Projeto 30 Anos Alunorte
Entrevista de Luzinete Antunes
Entrevistada por Lígia Scalise
Barcarena, 11 de julho de 2025
Transcrita por Mônica Alves
(00:16) P1 - Luzinete, obrigada antes de tudo. E eu vou pedir pra você começar falando seu nome inteiro, sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R: Eu me chamo Luzinete Conceição Antunes. Eu nasci em Igarapé-Miri, aqui mesmo no Pará, no dia 21 de julho de 1976.
(00:36) P1 - Onde fica Igarapé-Miri no Pará?
R: Gente, juro que não sei. Se é para o Sul, eu não sei te dizer ao certo onde é.
(00:44) P1 - Tá perto ou longe daqui?
R: Eu sei que fica próximo de Abaetetuba. Abaetetuba fica a 40 minutos daqui. Deve ficar um pouco mais distante. Deve ficar uma hora, mais ou menos. Mas faz muitos anos que eu não vou lá, muitos anos. O meu pai, quando era vivo, sempre falava: “Vamos lá em Igarapé-Miri?”. Eu falava: “Rapaz, sem condições.” Aí, após ele falecer, eu falo: “Meu Deus, eu preciso ir pra Igarapé-Miri.” Porque ele falava tanto, pediu tanto pra ir e nunca deu, nunca tive vontade, na verdade. Aí depois que as coisas acontecem, aí vem aquela vontade. Eu poderia ter ido com o papai lá.
(01:08) P1 - Me fala o nome dos seus pais e como era a vida quando você nasceu, quando você chegou ao mundo.
R: Meu pai se chamava Luiz Ferreira Antunes e a minha mãe se chama Inês da Conceição Antunes. Nós éramos do interior, Ribeirinhos, lá de Igarapé-Miri. E aí eu me recordo que nós éramos três filhos e nós começamos a estudar juntos, porque ao invés de ficar segurando, aí: “Vamos colocar os três de uma vez só na escola.” E aí isso eu me lembro. Eu me lembro que ele criava bode. Um dia desse eu estava conversando aqui na sala sobre criar bodes, porque tem uma amiga que gosta muito de bode e ela tomando no café da manhã cuscuz com bode, eu falei: “Gente, o papai tinha um bode. Eu lembro do bode dele lá no interior.” E a gente estava conversando sobre bode....
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Entrevista de Luzinete Antunes
Entrevistada por Lígia Scalise
Barcarena, 11 de julho de 2025
Transcrita por Mônica Alves
(00:16) P1 - Luzinete, obrigada antes de tudo. E eu vou pedir pra você começar falando seu nome inteiro, sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R: Eu me chamo Luzinete Conceição Antunes. Eu nasci em Igarapé-Miri, aqui mesmo no Pará, no dia 21 de julho de 1976.
(00:36) P1 - Onde fica Igarapé-Miri no Pará?
R: Gente, juro que não sei. Se é para o Sul, eu não sei te dizer ao certo onde é.
(00:44) P1 - Tá perto ou longe daqui?
R: Eu sei que fica próximo de Abaetetuba. Abaetetuba fica a 40 minutos daqui. Deve ficar um pouco mais distante. Deve ficar uma hora, mais ou menos. Mas faz muitos anos que eu não vou lá, muitos anos. O meu pai, quando era vivo, sempre falava: “Vamos lá em Igarapé-Miri?”. Eu falava: “Rapaz, sem condições.” Aí, após ele falecer, eu falo: “Meu Deus, eu preciso ir pra Igarapé-Miri.” Porque ele falava tanto, pediu tanto pra ir e nunca deu, nunca tive vontade, na verdade. Aí depois que as coisas acontecem, aí vem aquela vontade. Eu poderia ter ido com o papai lá.
(01:08) P1 - Me fala o nome dos seus pais e como era a vida quando você nasceu, quando você chegou ao mundo.
R: Meu pai se chamava Luiz Ferreira Antunes e a minha mãe se chama Inês da Conceição Antunes. Nós éramos do interior, Ribeirinhos, lá de Igarapé-Miri. E aí eu me recordo que nós éramos três filhos e nós começamos a estudar juntos, porque ao invés de ficar segurando, aí: “Vamos colocar os três de uma vez só na escola.” E aí isso eu me lembro. Eu me lembro que ele criava bode. Um dia desse eu estava conversando aqui na sala sobre criar bodes, porque tem uma amiga que gosta muito de bode e ela tomando no café da manhã cuscuz com bode, eu falei: “Gente, o papai tinha um bode. Eu lembro do bode dele lá no interior.” E a gente estava conversando sobre bode. E aí nós ficamos lá e quando eu completei cinco anos, nós viemos todos para Belém. Já tinham mais filhos, obviamente. Nós viemos pra Belém com a intenção de colocar os filhos pra estudar. Essa era a intenção do papai e da mamãe.
(02:27) P1 - Você é a primeira, a segunda?
R: Eu sou a segunda. Nós somos seis filhos. Aí, dos seis filhos, são dois homens, o primeiro e o último. O último, inclusive, trabalha aqui. E quatro mulheres. E eu sou a segunda filha.
(02:20) P6: E você sabe por que seu nome foi Luzinete?
R: Gente, meu nome ia ser Carla, tu acreditas? Aí eu fico me perguntando: “O que foi que o papai teve na cabeça de trocar meu nome de Carla para Luzinete?". Ele estava viajando, é a história que ele conta, ele viajava, eles tinham a serraria naquela época, a serraria fazia madeira, colocava madeira bruta em algum equipamento, aí a madeira saia uma tábua, alguma coisa assim. E aí ele chegou em algum porto, que eu não sei te dizer qual era, aí ele viu a mãe chamando a filha: “Luzinete, Luzinete.” Ele olhou pra garotinha e falou: “Meu Deus, que menina linda! Já sei, se eu chegar lá em Igarapé-Miri e a bebê não tiver nascido, o nome dela vai ser Luzinete.” E antes dele, ele tinha falado pra mamãe: “Inês, se o bebê nascer, o nome vai ser Carla.” A mamãe: “Tá, Carla. Tá lindo!”. Tá, ficou nisso. E quando ele chegou, eu não tinha nascido: “Não vai ser mais Carla, vai ser Luzinete.” Eu falei depois: “Meu Deus, o que deu no papai?
(03:33) P1 - Você gosta do seu nome?
R: Não, agora eu gosto. Porque assim, antes eu não gostava, isso é a verdade, eu falava: “Ah, Luzinete. Por que só eu?”. As minhas irmãs: Lúcia, Leni, Letícia e Luzinete. As minhas amigas me chamavam de Luzi na escola. Aí, comecei a remeter a Luz. Falei: “Ah, Luzi é um nome bonito.” Luzi lembra Luz. Hoje eu gosto, não tenho problemas com ele. E eu achei melhor ainda quando eu vim trabalhar aqui, tem a Luzinete Nunes, a Luzinete que vende Chope lá do outro lado e a esposa de um colega é Luzinete. Eu falei: “Eu não estou mais sozinha no mundo, tem milhares de Luzinete.” Hoje não vejo problemas, mas quando eu era criança, eu tinha.
(04:09) P1 - Você sabe se o seu parto foi em casa, foi no hospital?
R: Foi em casa. Como é que fala? Natural.
(04:10) P1 - Parteira?
R: Parteira.
(04:11) P1 - Sua mãe te conta essa história?
R: Conta. Na verdade, quem contava mais era a vovó. A mamãe é meio tímida, ela não gosta de contar as coisas do passado. Então, todas as histórias que nós sabemos era da vovó ou das tias.
(04:22) P1 - E como é que foi? Que história é essa?
R: Gente, eu acho que no interior era assim, todo mundo nascia de parto normal. Só o meu último irmão que foi cesárea, porque já fazia cesárea em último caso para não ter mais filhos, naquela época era assim. Aí, o meu irmão mais novo foi assim.
(04:42) P1 -: O seu foi parto normal em casa?
R: Parto normal em casa. Agora, o que eu me lembro, que me marcou muito na minha infância… como era no interior e tinha aqueles trapiches, aí chegava barco e a casa aqui pra trás. E aí eu me lembro que eu amava, amo abacate. Aí o rapaz das frutas chegava pra vender fruta lá. Aí eu corria: “Abacate, abacate, abacate!”. Eu era pequenininha, acho que tinha 4 ou 5 anos e eu caí. Tu acreditas que eu caí no rio? Gente! Só que eu não lembrava dessa história e ninguém na minha família tocava nessa história de que eu caí no rio e tal, essas coisas. Aí eu me lembro que eu caí, isso foi muito depois, eu tive um sonho, eu sonhei que eu tinha caído no rio, acredita? E a minha mãe pulava e me salvava assim pelo cabelo. Aí quando eu acordei, eu falei: “Eu tive um sonho estranho, que eu caí no rio e tal, minha mãe me salvava.” Aí a minha tia começou a chorar e tal. “Você sonhou?”. Eu falei: “Sonhei. Sonhei ontem à noite e tal. Foi estranho, foi desesperador.” Aí ela falou: “Minha filha, isso aconteceu de verdade.” Falei: “Meu Deus!”. Aí eu acho que veio na cabeça memórias.
(06:05) P1 - Nossa, e por que isso te emociona?
R: Minha mãe me salvou. Ela estava grávida. Ela me salvou e estava grávida do terceiro filho, eu acho. Era de terceiro ou quarto, sei lá.
(06:20) P1 - Isso te deixou com algum medo de água?
R: Não, muito pelo contrário. Todo dia eu atravesso o rio, eu amo água, amo praia, amo tudo. Eu não sei por que Deus me deu uma segunda chance.
(06:30) P1 - É mesmo, uma segunda chance, né? Uma criança.
R: Eu não sabia nadar. E eu me lembro muito de quando ela pulou. Eu vi uma luz, sabe? Quer dizer, no meu sonho, não sei se isso aconteceu, se foi assim na época. Aí eu olhava, aquele clarão em cima, sabe? Do sol. E aquela mão, que eu era a mão dela. Até que ela tocou no meu cabelo e me puxou. E aí eu me recordo depois, também, que eu estava na cama, deitada, acho que, desmaiada ou dormindo, eu não sei e todo mundo lá, os vizinhos me olhando e eu falei: “Meu Deus!”. Aí tomei um susto nesse sonho. Foi um sonho, foi um pesadelo e, na verdade, foi real.
(07:03) P1 - Como é que eram os seus pais quando você era pequenininha?
R: Eu lembro que meu pai viajava demais e quando ele chegava era uma festa. Ele me chamava de Vite-Vite. Aí, quando ele chegava lá no trapiche, ele assobiava e falava: “Vite-Vite!”. Aí eu vinha correndo e ele me colocava no ombro, sabe? Eu sou muito louca no meu pai. Ele foi o meu maior incentivador de estar aqui. A minha mãe não é muito de falar, ela é mais tranquila, ela é muito calma, muito tranquila. E eu acho que eu sou igualzinha a ele, meio espevitada, de fazer as coisas loucamente. E assim, quando eu me formei em Química Industrial pelo IFPA, eu consegui passar aqui, aí eu falei: “Eu não vou não, em Barcarena.” Ele falou: “Não, você vai sim. Você vai sim, porque você estudou pra trabalhar nessa área, é só lá que tem, aqui em Belém não tem.” E foi Química Industrial do IFPA. Aí eu falei: “Tá, eu vou.” Aí eu já tinha meu filho. Eu tive meu filho com 23 anos, eu era super jovem. E aí, eu vim. Aí a gente ficava nesse vai e volta. A mamãe, claro, qual é a mãe que não incentiva? A minha mãe, claro que incentivava, mas o jeito dela, caladinha: “Pode deixar aqui que a gente toma conta. Ou, tem o pai dele, ele vai com o pai dele e fica aqui. Vai sim.” E assim fui. E estou há 21 anos aqui.
(08:54) P1 - Porque é Vite-Vite? O que é Vite-Vite?
R: Eu não sei, até hoje. Quando eu perguntava para ele: “Pai, por que o senhor me chamava de Vite-Vite?”. Ele me falava: “Eu não sei. Porque tu gostavas.” Eu não sei se foi alguma coisa que ele não lembrava. Só que ele me chamava de Vite-Vite e eu não faço a mínima ideia, mas é bonitinho, né? Vite-Vite.
(09:12) P1 - Seus pais são do Pará?
R: São, os dois.
(09:15) P1 - Dessa cidade que você nasceu ou não?
R: Sim, da cidade que era Igarapé-Miri, os dois.
(09:22) P1 - E a casa, como é que era?
R: Gente, eu me recordo da casa. Ela era de madeira, obviamente, grande, tinha um terreno gigantesco ao lado, tinha também esse casarão, que era a serraria e tinha aquelas máquinas enormes que as árvores, os troncos de árvores passavam e tiravam aquelas madeiras fininhas, sabe? Tábua, né? Tábua. Ripas finas assim, ripinhas. Eu me recordo disso. Eles tinham muitos trabalhadores também. O meu pai começou a trabalhar com 9 anos. Naquela época, ele ia com os barcos, eu não me recordo com quem ele ia, se era com tio, se era com vizinho, eu não me recordo. Aí falou que quando ele cresceu, chegou uma certa idade: “Não, agora eu vou montar a minha serraria.” Que naquela época de interior era isso. Aí ele montou a serraria dele. Depois já tinha família, tinha mamãe. Aí vieram os filhos, e foi isso. E quando ele veio a Belém, quando eu tinha cinco anos, foi isso que eu falei, ele montou uma estância, naquela época era estância, o que hoje é material de construção, loja de material de construção, estância. E ele foi muito próspero no que ele fez durante muitos anos. Seis filhos estudando em escola particular, estudamos no colégio do Carmo. E aí ele era um empreendedor e visionário para época, vindo do interior, sem estudo.
