IDENTIFICAÇÃO Meu nome completo é Ninon Machado Faria Leme Franco. Mas sou conhecida profissionalmente como Ninon Machado. Sou carioca. Nasci no Rio de Janeiro em três de abril de 1944. FORMAÇÃO / ATUAÇÃO Eu sou formada em Direito, bacharel em Direito. Depois fiz meu doutorado em Direito Público, especialização em Políticas Públicas. Atuei durante muito tempo no setor público como advogada, membro da Advocacia Geral da União como procuradora federal. E quando eu me aposentei eu tive convite do meu antigo escritório, que é um grande escritório de advocacia, para voltar. Eu disse: "Não, eu vou trabalhar com a sociedade. Eu acho que o que eu aprendi no setor público eu preciso devolver à sociedade, que, afinal de contas, pagou o meu salário e paga a minha aposentadoria”. E é por isso que a gente faz esse trabalho no Instituto Ipanema já há 13 anos, trabalhando no sentido de qualificar a sociedade, empoderá-la na medida do possível nos diversos aspectos onde a gente tem intervenção: local, nacional e até internacional. INSTITUTO IPANEMA [Fui] fundadora, uma das fundadoras. Os grandes líderes da nossa formação foram o Embaixador Nascimento Silva, que era um especialista em Direito Internacional Ambiental, um internacionalista de primeira linha que o Brasil tinha. Embaixador, membro da carreira diplomática. E o Doutor Vanderbilt de Barros, que foi o primeiro, o fundador do Parque Nacional de Itatiaia, [que] foi o primeiro parque nacional. Então são os nossos avatares, as pessoas que a gente reverencia. E o Instituto foi formado por uma porção de técnicos que hoje integram os seus conselhos. E cada vez mais a gente está trazendo gente jovem. Ali não digo que é um berçário porque são profissionais que estão, ou terminando a faculdade, ou já são formados, estão no nível de fazer pós-graduação em área específica e estão atuando justamente nas nossas missões,...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome completo é Ninon Machado Faria Leme Franco. Mas sou conhecida profissionalmente como Ninon Machado. Sou carioca. Nasci no Rio de Janeiro em três de abril de 1944. FORMAÇÃO / ATUAÇÃO Eu sou formada em Direito, bacharel em Direito. Depois fiz meu doutorado em Direito Público, especialização em Políticas Públicas. Atuei durante muito tempo no setor público como advogada, membro da Advocacia Geral da União como procuradora federal. E quando eu me aposentei eu tive convite do meu antigo escritório, que é um grande escritório de advocacia, para voltar. Eu disse: "Não, eu vou trabalhar com a sociedade. Eu acho que o que eu aprendi no setor público eu preciso devolver à sociedade, que, afinal de contas, pagou o meu salário e paga a minha aposentadoria”. E é por isso que a gente faz esse trabalho no Instituto Ipanema já há 13 anos, trabalhando no sentido de qualificar a sociedade, empoderá-la na medida do possível nos diversos aspectos onde a gente tem intervenção: local, nacional e até internacional. INSTITUTO IPANEMA [Fui] fundadora, uma das fundadoras. Os grandes líderes da nossa formação foram o Embaixador Nascimento Silva, que era um especialista em Direito Internacional Ambiental, um internacionalista de primeira linha que o Brasil tinha. Embaixador, membro da carreira diplomática. E o Doutor Vanderbilt de Barros, que foi o primeiro, o fundador do Parque Nacional de Itatiaia, [que] foi o primeiro parque nacional. Então são os nossos avatares, as pessoas que a gente reverencia. E o Instituto foi formado por uma porção de técnicos que hoje integram os seus conselhos. E cada vez mais a gente está trazendo gente jovem. Ali não digo que é um berçário porque são profissionais que estão, ou terminando a faculdade, ou já são formados, estão no nível de fazer pós-graduação em área específica e estão atuando justamente nas nossas missões, particularmente na área de gestão das águas. O nosso viés maior, é um viés condutor de todas as atividades ligadas ao desenvolvimento sustentável, [é] a questão das águas. Nós começamos atuando muito no Comitê do Paraíba do Sul, que é o comitê de referência do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Nós estamos lá desde 1997, 1998, eu ainda estava na ativa. Meu colega que me antecedeu na Diretoria do Instituto – Eduardo Marques, que hoje trabalha na Diretoria da Fundação Getulio Vargas, mas ainda é conselheiro nosso, especialista em planejamento estratégico, que trabalhou inclusive em planejamento estratégico da Petrobras e do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], tempos atrás –, nós resolvemos trabalhar com uma parceria de uma ONG [Organização não Governamental] lá no Médio Paraíba, ligada a corredores agroflorestais. Nós temos ainda este projeto que é na Serra da Concórdia. É um projeto hoje do PDA [Projetos Demonstrativos – Ministério do Meio Ambiente], pequenininho, mas nós temos muito carinho por esse projeto. Com isso nós temos também no Paraíba do Sul; hoje o Paraíba do Sul sofreu uma modificação de sua governança, que foi um processo que nós participamos. E a par disso, durante seis anos eu fui conselheira do CNRH, no Conselho Nacional de Recursos Hídricos, representando a sociedade civil, com participação no Fórum Brasileiro de ONGs e Desenvolvimento Sociais, que é o FBONDS. A gente é eleita numa