ciliares e consequentemente a qualidade do ar vai ficar cada vez pior. Em consequência disso surgirão problemas respiratórios. Não é só a questão ambiental, mas eu digo que é um eixo nodal, que é a questão principal porque dela vão partir outros problemas. Vou aumentar mais o número de hospitais, aumentar o efetivo de pessoas trabalhando na rede pública de saúde, construir mais escolas, melhorar estradas, rodovias, tudo isso. Mas se a questão ambiental ficar de fora não vai adiantar nada. Por quê? Porque o meio ambiente é um meio. Eu vejo que é um mecanismo que vai ser utilizado para equacionar esses impactos, por exemplo, no eixo de educação, de saúde, de segurança, porque tudo vai ser alterado. A demanda por hospitais, por escolas, a segurança também vai estar alterada, mas tudo isso perpassa pela questão ambiental. Em São Gonçalo a gente tinha um trabalho com a Roda Viva, a Isabel era o nosso principal contato. O contrato da Isabel acabou. Quando acabou o contrato a gente já tinha praticamente feito o trabalho, encontrado problemas, potencialidades, ações, diretrizes, tudo isso. A gente passou a discutir, já tínhamos feito uma pré-leitura do regimento interno da Agenda 21 Local São Gonçalo e estávamos fechando esse regimento. Dentro de São Gonçalo há muito compromisso, comprometimento, com as pessoas que estão envolvidas com a Agenda 21 Local. A Isabel, embora não tenha mais vínculo contratual, tem um compromisso dela conosco, é muito intenso porque ela continua mantendo contato e participando dos trabalhos. Continua mesmo de uma forma oficiosa, não de uma forma oficial, mas ela comprou junto conosco de São Gonçalo a Agenda 21. A gente faz questão de mantê-la informada porque ela participou. Ela foi o nosso guia, nossa muleta, nosso aparato, nosso cão guia. Nós agora já estamos de pé. Temos compromisso com a Agenda, comprometimento. Existe uma reciprocidade muito grande, porque ela se faz presente também. Eu tenho uma história que não é minha, mas essa é pesada. Essa história é de uma pessoa que estava em Rio Bonito e dentro da Agenda eu falo que existem as roxinhas, que são do movimento de mulheres terceiro setor, que são assim fantásticas. São as senhorinhas de terceiro setor. Eu, embora seja primeiro setor, a minha identificação com terceiro e quarto setor é muito grande. Eu adoro. Eu falo que são as roxinhas porque elas usam umas blusas roxas do movimento de mulheres, que é muito forte em São Gonçalo. E elas são animadíssimas. Elas saíam todo dia quando a gente estava em Rio Bonito, elas iam junto com outra pessoa, que é subsecretária de educação ambiental, primeiro setor também, elas iam atrás do tal avestruz. Porque existia um avestruz em Rio Bonito. Elas iam lá dançar. A subsecretária ia lá e dançava. Ela não dançava, ela chegava perto do avestruz e o avestruz ficava excitadíssimo. Era um avestruz mesmo. Era só chegar perto que o avestruz ficava excitado. Até hoje quando a gente vai tirar foto, dissemos assim: “Olha o avestruz. Olha o avestruz”. E essa subsecretária é muito divertida, ela é de educação ambiental. Eu vou dizer o nome dela, ela vai me matar, é a Ana Moraes, que é a Aninha. Ela falava assim: “Nossa, eu nem preciso fazer a dança do acasalamento”. E ela dançava para gente. Essa é uma história que marcou bastante. Têm outras também, mas essa é porque tem as roxinhas e tem a Ana, que é fantástica. Eu estou na Agenda 21 como representante da Dora Cordeiro e eu me sinto agraciada. Porque foi um meio que eu tive de tomar conhecimento maior do meu município. Eu agradeço bastante. Eu acho que essa experiência para mim é extremamente enriquecedora. A partir das relações estabelecidas com os atores de diversos segmentos da sociedade gonçalense eu pude formar conceitos, elaborar meu construto mental e formar conceitos acerca do que é o município de São Gonçalo. Há uma dificuldade muito grande, porque tem gente querendo fazer diferente, tanto é que a gente vem trabalhando a Agenda 21 com muita seriedade, muito compromisso e muito comprometimento. De princípio eu estava meio amedrontada, mas você me deixou bem tranquila. Foi uma entrevista extremamente intimista que eu me senti tranquila e falei. Porque se me deixar eu falo. Achei uma boa, para poder passar para outras pessoas a experiência que eu tenho. Eu não posso te afirmar nada sobre o futuro. Eu sei que o caminho é árduo, mas eu falo pela minha experiência, pelas ações que eu vivencio e também executo. Eu tenho um grupo disposto a fazer diferente. Eu tenho a Dora Cordeiro, eu tenho a Ângela Soledade, que é pequenininha, esmirradinha, mas ela é gigantesca nas ações. Eu tenho o Pedro Belga que está conosco agora, eu tenho um grupo tentando fazer diferente. A gente não sabe o que vai acontecer no futuro, mas que quem está ali dentro está tentando fazer um futuro um pouquinho melhor, um futuro bem diferente.
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