(11:18) P1 - Como é que eles se conheceram?
R: Papai e mamãe? No interior, ué. Não tem os ônibus em Belém que vão passando pelas ruas? Lá era os barcos passando pelos rios. Assim, o que eu lembro que eles falam, tinha um lugar de festa, tinha um lugar de comprar as coisas, sempre eram os mesmos lugares, os mesmos lugares de comércio, de se encontrar em alguma festa ou na igreja, tudo isso tinha, mas as pessoas iam de barco. Aí quando o papai, porque ele que viajava, ia chegando, ia passando, ele falava que a mamãe ficava chamando ele. Todo mundo dava tchau quando ia passando algum barco, a mamãe fazia assim: “Vem cá.”
(12:03) P1 - Ela gostava?
R: Gostava. Foi assim, parece que ela fugiu com ele, eu não tenho certeza, mas porque ela não fala, ela não fala de jeito nenhum, de jeito nenhum. As pessoas falam, as minhas tias falam: “Não, ela fugiu com ele, não sei o quê.”
(12:15) P24: Danada.
R: Danadinha, mas ela é toda calminha, toda lady.
(12:20) P1 - Sua mãe trabalhava?
R: Não, dona de casa sempre, a vida toda.
(12:22) P1 - Cuidava de vocês?
R: Seis filhos, não tinha como.
(12:28) P1 - E a ida para Belém foi uma decisão para melhorar a vida deles?
R: Sim. A vida de todos. Assim, o que eu me recordo é que eles conversavam muito, que a vinda a Belém era justamente para os filhos estudarem. Esse era o objetivo deles. Dar uma vida melhor para os filhos estudarem, eles estavam crescendo, e que no interior era barco, viajar, se encher de filhos e ficar, e ficando. Atualmente eu não sei como tá, mas antigamente era isso.
(12:49) P1 - Você lembra como foi essa viagem pra Belém? Porque deve ter mudado tudo.
R: Lembro.
(12:55) P1 - Uma criança que sai lá do Igarapé...
R: Lembro. Eu já era meio grandinha, então eu ficava olhando tudo, tudo, vislumbrada com a cidade. Eu falava: “Meu Deus, que cidade grande!”. Nós viemos de barco, eu me lembro muito bem que era barco. Eles tinham barco, né? E aí, todos os filhos, mamãe, ele, minhas tias, todas. Ele foi o revolucionário da família, essa é a verdade, porque ele veio a Belém, aí depois já trouxe a irmã, trouxe todos os irmãos. Aí a mamãe também já trouxe os pais. E aí uma vida nova em Belém.
(13:33) P1 - O que você gostava lá do interior e o que você começou a gostar de Belém?
R: Gente, assim, não tenho muito o que eu gostava e o que eu gosto, porque como eu era muito criança, as memórias são poucas. Eu me lembro de uma coisa que até hoje nós fazemos, é a Família Unida, que lá no interior, na casa dele, ele sempre foi de agregar as pessoas. E aí eu lembro que na casa dele, na nossa casa, tinham muitas pessoas que trabalhavam, os tios, os avós, todo mundo frequentava lá, porque ele era muito alegre, expansivo, ele gostava de estar com a mesa cheia de comida. Chegava alguém: “Ah, mata um porco, mata uma galinha.” Entendeu? Isso é muito legal no interior. E aí, quando nós viemos a Belém, nós moramos ali na 03 de maio, a priori. Tinha o Jumbo, tu lembras do Jumbo, não é da tua época?
(14:26) P1 - O que é isso?
R: O Jumbo era um supermercado. Depois foi Yamada Plaza. Agora tu sabes o que é a Yamada Plaza. Ah, não. Tu não és de Belém.
(14:35) P1 - Mas eu sei. Eu já vi.
R: Pois é. Era lá. Nós morávamos ali perto, numa casa alugada. E aí eu ficava deslumbrada com tudo, era lindo, grandioso. Não tinha rio, era terra. Não que lá não tivesse terra, no interior, tinha, mas enfim.
(14:49) P1 - Não te assustou chegar numa cidade grande?
R: Não. Como estava todo mundo junto, não tinha por que ter susto. Estavam todos, os pais, os irmãos, não tinha, não me assustou.
(15:00) P1 - E aí vocês brincavam do que em Belém?
R: Como nós morávamos em casa alugada, tinha os donos da casa que tinham filhos, a Rose, o Rildo e a Lidiane e nós brincávamos juntos. Mas o papai não gostava muito de brincadeira na rua, era mais em casa, brincar de boneca, essas coisas. Era bem legal! Foi tranquilo. Nós tivemos uma infância boa, de brincar com os vizinhos mais próximos, não ser deixados largados.
(15:36) P1 - E a escola? O que você lembra da escola?
R: Ah, eu lembro. Da escola, do Colégio do Carmo. Nós fomos estudar primeiro em uma escola lá pertinho, que era São Cristóvão. Depois de São Cristóvão, nós mudamos de lá, dessa 03 de maio, e fomos morar na Rodovia Arthur Bernardes, na casa própria, onde até hoje tem a nossa casa gigantesca lá em forma de L. Nem falei, né? Deixa-me falar: o nome do papai Luís, o nome da minha mãe Inês, os nomes dos filhos: Luís Sidney, o mais velho, eu, Luzinete, Lúcia, Leni, Letícia e Luiz Clay. O que tem em comum?
(16:12) P1 - O L.
R: E a casa em formato de? L. Entendeu?
(16:16) P1 - Ele que construiu?
R: Sim.
(16:21) P1 - Como era? Me conta dessa casa, o que que tem nela?
R: Gente, vocês não vão acreditar. Entrada por aqui. Rodovia Arthur Bernardes e a entrada aqui. Aí tem seis quartos gigantes, porque ele queria um filho em cada quarto e todos suítes.
(16:45) P1 - Uau!
R: Sim, uma casa gigantesca. Ela é linda. Certeza absoluta que foi construída com muito suor, com muito amor, sabe? E pra dar o melhor para os seus filhos e para eles também, porque ele trabalhava demais. E a minha mãe abdicando das coisas para cuidar dos filhos, da família. E aí, gente, se vocês verem a casa…
(17:31) P1 - É uma casa de alvenaria?
R: É. Como ele trabalhava com isso. Primeiro ele começou com madeira, depois em Belém, com o tempo, toda aquela situação de fiscalização. Eu esqueci o nome, gente. SEFA, Fiscalização, Secretaria da Fazenda, se eu não me engano. Aí ele mudou da madeira para cimento, areia, pedra e ferro, material de construção mesmo. E aí ele conseguiu. A história do meu pai é linda, porque depois disso ele foi trabalhar, deixou de morar na casa alugada e montou logo uma lojinha. Ele falou: “Não, vou continuar vendendo madeira e tal. Aqui dá, não sei o quê.” Aí continuou, alugou um pontinho pequeno vendendo madeira. Aí já foi crescendo, porque já mudou da madeira para os insumos de material de construção mesmo. E aí foi o boom da vida dele, porque era alugado, depois ele comprou. E aí foi crescendo, depois mais uma loja, mais uma.
(18:33) P1 - Como é que chamava a loja?
R: Coman. Comércio de Madeiras Antunes. Lindo, né? Coman. É isso.
(18:43) P1 - Nessa casa tinha uma sala, um quintal, uma varanda?
R: Na sala de 40 anos atrás?
(18:53) P1 - Nessa casa que vocês foram morar.
R: A alugada ou comprada? Na verdade, ela era toda de madeira. Na construção ele fez, como eu falei, seis quartos. Acho que não são seis quartos, quatro, cinco, sete quartos, são sete quartos, quatro atrás e três na frente. Tu entras, tem uma escada, tem duas salas na frente, um corredor gigantesco, porque desse corredor tem três quartos iniciais, três suítes. Daí tu dobra o L, tem os outros quatro quartos. Ah, sim, uma coisa muito legal que ele fez, uma biblioteca.
(19:27) P1 - Uau!
R: Sim. Naquela época. Entendeu? Ele falou: “Aqui vai ser o lugar que vocês vão estudar.” Ele era muito isso que eu falo, muito visionário. Ele não pensava só nele, ele pensava no todo. “Aqui é que vocês vão estudar.”
(19:55) P1 - E aí aos poucos vocês foram colocando livros lá dentro?
R: Aos poucos fomos arrumando a biblioteca. Cada um no seu quarto, como ele queria. Ele gostava que saísse de manhã do quarto tomada banho e toda arrumada, não queria que ninguém acordasse de manhã já fosse andando pela casa. Não, ele queria que tomasse banho e já estivesse tudo prontinho, toda arrumada. Ele era enjoadinho. Mas ele era muito carinhoso. Ele era bravo, rígido, mas ao mesmo tempo super carinhoso. Como eu sou igualzinha a ele, a gente, como é que eu posso te falar? Tínhamos algumas divergências de ideias. Ele falava alguma coisa, eu falava: “Não, não é bem assim.” E naquela época, Deus o livre, um filho ir contra o que o pai falava. “Como sempre, tu desses jeito.” Eu falava: “Mas eu estou falando o que eu acho que é certo.” Aí pronto, eu já ia. Depois eu fechava o quarto, chateada com ele. Aí depois ele ia: “Abre aí sua chata. Tu és muito enjoada!”. Eu falava: “Eu sou igual o senhor.” A gente se abraçava e ficava tudo bem, entendeu? Sempre, sempre, sempre, a vida toda.
(20:56) P1 - Como ele era? Estou tentando imaginar seu pai.
R: Lindo. Tem uma foto dele, vou te mostrar depois. Parece um alemão, ele era branquíssimo. Engraçado, ele tinha descendência de português e a minha mãe descendente de italiano. Só que não me pergunta nada, que eu não sei nada. O avô da minha mãe era italiano. E aí, como ele era brancão, carecão, os olhos bem claros, bonito demais, e ele era muito feliz. Ele sorria de tudo, tudo, tudo, tudo e dava uma gargalhada gigantesca. Eu faço isso, não porque eu quero, lógico, é porque sai naturalmente, sabe aquela gargalhada “hahaha!”. Igualzinha a ele.
(21:38) P1 - Ele era baixinho, alto?
R: Baixinho. Não tão baixinho, mas um pouquinho mais alto que eu.
(21:40) P1 - Magrinho, forte?
R: Não, forte. Sempre forte, adorava comer demais.
(21:44) P1 - E sua mãe?
R: A minha mãe sempre lady. Sempre quietinha, tranquila.
(21:52) P1 - Branquinha?
R: Não, morena. A minha mãe é assim, igual a mim. A minha mãe é muito delicada. Todo mundo fala: “Nossa, sua mãe é muito lady.” Eu falo: “Ela é, uma lady, uma princesa.” Fica na dela, tranquila, “mas precisa ver quando ela se aborrece”, que nada, mesma coisa, não muda nada, mesma coisa, ela é sempre tranquila, tranquila. Eu queria que ela viesse na visita aqui, mas ela falou: “Ai, não vai dar para eu ir.” Eu: “Poxa mãe, é uma oportunidade única. Essa visita ficou fechada há tanto tempo, agora eles abriram, não é possível que a senhora não vá.” Mas enfim, estou tentando convencê-la, porque vai ter essa visita dos familiares e eu queria muito que ela viesse.
(22:36) P1 - Você falou que seu pai era bravo, rígido, mas carinhoso. E sua mãe, além de quietinha, ela era como?
R: Não, ela não é de abraço, de beijinhos, não. Apesar de ser toda meiga, toda lady. Só tu vendo, eu não sei te explicar. Toda sensível. Mas ela não é de muito abracinho, beijinho, não. Cada um no seu quadrado.
(22:55) P1 - E ela era do sorriso também?
R: Sim, ela sorria bem fácil. Só que não é de tá junto, de tá perto. Eu não, já sou igual papai, de toque, de abraçar, nós somos muito parecidos.
(23:10) P52: E na sua casa, vocês iam pra escola a que horas? Como era a rotina de vocês?
R: Gente, a gente tinha um fusca. Seis crianças no fusca, lembra? Todo mundo apertado ali atrás. Era muito bom, era divertido. E quando ele inventava de dar carona para um vizinho. Ai, meu Deus, a gente falava: “Pai, pelo amor de Deus, isso aqui já está bom!”. “Bora, que dá mais um. Entre, vizinho.” Gente, a gente ficava pra morrer com o papai, que ele colocava sempre mais, “Dá mais um aí.” Colocava mais um vizinho do lado. A gente ficava rindo à toa. Rindo, não, ficava assim, resmungando. Aí depois, com o tempo, a gente começa a rir. A gente lembra dessa história hoje do Fusca. Falei: “E papai que colocava (23:50), só ele mesmo.” Fusca, tanta criança, seis meninos no Fusca e mais um vizinho.
(23:56) P1 - Que cor que era o Fusca?
R: Ah, ele teve vários Fuscas, um branco, um amarelo, um begezinho. E tinha uma Brasília branca. Eu amava Brasília branca.
(24:04) P1 - E aí ele levava vocês pra escola?