assembléia, mas eu tinha o apoio do FBONDS, para os meus mandatos. Também estamos no Comitê da Baía de Guanabara, que é da região da Baía de Guanabara, onde o Comperj [Complexo do Pólo Petroquímico do Rio de Janeiro] está inserido. E no Comitê do Guandu, que é também um grande comitê. E aí estamos todos, quer dizer, eu e colegas meus mais jovens, que estão sendo iniciados nesse processo de trabalhar na governança da água, que é uma governança compartilhada entre os usuários da água; os governos municipais; estaduais, no caso; federal, no caso de dominiaridade federal e a sociedade civil. Também trabalhamos dentro de uma vertente de água aqui no município do Rio de Janeiro, no Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional, o Consea do Rio de Janeiro, que é também um sistema ligado à segurança nutricional, segurança alimentar. Pois a água também é alimento. Tem tudo a ver. Trabalhamos com gênero, como eu disse a pouco. Nós estamos membros fundadores de várias redes que são internacionais, entre essas, a Aliança do Gênero e da Água. E nós trabalhamos hoje como ponto focal para os países de língua portuguesa. Também temos o secretariado de uma rede de capacitação e recursos hídricos, que é ligada a uma rede vinculada ao Pnud [Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento]. Chama-se Rede Brasileira de Capacitação e Recursos Hídricos. E temos uma forte atuação ligada à Integração Regional Latino Americana e a lusofonia. A gente não pensa quanta coisa a gente faz, a gente vai fazendo. Só na hora dos relatórios é que a gente vê como a gente faz. Eu estava no outro lado porque, em sendo advogada do governo, eu via que a sociedade civil precisava estar organizada e qualificada. E que isso ainda ia ser um tema que foi muito discutido na conferência do Rio de Janeiro, a chamada Conferência da Cúpula da Terra e Agenda 21, naquele capítulo que trata de uma maneira equivocada, traduzida como capacitação. Mas na realidade é desenvolvimento de capacidades: organizacional, recursos humanos, tecnológica e financeira. Não adianta mandar um doutor, a pessoa faz um doutorado no exterior, vem para cá, se a sua organização não está capacitada, não está preparada para receber esse recurso humano com outro nível de pensamento, ou a pessoa endoidece ou então vai embora, ou então se conforma e fica uma frustração. Quer dizer, o que se fala em inglês, capacity building, é essa capacidade que é muito organizacional, financeira de recursos humanos. Esse é um trabalho muito forte lá no Instituto. AGENDA 21 Quando a gente fala em Agenda 21, a gente fala num pacto acontecido no Rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e Desenvolvimento. Ele tem todo um processo preparatório. E um dos pontos de referência é o Relatório Brundtland, que adotou o princípio do desenvolvimento sustentável, da sustentabilidade institucional, cultural, econômica e espacial. São os cinco aspectos da sustentabilidade; tecnológica [também], evidentemente. E foi um marco, um ponto de inflexão. Porque a conferência do Rio de Janeiro veio desaguar na ansiedade da comunidade internacional: o que é que se faria a partir do que aconteceu na década de 1970, quando houve aquela publicação do livro da Carson, “A Primavera Silenciosa”, que deu origem depois a Estocolmo? E as outras, e as conferências subseqüentes, setoriais? O mundo via que não tinha condição de se ir crescendo irresponsavelmente. A Declaração do Rio de Janeiro, eu acho que deve ser uma bíblia de todos nós. Quer dizer, são princípios adotados internacionalmente. E eu sou advogada, eu acho que o meu entendimento e de outros juristas muito habilitados, tem regras de ordem pública. Porque o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada, dos países envolvidos; a questão da necessidade de avaliação de impacto ambiental; o papel dos múltiplos atores como mulheres e outros, que eles chamam indígenas people – não é indígena, mas povos locais; e todos os outros princípios – a paz como elemento de desenvolvimento sustentável e a guerra como um elemento contra o desenvolvimento sustentável –, todos esses aspectos que estão colocados na Declaração do Rio de Janeiro e os tratados que foram pactuados. Principalmente a convenção, o quadro sobre mudanças climáticas, e o pacto, que é a ação pragramática que nós chamamos de Agenda 21. O que é que o povo ia fazer? Agenda 21. É um documento muito atual, e um dos aspectos que ficou nítido o tempo todo é que a Agenda 21 só poderia, quer dizer, a mudança só [aconteceria] se houvesse uma mudança local. Você não vive na União, você não vive no estado, você vive no local, na sua cidade. E é a partir da sua cidade, do pensar, agir local, pensar global e agir local, e vice-versa que você tem essa interação do local e do global, é que você começa a trabalhar os princípios do desenvolvimento sustentável. A Agenda 21 é um documento muito bem feito, porque ele é todo articulado entre si, e que trabalha exatamente no sentido de pensar diferente, mudar de paradigma. Nós tivemos isso, tivemos a felicidade de acolher essa conferência. Nós como brasileiros temos a responsabilidade de levar essa bandeira. Mas ela não é uma bandeira por si só, assim, estéril. Ela trás o novo. E essas coisas não acontecem nem