Projeto 30 Anos Alunorte
Entrevista de Naylson de Melo Mesquita
Entrevistado por Lígia Scalise
Barcarena, 10 de julho de 2025
Transcrita por Mônica Alves
00:18
P1 - Obrigada. Eu vou pedir para você começar falando o seu nome completo, sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R: Tá bom. Meu nome é Naylson de Melo Mesquita, eu tenho 46 anos, vou completar 47 agora, dia 14/07, segunda-feira.
00:35
P1 - Fala a data de nascimento.
R: 14 de setembro de 1978. Nasci na cidade de Capanema, no interior do Pará.
00:46
P1 - Capanema está longe daqui?
R: Fica a 200 quilômetros, no sentido de quem vai para o nordeste do Pará.
00:45
P1 - Quando você nasceu, Naylson, você sabe como foi seu parto?
R: Foi tranquilo. Minha mãe, já conversamos, meu parto foi tranquilo, sem surpresa.
01:00
P1 - Foi no hospital?
R: Foi no hospital, foi no hospital.
01:05
P1 - Você sabe qual parto?
R: Não, foi normal. Eu sou o terceiro de cinco irmãos, nasci no hospital de Capanema, que é vizinho da cidade onde a gente morava, que era Primavera.
01:21
P1 - São todos meninos?
R: Somos três homens e duas mulheres. Uma irmã mais nova que eu, depois de mim, ela já faleceu.
01:35
P1 - Os seus pais são de Capanema?
R: Não, na verdade a minha família é de Primavera. A origem da família do meu pai e da minha mãe, são ali de Primavera. Capanema, por ser uma cidade maior, mais estruturada, com hospital, acaba sendo referência hoje, quer dizer, naquela época.
01:56
P1 - É uma perto da outra?
R: É pertinho, 30 minutos.
02:00
P1 - Então seus pais são paraenses?
R: São paraenses, todos nós somos paraenses.
02:05
P1 - E alguém te contou o porquê do seu nome, porque é um nome diferente?
R: É um nome diferente. Na verdade, uma curiosidade nossa, todos os filhos começam com N. Então eu sou o Naylson, tem Nerlilson, Nirlene, Nirlan e a Neliane. Então é uma característica. O nome do meu pai era Nerli, e aí eu acho que isso era moda...
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Entrevista de Naylson de Melo Mesquita
Entrevistado por Lígia Scalise
Barcarena, 10 de julho de 2025
Transcrita por Mônica Alves
00:18
P1 - Obrigada. Eu vou pedir para você começar falando o seu nome completo, sua data de nascimento e a cidade onde você nasceu.
R: Tá bom. Meu nome é Naylson de Melo Mesquita, eu tenho 46 anos, vou completar 47 agora, dia 14/07, segunda-feira.
00:35
P1 - Fala a data de nascimento.
R: 14 de setembro de 1978. Nasci na cidade de Capanema, no interior do Pará.
00:46
P1 - Capanema está longe daqui?
R: Fica a 200 quilômetros, no sentido de quem vai para o nordeste do Pará.
00:45
P1 - Quando você nasceu, Naylson, você sabe como foi seu parto?
R: Foi tranquilo. Minha mãe, já conversamos, meu parto foi tranquilo, sem surpresa.
01:00
P1 - Foi no hospital?
R: Foi no hospital, foi no hospital.
01:05
P1 - Você sabe qual parto?
R: Não, foi normal. Eu sou o terceiro de cinco irmãos, nasci no hospital de Capanema, que é vizinho da cidade onde a gente morava, que era Primavera.
01:21
P1 - São todos meninos?
R: Somos três homens e duas mulheres. Uma irmã mais nova que eu, depois de mim, ela já faleceu.
01:35
P1 - Os seus pais são de Capanema?
R: Não, na verdade a minha família é de Primavera. A origem da família do meu pai e da minha mãe, são ali de Primavera. Capanema, por ser uma cidade maior, mais estruturada, com hospital, acaba sendo referência hoje, quer dizer, naquela época.
01:56
P1 - É uma perto da outra?
R: É pertinho, 30 minutos.
02:00
P1 - Então seus pais são paraenses?
R: São paraenses, todos nós somos paraenses.
02:05
P1 - E alguém te contou o porquê do seu nome, porque é um nome diferente?
R: É um nome diferente. Na verdade, uma curiosidade nossa, todos os filhos começam com N. Então eu sou o Naylson, tem Nerlilson, Nirlene, Nirlan e a Neliane. Então é uma característica. O nome do meu pai era Nerli, e aí eu acho que isso era moda na época e acabou que os filhos ficaram com N.
02:35
P1 - E o nome da sua mãe?
R: É Maria Tereza.
02:38
P1 - Dona Maria Tereza e Nerli.
R: É, Nerli e Maria Tereza.
02:40
P1 - E eles viviam do que quando você nasceu?