R: Todos os dias, ele fazia questão de levar. Nós estudávamos no Colégio do Carmo. Nós saíamos do telégrafo todos os dias, isso durou-se muitos anos. Só para você ter uma ideia, nós estudamos lá da quinta série ao convênio. Então, quando nós viemos do interior, tu não entras no primário, já entra logo na primeira série. Naquela época não tinha maternal, infantil, alfabetização, primeira série, nós já entramos direto na primeira série e depois na quinta série, lá no Colégio do Carmo. A maior recordação que eu tenho é do Colégio do Carmo, da quinta série ao convênio, que é o último ano, que agora é o terceiro ano. Todo dia, muitos anos, foi isso.
(24:44) P1 - Então de manhã ia para a escola?
R: Sim.
(24:45) P1 - E aí depois?
R: Aí ele levava todo mundo na escola e depois ele ia buscar. Ele fazia questão de fazer isso todos os dias.
(24:50) P57: Que legal.
R: Todos os dias.
(24:52) P1 - E aí você ficava na porta da escola esperando o pai chegar com o Fusca?
R: Sim. Quando ele chegava tinha que estar todos os filhos lá esperando. Porque aquilo ali fica cheio. Qualquer escola hoje fica cheio de carro, ele não queria parar, tinha que estar todo mundo já entrando, a fila para todo mundo entrar no Fusca. Era muito engraçado. E todos os meus colegas depois falavam: “Luzinete, é muito engraçado quando teu pai chega. Todo mundo na fila para entrar no Fusca.” Eu falava: “Gente, vocês não sabem a força que a gente faz.” E não tinha ar, né, tinha aquele morceguinho pra dar o ventinho pra trás. Gente, muito engraçado.
(25:30) P1 - Você sentava um em cima do outro?
R: Sabe que eu não me lembro disso? Mas se era desse jeito, um em cima do outro, eu acho que não doía nada, nem incomodava, porque eu não me recordo, eu sei que iam todos os filhos lá, todos.
(25:45) P1 - E alguém ia no banco da frente?
R: Com certeza. Alguém era privilegiado, que eu também não me recordo. Só que quando o vizinho ia, isso que a gente ficava com raiva, ele falava: “Passa aqui pra trás.” E o vizinho ia lá de boa, ainda ia com a mão assim. Gente, vocês não fazem ideia disso.
(26:08) P1 - Naquele calor de Belém.
R: Sim, exatamente. Só que antes não era tão quente como é hoje, sabia? E tu sabes de mais uma coisa? Esse vizinho trabalha hoje em Paragominas. Paragominas, na Hydro de lá. E tu sabias que, ano passado, a mãe dele faleceu, e ele agradeceu à mamãe: “Dona Inês. Eu me lembro tão bem quando o seu Luiz dava carona pra mim naquele fusca. Todo mundo no Fusca indo da escola. Eu agradeço muito. Até hoje eu lembro.” Que coisa linda! E a gente brigava com o menino. E ele agradeceu. Achei muito legal. A mamãe contou depois. Falei: “Que legal, a gente reclamava do menino e ele até hoje lembra que vinha da escola também.” Papai fazia muito bem, papai era um cara muito bondoso.
(27:00) P1 - Você era estudiosa?
R: Não, nem tanto, eu era mais bagunceira. A minha irmã, a terceira, que era muito estudiosa, a Lúcia, a terceira ou quarta. Agora sim, se ele tivesse visto… não, na verdade, ele viu todos os filhos se formarem. O mais velho, na verdade, não quis fazer faculdade e trabalhava com ele. E ele que quis, o meu irmão Luiz Sidney. Aí eu, que tenho duas formações, que é Química Industrial, depois eu fiz Administração e pós graduação. A minha irmã Lúcia é nutricionista. A Lenny é engenheira de pesca. A Letícia é pedagoga. E o Luiz Cley é engenheiro, ele trabalha aqui como engenheiro eletricista. Ele foi feliz. Eu acho que... eu acho não, né, eu penso que o investimento dele naquela biblioteca não foi à toa, certeza. Nós usamos muito aquela biblioteca, me lembro muito bem. Muito bem.
(27:42) P1 - E vocês voltavam da escola e sua mãe estava com a comida pronta?
R: Sim, exatamente. Tudo pronto.
]
(27:50) P1 - E a tarde como que era?
R: Depois do almoço, a gente ajudava, como eu era mais velha, a gente ajudava a lavar a louça ali, guardar, descansava, depois estudava. Aí quando chegou uma época, eu me recordo que eu que fazia natação, eu e a Lúcia. Nós íamos fazer natação. Como eram muitos filhos, também nós não gostávamos de ficar pedindo as coisas, porque a gente viu o sacrifício de pegar escola, que era super caro naquela época, o sacrifício da alimentação, que era também assim, eu me recordo, que era o básico. Claro que tinha os momentos de comprar um Danone, comprar um queijo, comprar várias frutas, eu me recordo. Mas assim, teve um momento quando tinha a questão da venda, ora tá vendendo bem, ora não tá. E nós éramos bem conscientes em relação a isso, de não estar pedindo, gastando. Essa é a história.
(28:50) P1 - Você se sentia parte de Belém ou você se sentia uma menina do interior?
R: Não. Nunca me senti uma menina do interior. Sou do interior, tenho orgulho, mas eu me sinto de Belém, total. Mas eu acho que seria legal. Eu gosto do interior. Eu gosto de rio, gosto de água, gosto de terra. É tudo perto, né? Essa questão de ser da cidade, do interior, pra mim é indiferente.
(29:25) P1 - Qual é a memória dessa infância em Belém que te marcou, além dessas que você me contou? Às vezes é um aniversário, um presentinho que você ganhou, uma festinha que você foi.
R: Uma memória... Gente... Pode ser uma memória.
(29:42) P1 - Pode ser uma memória feliz, também uma memória difícil que vocês superaram?
R: Ai, vou chorar. Eu me recordo que chegou uma época de momento bem difícil financeiro dele, nosso, na verdade. Ele tinha uma tia, tia Bena. Acho que todo mundo tem uma tia chamada tia Bena. E essa tia Bena era muito, muito, muito bacana. Ela pegava a gente pra passear e tal. Ela falava: “Vamos ali comprar umas roupinhas.” Gente, isso, não tenho palavras para agradecer. Essa aí eu me recordo bem. Nós não éramos de ficar pedindo as coisas: “Ai, eu quero isso. Eu quero aquele tênis. Eu quero isso.” Não. Ai, tem uma coisa triste, lembrei. A gente vai crescendo, e o pé vai crescendo junto. Como nós éramos seis filhos. Aí eu queria o tênis da minha irmã: “Eu quero usar aquele tênis.” Aí eu pegava e: “Me emprestava?". Ela me dizia: “Vai ficar apertado no teu pé.” Não deixava, gente. Eu calçava. Era uma dor insuportável que eu sentia e isso me marca até hoje. Olha meu tênis aqui, super confortável. Então, assim, nada que me aperte o pé eu gosto, porque eu me lembro dessa época que eu queria calçar um tênis, mas eu não pedia, porque eu sabia como estava. E também as compras eram feitas em julho e no Natal. “Ah, vou comprar umas roupas para as crianças.” Era nas férias de julho, para dar uma voltinha, e no Natal. E é isso. Bora falar de coisa boa, que já chega de chorar.
(31:53) P1 - Conta uma coisa boa.
R: Ai, coisa boa, vamos lá. Gente, tem muita coisa boa, deixa eu só lembrar aqui. Que agora só está o papai na minha cabeça.
(32:02) P1 - Puxa aí uma coisa boa da infância e adolescência.
R: Eu tinha uma amiga chamada Ju, lá na Rodovia Arthur Bernardes, e essa menina era muito legal, a gente fazia carta uma pra outra e tal, e ela se mudou, foi pra Tucuruí, o pai foi transferido para lá. E aí nós trocávamos cartas. Aí depois a pessoa some, para de mandar carta, vai crescendo, tem outras coisas. E aí a gente se reencontrou. Depois ela voltou a Belém com toda a família. Isso aí é o que eu lembro da infância. Mas depois de adulta, eu já tinha o Lucas e tal e ela tinha um filho também, aí ela foi lá em casa! Gente, ela lembrou. Isso foi uma coisa bem bacana que eu lembro com alegria da infância.
(32:46) P1 - Você tinha um sonho na infância? Você queria ser alguma coisa quando crescesse?
R: Gente, queria. Sabe a Chabiena? Ela era professora e ela me levava: “Vamos hoje lá pra escola.” E eu achava lindo as crianças virem: “Tia, tia!”. E davam um abraço, davam um beijo, “Olha o que eu trouxe pra você.” Trazia um desenho, uma maçã, qualquer coisa. Eu achava aquilo a coisa mais linda. Eu queria ser professora. Falava: “Nossa, acho que vou ser professora.” Só que aquilo era da adolescência, o sonho da adolescência, depois passou. Mas isso me marcou bastante, até hoje. Eu estava conversando com a minha filha e ela falou: “Mãe, o que você queria ser quando era criança?”. Eu falei: “Louise, eu queria ser professora. Tu acreditas?”. Aí eu lembrei dessa história e contei pra ela. Aí a gente começou a rir. Mas é engraçado. Depois passou.
(33:25) P1 - Você era muito próxima dos seus irmãos? Vocês eram amigos?
R: Nossa, muito, muito! Sempre todo mundo junto. Sempre todo mundo junto. E a questão do papai, agregava. As irmãs da mamãe também gostavam muito de ir lá para casa, as nossas tias. E isso acabava trazendo pra família, trazendo para os filhos, pra gente mesmo. Olha, aniversário da mamãe, aniversário de qualquer um, a gente dá um jeito. Eu saio daqui cinco horas, chego em Belém às 19h30, dou um jeito, vou em casa, troco de roupa e vou. Se não for: “Ah, tu não vieste, não sei o quê!”. Tem aquela história: “Poxa, o que aconteceu?”. Mas é isso, sempre que a gente pode, a gente está junto, sempre.
(34:20) P1 - Você teve uma festa de 15 anos, por exemplo?
R: Não. Na verdade, não teve festa, mas eu me lembro que, como é agora, 21 de julho, meu aniversário, e essa minha tia Bena, sempre tia Bena, vou falar muito dela.
(34:35) P1 - Querida ela.
R: Muito. Aí a tia Bena sempre alugava casa em Mosqueiro. Aí esse meu aniversário de 15 anos foi lá em Mosqueiro. Eu tenho uma irmã que faz dia 20 e eu faço dia 21. Aí fomos todos para Mosqueiro fazer os meus 15 anos lá. E aí eu me recordo que teve bolo, essas coisas. Aniversário de 15 anos nas férias é só família mesmo, né? Não teve, mas também não senti falta.
(34:57) P1 - E nas férias de vocês, vocês viajavam?
R: Exatamente como eu estou te falando, quando a Tia Bena alugava a casa em Mosqueiro, nós íamos para lá, todo mundo. Eles geralmente ficavam, o papai e a mamãe, em Belém, mas os filhos iam pra Mosqueiro com a Tia Bena. E lá nós ficávamos, porque eles gostavam, tanto ela quanto o esposo dela, o tio Antônio. E a vida toda foi isso. Foi ótimo.
(35:20) P1 - E aí você entrou na escola, começou a namorar, como é que foi?
R: Não. Ele não deixava namorar. Só com 18 anos. Claro que a gente dava uns beijinhos escondidos. Ele sempre foi muito rígido em relação a isso, não deixava de forma alguma. Mas, tive uma adolescência normal, como qualquer outra da idade, de brincar. Naquela época, lá no Forte do Castelo, Círculo Militar, ele deixava ir, mas só com o meu irmão mais velho. Ia eu, a Lúcia, que é depois de mim, e o meu irmão mais velho. A gente se divertia um pouquinho, depois voltava pra casa, tudo tranquilo. Nada exagerado, também nada de bebida, nada de cigarro, nada disso, entendeu? Até hoje. Eu gosto de um vinhozinho, mas em casa, porque se eu tomar duas taças, me dá vontade de dormir. Mas eu amo.
(36:00) P1 - Você falou que era uma menina travessa.
R: Sim, eu gostava muito de brincar, de correr. Na escola tinha a quadra de esporte, eu gostava muito. Não jogava nada, mas eu gostava. Eu gostava sempre de estar metida em dança e tudo. De tudo eu gostava. As minhas irmãs dizem que eu sou muito pra frente, porque elas são muito quietas, muito paradas, entendeu? E eu era mais pra frente. Aí elas dizem que eu sou louca, louca, louca. “Tá de loucura?!”. “Eu só sou feliz e sou expansiva.” Não sou de ficar: “Ai, eu quero fazer aquilo.” Não, eu vou e faço. “Ai, eu queria tanto fazer aquilo, subir naquela árvore.” Vamos subir na árvore, entendeu? Aí elas dizem que eu sou louca, louca, louca. Não tem nada a ver.
(36:40) P78: Você falava com as pessoas?
R: Muito. Sabe o que eu fazia? Tipo assim, eu e a minha irmã, nós saíamos, aí ela falava assim: “Olha que gatinho.” Aí eu dizia: “Minha irmã te achou gatinho.” Elas ficavam com ódio de mim. Eu falava: “Mas, gente. Tem que olhar. Se tu achaste o menino gatinho, tu olhas pra ele, não fala pra mim, olha pra ele. Fica olhando, vai que ele retribui.” Essas coisas, nada de anormal também.
(37:38) P1 - E quando é que você começou a namorar e que você teve um filho?
R: Sim, sim. Foi meu primeiro namorado, nós começamos a namorar, e aí, tu sabes, conhecer tudo, desejo, vontade sexual e tal. Aí rolou, foi muito legal, foi bom. Aí eu fiquei grávida com 22 anos, bem rapidinho. Foi tudo muito rápido. Tive o Lucas com 23 anos.
(37:36) P1 - Quando você engravidou, foi um susto?