por milagre nem de repente. É um processo de pactuação permanente. No Segundo Fórum Mundial da Água, que foi uma referência, um ponto de inflexão no que se discutia pós Rio-92 – que se discutia a gestão da água, a cobrança pelo uso da água, a bacia hidrográfica como espaço para a gestão das águas, o papel da mulher, esses princípios que estão no capítulo 18 da Agenda 21, eles foram de uma forma ou outra incorporados na legislação do Brasil. E nós, na Constituição de 1988, já estabelecíamos um princípio que haveria um Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Então eu tive a felicidade de participar da construção do Plano Nacional de Recursos Hídricos, nesse Plano, como conselheira do CNRH. Ele é um Plano que está agora na fase de implementação dos seus programas. Como também existem os Planos estaduais, cada estado tem e cada bacia hidrográfica tem que ter seu Plano de bacia. Quando você trabalha em uma gestão de recursos sócio-ambientais a partir da bacia, que é o recorte que o estado do Rio de Janeiro adota para tratar a Agenda 21 (o recorte natural), os estados pactuam a divisão territorial. O Brasil mesmo, que compartilha com seus vizinhos 74 bacias, dentro da Grande Bacia do Orinoco – a Bacia do Amazonas, a Bacia do Prata – tem muito essa idéia de que é para fazer a governança compartilhada dessas águas. E isso é uma questão muito séria, porque no mundo inteiro a bacia hidrográfica se espraia conforme a natureza colocou. Não só as bacias hidrográficas como as águas subterrâneas. Por exemplo, no caso do Aqüífero Guarani, que foi descoberto porque estavam procurando petróleo e descobriram água. Uma vez fazendo uma análise sobre a nação Guarani, a gente verificou exatamente que o desenho do aqüífero, o grande desenho, era igualzinho o da localização da nação Guarani nos quatro países, Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil. Foi uma surpresa muito grande. Quer dizer que com a sabedoria ancestral sabiam onde tinha água. Então nós tínhamos alguma pequena experiência localmente em algumas cidades de mobilização para desenvolvimento local, mas para mim, eu acho que a grande experiência que a gente teve de tomadores de decisão, olhar um ao outro, foi dentro do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Essa é a grande e efetiva atuação, aplicação da Agenda 21. Você pode pegar, por exemplo, a Petrobras e sugerir que ela faça a sua Agenda 21, que é o seu planejamento estratégico. Nada mais do que pensar a questão de uma maneira, é como diz o Edgar Morin, do pensamento complexo. As questões não são simples, elas são complexas. Quando a gente trabalha com água, por exemplo, a gente trabalha a gestão integrada: água, floresta, biodiversidade, assentamentos humanos e gestão e uso do solo, e clima, hoje. Então tudo isso faz parte da Agenda 21. AGENDA 21 / MUNICÍPIOS Nós fomos aprovados numa licitação. E nós tivemos até recomendação da Petrobras que a gente se candidatasse para os quatro setores e nós ganhamos do primeiro setor. Foi orientação da Petrobras, em cima da hora eu tive a sorte de ter uma pessoa como coordenadora técnica, que é a Maria de Lurdes Freitas, a Lurdinha. Ela foi uma [das] pessoas que assinou, e é muito modesta, mas é uma memória ambulante da própria Conferência do Rio de Janeiro. Naquele tempo em que houve a Conferência, ela era a relações internacionais da Secretaria do Meio-Ambiente, no tempo do José Goldemberg. E ela que, pelo estado, pelo governo federal, assinou, apoiou o processo da Agenda 21. Então ela tem todo um histórico de como cada parágrafo daquilo foi colocado, pactuado. Mas também a Convenção da Biodiversidade, a Convenção-Quadro Clima, foram pactos muito difíceis de serem alcançados. Foi o que foi possível. Então a coordenadora técnica de campo, coordenadora técnica no projeto, eu convidei a Lurdinha para montar a nossa equipe. Eu fiquei absolutamente tranqüila. Podia me dedicar às minhas funções no Conselho e a outras funções de outros projetos nossos. Era uma pessoa que sabia o que estava fazendo e tinha uma senioridade e ao mesmo tempo uma jovialidade (riso) de enfrentar estradas, ir para o interior. Nós tivemos algumas dificuldades, por exemplo, em Itaboraí a gente demorou para conseguir iniciar o processo lá. Só depois que o Presidente Lula esteve lá e começou a fazer aquele simbólico andar com o trator é que o governo local nos recebeu. Dessa vez eu fui com ela. Ficamos lá esperando o prefeito nos receber. Depois [houve] dificuldades, por exemplo, uma das vezes ela chegou num município – não vou citar o município – o prefeito tinha acabado sofrer o impeachment, de ser impedido. Então coisas assim de véspera de eleição. Mas eu acho que o produto foi muito interessante. Ontem eu estava conversando com os meus colegas lá do Instituto que faziam parte, eu perguntei a eles: "O que é que você achou de mais interessante nesse processo?" Eles disseram: "O que para mim impactou mais foi quando os quatro setores se reuniram, de cada município, e eles viram que eles tinham as mesmas demandas por visões diferentes." Quer dizer, na realidade, aquilo que cada um: setor público, setor empresarial, o setor privado, o setor das comunidades e das ONGs, todos eles falavam em diferentes línguas a mesma coisa. Então