R: Na verdade, o meu pai trabalhava em obra e a minha mãe trabalhava na prefeitura.
02:55
P1 - Ele era pedreiro?
R: Ele era pedreiro. Começou como servente e aí foi pedreiro. Na época, ele trabalhava aqui na construção da ALBRAS. Então ele tinha essa questão de vir trabalhar e voltava lá para a Primavera, para a minha família.
03:12
P1 - Então ele fazia 200 quilômetros de viagem para vir trabalhar?
R: Era. Passava 15 dias e voltava. Apesar das dificuldades naquela época de transporte, era a rotina dele.
03:28
P1 - E ele vinha até aqui, porque valia a pena trabalhar e levar o dinheiro para casa?
R: Sim, sim. Assim como muitos naquela época. Como aqui estava em expansão, a ALBRAS, a questão da ALBRAS, ele veio para cá trabalhar. E aí a gente permaneceu lá até que, quando acabou a obra da ALBRAS e ele entrou na ALBRAS, aí ele trouxe a gente para cá.
03:54
P1 - Isso já há muito tempo depois?
R: Em 88. Em 88 nós nos mudamos, saímos de Primavera e chegamos aqui, em Barcarena.
04:04
P1 - Então, ainda lá em Primavera, o que você lembra desses primeiros anos da sua infância?
R: Olha, em Primavera, era assim, interior bem típico. Então me lembro muito daquela questão, muito igarapé, muitos rios, muitos banhos de rios. A cidade se movimentava ao redor da prefeitura, igreja, aqueles eventos. Uma típica cidade do interior. Então, assim, o que eu tenho na memória é a questão da escola. Eu estudei, fiz o primário ainda lá, até a quarta série. E a questão dos divertimentos que a gente tinha lá, igarapé, escola, futebol na rua, essas coisas bem simples da vida.
04:53
P1 - E eles tinham uma vida tranquila lá? Era uma vida mais difícil?
R: Era uma vida mais difícil. Naquela época, as dificuldades existiam. Então, era uma vida um pouco mais difícil. Nós éramos cinco. Meu irmão mais novo, na verdade, ele já veio a crescer para cá. Mas, assim, é uma luta. Minha mãe criando quatro filhos, meu pai distante, indo a cada 15 dias. Uma luta que eles tiveram aí.
05:18
P1 - E você falou que a sua mãe trabalhava na prefeitura?
R: É, na prefeitura.
05:21
P1 - O que ela fazia lá?
R: Ela era tipo uma assistente. Depois ela visitava os distritos do município para ver questões de escola e as assistências de escola. Eu me lembro raramente desses momentos.
05:40
P1 - Eles estudaram?
R: A minha mãe, naquela época, chegou a fazer magistério, se não me engano. Ela chegou a ser professora de escola primária. E o meu pai, ele chegou a fazer o segundo grau, concluiu o ensino médio e trabalhou na construção civil.
06:02
P1 - Isso era algo que se destacava naquela época, né? Porque poucas pessoas estudavam, conseguia ir para escola, não era?
R: É, poucas pessoas. No histórico da minha família, a gente vem da roça, né? Então, as pessoas que estudavam, no caso a minha mãe estudou, o meu pai conseguiu concluir o ensino médio, mas ficou na construção civil.
06:33
P1 - E eles tinham roça lá em Primavera?
R: Não, a minha família propriamente não, mas os meus avós, eles tinham. Então, eu me lembro também de ir para a roça também com eles, acompanhar eles. Então, isso faz parte ainda da memória.
06:47
P1 - E essa mãe que ficava sozinha nessa parte do tempo, como era a educação que ela dava para vocês?
R: Era sempre boa. A minha mãe, ela não dava muita folga para a gente, não. Então, a gente realmente tinha escola, tinha o dever de ir para a escola, fazer as suas tarefas e fazer as entregas. Então, estava ali.
07:20
P1 - E o pai, quando vinha, a cada 15 dias, como que era?
R: Assim, a lembrança que eu tenho, o meu pai, quando ele saía daqui ele parava lá em Capanema, fazia umas compras, como se fosse mês, e levava alguns doces, biscoitos, algumas coisas para a gente. Então, era aquele momento de reencontro. Então, toda vez que ele chegava, era aquele momento de reencontro, da gente se aproximar, da gente brincar, da gente conversar. O meu pai sempre foi presente, na verdade, com a gente, na questão da proximidade, conversas. Então, as memórias que eu tenho dele naquela época são essas.
08:03
P1 - Você lembra como era essa casa que vocês moravam?
R: Olha, eu me lembro que a casa era uma casa meio que em construção. Naquela época, as casas lá no interior eram de pau a pique. Então, assim, metade da casa era pau a pique, a outra era de alvenaria. E, assim, o momento que a gente permaneceu lá, era nas fases que meu pai ia construindo a casa. Então, o tempo que ele saía daqui, ia para lá, o tempo que ele estava lá, ele estava fazendo a construção. Que pelo que eu recordo, a gente não chegou nem a concluir a casa, porque logo em seguida a gente se mudou para cá.