R: Foi um susto. Na verdade, quando eu terminei a escola, em 96, eu não passei de primeira no vestibular. Aí meu pai não estava muito bem, estava com problema de coração e tal. Aí eu peguei e falei: “Não, quer saber, eu vou trabalhar, fazer cursinho pra tentar o vestibular de novo.” Isso que eu fiz. Aí comecei a trabalhar. Já namorava, dezoito anos, já namorava.
(38:10) P1 - Começou a trabalhar com o quê?
R: Comecei a trabalhar como operadora de caixa numa farmácia que tinha lá na Senador Lemos.
(38:18) P1 - Foi o primeiro emprego?
R: Foi o primeiro emprego. Foi muito legal. Assim, é uma experiência, né? Aí depois, quando eu estava lá na farmácia, eu trabalhava na parte da manhã e fazia cursinho à tarde, depois ia pra casa. Aí eu passei no IFPA. Passei no IFPA e eu precisava mudar o horário. Aí eu chamei ele pra conversar, meu chefe: “Preciso mudar de horário.” Porque tinham duas operadoras de caixa, uma da manhã e uma da tarde. Aí ele falou que não podia, não sei o que. Eu falei: “Poxa, eu passei, estou super feliz e vou cursar Química Industrial no IFPA. Aí ele falou que não, que não podia mudar o horário, não sei o que. Aí eu falei: “Então vou ter que sair.” Aí eu saí.
(39:02) P1 - E por que química industrial? De onde surgiu isso?
R: Na verdade, eu tinha uma afinidade muito grande com a parte biológica, não humanas. Na época eram ciências humanas, ciências exatas e biológicas. Eu gostava muito da parte biológica. E aí, quando eu vi o curso de Química Industrial: “Gente, eu vou fazer, porque eu gosto muito de Química. “Vou fazer Química Industrial.” Foi assim que surgiu, porque eu estava olhando os cursos que tinha no IFPA, acho que foi a primeira turma ou a segunda que abriu. Aí eu me inscrevi. Passei. Aí eu larguei o emprego pra estudar. Aí nessa que eu passei, eu já tinha o Lucas.
(39:45) P1 - Então você engravidou antes de entrar na faculdade?
R: Isso. Antes de entrar no IFPA. Isso mesmo.
(39:52) P1 - Então me lembra quando é que você soube do teste positivo?
R: Gente, estava eu e o meu namorado, meu marido, que a gente ficou junto, depois a gente se separou. Aí eu falei: “Meu Deus, estou grávida!”. Aí ele: “Como?!”. Eu falei: “Não sei, eu acho que foi naquele dia que a camisinha…” Porque a camisinha furou de verdade, sabia? Aí eu peguei e falei: “Gente!”. Aí eu estava com o teste, já tinha naquela época. Aí eu falei: “Meu Deus!". Aí compramos mais um, a gente ficou desesperado, porque ele fazia faculdade e eu estava estudando, só que trabalhava também. Aí foi aquele desespero total. Aí eu falei: “Calma que vai dar tudo certo. A gente dá um jeito.” E pra falar pro papai? Porque o papai era bravo, né? Falei: “E agora, meu Deus?”. Aí fomos falar com o papai, ele: “Não, tudo bem. Não tem problema, acontece. Vamos dar um jeito de cuidar dessa criança. Então não pare de estudar.” Eu falei: “Não, não vou parar de estudar.” “Aí vocês podem ficar aqui. A gente vê um quarto pra vocês aqui atrás, não sei o quê.” Lá em casa, né, na casa dele. Aí a gente ficou meio que, desesperados, uma criança, né? E a gente estudando, foi horrível, né? Mas deu tudo certo, graças a Deus.
(41:04) P1 - Ele acolheu, né?
R: Sim, sempre. Se ele acolhia uma pessoa desconhecida, imagina um filho, né?
(41:10) P1 - Foi o primeiro neto?
R: Foi o primeiro neto. Ele ficou louco, né? Eles ficaram loucos, todos, meus irmãos, todo mundo. Foi muito legal.
(41:18) P1 - E aí você foi pra faculdade barriguda?
R: Ia, ia. Depois eu tive o Lucas... deixa eu lembrar direito, calminha. Ia trabalhar, tive o Lucas. Eu passei no IFPA, já tinha o Lucas. Quando eu passei no IFPA, eu já tinha o Lucas, entendeu? Ele já tinha dois anos, um ano, dois anos, sei lá, coisa assim. Exatamente, dois anos. Aí depois nós mudamos de lá. Como o pai dele morava no Rio, porque era da Marinha, morava no Rio e voltou para Belém, o meu ex-esposo, né? E aí nós fomos morar na casa dele, porque ficava perto da UFPA, ali na Almirante Barroso. Aí dava pra eu ir e voltar, rapidinho eu estava em casa pra cuidar do Lucas. E ele fazia o UFPA, também era mais próximo pra ir pra Federal do que lá da casa da mamãe, né? E aí nós mudamos pra lá.
(42:06) P1 - Primeira vez você saiu da casa dos pais?
R: Primeira vez, exatamente.
(42:09) P1 - Nossa, foi marcante?
R: Foi marcante. Eu senti, claro que eu senti muito, mas todo final de semana papai estava lá ou então nós estávamos na casa do papai. Nós éramos muito de ficar próximos. A gente se juntava e ia para casa do papai, papai ia pra lá para casa com a mamãe, pegava os irmãos, a minha tia Bena também sempre ia. Então, assim, não teve separação, assim, de ficar longe muito tempo. Aí de lá nós mudamos para a nossa casinha, nós alugamos uma casinha lá perto também por causa da escola. Aí o Lucas começou a estudar. Aí nós íamos, saíamos juntos de casa, o Mário pegava o ônibus pra ir pra faculdade, que ele fazia faculdade. Não muito, ele já trabalhava, já estava formado, já trabalhava, trabalhava na Vivo. E eu ia caminhando com o Lucas, deixava o Lucas na escola e ia pro UFPA. Entendeu? Era essa rotina todo dia, eu saía do UFPA, pegava o Lucas e ia pra escola, fazia almoço, à tarde eu ainda conseguia um tempo para trabalhar no shopping, porque tinha que ajudar financeiramente. Sabe aquela marca Arezzo, sapataria? Eu trabalhei na Arezzo como vendedora. Era horrível o trabalho! Assim, ia para a escola de manhã, trabalhava à tarde, à noite pegava o Lucas. Só que, como ele saía mais cedo do trabalho, ele pegava o Lucas na casa do pai dele e ia para casa. Nós morávamos todos perto ali. Foi um tempo assim. Foi quando eu me formei no IFPA em 2003, final de 2002. No final de 2002 eu me formei na IFPA. E aí quando eu me formei eu falei: “Não, eu vou fazer Engenharia Química. Eu não vou parar, quero fazer Engenharia Química. Não quero ficar na Química Industrial, vou fazer Engenharia Química”. E comecei a estudar. Aí uma amiga, que se formou comigo, falou: “Luzi, abriu um processo seletivo lá na Alunorte, te inscreve." Aí eu falei: “Ah, não amiga, vou tirar esse ano para estudar, não vou fazer não.” Aí ela já estava lá na Albras, que ela tinha passado, falou: “Luzi, é totalmente diferente o processo da Alunorte, te inscreve. Mesmo que tu não queiras ficar, te inscreve para tu ver como é o processo. São várias etapas.” Aí eu me inscrevi: “Tá bom, vou me inscrever. Onde é?” Aí, ela passou o endereço e eu me inscrevi. Naquela época tu tinha que levar o currículo, assim, impresso. Aí eu levei lá na Magalhães de Barata. Aí levei lá o currículo, quando foi na mesma semana, me ligaram. São várias etapas, currículo, depois uma prova técnica, entrevista com psicólogo, por fim, com o gestor daqui. Aí eu fui passando as etapas, fui passando. “Aí meu Deus!". Quando chegou no final, eram 35 pessoas e ficaram com 5. E eu era uma das 5. Legal, né?
(45:16) P1 - E não era estágio?
R: Não, era para a expansão das linhas 4 e 5.
(45:21) P1 - Você já conhecia essa empresa de nome?
R: Conhecia de nome por lá, porque quando a gente estuda um curso que é direcionado para mineração, eles falam muito: “Por exemplo, lá em Barcarena tem Alunorte, tem Albrás, tem não sei o que.” Eles vão falando. Só que eu nunca tive curiosidade de pesquisar, era só o que era falado. E aí, quando a minha amiga passou na Albrás, ela falou: “Luzi, vai lá que o negócio não é assim. Só para tu veres como é pelo menos a entrevista, são vários processos.” E assim foi. Quando eu passei, eu falei: “Gente, passei. Agora é lá em Barcarena. E agora? Eu não vou. Papai falou: “Não, você vai sim!”. Papai sempre à frente. “Não, você vai sim. Você estudou pra isso. Como é que agora tu não vais? Só tem lá. Química Industrial aqui em Belém não tem. Só tem lá.” E realmente, só tinha aqui, né. Isso foi em 2004. Aí em 2004 eu comecei a trabalhar aqui. Eu vim pra cá.
(46:26) P1 - Quantos anos tinha o Lucas?
R: O Lucas tinha três, quatro anos. Eu já estava separada, detalhe, já estava separada.
(46:34) P1 - E você tinha voltado pra onde?
R: Eu estava na minha casa, continuei em casa com ele, só que quando eu ia trabalhar, ele ia pra casa do avô dele, que era lá pertinho e tinha o pai também perto o tempo todo. Às vezes o pai dele ia lá buscá-lo, levava para a casa dele, do pai dele, ficava lá. E quando eu chegava do trabalho eu buscava ou então ele trazia e. A gente terminou amigavelmente, numa parceria por causa da criança.
(46:58) P1 - Mas numa época em que era difícil bancar ali a separação, né?
R: Sim, sim. Exatamente. Fui uma mulher firme, mas não foi fácil. Tiveram muitas idas e vindas, mas assim, quando eu decidi, eu falei: “Não, não é pra mim.” Tipo assim, a minha avó é um exemplo, eu não sei se ela passou isso, porque eu via o casal totalmente diferente, mas assim, antigamente o casal poderia passar o que fosse: “Não, meu marido até o final. Pode acontecer o que for, estou até o final.” Não. Tem muitas coisas que a gente não aceita hoje e não é pra aceitar mesmo.
(47:31) P1 - O que você não aceitava?
R: infidelidade, traição. Não quero mais tocar nesse assunto.
(47:34) P1 - Tá bom. E aí você foi firme, né?
R: Sim.
(47:40) P1 - E aí você veio pra cá?
R: Vim. Porque meu pai me deu muita força pra vir. Porque eu estava pensando mais no Lucas. Aí quando eu passei aqui, eu pensava: “Nossa, o Lucas vai ficar longe, eu vou ficar longe, como é que vai ser?”. O papai falou: “Deixa que daqui a pouco ele vai crescendo e vai se tornando forte. É assim mesmo, é a vida, a gente vai, tu vens, e vai ser assim. Aí eu falei: “Tá bom.” Só que naquela época eu tinha que morar aqui, não dava pra ir e voltar, entendeu? Tinha que morar, porque era para o noturno e não tinha alça viária, era barco. Era um barco que fazia transporte de Belém para cá, com os funcionários. E aí, eu fiquei indo e voltando uns meses. Aí quando foi em 2004, final de 2004, meu chefe falou: “Luzi, você vai ter que morar aqui, porque você é para o noturno, você não é para o administrativo.” Aí eu falei: “Mas eu não tenho onde morar.” No início eu falei isso, que eu não tinha onde morar. “Não, vamos conseguir um apartamento para você.” Que, no caso, eles chamam os hãs, que são os apartamentos da empresa. E aí eu dividi apartamento com uma colega nossa do laboratório, a Tati. Ficamos ali um tempo. Aí logo depois abriu a alça viária para o transporte do turno também. Aí eu passei Unama, em administração. Aí eu falei: “Vou cursar.” Dava para ir voltar.
(49:29) P1 - Mas esse tempo que você ficou morando aqui, você ficava quanto tempo?
R: Eram seis dias, seis dias trabalhando e quatro de folga. Só que nesses seis dias tem horário, de 07h às 15h, de 15h às 23h e de 23h às 07h da manhã. Aí eu ficava aqui. Aí quando a folga coincidia no final de semana, o papai vinha lá de Belém com o Lucas e a mamãe. Eles já gostavam, porque iam pra praia, passear, Caripi, aí era legal. Aí quando eu estava trabalhando, que eles não vinham, que coincidia durante a semana, daí eu pegava o... a gente saía... deixa eu me lembrar… tínhamos que pegar o barco? Não, minto. Estou enganada. Quando terminava o turno, nós íamos à Belém, que já tinha o... já tinha, né? Não, não tinha, minto. Pegava o ônibus de linha. Acabava o turno, a gente não voltava mais no apartamento, já ia direto pra Belém daqui, pegava o ônibus e chegava ali, naquela rua principal da Albras. Íamos caminhando. Eram várias pessoas que faziam isso durante muito tempo.
(50:37) P1 - Me conta como era chegar lá e ver o Lucas.
R: Ai, era lindo, era emocionante, ele me abraçava demais. Me abraçava, me apertava. E a minha irmã, todas elas falavam: Ai, Luzinete, essa semana foi horrível! Ele queria saber onde era a Barcarena, a gente apontava para qualquer lado, ‘Barcarena é para lá.’ Ele falava: “Mãe!”. Gente, isso na época, me matava, “Aí meu coração!". Eu falava: “Ai meu filho, eu estou aqui e tal.” Apertava demais. Apertava demais, entendeu?