isso foi um processo de um ver o outro. A questão da Governança Compartilhada. Muitos municípios se apropriaram da Agenda 21 e tomaram aquilo como se fosse uma coisa que a gente chama chapa branca: Agenda 21 é um fórum de todos. É um processo em que vai desaguar na lei que é feita pelos delegados do povo, os vereadores. Mas vai desaguar também no orçamento participativo, vai desaguar em várias ações que são compartilhadas. Nós recentemente trabalhamos nessa questão de capacitação e comitê de bacia, e nós fizemos um projeto pela Cap-Net Brasil, em 12 bacias hidrográficas do Brasil inteiro. E uma das coisas que a gente via, e foi assim o grande momento, é que as pessoas começam a ver os atores. São público, privado, usuários, começam a se ver numa capacitação de uma maneira diferente. Essa questão da governança compartilhada, que na água é muito forte, porque é decorrência da lei, precisa ser apropriada pelo sistema da Agenda 21 como um todo. Vai ter isso muito forte na questão de clima, na questão da biodiversidade, quer dizer, é uma nova maneira de se ver a gestão dos bens ambientais, de trabalhar em relação à sua geração presente e futura esses mandamentos que estão na nossa Constituição, que formam o bloco constitucional de normas, e que elas têm que ter vida. SETOR PÚBLICO / INSTITUTO IPANEMA Eu acho que é importante a gente gravar para a história, eu acho que as pessoas têm que entender, inclusive, como as coisas aconteceram. Em momento dado, desde o início do processo tinham as quatro ONGs e mais o terceiro elemento que seria o Ladec [Laboratório de Desenvolvimento Sustentável e Cidadania], que é da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que era ligado àquela Fundação José Pelúcio Ferreira. O José Pelúcio Ferreira era uma fundação que fazia uma espécie de gerenciamento de projeto de universidade. E dentro desse momento aconteceu um escândalo que foi público e nem sei o que aconteceu com a Fundação. Mas o Ladec foi excluído desse processo. E até então, a gente tinha reuniões lá na própria universidade responsável por coletar os documentos e preparar, porque foi muito interessante a metodologia proposta. Eles tinham o chamado Olodum, que era um negócio assim todo colorido. E esse Olodum previa que em determinado momento todo mundo teria que se encontrar dentro de uma etapa setorial. Setorial por município. Eram 15 municípios. E nós tomamos como estratégia, e isso onerou o nosso encargo, porque nós não dividimos, outras ONGs dividiram. Assim, cada grupo toma conta do município, a equipe trabalhava junto. Então saía, um carro, uma Kombi, uma van levando tudo. Levando o projetor de PowerPoint, levando a tela, levando o lanchinho. Tinha toda a infra-estrutura. E cada um tinha dentro dessa coisa, inclusive a Lurdinha, ia a praticamente 99% dos eventos. Era um processo que chegava lá, às vezes acontecia, como aquela história que o prefeito foi impedido. A gente marcou, não apareciam. A gente sentiu muito – professores e educadores – porque não é só para pessoas que estão na direção da prefeitura, é para o setor público, eles estavam muito interessados em participar. Então a gente sentia isso. Os nossos relatórios, nós fizemos com um formato e trazia um padrão para que a gente visse até a intercooperação entre os municípios, muito embora eles fossem diversos em tudo quanto sentido: em tamanho, em idade, população, inserção em relação ao Comperj, aqueles que estavam mais na zona vermelha, outros mais na zona difusa. Outros com nível já, por exemplo, como Friburgo já com uma agenda a caminho, que se acoplou. Saquarema também com trabalho. Quer dizer, diversos níveis, porque você não vai querer que tudo seja igualzinho A diferença é realmente o desafio, mas é o grande resultado, o grande produto. Então o que aconteceu? De repente o Ladec saiu desse processo. E nós, das ONGs, fomos fazer a metodologia. Claro que a Petrobras estava junto, mas a metodologia passou a ser desenvolvida a partir do trabalho das ONGs. Não foi um trabalho fácil. Você tem ONGs com pessoas com formações bastante diferentes. E é isso aí o exercício. Você tem que pactuar. E quando você pactua nem tudo fica 100% para você. Você tem que abrir mão daqui, abrir mão dali. Houve problemas, naturalmente, de egos. Isso aí eu estou trabalhando, a gente que trabalha com gênero sabe que isso faz parte. E uma máquina, de vez em quando, ela mesma dá as suas respostas, quanto mais o ser humano Mas o que se pactuou foi muito interessante. Nas vezes que eu encontrei o [Gilberto] Puig e o pessoal que eu achei, eu disse: "Olha, a Petrobras tem que entender que nós estamos dando para vocês ouro em pó. Nós estamos dando informação de primeira linha. Não são dados de segunda linha." Por quê? Porque nós trabalhamos com a percepção social dos quatro segmentos. Tanto que durante esse período todo, algumas vezes nós fomos abordados por empresas que estavam trabalhando no Comperj para a Petrobras, pedindo que a gente passasse as informações. E a gente: "Não, nós não podemos. Nós temos um contrato de sigilo, de proteção desses dados que pertencem a Petrobras." Qual Petrobras? Porque a Petrobras não é uma Petrobras só, cada andar daquele prédio ali e os outros é uma empresa, é uma grande empresa. Nós fomos