08:46
P1 - Então, como foi o dia da mudança?
R: Assim, foi estranho. Naquela época eu tinha, acho que oito anos, oito, nove anos, eu não me recordo muito da viagem, da mudança. A primeira coisa que me vem à cabeça, é quando eu cheguei aqui, realmente, aqui na Vila dos Cabanos. A primeira sensação que eu tive, é que aqui também era o interior. Eu falei: “Eu saí de um interior e vim para o outro.” Porque era no início do projeto da ALBRAS e do Núcleo Urbano, que é a Vila dos Cabanos hoje. Então, o núcleo urbano não estava concluído, estava também em construção. Então, assim, eu presenciei, por exemplo, o crescimento do local aqui, do núcleo urbano na Vila dos Cabanos.
09:34
P1 - O que você viu quando você chegou aqui, que te parecia que também era do interior? Como que era? Me descreve.
R: Era a presença da floresta, da vegetação. Então, apesar de lá, em Primavera, ser mais uma área de região do salgado, vegetação um pouco mais diferente, aqui era mais densa, mas, assim, ainda passava aquele sentimento de interior. Belém, por exemplo, tinha dificuldade de você ir, por questão de transportes. A gente ia, naquela época, através de embarcações, chamadas apocope, são pequenas embarcações, ou de balsa. Então, tínhamos uma dificuldade, as estradas não eram asfaltadas, então, tínhamos uma certa dificuldade. E acabava que a gente ficava mais por aqui mesmo.
10:21
P1 - Vocês vieram de primavera para a Barcarena como?
R: A ALBRAS, na época, fazia toda essa mudança, o transporte da mudança, e ofertava também o transporte para os empregados e para os familiares.
10:40
P1 - Mas, de carro?
R: Na época, eu acho que foi uma van, não lembro desse detalhe, mas eu acho que foi uma van ou um micro-ônibus, uma coisa nesse sentido.
10:51
P1 - E aí, vocês chegaram, tinha casa para vocês?
R: Já, já. A gente chegou primeiro, na verdade, de Belém. Ficamos num hotel em Belém, e no outro dia, a gente veio para cá. E quando nós chegamos aqui, já tinha uma casa do Núcleo Urbano, que era ofertado pela ALBRAS, para a gente.
11:08
P1 - E a casa era boa?
R: Era uma casa boa, uma casa boa. Tinham três quartos, sala, cozinha, uma casa padrão que a gente tem aqui, na época, na região. Pequena para a família, nós éramos grandes, era uma família de sete pessoas, nós cinco filhos, meu pai e minha mãe, mas a gente se encaixou direitinho.
11:29
P1 - E aí, além da sua família, tinha outras famílias?
R: Sim, sim. Na mesma pegada que a gente veio, vieram outras famílias. Tanto que nós fizemos amizades com vizinhos nossos, pessoas que vieram na mesma mudança com a gente, e acabaram morando no mesmo local, na mesma quadra. Então, a gente era vizinho de casa. E até hoje, a gente tem essa amizade. Inclusive, alguns trabalham aqui também, aqui na Alunorte, fazem parte da nossa história.
11:57
P1 - Virou família, né?
R: Virou família, até hoje a gente tem.
12:00
P1 - E eles vinham de onde?
R: De Icoaraci, de Belém, essa família que eu tenho mais presença, eles vieram de Icoaraci.
12:13
P1 - Então, também paraenses?
R: Paraenses. E Icoaraci é uma cidade bem ao lado de Belém, região metropolitana de Belém.
12:27
P1 - E quando você se mudou para cá, a sensação era boa, era ruim, dava saudade?
R: Batia a saudade dos amiguinhos, mas assim, por outro lado, foi rápida a adaptação, porque também na região, no local e na escola, fiz amizades. Crianças fazem amizade rápido. E esses vizinhos também tinham filhos da mesma idade que a gente, então a gente acabou criando amizade ali, e aí foi fácil a adaptação.
12:58
P1 - E aí o seu pai já tinha trabalho fixo nessa época?
R: Ele já trabalhava na ALBRAS, ele era empregado da ALBRAS.
13:05
P1 - O que ele fazia lá?
R: Ele trabalhava na manutenção predial da ALBRAS. Trabalhava como pedreiro também, aí fazia manutenções prediais.
13:12
P1 - E sua mãe começou a fazer o quê?