(51:18) P1 - Ele queria saber onde estava a mãe?
R: Era. Aí, só queria um abraço, penso eu.
(51:23) P1 - E eu imagino, porque naquela época a gente não tinha celular pra ficar ligando.
R: Não, não tinha. Na verdade, tinha celular, nós tínhamos celular daqui da empresa, mas não tinha videochamada, só ligava, mas não tinha WhatsApp, que tu podias ligar de vídeo, era só mesmo ele falando.
(51:42) P1 - E isso durou quanto tempo, essa distância de quatro e seis dias?
R: Durou, acho, que em 2005, 2006, 7, 8, 9, 10, dois anos. Dois anos, porque eu passei em 2005, comecei a estudar em 2006 administração. Aí saímos do apartamento, eu saí primeiro, depois a colega saiu. E aí eu já fiquei indo e voltando. E de lá, até hoje.
(52:30) P1 - E você gostava, na época que você morava na cidade de Barcarena, o que você achava?
R: Ai, gostava da tranquilidade. Aí nessa época, eu pensei em vir morar aqui, só que eu falei: “Gente, eu não vou ter a rede de apoio que eu tenho lá em casa, papai, mamãe, o pai do Lucas, a família, o avô dos dois lados, vô e vó, eu não vou ter. Então deixa ficar como tá.” Então o sacrifício vinha. Era muito mais fácil vir pra cá e trazer o Lucas. Também não tinha como deixar o Lucas com uma pessoa diferente, estranha, eu não queria isso. Mas a cidade de Barcarena era segura, tanto que eu e a minha amiga íamos ao supermercado andando, voltávamos andando, sem medo nenhum. Íamos à praça, voltávamos, nada de assalto, roubo, de perigoso, nada, super tranquilo.
(53:10) P1 - E aí você foi vendo a cidade crescer, né?
R: Total, total. Hoje nós vamos embarcar... era um supermercado que tinha, acho que era o Yamada, um supermercado só. Uma farmácia, a farmácia Mariana, que está lá, mas eu não sei o nome dela agora. E hoje está totalmente diferente, vai ter até condomínio de casas na estrada do Caripi.
(53:28) P1 - Você pensou em desistir, mulher?
R: Várias vezes. Muitas vezes. Muitas vezes.
(53:36) P1 - E o que passava pela sua cabeça pra você manter?
R: Na verdade, no início eu não queria desistir, entre 2004, 2005, 2006. Quando comecei a fazer faculdade, eu falei: “Vou fazer administração por duas coisas.” Meu pai tinha uma loja de material de construção e depois eu tinha outra vontade, de ser: “Acho que eu vou ser gestora desse laboratório.” Porque eu trabalhava no laboratório, e assim eu via que precisava. A mulher sabe quando precisa de uma mulher em algum lugar. “Nossa, precisa de uma mulher nesse laboratório.” Não que o gestor não fosse bom, ele era ótimo, ele era muito bom tecnicamente, mas precisava de um outro olhar, que eu percebia. Hoje tem uma gestora lá. Aí eu falava: “Não, quem sabe abre portas para o laboratório.” Por isso que eu fiz administração. E aí, quando eu me formei, eu não quis mais. Falei: “Não, agora não. Eu vou ficar aqui na Alunorte. Eu não quero sair daqui.” Até porque em Belém não tinha também, para trabalhar com química industrial. E eu queria ficar nesse ramo mesmo.
(54:30) P1 - Tinha muitas mulheres na sua época?
R: Pouquíssimas. Tipo assim, em cada turma, na época era turma A, B, C, D, E, eram cinco turnos. Agora eu acho que é 1, 2, 3, até 5, mudou. Mas antigamente era de A a E, eu era da turma E. Noturno, tinha três mulheres, era muito. E quando eu entrei no laboratório, era só uma mulher e dois homens. Aí depois mudou, uma mulher e três homens. Sempre uma mulher. Aí depois, com a expansão das linhas 4 e 5, aí aumentou mais.
(55:02) P1 - E era fácil ou difícil ser uma mulher?
R: Eu não sentia muitas dificuldades, porque as mulheres têm que mostrar o que elas são, o que elas estão fazendo, mostrar o respeito. Claro que estou falando de mim, com outras foi diferente. Mas eu não senti diferença, mas oportunidades, a gente, na época, tinha, porque era uma empresa muito de homens, homens, homens, homens, homens, homens. Aí a gente, quando ia para o restaurante, via aquele monte de homens e pouquíssimas, três, quatro mulheres, principalmente noturno, noturno era pior ainda. E aí a questão de promoção mesmo, tu davas o seu melhor ali, mas tu eras reconhecida. Até que os meus gestores reconheciam, mas na hora de fazer tal coisa, entendeu? Mas é isso.
(56:11) P1 - E o que você fazia no laboratório?
R: Gente, eu amava o laboratório. Foi meu primeiro emprego, foi o que eu estudei, a gente acaba criando amor. Eu passei pela área da alumina, pela área de recebimento de amostra, pela área da bauxita. Aí chega uma hora que tu já conheces tudo, todo o laboratório, já faz todas as análises, tudo, tudo, tudo, tudo. E aí já fazia os procedimentos. Aí teve a expansão, quando teve a expansão das linhas 4 e 5, eu entrei para essa expansão da linha 4 e 5. Aí depois tiveram a expansão da linha 6 e 7, e eu já treinei as pessoas que vieram para as linhas 6 e 7, entendeu? E aí depois disso, das linhas 6 e 7, teve o desenvolvimento para o pessoal do administrativo, que trabalham com umas análises diferenciadas. Aí eu vim para o administrativo. Do administrativo eu fui vista pelo gestor do PCP.
(57:12) P1 - O que é o PCP?
R: Planejamento e Controle de Produção. Aí, acho que ele percebia que eu sempre fui ligada no 220, uma vez ele me chamou: “Lucinete, você é formada?”. Eu falei: “Sou” “Qual é a sua formação?”. Aí falei: “Eu estou fazendo uma pós-graduação em Engenharia e Gestão da Qualidade de Projetos. Ele falou: “Nossa, é a minha formação.” Falei: “Que bacana Franklin.” Ele falou: “Olha, vai abrir uma vaga aqui para o PCP, te inscreve.” Eu falei: “Sério?”. Ele falou: “Na verdade a gente vai abrir ainda. Quem no laboratório é formado?”. Aí eu passei uma lista para ele das pessoas que eram formadas. Aí ele chamou o gestor, conversaram lá, e essas pessoas que quiseram participar, fizeram entrevista, testes e tal, um monte de coisa, e passaram, passaram não, eu passei. Aí essas pessoas, eu acho que eram umas três pessoas que aceitaram participar do processo seletivo, fizeram entrevistas, conversas e tal, e aí eu passei. Aí eu estou há nove anos no PCP.
(57:53) P1 - O que você via nesse começo ainda de carreira? Aqui tinha promessas de estabilidade, de carreira de futuro? O que você via?
R: Gente, olha, aqui é uma empresa muito humana. Humana no sentido de tudo que tu enxergas de segurança, ela faz de tudo pra você não se machucar. Você só se machuca se estiver desatento. Aqui, estou vendo que tem isso aqui, eu vou passar aqui? Não. Vou passar aqui pelo outro lado, vou colocar alguma coisa aqui para mostrar que posso tropeçar e tal. Tem os EPIs, ela te dá todo o suporte para você não se machucar. Porque até você andando em uma rua, você pode tropeçar e cair. Mesma coisa aqui, só que ela dá todo o suporte, além do plano de saúde para você e para os seus dependentes, além do subsídio escolar, subsídio escolar que eu consegui pagar minha faculdade e fazer minha pós-graduação, entendeu? Quando teve a questão da pandemia, todo mundo achava: “Nossa, todo mundo vai ser desligado, não sei o quê.” Em casa: “Nossa, não sei o que.” Nossa, foi totalmente diferente, ela deu todo o suporte, “Você vai ficar em casa, todos vão ficar em casa, não precisa se preocupar com nada, nada, nada, nada.” Tinha um 0800, se você tivesse sentido alguma coisa, você poderia ligar. Qualquer pessoa da sua família: “Minha mãe tá assim e tal.” Aí eles te passavam tudo direitinho, entendeu? É assim, todo esse suporte que você vê numa grande empresa, isso te dá segurança. De não querer sair, de querer ficar, de falar: “Nossa, tu não achas isso em lugar nenhum.” Questão dos óculos, né? Óculos é super caro. A gente tem, como é que fala?
(59:305) P1 - Convênio?
R: Não é convênio, é... eles dão uma... gente, como é a palavra? Uma ajuda de custo nos óculos, no aparelho dentário, sabe? Não só para o funcionário, para os dependentes também, entendeu?
(59:54) P1 - O Lucas estudou com benefício?
R: Estudou com benefício.
(59:58) P1 - Lá em Belém?
R: Lá em Belém. Subsídio escolar e material escolar. Sabe em que o Lucas é formado? Em medicina. Legal, né? Ele estudou, na época, nas melhores escolas de Belém por causa do subsídio que eu conseguia pagar. Lógico, tinha a ajuda do pai e mais o subsídio daqui e a gente conseguia pagar as melhores escolas. E aí quando ele terminou o ano eu trouxe ele pra uma visita aqui, foi legal! Aí ele conheceu. Só que quando ele veio pra visita, eu estava de folga, e não poderia vir, na época, eu não podia vir. Aí ele falou: “Mãe, como é a Engenharia Química lá? Eu falei: “Lucas…” Fiquei olhando pra ele, “Olha, é doído, as pessoas trabalham muito.” Ele falou: “Acho que estou pensando em fazer Engenharia Química.” Falei: “Pesquisa mais, dá mais uma olhadinha.” Aí ele falou: “Também pensei em fazer Engenharia Elétrica.” O pai dele é engenheiro eletricista. Aí ele falou: ‘Não, mas eu não quero fazer Engenharia Eletricista, meu pai chega todo sujo.” Eu falei: “Pois é, mas tem outros ramos, né, Lucas?”. Aí ele falou: “Não vou pesquisar mais.” Mas quando ele veio aqui, ele ficou vislumbrado com o tamanho e tudo. Aí ele ficou feliz. Só que eu não estava no laboratório nesse dia. Aí passaram-se anos e anos, aí ele começou a pesquisar sobre as profissões. Aí o papai também já tinha problema no coração, acho que o papai incentivou bastante essa ida dele para a medicina, que eles conversavam muito. O papai o levava na escola também. O papai fazia questão, sabe, de levar na escola. Quando não era o pai dele, o papai levava, levava, buscava. E ele fazia isso com muito amor. E aí o Lucas passou. O papai não estava mais com a gente, já tinha ido embora com o papai do céu. E aí o Lucas se formou. Hoje está no segundo ano de residência médica e vai fazer cirurgia geral. Meu orgulho, meu amor, minha vida. Nem falei da minha filha, né? Aí quando eu completei 35 anos, eu não tinha namorado, não tinha nada, eu falei: “Meu Deus, eu preciso ter um segundo filho, que eu não quero deixar o Luccas sozinho.” Doida, né? Doida, trabalhando aqui, como que eu ia cuidar? Papai ainda estava conosco... Aí aos 35 anos, eu falei: “Meu Deus! Pai, antes de eu completar 40 anos, casada ou não, eu quero ter um filho. Eu acho que vai ser uma menina.” Aí ele falou: “Quieta, Luzinete. Meu Deus do céu!’. Eu falei: “Eu já estou ficando velha, eu preciso de um filho antes dos 40.” Aí o papai falou: “Ah, não sei o quê.” Até que eu consegui um namorado, graças a Deus.
(01:02:35) P1 - Aqui?
R: Não, sem detalhes. Aí consegui um namorado. Claro que a gente paquerava, paquerava ali, paquerava aqui, nada muito sério. Mas quando eu cheguei com 37 anos, que o negócio não estava vindo, de ter um filho, eu fiquei desesperada! Eu falei: “Meu Deus, estou quase pra completar 40 anos, eu não consigo.” Até que eu consegui um namoradinho. Aí eu joguei a proposta pra ele e falei: “Vamos ter um filho?”. Aí ele falou: “Sério? Tu queres? Teu filho já tá grande.” Eu falei: “Tu também tens um filho. Agora vem uma menina com certeza.” Ele: “Tá, então tá.” E parei de tomar remédio, foi imediato. Eu parei de tomar remédio um mês, no outro eu engravidei, juro pra ti. Aí eu tive a Luise com 38 anos, 15 anos depois do Lucas. Tu acreditas?
(01:03:24) P1 - Com essa vida de trabalho aqui, volta pra lá.
R: Exatamente. Foi loucura, mas deu tudo certo.
(01:03:30) P1 - E esse namoro deu certo também?
R: Não, não deu certo. Eu acho que esse namoro foi só pra ter a Louise. Mas a gente se dá super bem hoje. Inclusive, essa semana ela vai passar na casa do pai dela, porque está de férias, até começarem as aulas.
(01:03:38) P1 - A Louise tá com quantos anos?
R: Dez.
(01:03:40) P1 - Então, você teve uma filha sendo funcionária daqui. Como é que foi esse acolhimento com você grávida, amamentando?
R: Gente, parece mentira, mas eu vou contar que a empresa é muito boa. Tu voltas e tu pensas assim: “Ela te ajuda em tudo.” Tipo assim: “Meu Deus, minha filha não tá bem!”. “Luzinete, não te preocupes, pode ir. Quando tiver tudo ok, você vem.” Exatamente assim, parece mentira, mas é exatamente assim, na minha área, não sei nas outras, comigo foi exatamente assim: “Não se preocupe, quando você estiver bem, você vem.”