abordados e a Lurdinha nem me consultava, porque a experiência que ela teve no serviço público também, e também o contrato que nós tínhamos, esses dados são dados pertencentes a Petrobras e que foram apropriados depois, transformados durante esses fóruns locais em informação que foram trabalhadas pelo conjunto dos quatro segmentos. Quando a gente ganhou, aconteceu a primeira reunião dos ganhadores da licitação, que foi lá no Hotel Pestana, em Copacabana, essa metodologia [o Olodum], já tinha havido umas prévias reuniões. E [em] muitas dessas reuniões eu não pude ir, a Lurdinha foi, porque eu estava no Conselho Nacional e eu acompanhava o processo. Mas ele, no meu entender, foi um desenvolvimento a partir de trabalhos ajustados lá. As ONGs não estavam participando, elas receberam aquilo já pronto. Aquilo tinha tudo muito colorido mostrando aquelas diversas etapas que, de certa forma, elas se referem, se refletem no processo licitatório. A metodologia ia ser criada. Duas coisas que eu acho, que a gente chama em inglês lessons learn, quer dizer, lições aprendidas: primeiro, o contrato que foi feito – eu estou falando como advogada e eu estou pondo o meu coração aqui aberto – apesar de ser usado, ele não se aplica a esse tipo de trabalho. Então haveria de ter uma revisão. Foi um contrato, naturalmente, habitual, padrão que a Petrobras tem, que tinha coisas ali que não tinham nenhum sentido para o tipo de trabalho. Depois o Puig falou uma vez numa reunião que foi feita num hotel ali no Flamengo: "Isto era um projeto piloto." Um projeto piloto precisa ser: nós estamos criando tudo. E se a gente está fazendo uma inserção de um empreendimento da magnitude de um Comperj, e que ele foi andando por aí apresentando, não ele, não o institucional, mas o Abast [Abastecimento], mostrando para tudo quanto é lugar... Eu encontrava com eles em todo lugar: Mosaico Central Fluminense, vai lá o pessoal do Licenciamento falar para o pessoal; nós estávamos lá porque a gente tem uma representação do Ceivap [Comitê da Integração Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul]. O Comitê da Baía de Guanabara. Vai até uma pessoa que eu conhecia lá do Setor de Recursos representar o Comperj. Quer dizer, eles saíram por aí apresentando em todos os lugares. Então havia uma certa, vamos dizer, coincidência e, ao mesmo tempo, confusão, porque o lado do Abast falava, tinha umas caravanas, tinha umas audiências públicas decorrentes do próprio licenciamento. E nós tivemos acesso aos documentos básicos do licenciamento, que são públicos. Lemos todo o licenciamento. Lurdinha e eu somos pessoas com uma experiência nessa questão de licenciamento ambiental e víamos que havia muita questão de educação ambiental, que não é Agenda 21. Tem uma das coisas que sempre eu conversava, tentava passar pela experiência que o instituto tinha acumulado, que a gente tinha que juntar esforços principalmente para que houvesse sinergias entre a Agenda 21, que é assim uma espécie de base de tudo. Para que os projetos que fossem decorrentes de medidas de correção, medidas que são decorrentes do licenciamento, medidas que são obrigadas ao licenciado fazer, fossem feitas em sinergia. Isso seria bom para todo mundo. Não haveria confusão. Evitaria que pessoas que sabem melhor manipular uma gestão tirassem proveito de tudo em detrimento das coisas que eram essenciais. Eu não sei se isso foi bastante percebido pela Petrobras, eu cansava de falar nessa questão. A gente criou uma expectativa muito positiva nas pessoas. Agora nós estamos num momento, por exemplo, essa semana mesmo eu soube por um desses membros que vai haver uma reunião, um retorno para fazer os cadernos feitos por jornalistas. Eu estou esperando que o Ricardo entre em contato com a gente, porque nós, como autores do processo (não é questão econômica não), nós ajudamos a construir essa confiança. Quer dizer, nós falávamos em nome da Petrobras. De repente vem um outro grupo com a maior competência do mundo, mas que não faz esse acoplamento? Porque, por exemplo, jornalista, advogado, físico e diplomata fala sobre tudo. Isso eu costumo dizer. Eu sou advogada, eu sei disso. A gente fala sobre tudo. Mas você criou numa população de 15 municípios – uns mais frágeis, outros menos –, quer dizer, com todos aqueles tomadores de decisão, uma expectativa de mudança, de que a Petrobras ao chegar ela traria coisas boas, com a inserção iria movimentar expectativa de trabalho, a expectativa de água e saneamento. INSTITUTO IPANEMA / AGENDA 21 Quando a gente fez a nossa proposta inicial, eu disse: "Olha, põe aí medidas estruturantes: água, saneamento." E era o que estavam todos pedindo. Quer dizer, nós estamos, os processos do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], nós estamos com compromissos internacionais ligados às metas do milênio. E a Petrobras, particularmente, em outro setor que eu também tenho interlocução, ligada à responsabilidade sócio-ambiental, ela está liderando todo um processo da ISO 26000. A Agenda 21 é um instrumento muito forte, é a base, para levar a ISO 26000. A minha preocupação é que o pessoal que veio naquele ritmo seja frustrado simplesmente se a gente pegar os jornalistas e pegar esse material que a gente está dando. A gente sempre teve