R: Minha mãe, na época aqui, chegou a vender roupas, era manicure e depois ela começou a vender joias. E hoje ela tem um restaurante aqui na região. Era um sonho, inclusive, do meu pai, ele se aposentar e eles cuidarem de um restaurante. Tanto que eles iniciaram um restaurante, um projeto, infelizmente, meu pai faleceu antes de realizar o sonho, mas a minha mãe deu continuidade. Então hoje ela cuida do restaurante dela e tem mais de 20 anos já de história aqui na Vila dos Cabanos.
13:58
P1 - Ela cozinhava bem desde sempre?
R: Sempre cozinhou, sempre cozinhou. Minha mãe é cozinheira realmente de mão cheia.
14:10
P1 - Qual era o prato de quando você era criança que você gostava muito?
R: Olha, na época a gente tinha vários, mas eu me lembro muito de lasanhas, macarronadas, feijão, até hoje sou apaixonado pelo feijão da minha mãe. Então ela era uma boa cozinheira. O meu pai também era um churrasqueiro de mão cheia. Tanto que meus irmãos são também excelentes cozinheiros. Eu não puxei para esse lado da família, sou péssimo na cozinha, na verdade não cozinho, não faço nada.
14:40
P1 - É bom de comer?
R: Sou. A gente tem uma rotina, assim, já faz bastante tempo, toda segunda-feira minha mãe faz questão que a gente jante com ela. Eu, por já ser casado, já morar com a minha esposa e minha filha, mas toda segunda-feira é sagrado. Então toda vez ou ela prepara alguma janta, ou meu irmão prepara alguma coisa, mas toda segunda-feira é sagrado a gente fazer esse encontro, essa reunião.
15:07
P1 - E isso começou faz tempo?
R: Faz tempo, faz tempo. Eu não me recordo, mas a gente já tinha o hábito de jantar junto com a família, meu pai fazia questão, e a gente mantém essa tradição.
15:20
P1 - Quando você era pequeno, ainda moleque, você tinha algum sonho, Nailson?
R: Até brinco com o pessoal, meu sonho naquela época era ser caminhoneiro, só pensava nisso.
15:30
P1 - Por quê?
R: Eu não sei, eu não sei. Porque, talvez, eu via muito a movimentação de caminhões por aqui. Mas eu gostava, eu gostava da ideia. Eu não pensava que eu iria trabalhar na indústria.
R: 15:45
P1 - Queria viajar?
R: Queria viajar. Na verdade, eu tenho um espírito viajante.
15:50
P1 - Talvez vendo o seu pai, vindo e voltando.
R: Talvez. Eu tinha uns tios também que eram motoristas, então acho que isso deve ter ficado um pouco na memória, e eu acabei encabeçando esse sonho aí. Mas também foi só durante a infância.
16:06
P1 - E aqui, na infância de Barcarena, como era essa infância? Vocês brincavam?
R: Aqui era maravilhoso! Aqui na Vila dos Cabanos, a gente tinha liberdade, era uma área muito segura, a gente dormia de porta aberta, a região aqui era muito segura. As casas, o Núcleo Urbano era uma vila padronizada, as casas eram muito parecidas, não tinham muros, não tinha separação, a gente vivia aqui em comunhão. Então, assim, era andar de bicicleta, jogar futebol na rua. E tinha a Praia do Caripi aqui próximo também, que toda oportunidade que a gente tinha ia pra lá, nadava, passava a tarde e voltava pra casa. Éramos daquela época de ficar na rua até meia-noite, uma hora. Então, os pais ficavam em casa tranquilos, não tinha perigo nenhum.
16:57
P1 Mesmo vindo tanta gente pra cá?
R: Mesmo vindo tanta gente. A maioria eram empregados da ALBRAS. Não tinha na região outro tipo de habitação para pessoas externas, eram somente empregados da ALBRAS. Então, a gente tinha essa vigilância, né? A ALBRAS mantinha, na época, uma vigilância constante, era tranquilo.
17:24
P1 - E as pessoas que moravam já em Barcarena, as pessoas de antes da ALBRAS, vocês tinham contato?
R: Pouco contato. A gente chama de Barcarena-Sede. A gente era separado pelo rio, não tinha o acesso que tem hoje. Hoje a gente tem ponte e dá pra fazer a ligação de Barcarena-Sede com a Vila dos Cabanos. Mas antes não tinha, antes era separado pelo rio. E a gente não tinha contato com os moradores de lá. A gente tinha mais proximidade daqui com a Vila de Itupanema, que já existia. Então, a gente tinha mais contato com os moradores de lá.
18:03
P1 - E como era?
R: Era tranquilo. Era uma vila muito pacata, era tranquilo. A gente ia pra lá, que lá tem praia também, a gente usava as praias da Vila de Itupanema. Era tranquilo.
18:18
P1 - Dava uma sensação de que vocês eram bem-vindos, bem acolhidos?
R: Sim, sim, até porque, a Vila de Itupanema, era como se fosse uma vila de veraneio, algumas pessoas, alguns empregados compravam casas lá na beira da praia. Então, assim, tinham momentos que a gente ia pra casa de amigos do meu pai, a gente passava lá no final de semana de frente pra praia. Então, era assim, tranquilo.