(01:04:13) P1 - E a amamentação?
R: Aqui, na época, nós não tínhamos essa... não sei se vocês já viram esse lugar que tem agora, Espaço Mulher? Esse Espaço Mulher é justamente pra isso. Começou com a Rede das Mulheres.
(01:04:30) P1 - O que é a Rede das Mulheres?
R: Você não sabe o que é a Rede das Mulheres?
(01:04:31) P1 - Conta pra mim!
R: Meu Deus! Não acredito! Já foi falado? Não foi falado com vocês?
(01:04:36) P1 - Conta.
R: A Rede das Mulheres começou com uma reunião das mulheres, a doutora Ellen, Raquel, Márcia, eu, das mulheres que fazem parte da Alunorte. E aí, para elas se reunirem, todo mês, fazer uma reunião para saber o que nós poderíamos fazer para estar trazendo mais mulheres para a empresa. O que nós podemos fazer para reter? Porque, geralmente, quando a mulher fica grávida: “Ah, não, vou cuidar de cá. Ah, não!". Não, vamos segurar, vamos tentar reter, vamos ver o que está faltando. O Espaço Mulher foi uma das causas que nós conseguimos, em vários pontos estratégicos, montar um container, você já viu? Bem arrumadinho, que a mulher pode ir lá, tirar o leite, guardar e levar pra casa. É muito legal. Deixar em um banco lá, enfim.
(01:05:40) P1- Quando é que nasceu essa iniciativa, essa rede de mulheres?
R: Gente, eu não me lembro a data. Não me recordo.
(01:05:45) P1 - O ano?
R: Não, não me recordo.
(01:05:48) P1 - Foi antes da Louise?
R: Foi após, após a Louise. Ah, e lembrei de uma coisa. Eu estava no banheiro, aí uma colega que tinha acabado de ter bebê, estava com o peito cheio e saindo. Ela disse: “Luzi, pelo amor de Deus, o que é que tu fazias?”. Falei: Rani, é o seguinte, tira o leite. Não trouxeste nada?”. Ela falou: “Não.” Eu falei: “Meu Deus, tem que ter bombinha para tirar.” Ela estava desesperada, porque estava saindo e tal. Eu acho que ela não imaginava que fosse desse jeito, que fosse sair e pingar. Aí na rede das mulheres, a gente tocou nesse assunto, falei isso. E aí o sonho está aí hoje, em vários pontos estratégicos da empresa. Para onde tu for, eles têm. Vocês vieram aqui pela entrada, vocês viram ali, Espaço da mulher? Ali pelo caminho.
(01:06:30) P1 - E aí é um container?
R: Todo arrumadinho, que tem uma área, uma poltrona confortável, tem lá um... não sei se tem um frigobar, porque eu não entrei, agora eu não me recordo, eu entrei logo que fizeram o lançamento. Tem o frigobar para guardar. Tem tudo arrumadinho lá, tudo limpinho, se vocês quiserem olhar.
(01:06:50) P1 - Tem bombinha lá?
R: Não, a pessoa traz, cada um traz a sua. Mas tem uma área total. Tu fechas a porta, fechadinho, a poltrona confortável. Muito arrumadinho.
(01:06:59) P1 - Pensando na mãe, né?
R: Pensando na mãe. E aí esse leite ficava guardado, tu levas pra tua casa e chega lá, tu podes dar. E já armazenando também.
(01:07:05) P1 - E aí a Louise ficava com quem?
R: Lá em Belém, nós conseguimos uma pessoa pra ficar com ela, a Alcione, meu braço direito. Aí a Alcione, quando eu tive a Luise, eu morava no meu apartamento, aí eu voltei pra casa do papai, porque a mamãe ia lá ajudando e tal. A mamãe me ajudou muito. Aí depois nós conseguimos a Alcione para cuidar da Luise. Aí a Alcione ficou lá em casa incansável. Alcione, que ajudou muito. E aí eu... deixa eu lembrar direitinho… a Alcione ficava, eu vinha… só que o papai, a mamãe, todo mundo ajudava, as minhas irmãs que ainda estavam lá na época. E aí, quando a Alcione me deixou, nos deixou, a Luise já tinha dois anos, mas estava indo pra escola. E assim. Ah, sim, lembrei de uma coisa muito importante. Quando eu tive a Luise, eu estava no hospital, aí eu estava com ela aqui, aí o Lucas foi lá visitar e tal. Aí ele falou: “Mãe, agora você vai cuidar dela, né?”. “Eu falei: “Sim, claro que eu vou cuidar dela.” Aí ele falou assim: “Não, vai cuidar, cuidar.” Eu falei: “Vou cuidar.” Ele falou: “A senhora vai parar de trabalhar? Eu falei: “Não, por que?”. Aí ele falou: “Mãe só eu sei o que eu senti quando a senhora estava pra lá. Agora a senhora vai deixar?”. Eu falei: “Não, Lucas.” Aí eu fiquei pensando naquilo. Aquilo me marcou, sabe? Que até hoje eu penso nisso. Aí depois eu conversei com ele: “Filho, mas por que você falou?”. Ele falou: “Não, eu pensei, porque eu sentia muito a sua falta, eu chorava de saudade.” Falei: “Filho, mas olha como tu tá hoje. Tá grande. Isso é bom pra gente ficar forte. E saudade a gente sente. Olha, eu não vinha? Tu não ias?”. Aí ele foi caindo na real, mas com 15 anos, ele estava pensando que queria que eu largasse tudo. E eu pensei, eu não vou mentir pra ti, eu pensei várias vezes em largar. Falei: “Não, agora eu vou cuidar da Luise. O que eu não fiz com o Lucas, vou fazer com a Luise.” Aí o papai falou: “Minha filha, não faz isso. Daqui a dois anos a Louise vai pra escola, e aí? Tu vais trabalhar onde aqui em Belém?”. E eu falei: “Verdade, onde eu vou trabalhar?”. Aí eu fiquei pensando. Aí quando tu chegas aqui, que tu pensas que é de um jeito, todo mundo te dá um abraço, é: “Que saudade!”. Te abraça. E tu fala: “Meu Deus, fiquei tanto tempo longe.” Sete meses, né? Aí tu falas: “Não, é aqui mesmo.”
(01:09:24) P1 - Você teve sete meses de licença?
R: Naquela época sim, voltei e ela já estava bem grandinha. Dez anos, porque a empresa... olha aí, chega meu olho brilha de falar… ela traz todo o suporte, todo o suporte pra gente.
(01:09:37) P1 - De alguma forma, você ficou tranquila em voltar, né?
R: Sim, sem dúvida. Aí qualquer coisa também que acontecia, tipo assim, a mamãe ligava para falar que a Louise não estava muito bem. Aí eu já falava pro gestor: “Eu não estou muito legal, minha filha não está muito bem.” “Luzi, fica à vontade. Quando ela estiver bem, tu vens. Só me avisa.” Gente, isso te deixa super tranquila.
(01:09:59) P1 - E ser mãe, de alguma forma, atrapalhou seu crescimento profissional?
R: Não vejo dessa forma. Não vejo dessa forma.
(01:10:07) P1: De jeito algum. Você continuou.
R: Não, continuei. Até hoje eu quero estudar, fazer mais uma pós.
(01:10:13) P1 - É?
R: Quero.
(01:10:15) P1 - De quê?
R: Eu estava pensando, seguir mesmo no planejamento e controle de produção, mas algum curso específico pra área, porque quando tu estás trabalhando, as coisas vão mudando muito rápido, tecnologia, nova tecnologia, novas coisas. Aí tu pensas: “Meu Deus, isso aqui eu não sei, eu quero aprender, quero fazer.” Aí eu estava conversando com meu marido… ah, eu casei depois, tá?
(01:10:37) P1 - Ah, mulher!
R: Aí eu estava conversando com meu esposo e falei: “Gente, quero fazer um...
(01:10:43) P1 - Que esposo é esse? Quando é que ele surgiu?
R: Gente, foi uma coisa muito louca. Eu tive a Louise, a gente se fecha, fica um tempão só cuidando de filho e tal, trabalho. E a gente não tem tempo de sair de nada. Só que as minhas amigas eram incansáveis, amigas de quinta série, incansáveis: “Vamos sair, vamos. Luzinete, tu só ficas em casa, tu só queres saber de ficar em casa, não sei o quê.” Aí eu falava: “Tá, onde é então?”. Aí eu marcava e não ia. Todas as vezes eu marcava, porque eu preferia ficar com a Luise e com o Lucas, ficar em casa ou passear com eles, fazer um programa com eles. Aí quando foi nesse dia, minha amiga: “Luzi, vamos marcar uma feijoada aqui, assim, assado?”. “Tá, eu vou.” Quem disse que eu estava com vontade de ir? Aí quando chegou às 18 horas, era uma feijoada, almoço, meio-dia, eu cheguei às 18 horas lá, quase 19h. Quando cheguei lá, eu olhei aquele rapaz, ele me olhou. Eu falei: “Marcio!”. E ele: “Luzi!”. A gente se abraçou, quinta série.
(01:11:51) P1 - Você o conhecia?
R: Conhecia. Aí a gente se reencontrou, depois de anos, décadas. Aí nós começamos a namorar e casamos.
(01:11:02) P1 - Que legal. Faz quanto tempo?
R: Vai fazer um ano, casados, mas nós ficamos cinco anos namorando.
(01:12:15) P1 - Então vocês se conheceram em?
R: 96, 1996.
(01:12:19) P1 - Começou a namorar?
R: 2021.
(01:12:25) P1 - E ele mora em Belém?
R: Mora, mora em Belém, há quatro anos.
(01:12: 29) P1 - Como é que ele chama? O que ele faz?
R: Márcio, Márcio Bahia. Ele é administrador, trabalha na área financeira de uma empresa chamada Encibra, que presta serviço para a prefeitura de Belém.
(01:12:40) P1 - Foi amor, assim?
R: Foi. Quando eu vi o Márcio, eu falei: “Hum.” Sabes? Tu sabes, né? Aí ele também me olhou assim: “Hum.” Aí o olhinho brilhou, pronto, não teve como.
(01:12:54) P1 - Ficou com ele no mesmo dia?
R: Não. A gente já tinha o número, só que a gente não conversava. Aí depois de um tempo ele começou a falar comigo e tal, e eu também falando com ele. Aí eu chamei a Yoni, a nossa amiga em comum, “Yoni, o Márcio é casado? A gente tá conversando.” Ela falou: “Não, amiga, ele está separado.” Eu falei: “é que a gente está conversando.” Aí ela: “Ai, que legal, não sei o quê!”. Aí ela foi nossa cupida e foi nessa madrinha de casamento.
(01:13:19) P1: Ah, que história linda!
R: Que legal...
(01:13:35) P1 - E ele tem filhos?
R: Tem o Cássio. Eu tenho o Lucas que tem 25, o Cássio tem 22 e a Louise tem 10.
(01:13:45) P1 - E aí, não querem ter filhos?
R: Não, não. Estou quase com 50 anos, já chega, né? Já chega, Lígia. Agora só é cuidar dos netos. Viajar, aproveitar esse mundo. Olha aí, coisa linda. Olha que coisa linda esse céu azulzinho de Deus.
(01:14:03) P1 - O Luzi, e essa rede de mulheres, você me falou da amamentação, o que mais que ela foi buscar ajuda para as mulheres?
R: Capacitação das mulheres, porque, às vezes, as mulheres entram e lá ficam. Às vezes falta oportunidade. E a empresa dá todo o suporte para voltar a estudar, se capacitar, concursos, workshops e tudo aqui a empresa ajuda. Faz campanhas, muitas coisas. Aí isso acaba incentivando a pessoa, a mulher. Querendo ou não: “Olha, eu quero isso. Não, vou fazer. Não, que legal!’. E aí mete a cara e vai, quando vê, tem muitas gestoras. Após o Rede das Mulheres vir acompanhando, tem vários pilares, manutenção… estou falando besteira, eu quero lembrar dos pilares, que é o Mira, M.I.R.A, manutenção… esqueci agora. Eu fazia parte da manutenção. Aí nós íamos… na verdade, eu fazia parte de vários, não só da manutenção, como da saúde mental e mais... depois eu saí da saúde mental, saí da infraestrutura, porque era muita coisa, eu não conseguia, toda hora era reunião e vai para um lado, vai para outro, tem que dar suporte na nossa área, não estava coincidindo as agendas. E aí eu saí de um. Agora estou só em times dedicados. Mas é muito legal, é top! Cada área ficou responsável agora por cuidar dessas mulheres, cuidar no sentido de estar incentivando, tá? E agora tem muitas gestoras, a tendência é trazer mais mulheres, até o ano de 2030, se eu não me engano, tem um percentual aí de mulheres que agora também não me recordo.
(01:15:43) P1 - Você foi vendo chegando mulher, né?
R: E assim, chegando a cargo de gerência, que isso que é mais lindo, que é mais legal.
(01:15:48) P1 - Tem alguma que te inspira?
R: A Márcia Ribeiro.
(01:15:52) P1 - Por quê?
R: A Márcia Ribeiro, porque eu acho que foi a primeira mulher que eu vi como gestora aqui. Quando eu entrei ela era de automação, mas logo depois, ela já era gestora. Tem ela, tem... quem mais, gente? Quero lembrar aqui de mais alguma, que agora o nome... a Raquel que não tá mais aqui conosco, né? Ela já saiu. Mas, assim, são algumas mulheres que eram marcantes e ativas, né? E até hoje são, que a gente sempre está vendo pelos jornais, assiste um vídeo. Aí teve a Ilde também, que veio e foi, assim... muito incentivo. O nosso diretor, Michel, também foi incansável no Rede das Mulheres com ajuda, apoiou. Estamos aí até hoje.