isso tudo muito organizado. Nós demoramos, por exemplo, a entregar o material porque os outros não nos mandaram. Depois as quatro ONGs ficaram responsáveis por, cada uma, quatro, uma matemática lá, com três e meia. Quer dizer, nós compartilhamos com a APA [Associação de Proteção Ambiental] de Guapimirim, e mais três outros municípios de porte médio. E aí nos pediram também que a gente tomasse conta do município do Rio de Janeiro, que também é uma situação muito peculiar, porque só pega umas áreas de planejamento, a P1 e a P3. E o governo anterior não tinha dado muita importância a essa questão da Agenda 21, voltou para o governo do Maurício, que foi uma pessoa que trabalhou muito na Agenda 21 do município. PETROBRAS / AGENDA 21 A gente até ontem estáva dando os resultados finais que a Petrobras colocou. Quer dizer, a minha preocupação, e eu tenho que dizer isso assim com muito respeito a todo o projeto e a todo mundo que trabalhou nele, é que a gente não morra na praia. Que é muito típico do Brasil. A gente morre na praia, e quando vai fazer o gol. Nós somos bons no futebol, mas a gente vê que muitas vezes o cara não consegue fazer o gol. Então essa agenda, esses 15 documentos... Porque vão ter níveis diferentes, Eu vou dar o nome da pessoa que foi a locomotiva, a liderança da Agenda 21 em Friburgo, que foi mudada. Mas ela foi uma pessoa completamente engajada na elaboração da Agenda 21, que já trabalhou com recorte da bacia hidrográfica. Então eu acho importante que haja da Petrobras um entendimento, aí eu estou falando de Petrobras como um todo, de que eles tenham um material estratégico muito grande para poder entrar naquele ambiente e fazer a diferença. Agora, como fazer a diferença tem que ser uma questão de muita maturidade institucional, eu acho que ela tem. Estou me lembrando, eu tenho 65 anos e eu me lembro muito bem, eu sempre me interessei por essas questões políticas do movimento “O Petróleo é Nosso”. Então “O Petróleo é Nosso” fez a Petrobras. A Petrobras faz parte do capital do povo, do patrimônio do povo. Então ela não é uma simples petroleira. Ela é uma empresa que tem uma responsabilidade política e social muito grande em relação ao país. E todos os desafios que ela tem tido na parte tecnológica ela tem cumprido. Será que a parte socioambiental eles também terão essa cultura de Agenda 21 para levar? Em [um] momento dado a gente chegou, nós assinamos o contrato no dia 12 de novembro de 2007 e o Puig era a pessoa que falava em nome da Petrobras. Nos primeiros momentos a gente bancou, quer dizer, o Instituto passou, bancamos várias atividades. Não estou reclamando não, estou dizendo que a gente estava comprometido com o processo. Então o Instituto e outras também foram. Então nós passamos de novembro a dezembro fazendo uma coisa que não constava do contrato, que era a mobilização. O contrato, pelo que estava, era para se fazer as reuniões setoriais. Quer dizer, nós que trabalhamos movimento social, é um lado que exige um processo de abordagem, de abordar o outro ator. Então você pode ter uma mobilização muito fácil, mas você pode ter uma mobilização muito difícil como essas que eu contei, como a que aconteceu em Itaboraí. Então nós ficamos 40 dias trabalhando nesse processo, com o processo do Olodum. E aí constava que nós seríamos reembolsados. Uma coisa que eu achei que ficou faltando aqui, como advogada – eu não posso esquecer que eu sou advogada, a gente é educada assim – um contrato dessa magnitude ele precisava ter em cada reunião que a gente tivesse, uma memória, uma atinha, uma ajuda à memória. Eu não faço nenhuma reunião, daquelas pequenas que seja, sem ter uma ajuda à memória, pode ser de quatro ou cinco linhas, mas as coisas essenciais. Isso não existe, se você procurar você não tem. Depois o que é que aconteceu? Em momento dado as pessoas indicadas, que estão no contrato, a Ana Paula, mais outros, saíram, entrou o Ricardo, coitado, bem intencionado. Não vou dizer a palavra coitado porque a etmologia é muito ruim. É uma pessoa bem intencionada, que engajou-se, que eu acho que ficou, vamos dizer, completamente apaixonado pelo projeto, envolvido, mas que não tinha esse histórico que aconteceu. Ele, justamente, entrou quando saiu a Fundação, saiu o Ladec, saiu o pessoal que tinha feito, e começaram as ONGs a fazerem por si só a sua metodologia. Nós tínhamos na nossa equipe uma pessoa que é de origem germânica, ela preparou muito bem aquelas propostas para serem discutidas, foram discutidas. Mas o que eu sentia, tinha as reuniões, a gente tinha os resultados, mas não tinha uma ata. Se resgatar no meu computador, no da Lurdinha, no do Instituto, nós temos alguns comentários feitos após as reuniões. Mas não é aquela ata que seria uma ata, vamos dizer, de registro que foi pactuado entre as quatro ONGs e a Petrobras. Mormente, porque dali, daquele momento em diante, tinha saído um ator importante, seria um apoio para a metodologia. A metodologia ela ia partir dos inputs, dos insumos que vinham da percepção que era muito interessante e depois nos fóruns iriam trabalhar todo o processo de percepção de toda a cadeia que, enfim, iria desaguar nas ações a serem propostas. Acho que a Lurdinha foi uma pessoa que trabalhou muito profundamente essa