18:48
P1 - E aí você começou a estudar aqui em Barcarena?
R: Sim. Quando nós nos mudamos pra cá, aqui tinha uma escola chamada Anglo-Americano, que era a subsidiária pela ALBRAS. Então, assim como todos os meus irmãos, nós estudamos no Anglo-Americano. Todos os filhos, na verdade, dos empregados da ALBRAS, estudaram. Eu concluí o ensino médio no Anglo-Americano.
19:12
P1 - Mas era uma escola só para os filhos?
R: Só para os filhos da ALBRAS, de empregados da ALBRAS.
19:22
P1 - Era exclusiva pra isso?
R: Era exclusiva. Então, assim, se meu pai era funcionário da ALBRAS, a ALBRAS dava esse benefício para os filhos. Uma escola particular, uma escola importante, porque era o Instituto Anglo-Americano, que é do Rio de Janeiro. Era uma escola muito boa, muito boa.
19:45
P1 - E aí as festas da cidade? Como é que era nessa infância, adolescência?
R: Na época, a ALBRAS promovia algumas festas simbólicas, de final de ano, de férias, de julho, de comemorações de aniversário da empresa. E nós fazíamos uma festa assim, da molecada, a escola promovia uma festinha no Cabana Club, que era também da ALBRAS e a gente ia pra lá. Toda sexta-feira tinha o que a gente chamava de pipoca dançante, que era uma festinha ali pra nós, no Cabana, e a gente ia pra lá toda sexta-feira, sábado.
20:35
P1 - E o que era pipoca dançante?
R: Era música eletrônica. A gente ia pra lá pra dançar, hora ou outra tinha um showzinho de rock, de uma banda local, ou vinha alguma banda de
Belém. Aqui a gente chegou a ter umas duas bandas locais de rock. Iam pra lá, tocavam e assim era a nossa vida.
20:57
P1 - E o Cabana Club era um lugar também só para o pessoal?
R: Só para os empregados da ALBRAS e dependentes. O Núcleo Urbano aqui era fechado, era uma vila como se fosse Carajás, era bem fechado.
21:17
P1 - Então, ainda que vocês estivessem numa cidade, vocês viviam...
R: É, mas não era cercado, era livre, era acesso livre. Mas era controlado pela ALBRAS. Então, era organizado.
21:39
P1 - O que era ser filho de um funcionário da ALBRAS pra você? O que isso representava?
R: Olha, assim, todos que estavam aqui eram dependentes de empregados da ALBRAS. Então, naquela época, acho que a gente não imaginava o que era a ALBRAS. A ALBRAS tinha um programa de visita de familiares. Eu me lembro que a gente vinha pra cá, pra ALBRAS, fazia uma visita, mas a gente ficava restrito a uma área de lazer, onde eles faziam algumas apresentações, algumas atividades. Aí distribuía almoço, picolé, suco, lanche pra garotada. Era mais para aproximar a família dos empregados com a empresa.
22:27
P1 - E seu pai falava alguma coisa que ele gostava ou não gostava de trabalhar? Como eles viam a vida deles?
R: O meu pai faleceu muito cedo, ele faleceu com 51 anos, na época eu tinha 19, 20 anos. Mas eu me lembro de conversar com ele algumas vezes sobre o orgulho que ele tinha de trabalhar na ALBRAS. Eu acho que ele tinha orgulho, por conta de ele ter a oportunidade de proporcionar pra gente coisas que lá no interior a gente não teria, como uma boa escola, a infraestrutura aqui da cidade era muito boa. Então eu acho que ele tinha esse orgulho de trabalhar na empresa que proporcionava as melhores condições pra gente.
23:19
P1 - Ele dava conselhos?
R: Dava, dava. Dava sim. Meu pai, assim, ele tinha realmente um caráter que eu tento seguir até hoje. Nunca vi meu pai, por exemplo, discutir com minha mãe, brigar com a minha mãe. E o meu pai não tinha tempo ruim pra nada. Meu pai gostava de reunir os amigos deles lá em casa. Meu pai adorava fazer churrasco, sempre chamava. Então, ele construiu um quiosque na frente de casa para recepcionar. Então todo final de semana tinha algum amigo dele lá em casa, com a família. Então era bem ajeitado. Acho que é daí que surgiu a história do restaurante.
24:00
P1 - E os conselhos, o que você lembra que ficou marcado pra você?
R: Eu lembro que os conselhos que meu pai me dava, eram relacionados à questão de drogas, cuidado com questões de drogas, para estudar. Então eu lembro que, meu pai, por ser da área da construção, ele fazia de tudo em casa. Então eu, dos filhos, era o que o acompanhava. Acho que o motivo de eu estar na indústria hoje é porque eu acompanhei mais ele, porque de todos os meus irmãos, eu sou o único que estou na indústria. Um é contador, o outro trabalha no restaurante com a minha mãe, eu tenho uma irmã que mora em São Luís hoje. Então eu fui o único que fiquei aqui na indústria.