(01:16:49) P1 - Quais são as iniciativas da empresa que você mais admira, que você participou?
R: Essa eu gosto muito, de capacitar as mulheres e estar levando para esse nível de gestoras, de serem líderes.
(01:17:00) P1 - Para além das mulheres, por exemplo, meio ambiente, inovação, sustentabilidade?
R: Ah, eu gosto de todos, porque quando tu lê, tu vê: “Olha que legal, olha que legal.” tudo que tu vê que tem mulheres na liderança, mulheres levando a frente, eu particularmente, falo: “Nossa, que bacana! Começou ali numa reunião e agora está desse tamanho aqui, gigante.” Eu gosto da saúde mental que eu fazia parte, né? Porque tu vês a pessoa, às vezes, está alegre, feliz, de repente a pessoa está calada, triste, aí tu vais conversar com a pessoa, e ela tá com um problema ali, que às vezes ela te dá um abraço, “Ai, Luzi, tudo o que eu precisava.” Isso pra mim não tem palavras, assim.
(01:17:35) P1 - Você fez amigos?
R: Nossa, muitos. Tenho amigos da vida aqui. Da vida. Uns vão, outros vêm, outros esquecem, né? Mas tem umas pessoas que marcam a vida. Estão até hoje. E que tu queres pra tua vida, mesmo que tu não saibas do amanhã, né? Fala: “Não, essa aqui é parceira, é amiga pra vida.” Tem, com certeza.
(01:18:01) P1 - Me falaram também que você tem relação, não sei se é com parte de voluntariado, ou então com a parte meio ambiente, alguma coisa assim, ou não?
R: Eu tenho?
(01:18:12) P1 - Ou você trabalha nessas áreas ou você tem alguma relação com isso?
R: Com voluntariado, não. Eu nunca fiz parte, porque eu tinha que vir de Belém pra cá, né? Aí eu falei: “Não, eu já passo a semana toda aqui, aí abri mão do final de semana com a minha família pra estar aqui, não, esse não dá pra mim.”
(01:18:26) P1 - E seu irmão, quando é que ele começou a trabalhar aqui?
R: Gente, eu entrei aqui em 2004, o Luís Cley entrou em 2009, na primeira turma de aprendiz, não…
(01:18:47) P1 - De estagiário? Jovem aprendiz?
R: Quem vem da faculdade, tem o primeiro… o primeiro que não é estagiário… menor aprendiz…
(01:18:45) P1 - Treainee?
R: Trainee, exatamente. Ele entrou na primeira turma de trainee. Aí ele saiu, foi trabalhar em Manaus, depois ele voltou. Para ele entrar de novo, ele batalhou pra entrar, cinco anos, ele ficou tentando, tentando, tentando, conseguiu. Aí tá aqui, já tem uns três anos.
(01:19:03) P1 - Mas ele deve ter olhado pra você e se inspirado na tua carreira.
R: Olha, gente, ele falou uma vez isso. Ele falou: “Luzi, realmente é lá que eu quero.” Por isso que ele não desistiu. Ele estava lá fora, mas ele ficou tentando cinco anos para entrar. Fazia a primeira entrevista, fazia a segunda, sabe? Vários processos. Aí quando foi no quinto, chamaram ele. Gostei muito. E tá feliz.
(01:19:26) P1 - Vocês vêm junto, vão junto?
R: Não, porque ele mora aqui. Como ele é da área de manutenção, é necessário que more aqui, né? Porque caso qualquer coisa desligue, uma pessoa vem. Ele é engenheiro, a parte de manutenção é difícil.
(01:19:39) P1 - Vocês se encontram aqui dentro?
R: Raramente, tu acreditas? Raramente. Mas quando ele vem aqui na sala, me dá um…quando eu tenho reunião aqui com a diretoria, aí ele vem aqui rapidinho, me dá um abraço. Aí me dá um abraço e vai. Mas é legal.
(01:19:56) P1 - E quando é que aconteceu a morte do seu pai?
R: Gente, a morte do meu pai, eu estava trabalhando, tu acreditas? Era 21 horas. Aí ligaram lá de casa e falaram. Ele tinha ido pra cirurgia, né? Só que eu achei o que todo mundo achava, que fosse uma coisa bem rapidinha, não sei o quê, que ele ia voltar, porque já tinha feito outras coisas. Só que ele não resistiu, aí foi um choque, né?
(01:20:21) P1 - Era cirurgia de quê?
R: Ele já tinha ponte safena, tinha várias coisinhas que agora eu não me recordo o nome. E aí ele foi fazendo os exames normais de rotina, detectou que a artéria aorta abdominal dele estava entupida, obstruída. Ele precisava fazer uma cirurgia. Na verdade, tomou medicação para parar de aumentar a obstrução, mas só que ela só aumentava. Aí foi preciso fazer a cirurgia. Aí dessa cirurgia ele não voltou. Aí eu estava trabalhando e tal. Me ligaram, aí eu fiquei desesperada, né? Falei: “Meu Deus, nosso porto seguro! E agora o que vai ser?!”. A gente pensa: “O que vai ser da gente? Só a mamãe e um bando de filhos, todo mundo grande.” A nossa cabeça, né? A cabeça volta lá para a infância. Aí eu falei: “Meu Deus!”. Aí eu liguei para o meu gestor, ele falou: “Não, pode ir. Eu vou pedir um táxi pra você.” Ele estava na casa dele, chamou o táxi e eu voltei para Belém. Foi um choque pra família, porque assim, nunca tinha falecido ninguém tão próximo, ele foi o primeiro. E aí toda a família ficou... outra coisa também, quando falece alguém da família, a empresa geralmente dá 24 horas, 48 horas. Gente, eu fiquei uma semana, tu acreditas nisso? E assim, a gente não conseguia nada, era só o tempo todo pensando: “O que que vai ser? O que que vai ser?”. Nossa! E a mamãe ali. Porque a mamãe era louca, apaixonada no papai, né? E a gente dando apoio pra ela: “Vamos ali, vamos ali. Vamos passear. Vamos ali.” Que nada, nada. Nada funciona com ninguém, né? Tu podes falar mil coisas, pensar mil coisas, mas nada funciona.
(01:22:13) P1 - Quantos anos ele tinha?
R: Sessenta, super jovem. Sessenta e três.
(01:22:19) P1 - Até então ele estava bem, trabalhando?
R: Ele já tinha umas coisinhas, mas estava ativo. Só que quando apareceu essa obstrução na artéria aorta abdominal, ele teve que se afastar de tudo. Afastou de tudo pra fazer a cirurgia. E aí…
(01:22:35) P1 - Em que ano foi?
R: Dois mil e... dois mil e... deixa eu pensar aqui. Dois mil e quinze ele faleceu. Faz dez anos. Dez anos.
(01:22:50) P1 - Então ele conheceu ou não a Louise?
R: Conheceu. É a primeira neta. O Lucas foi o primeiro neto e a Luise a primeira neta. E aí ele a chamava de minha pretinha. Ele me chamava de Preta, além de Vite-Vite me chamava de Preta, Pretinha. Aí a Louise nasceu: “Minha Pretinha!”. Ele adorava, porque ele era branco, né? Ele falava: “Eu queria ser Pretinho.” Eu falei: “Ah pai, infelizmente você não veio com a nossa cor linda e maravilhosa.”
(01:23:16) P1 - E de lá pra cá?
R: Ah, de lá pra cá só saudades. Inclusive, aquela foto que eu te falei, era ele e a mamãe. E uma das fotos que nós tínhamos juntos, que foi da minha formatura da Unama, eu tenho ela só no meu celular, mas vou te passar.
(01:23:23) P1 - E a sua mãe tá bem?
R: A minha mãe está, agora está. Na medida do possível, né? A gente vai se acostumando, vai ficando saudade e as boas lembranças.
(01:23:29) P1 - E hoje ela mora com quem?
R: Ela mora na mesma casa. O que que acontece? Como todos os filhos casaram, saíram, ficou aquela casa gigantesca com um monte de quartos. Aí, às vezes, eu vou, durmo com ela, a minha irmã vai, dorme, a gente fica revezando. Mas ela vai pra casa também, vai pra casa das filhas, fecha a casa, vai ver meu irmão. A gente fica revezando. Mas ela está super bem. Ela tem 67 atualmente.
(01:23:58) P1 - O que vocês gostam de fazer quando vocês estão de folga de final de semana?
R: Minha mãe adora sair pra comer, em qualquer lugar ela vai. Você fala: “Mãe, vamos?”. Ela se arruma rápido e vai. “Mãe, a gente está indo ali em Mosqueiro.” “Bora, eu vou com vocês.” Se arruma e vai. Tem vezes que ela fala: “Não, não quero. Eu não quero ir pra lugar nenhum. Eu quero ficar aqui em casa.” Aí ela fica. A gente acaba fazendo, né? Ficando com ela e tal. “Então tá, se não quiser ninguém vai.” Aí ninguém vai e fica com ela. Mas ela gosta de se reunir mesmo com as irmãs. Tem o vovô, né? O pai dela.
(01:24:37) P1 - Tá vivo?
R: Tá vivo. 96 anos o vovô tem. Por parte de mãe.
(01:24:45) P1 - Uau!
R: Muito legal, né?
(01:24: 47) P1 - Eles se fazem companhia?
R: Fazem, com certeza. O vovô fica na casa da minha tia atualmente, mas ele já morou com a gente também. Depois que o papai faleceu, ele foi pra lá na casa da mamãe, ficou lá. Depois foi pra casa da minha tia. E todo mundo se reúne nos finais de semana lá. Isso é bom. Isso é muito bom.
(01:25:04) P1 - E o Lucas ainda mora com você?
R: Não. Não mora mais. Ele mora no cantinho dele com a namorada. Gente boa, se conheceram na faculdade, aí quando foi no último ano de faculdade, que eles já queriam fazer residência, eles resolveram fazer um grupo de estudos e como eu tinha um apartamento, aí ele falou: “Mãe, posso ir no apartamento, não sei o quê?” Eu falei: “Tu vais fazer o que no apartamento?”. “Quero estudar.” Aí eu falei: “Tá, Lucas, quer estudar, sei.” Aí, foram para o apartamento. Aí, resumindo, foram juntos para o apartamento, ficaram lá estudando. Deu certo, porque pelo menos eles passaram na residência. Acabou a faculdade, já passaram na residência, né? E é isso.
(01:25:36) P1 - E a relação do Lucas com a Louise?
R: Gente, um amor infinito, tu não fazes ideia nenhuma. É um amor totalmente diferente.
(01:25:48) P1 - Irmãozão, né?
R: Irmãozão. Todo dia liga, fala no celular, liga por vídeo. “Garota, como você está grande!”. É muito legal.
(01:26:01) P1 - E ela parece com você? É espevitada assim, animada?
R: Não. Ela é muito tranquila. Sabia que ele era mais parecido comigo? Porque, assim, mais aventureiro, mais de fazer as coisas, mais de meter a cara, “Vamos lá. Mãe, quero pular naquela árvore.” “Bora lá, Lucas.” “Quero fazer…” Aquelas coisas que descem na corda, assim, que eu esqueci o nome. Gente, tudo ele gostava. Eu gostava, só que a gente vai ficando velha e vai passando, né? E ele fazia. Eu falava: “Caramba, esse menino é meu filho mesmo.” Só que, lógico, falava só comigo. Igualzinho às loucuras, mas enfim. A Louise não, já é mais tranquila, mais de boa, puxou a vovó. Ela estava louca para conhecer aqui, louca, “Mãe, eu quero ir lá na Alunorte. Eu falei: Louise, vai ter uma visita, vou ver só a idade se dá.” A idade é de 16 anos. Eu falei: “Louise, você não pode.” Ela falou: “Mas que coisa!”. Eu falei: “Ainda não dá, te calma. No momento certo você vai. Como o Lucas foi, você vai.” Porque é interessante eles saberem, isso acaba ajudando para a vida. Quando eu estava com o Lucas, assim, estudando, isso ajuda, ele vê: “Ah, a mamãe está estudando, eu vou estudar também.” Aí, acaba incentivando. E a Louise é a mesma coisa, acho que se ela olhar isso aqui, ela vai falar: “Meu Deus, mãe!”. Mas é totalmente diferente, ele dela, assim, de personalidade, de gênio, de tudo.
(01:27:13) P1 - Teve alguma coisa que, por trabalhar aqui, o seu trabalho em si te proporcionou, viagem, show?
R: Sim, sem dúvida. O meu apartamento, comprei trabalhando aqui, meu primeiro carro, viagem, primeira viagem, Manaus, Foz do Iguaçu, ai, lindo! Eu e o Lucas sempre, lógico. Antes de ter a Louise, né? E depois dela, já fui com ela pra Goiânia. Só não fui pro exterior ainda, mas ainda vou. Calma, é uma questão de tempo.
(01:27:45) P1 - Me conta teus sonhos.
R: Ai, eu quero conhecer a Itália. Como o meu bisavô italiano, eu tenho muita vontade. E o Márcio também. Conhecer a Itália e a França, essa é a nossa vontade atual.
(01:27:54) P1 - O que pra você hoje é muito importante?
R: Hoje, família. Estar junto, fazer as coisas juntos. Entendeu? Isso para mim é importante.