metodologia. Ela foi inovadora. Ela tem a inovação de quatro ONGs pensando os 15 municípios já nos fóruns setoriais. E aí num momento dado verificou-se que como a gente tinha gasto muito dinheiro na mobilização, não tinha mais dinheiro para poder fazer os fóruns setoriais. Então a Petrobras se propôs a bancar os fóruns e punha todo mundo internado (riso) por dois dias e meio dentro de um hotel lá naquela região de Itaboraí. À exceção do Rio de Janeiro todos foram para lá. E nesse hotel pegava às vezes, tinha semana que eles ficavam a semana inteira, dois dias e meio cada município, a turma lá. A nossa equipe às vezes revezava uma pessoa que precisava vir dar uma aula, mas a equipe estava completamente presente. Tínhamos os outros membros das equipes das quatro ONGs. Então o que se procurava era um processo de trabalhar juntos. Porque tinham mesas, e nessas mesas, que dependiam do número, por exemplo, era em torno de 28 pessoas, cinco pessoas de cada setor, mais os suplentes e às vezes não se completavam tantas mesas. Cada situação foi uma situação que teve que se discutir. Mas a vida é assim, ela não é toda certinha: quatro, quatro, quatro. As coisas acontecem assim. Mas houve resultados. Então o melhor resultado, quer dizer, as demandas que os quatro segmentos construíram, o processo setorial, o processo regional, do fórum local, não regional, do fórum local, eles tinham as mesmas preocupações e tinham as mesmas demandas. Às vezes as propostas eram diferentes das ações, mas as demandas, as preocupações eram básicas, principalmente educação, principalmente a questão de saneamento, a gestão de resíduos sólidos. Saneamento no seu todo, acesso à água, gestão de resíduos sólidos e tudo isso. Então a gente viu que a população ficou engajada. Tivemos uma outra etapa que foi o processo eleitoral que nos obrigou a parar um pouco, no primeiro do ano, também com as novas prefeituras, aqueles novos dirigentes. Muita gente mudou e a gente teve que assimilar isso, mas a vida também é assim. Ninguém fica permanentemente. O importante é que aquela cultura de Agenda 21 fique ali instalada naquele município. E agora qual é o momento importante? É, justamente, dar continuidade à formação dos fóruns locais e escrever-se as cartilhas. MUNICÍPIOS / ONGS Trabalhou-se setorialmente e depois houve uma divisão desses 15 [minicípios] entre as quatro ONGs. Nós ficamos com alguns municípios e dividimos com a APA, que é uma outra ONG, o Guapimirim. E, por fim, a Petrobras, através do Ricardo, pediu que a gente se ocupasse de consolidar o Rio de Janeiro. Porque o Rio de Janeiro, apesar de ter tido muita dificuldade das outras ONGs setoriais, nós tivemos muita facilidade porque a Agenda 21 existia. Mesmo que latente, estava localizada no Instituto Pereira Passos, que é o Instituto de Planejamento, que é onde a Agenda 21 tem que estar. A Agenda 21 tem que estar no Planejamento, é uma questão de Planejamento Estratégico. Nesse processo nós construímos então agora esse material que vai ser dado para a elaboração das cartilhas. Houve uma preferência, isso foi uma pactuação que nós fizemos. Como eu disse, quando você pactua, você tem que ganhar num, perder noutro e o pacto é assim. Então nessa pactuação algumas ONGs solicitaram, as que já tinham mais facilidade com determinado município. E num momento dado a nossa equipe técnica, a Lurdinha, acordou com o outro pessoal da equipe técnica. Isso eu não me meti. Isso é um processo que foi construído também com as quatro outras ONGs. Agora está na fase da instalação dos fóruns. Muitos já têm até. Aí o assunto mais importante que é a formação da cartilha. Escrever a cartilha. CARTILHA / AGENDA 21 [É] a própria agenda, que a gente chama cartilha, mas é a agenda. A proposta que nós tínhamos era a seguinte: fazer uma cartilha básica com os pontos básicos característicos a todas elas, e um característico a cada município. E ter um CD-Rom com todos os dados que são essenciais para que aquele fórum instalado possa andar sozinho. Eu estou muito preocupada. Eu quero expressar minha preocupação: como é que as quatro ONGs vão acompanhar esse processo? Porque pelo contrato que nós temos, nós teríamos essa responsabilidade, mas esses eventos de ter que tirar férias uns, ter que tirar férias outros. Quer dizer, não a gente. Eventos que não decorreram das próprias ONGs, eles precisam, e nós continuamos. Passado o contrato, que terminou dia 12, a trabalhar com todos os rolos... Porque não recebemos, não estou reclamando isto, apenas constatando. Quer dizer, isso numa empresa qualquer que trabalhasse com Petrobras como contratada, isso não aconteceria. A gente viu nos jornais outro dia isso. Porque é diferente, você uma grande empresa trabalhar com uma grande empreiteira. Têm um equilíbrio de forças. Você trabalhar com ONGs, ONGs têm certa fragilidade. São membros da sociedade civil organizada, é diferente. Acho que como lição aprendida, se a Petrobras fizer, espero que ela tenha isso nesse processo, nós somos co-autores nesse processo. Queremos que isso dê certo e que a gente possa replicar isso em outros ambientes da Petrobras e outras inserções, não só inserção da Petrobras, mas outras inserções de empreendimentos em regiões. É importante que ela entenda que há uma