24:48
P1 - De alguma forma foi inspirado nele?
R: Sim, sim. Eu me inspirei em meu pai, sim. Eu me lembro que tiveram alguns momentos difíceis na ALBRAS, e o meu pai se dedicava, aí ele recebia reconhecimento, certificados, ele era reconhecido pelo diretor da empresa. Isso trazia muito orgulho pra mim. Eu ficava observando aquilo ali e percebia o quanto meu pai era dedicado ao trabalho dele.
25:12
P1 - Você tem alguma memória que te marcou dessas? Algum dia que aconteceu alguma coisa? Ou ele chegou com algum certificado?
R: Sim, ele chegava, ele mostrava pra gente. Quando eu comecei a estudar na área da segurança do trabalho, ele levava coisas da ALBRAS, da área da segurança, pra eu ler. Então tinha campanhas, toda vez que tinha uma campanha, tinha um boletim informativo da ALBRAS que eles sempre colocavam, era como se fosse um jornal que circulava na empresa, ele sempre levava lá pra mim e eu lia. Então acabou que eu criei esse vínculo.
26:00
P1 -Então ele levava os papéis pra você?
R: É, e aí eu lia, estudava, né? Sem saber que um dia eu ia vir pra cá.
26:08
P1 - E alguma história da sua mãe? Como ela era com você? Seu pai trabalhava muitas horas e sua mãe ficava cuidando de vocês em casa?
R: Era. Meu pai trabalhava no horário administrativo, então ele saía de casa às 07h30 e chegava por volta de 18 horas, todo dia, segunda a sexta.
26:30
P1 - E sua mãe?
R: A minha mãe permanecia em casa. Como ela também era vendedora, ela saía pra vender e a gente ficava em casa, né? Então é como eu falei, era uma cidade tranquila, era uma região tranquila, não tinha muito perigo, não.
26:43
P1 - E quais eram as tradições, as regras da casa, assim?
R: A tradição era o café junto, jantar junto. O almoço às vezes não dava por causa da escola e do meu pai trabalhando, então a gente não tinha o costume de almoçar. Mas, assim, final de semana, café sagrado, todo mundo, almoço, jantar, reuniões, Natal. Meu pai era muito festivo, né? Ele gostava de reunir realmente a família nessas datas comemorativas. Então, assim, o que eu tenho de lembrança da época dele, era a presença marcante nesses momentos aí de todo mundo.
27:18
P1 - E você me falou que você hoje é tímido. Você era um menino tímido?
R: Eu era um menino tímido. Eu era, claro. Era um pouquinho, mas não era uma timidez que me prejudicava. Mas eu era mais quietinho.
27:37
P1 - Então, você era obediente?
R: Sim. Fazia umas travessuras, mas era mais obediente.
27:40
P1 - Ah, eu quero saber das travessuras, então.
R: Eu sempre conto uma história aqui. Naquela época, por a gente ficar na região, a gente procurava o que fazer, a gente era moleque, 14, 15, 16 anos. A gente tinha bicicleta, a gente ia pro Caripi, mas tinha uma atividade que a gente fazia, que era andar dentro da mata. Aqui era rodeado de mata. E aqui, por ser uma área onde existiam algumas famílias, existiam muitas frutas, pé de frutas, principalmente cupuaçu e castanha do Pará. E a gente entrava na mata para desbravar, para brincar, para catar frutas, cupuaçu. E assim, cada vez mais a gente ia adentrando a mata. Até que uma vez a gente se deparou com a primeira fase da Alunorte aqui em construção. E para a gente foi, naquela época, um mistério. “O que é isso?”. Porque a gente sabia que a ALBRAS ficava ali do outro lado. E a gente não conseguia avistar a ALBRAS porque existia uma mata muito grande aqui. Então, a gente começou a visitar um pouquinho a região, que é a primeira fase da Alunorte.
29:03
P1 - E o que vocês viram?
R: A gente chegou a ver partes de prédios, partes de estruturas, de tanques. E aquilo só chamava a atenção da gente, porque é uma coisa que a gente não estava acostumado a ver então, a gente entrava na mata, vinha para cá e andava um pouquinho aqui. Aí vinha a segurança e a gente corria de volta para dentro da mata. Começava a dar um trabalhinho aí.
29:26
P1 - Você chegava em casa e falava: “Mãe, eu vi um negócio no meio do mato.”?