(01:28:09) P1 - E o que esse símbolo aí na camiseta te representa?
R: Ai, vou chorar. É um amor que eu não sei te explicar, juro pra ti. “O que é a Alunorte pra ti?”. É amor. Acaba crescendo junto com a gente, né? Também todo dia pra cá. Tu estás aqui há 21 anos, não tem como não ser diferente. Não tem como não gostar do que se faz. Não tem. Me emociono. Tu viste aquela foto que eu te mostrei? Acho linda quando eu olho. Não tá linda? É linda. Não tem. É isso.
(01:28:52) P1 - Mas quem é a Luzi que usa essa camiseta hoje?
R: Gente, sou eu, uma menina. Menina. Não parece que tenho quase 50, porque eu digo gente, eu tenho quase 50 anos, mas eu não me vejo assim, juro pra ti. Eu sou a Luzinete Antunes, tenho 21 anos aqui, fico feliz de ver como a empresa está crescendo. Crescendo assim, ela já é gigante, né? Crescendo no sentido de sustentabilidade, de tá melhorando o nosso meio ambiente, de tá vendo as pessoas em primeiro lugar, de tá valorizando a mulher no mercado, na vida profissional, ajudando mesmo, de fazer: “Olha, está aqui, estou te ajudando a estudar, vai lá. Está aqui, tem área para ti aqui. Vamos só desenvolver.” Só depende de mim, só depende de cada um, saber o que quer e a luta. E não tem como não querer ficar. Muitas vezes as pessoas perguntam: “Está cansada?”. Eu falo: “Gente, do meu trabalho? Gente, meu trabalho é ótimo! Vocês precisam ir lá.” É sério, eu falo. O que me cansa é a viagem de Belém, ter que ir e voltar. Isso cansa, né? Ficar muito tempo no ônibus, isso é cansativo, mas o trabalho em si, não. Quero te mostrar depois a minha área. Vou lá te mostrar as pessoas com quem eu trabalho. Não tem como. A gente faz o nosso trabalho, logicamente, a gente ri, a gente conversa, a gente brinca. E é, não tem, assim, como te falar que não é bom, não tem como. Se não fosse bom, você acha que eu estaria aqui há 21 anos? Não tem como.
(01:20:43) P1 - E o que você mira daqui pra frente, dentro do seu trabalho?
R: Gente, eu quero muito, muito, muito, muito fazer sempre o meu melhor. Assim, eu não vou falar pra ti: “Lígia, tá tudo planejado pra eu ser uma gestora, uma líder. Não. Eu faço o meu melhor onde eu estou e dali as coisas vão acontecendo.” Se você me ver como potencial ali, você vai me chamar, Lígia: “Luzinete, é você que eu quero aqui.” Entendeu? É assim que foi do laboratório para o PCP e é assim que será. Eu não vou falar: “Eu quero isso, eu quero aquilo.” Não, porque assim, onde eu estou eu procuro dar o meu melhor, fazer o meu melhor. Fazer e dar o meu melhor.
(01:31:30) P1 - Você quer muito tempo ainda pela frente?
R: Quero. Quero e tenho.
(01:31:34) P1 - Quer terminar sua carreira um dia aqui dentro?
R: Muito. Já falei isso.
(01:31:42) P1 - Por que?
R: Eu não sei, porque eu não me vejo em outro lugar. Eu acho que eu não seria feliz em outro lugar. Eu juro pra ti, já pensei várias vezes. Pensei assim: nossa, a gente tem a oportunidade de ir pra Albras, Paragominas, mas assim, tu olhas e falas: “Não é a Alunorte.” Entendeu? Eu me emociono porque eu era uma menina quando eu entrei aqui, e a gente vê tanta coisa, vê tanta coisa e fala: “Nossa, como tá hoje, que legal! Que legal que isso mudou. Que legal que isso tá desse jeito hoje.” Antes não era assim, entendeu? Isso é legal.
(01:32:28) P1 - Tem alguma coisa que era diferente, que mudou e que pra você é muito importante?
R: As mulheres. Sabes o que que eu quero? Eu quero muito. Eu quero, não é pra mim. Eu queria muito ver uma mulher na diretoria ali. Eu acho que isso vai acontecer, não está distante disso acontecer, sabia? Não está distante, só uma questão de tempo.
(01:32:49) P1 - E para os seus filhos, o que você quer?
R: Olha, para o Lucas já aconteceu, ele já está direcionado na vida. A Luise está caminhando ainda, mas eu tenho certeza que ela será próspera, ela é estudiosa. Então é isso, é a vida, é a saúde e vamos atrás. Querendo ou não, a gente acaba sendo inspiração pra eles, né? Quando eu coloco qualquer coisa aqui, que eu ganho reconhecimento, que teve um evento aqui de 30 anos, aí eu saí, falei alguma coisa lá, me chamaram pra apresentar, e aí o Lucas, eles dois: “Mãe, que legal! A senhora está na TV. A senhora está no YouTube!” Eu falei: “Gente, eu nunca imaginava que a Silvia fosse fazer isso!”. E eu achando que fosse só uma coisinha boba, para falar, quando eu vejo: “Meu Deus, está no YouTube! Gente, sou eu!”
(01:33:45) P1 - O que que você foi falar?
R: Falar da minha história, que é a mesma coisa que eu estou falando.
(01:33:52) P1 - Foi convidada pra falar para um monte de gente?
R: Gente, para toda a Alunorte, mais os diretores, todo mundo que estava lá. Foi emocionante. Emocionante demais.
(01:34:01) P1 - E aí passou na TV?
R: Passou. Tá no YouTube. Muito legal! Aí eles falam: “Mãe, que legal!”. Quando teve o convite para fazer o Museu da Pessoa, foi a mesma coisa: “Mãe, a senhora merece. Mãe, a senhora merece.” Eu: “Ai, Lucas, será?” “Claro! Aproveite, não sei o quê.” Aí a Luise fica toda boba: “Mãe, a senhora é uma artista.” “Que artista, Luise?!”. Mas é legal. É bom ser inspiração. Apesar de a gente não ver. Eu, sinceramente. Mas é legal. Sabe o que eu acho mais legal disso tudo, Lígia? Por exemplo, a gente está conversando, eu gosto muito das conversas de copa, às vezes as mulheres vão almoçar, e aí eu me recordo que numa dessas vezes, conversando, falando de família, de relacionamento e tal, eu saí de lá, saímos, conversa, uma escuta a outra e tal. Aí a moça bateu no meu vidro: “Vem cá.” Falei: “Oi?”. “Égua, Luzi, vem cá, eu estou desesperada.” Eu falei: “O que foi?”. “Quero te falar o que aconteceu comigo”. “Eu falei: “E aí, o que tu fizeste?”. “Eu não fiz nada.” Eu falei: “Caramba, como tu não fizeste nada?”. Aí ela me deu um abraço e começou a chorar, não sei o quê. Aí eu falei: “Amiga, não, tu precisas fazer alguma coisa.” Aí ela falou: “Você me ajudou muito.” Eu falei: “Muito obrigada! Sempre que precisar conversar, pode me chamar.” Isso pra mim não tem preço, porque às vezes a pessoa está querendo conversar com alguém, falar com alguém, abrir, desabafar, e só de pensar que tu ajudaste aquela pessoa com uma palavra, com um sorriso, com um abraço, isso já te deixa feliz pra vida.
(01:35:45) P1 - Quais são seus aprendizados aqui dentro, na sua história? Não a empresa, você.
R: O aprendizado que eu tenho, sempre fazer o melhor, amiga, se eu te ver ali… eu acho que eu falei contigo hoje de manhã, que eu te vi sentada ali, né? Falei: “Será que essa é a Lígia?” Só que eu falei: “Oi, bom dia! Boa tarde!”. A educação é fundamental. Não é passar e fingir que não vê uma pessoa. Às vezes a pessoa está passando, procurando alguma coisa. Poxa, tu sabes. Custa você parar e falar: “Tudo bem? Você está procurando alguém?’. Isso pra mim é fundamental. Quando eu entrei aqui em 2004, eu fui lá para Albrás, e aí chegou na Albrás, eu não sabia nem pra onde ir, né? Me falaram se eu queria ir para a Albras para fazer o exame médico. Eu cheguei lá e encontrei com o meu colega de sala, hoje. Aí eu vi aquele menino e falei: “Nossa, ele trabalha na Alunorte.” Eu falei: “Moço.” Ele: “Oi?”. Eu falei: “Você vai para a Alunorte?”. Ele falou: “Vou.” Eu falei: “Você me ajuda a ir lá? Eu não sei onde.” Ele falou: “Claro!’. Então, isso foi ótimo, né? Aí eu falei: “Nossa, eu vou ser igual a esse rapaz aonde eu tiver.” Porque eu estava assim, meio que desesperada, né? Eu tinha que andar de lá para cá e eu só via mato, mato. Hoje não, tem um monte de carro e as pessoas andando. E naquela época eu só via a mata. Eu falei: “Meu Deus!”. Aí ele me ajudou e eu falei: “Eu vou ser exatamente assim, acolhedora, falar, ser educada.” Bom dia, boa tarde, isso é fundamental para qualquer ser humano. Às vezes você não sabe de onde a pessoa vem, ela não conhece aqui, né? E é grande, é gigantesco. Então nós temos que ser empáticos. Isso para mim é fundamental.
(01:37:18) P1 - Você acorda com vontade? Você acorda feliz?
R: Sabe o que eu faço quando eu acordo? Faço assim, exatamente assim, vou fazer pra ti: “Bom dia, Deus. Ai, Deus, tenho aqui todo dia. Obrigada, eu sei que foi você que me colocou lá e só você vai me tirar. Muito obrigada!”. Aí eu me espreguiço toda, faço assim: “Vamos lá, Deus. Vamos lá, Senhor.” Aí eu venho. Faz toda diferença. Quando eu não faço, Lígia, quando eu não faço, nada dá certo, juro pra ti, é impressionante, é impressionante. Aí quando eu acordo, meu marido já vem me dar um abraço e fala: “Ai, Deus!”. Mas é uma coisa nossa, minha e dele.
(01:38:05) P1 - Eu acho que quando a gente, no começo da vida, a gente pede muito, e aí em algum momento a gente começa a agradecer, não é?
R: Exatamente, todos os dias. E eu acordo super cedo, eu acordo dez para as cinco, todos os dias. Todos os dias, dez para as cinco. Aí eu vou pro banheiro cinco horas, me arrumo, aí fico lá agradecendo, pedindo a Deus. Aí às vezes eu arrumo a mesa do café, dá tempo de arrumar a mesa do café, arrumo a mesa do café. Deixo tudo arrumadinho pra ele e para Luise tomarem café. E aí venho.
(01:38:31) P1 - E aí volta?
R: Volto. Aí quando eu volto, ele já tá me esperando. Eles dois. Aí eu recebo um abraço dele e dela. Coisa mais linda. Claro que às vezes eu estou cansadíssima da viagem e tal, mas não tem coisa melhor do que receber o abraço da sua filha, do seu filho, do seu esposo.
(01:38:56) P1 - É um fretado?
R: É o transporte da empresa. É um ônibus. É um benefício nosso de transporte.
(01:39:06) P1 - E te deixa perto de casa?
R: Bem na porta de casa. Tem essa vantagem.
(01:39:14) P1 - E aí você falou que acabou de fazer 21 anos.
R: Sim, dia 8 de julho.
(01:39:21) P1 - Teve comemoração?
R: Teve, lógico, bolinho. É muito legal. A gente fica pensando, né? Faz uma retrospectiva: “Nossa, eu entrei no laboratório, já se passaram 21 anos e eu ainda estou aqui.” Aí eu agradeço a Deus, né? “Obrigada, Deus! Sem ti nada seria possível.” E é verdade, sem Deus nada seria possível.
(01:39:41) P - E aí você vai fazer aniversário agora?
R: Dia 21 de julho é meu aniversário.
(01:39:45) P1 - De quantos anos?
R: 49. Com carinha de 15. Ai, eu estou muito feliz.
(01:39:51) P1 - Vai comemorar?
R: Com certeza. Com certeza, Lígia.
(01:39:56) P1 - Tem alguma história que você queria contar que a gente não chegou nela?
R: Deixa-me pensar. Não. Eu acho que tudo nós abordamos. Filhos, de família, de casamento, da empresa que a gente gosta, que a gente ama, que quer só ver o bem, né? Ela estando bem, nós estamos. Nós estando bem também, a gente vê as coisas tudo bem, né? E um olhar crítico de sempre estar melhorando: “Isso poderia ser assim, isso poderia ser de outra forma.” E dando ideias. Olha, a ideia que surgiu da menina: “O que eu faço? Tá saindo leite.” Aí leva pra uma reunião de mulheres e surgiu essa grandiosidade do Espaço da Mulher, Rede da Mulher. E é isso.
(01:40:50) P1 - E como é que foi pra você hoje? Sentar aqui, passar essas horinhas contando suas memórias?
H: Lígia, eu estou leve. Estou me sentindo leve, tranquila, porque assim, algumas pessoas vão ver a minha história, né? Vão se inspirar. Vão falar: “Nossa, já está há 21 anos! Será que ela não queria fazer outra coisa da vida?”. Pensei várias vezes, mas eu falei: “Não.” Quando o coração fala: ‘Não, é aqui.” É aqui, é aqui. Tu não tens vontade de sair. E como você mesmo falou: “Você se vê aqui?". Eu falei: “Me vejo.” Me vejo aqui muito ainda. E é isso.
(01:41:31) P1 - Obrigada!
R: Eu que agradeço. Foi ótimo.
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