disparidade, o equilíbrio de forças diferentes entre as ONGs e equilíbrio de pensamento. Não gosto de falar muito da parte financeira e econômica que parece que a gente está assim mercenário, mas vamos falar também do lado da sustentabilidade econômica. A gente pode ter dado, a gente tem certeza que deu a Petrobras, pelo menos a parte do Instituto Ipanema, muita informação importante para ela atuar estrategicamente naquela região. Isso para mim eu tenho, estou tranqüila nesse ponto. PERSPECTIVAS Tem uma coisa que está sendo posta em prática não pela Agenda 21, diretamente, mas pelos outros programas de políticas públicas, o PAC, por exemplo. Seria muito interessante que o PAC trabalhasse já com essa Agenda 21 estruturada. O Brasil trabalha muito com plano disso, plano daquilo. O PAC, o que trabalha muito, PAC-Saneamento, e a sorte é que nós temos o Ministério das Cidades num conselho que é do Comperj. O pessoal do Ministério das Cidades é muito cuidadoso com isso. Mas era importante que se falassem. Porque senão atordoa o ator local. De vez em quando vem o pessoal da Agenda 21. Daqui a pouco vem o pessoal do Abast, do Abastecimento. Que Petrobras é essa que eu estou falando? Eles têm que ter a ideia que aquilo ali é uma unidade só, que é uma empresa só. Isso eu sinto muito porque eu pergunto: "Você conhece o Fulano de Tal?" porque você, mesmo trabalhando em grandes empresas, a pessoa chega: "Ah, ele trabalhar aonde?" Aí você tem que dizer aquelas siglas todas. Existe essa compartimentalização que estrategicamente não é boa para a empresa e essa Agenda 21 tem que ser apropriada pelo presidente até a pessoa que está lá embaixo. Por exemplo, eu sou muito fã do Ministério das Relações Exteriores, porque o diplomata, você pega um jovem terceiro secretário e um velho embaixador, [sobre] temas críticos, eles todos falam a mesma coisa. Eu acho que isso chama-se planejamento estratégico. Isso chama-se pactuação de Agenda 21. Agenda 21 é o diálogo, é uma coisa importante. Claro que essas coisas não são fáceis. Nós estamos falando com seres humanos. O Instituto Ipanema trabalha com gênero, a gente sabe muito bem o que é gênero em gestão de recursos hídricos. Isso a gente detecta. Tem agências que só tem homem na direção. As mulheres são sempre os “cargos de trabalhar”. Quando fui do Plano Nacional eu fiz um exercício, de Recursos Hídricos, com uma pessoa lá de Brasília: "Vamos ver quantas mulheres tem?". A sociedade civil era a que tinha representação, titularidade das mulheres. No governo as mulheres sempre eram suplentes. Eu digo: "Essas que vão trabalhar." Eu não quero ter nenhum discurso feminista nesse ponto, mas mostrar que o ser humano é difícil. Reafirmar, eu acho que o exercício que a gente fez com a Petrobras durante esse um ano e meio de trabalho foi muito gratificante para o Instituto Ipanema. Nós crescemos muito como instituição nesse aspecto, quer dizer, nossa equipe cresceu. Porque eram desafios bastante importantes. A Petrobras não pode perder essa coisa e ver que esse é um projeto grande. Ele não foi um projeto caro, mas é um projeto grande. E ele pode fazer bastante diferença se pegar esse material, esse ouro em pó, e trabalhar, não só as cartilhas, mas fazer essa inserção, entender as pessoas. Um empreendimento dessa natureza pode gerar empregos, mas pode gerar também, principalmente, qualidade de vida. MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho muito interessante. Nós fizemos uma Conferência Eletrônica sobre Gênero e Água em 2000 e pouco. Tudo eletrônico. Aí eu disse: "Gente, a gente faz assim, click, acaba tudo. Vamos transformar isso, pelo menos, num CD-Rom, de tudo que se discutiu no mundo inteiro, nas quatro línguas. Eu disse: "Isso hoje serve para muita gente que está estudando a questão de gênero.” Aconteceu em 2000. Quer dizer, o setor elétrico tem essa memória. Eu trabalhava no setor de energia, já contribuí uma vez, eu acho muito importante. Você imagina daqui a 50 anos alguém vai ver... A gente conversar sobre isso é mostrar que a Petrobras pode ter feito a diferença. E também não só, o país não tem memória. Eu hoje passei no Jardim Botânico e [vi] um roteiro do Darwin. O Darwin esteve em Saquarema, Rio Bonito, na Baía de Guanabara. Quer dizer, isso foi feito a bico-de-pena, alguém que fez isso. A importância desse registro Pero Vaz de Caminha quando descobriu o Brasil fez uma carta. Então eu acho que esse registro é como se fosse o que o pessoal fazia a bico-de-pena, e nós estamos fazendo aqui, gravados com todo esse instrumental, esse ferramental que nós temos hoje, modernos, que possibilita a gente registrar para as futuras gerações. Eu acho um trabalho muito importante. Eu perguntei à uma pessoa da minha família que trabalha na Petrobras, ele disse assim: "Esse é dos projetos sérios que a Petrobras tem". Não estou dizendo os outros, que são projetos, vamos dizer, lá das plataformas, isso eu não estou nem discutindo. Estou discutindo esse aspecto social. A pessoa me disse com muita tranqüilidade: "Você vai tranqüila porque esse é um dos projetos sérios que a Petrobras tem." Não estou dizendo que os outros não sejam sérios. Realmente, um país sem memória não anda para a frente.
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