R: Não, não. Essas coisas a gente não falava, não. Até porque a mãe não imaginava que a gente estava embrenhado no meio do mato, né? Para ela, a gente estava ali na escola, no Cabana Clube onde tinha campo de futebol. Mas eram as aventuras que a gente fazia na época aqui. Mas nada de trazer danos, alguma coisa, era curiosidade mesmo, não aprontava nada, não.
29:57
P1 - E na adolescência, você tinha vontade de quê? Fazer o quê?
R: Na adolescência, eu acho que… Eu sou da década de 90, né? Então, eu gostava muito de ouvir música, rock. Eu me lembro que eu ganhei do meu pai um micro system, a gente chamava naquela época de micro system, que era aquele toca-fitas, né? E aí era a pilha. Então, eu levava lá para a rua, a gente ficava ouvindo música na turminha, a gente se reunia lá, ficava a noite toda ali, né? Então, assim, os sonhos eram, às vezes, ir para shows das bandas de rock que a gente gostava. Mas, por morar aqui, ficava difícil, né? Ficava ali escutando música mesmo.
30:43
P1 - Tinha uma banda preferida?
R: Na época, tinham as bandas brasileiras mais populares, a Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e as internacionais. Naquela época a gente ouvia muito a Rádio Transamérica, que tinha na região, então, a gente ouvia, Pearl Jam, Nirvana, umas bandas americanas.
31:03
P 1- E você gostava de cantar? Você tinha vontade de tocar?
R: Não, não. Na verdade, eu acho que a única tristeza que eu tenho é, assim, apesar de eu gostar muito de música, eu nunca aprendi a tocar, né? Cheguei a ter violão, baixo, mas nunca aprendi. É uma frustração da vida.
31:26
P1- Mas tinha um instrumento?
R: Eu tinha um instrumento, mas não aprendi. Alguns amigos dedilhavam e pegavam rápido, aprenderam rápido, mas eu não consegui, né? Faz parte.
31:38
P1 - E você era muito amigo dos seus irmãos?
R: Do mais velho. O mais novo, eu tomava conta dele. Na verdade, conforme ele foi crescendo, ele queria me acompanhar nas minhas travessuras, nas minhas aventuras, né? E aí, às vezes, chateava, porque eu tinha que tomar conta dele e não aproveitava, né? Então, a gente tinha essa questão das brigas. Mas tinha que tomar conta, né, tinha que trazer para perto.
32:00
P1 - E você me falou que você viu a Alunorte chegando aqui, começando do zero. O que você lembra?
R: Eu lembro da parte da empresa, que foi a primeira fase, que ficou parada por questões políticas, orçamentárias e credibilidade do projeto, né? Mas acompanhei, na época, a questão de quando iniciou a obra de partida da refinaria. Inclusive, eu vim para a festa de inauguração da Alunorte, presenciei aqui a inauguração dela. Mas não sabia do que se tratava. E aí, eu concluí o ensino médio e fui fazer faculdade de administração. E na faculdade que eu me inscrevi, que eu fui fazer o curso, eu fiz um curso de técnico de segurança do trabalho, ao mesmo tempo. Então, naquela época, era muito difícil, técnico de segurança do trabalho era raro. Aqui na Alunorte, por exemplo, existiam só dois empregados, dois profissionais. E quando eu estava no meio do curso, a ALBRAS me chamou para fazer um estágio lá. Então, eu entrei na ALBRAS por volta de 19 anos para fazer um estágio. E a Alunorte já tinha partido, estava, acho, que, com dois anos de partida. E eu fiz esse estágio lá na ALBRAS e, na época, o RH era conjunto, era uma empresa única, né? Então, me lembro que até hoje, a dona Ruth Santana, que era analista lá do RH, fez a minha contratação para estágio lá. Quando eu concluí o estágio, eu já tinha até arrumado um emprego, uma contratada lá na ALBRAS. Ela me chamou assim: “Olha, a gente precisa de um estagiário lá na Alunorte. Você quer ir para lá?”. Eu falei: “Se puder.” E aí, eu acabei vindo para cá fazer estágio, continuar um outro estágio, na verdade, aqui na Alunorte. E aí, nessa história, vai fazer 27 anos. E eu concluí o estágio aqui na Alunorte, comecei a trabalhar e começaram os projetos de expansão da Alunorte e eu fui convidado para ir para os projetos. Então, eu saí da área operacional e fui para a área de projetos aqui na Alunorte. Acompanhei as fases 1, 2 e 3, né, que são os projetos de expansão 1, 2 e 3. São, mais ou menos, aí, 10 anos de crescimento da empresa. E fiquei ausente daqui por volta de um ano, quando começou um projeto lá da CAP, que também era um projeto de alumínio, fiquei um ano lá e depois retornei. Aí estou aqui de volta, completei 14 anos aqui novamente.
35:13
P1 - E por que você foi estudar administração?
R: Não recordo, não. Mas eu acho que eu gostava muito de ler, eu lia muito, lia livros, revistas, e, por gostar de ler, eu era mais... Naquela época, era dividido, na escola ou você fazia a parte biológica ou recursos humanos, então, eu acabei vindo para a área de humanas.
35:45
P1 - Mas você já queria trabalhar na indústria?
R: Não, nessa época, não. Nessa época, não passava pela minha cabeça. Eu criei essa questão de trabalhar na indústria a partir do momento que eu fiz o estágio na ALBRAS e, em seguida, aqui na Alunorte.
36:04
P1 - E foi legal esse primeiro estágio? Você aprendeu? O que você olhou ali e falou: “Eu quero seguir esse caminho.”?
R: Quando eu comecei a fazer o curso técnico de segurança, eu não sabia, não tinha nem ideia do que era, para mim, quando falasse, “segurança”, era segurança, era fazer um curso de segurança de alguma coisa, mas, depois eu vi que fazia parte de outro processo.
36:12
P1 - Você achou que ia ser segurança de quê?
R: Segurança de bar, de alguma coisa, né? No início. Mas aí, depois, quando realmente iniciou o curso, que veio a questão da matéria do curso, muita legislação, muita leitura, e era uma coisa que eu já gostava, então, assim, encaixou direitinho. Então, comecei a estudar. E quando eu fiz o estágio na ALBRAS abriu mais os olhos, principalmente porque lá eu encontrei profissionais maravilhosos, que, para mim, foram referência, base para o profissional que eu sou hoje. Assim como aqui na Alunorte, também. Quando eu vim para cá, tinham dois profissionais que, para mim, eram referências. E aí, eu: “Quero ser igual a eles.” E aí, comecei a estudar.
37:02
P1 - Quem eram eles?
R: Era o Nonato e o Flávio, aqui na Alunorte. A gente chamava Nonatão, ele era um pouquinho mais forte, para mim, era uma referência, realmente, em termos de conhecimento teórico, de normas. E o Flávio era mais técnico. Então, assim, casou, que eu puxei um pouquinho aí de cada um. Eu disse: “Eu quero ser referência também, igual a essas duas pessoas.”
37:39
P1 - Quando você entrou no estágio da ALBRAS, o seu pai ainda trabalhava lá?
R: Trabalhava lá. Trabalhava lá.
37:44
P1 - Como é que foi isso?
R: Olha, assim, foi legal, né? Aquele momento, assim, que: “Poxa, vou pegar o mesmo transporte que o meu pai.” E depois voltava para casa junto com ele. E eu me lembro que em algumas viagens eu falava para ele: “Olha, eu fui lá na área tal, eu vi isso, fiz aquilo.” Era uma conversa, um momento muito legal na minha vida.
38:01
P1 - E ele deve ter ficado muito feliz, né?
R: Ah, ficou sim, ficou.
38:08
P1 - De ver o filho seguindo os passos dele?
R: É, ele ficou. Eu lembro que eu encontrava com ele de vez em quando lá dentro e ele fazia questão de me dar um abraço. Fazia a questão.
38:20
P1 - E ele te reconhecia lá como filho? Você não era funcionário, era o filho dele?
R: Não, a gente separava. Dava um abraço, assim, mas... Eu me lembro uma vez que eu fui visitar a área onde ele trabalhava lá, e aí um dos papéis do profissional de segurança é observar como é que está a condição do ambiente, como é que está a questão da tarefa, que as pessoas estão realizando, né? Então, eu me lembro que nesse dia, quando eu visitei lá, ele estava trabalhando, eu o encontrei lá, ele estava trabalhando, realizando uma atividade lá numa oficina, então, assim, naquele momento ali era o profissional de segurança e ele fazendo a atividade dele. Aí só no final do dia que a gente conversou sobre isso.
39:07
P1 - E estava tudo certinho?
R: Estava tudo certinho. Estava tudo certinho. Meu pai era muito cuidadoso. Meu pai, eu me lembro, uma das coisas, era que ele usava todos os EPIs, ele era bem cuidadoso.
39:21
P1 - O seu pai falava sobre carreira, sobre manter um emprego que era importante?
R: Na verdade, naquela época, ele se dedicava bastante, ele não falava sobre crescer na empresa. Eu acho que, por ter começado a trabalhar desde muito cedo, começou a trabalhar na roça, depois entrou na construção civil, ele já pensava mais na aposentadoria. E por trabalhar dentro da ALBRAS por muito tempo, ele já estava mais nos planos para o futuro, pós a empresa. Então, ele tinha esse sonho de construir o restaurante dele, ter o negócio dele, trabalhar por conta própria. Esse, eu me lembro, que era o sonho dele. É o que ele falava para a gente.
40:10
P1 - Naylson, eu estou aqui imaginando que você viu tanto a empresa começar e crescer, como você viu a cidade, não foi?
R: Também, também. Todos os desenvolvimentos aqui da cidade, né? A Alunorte, a ALBRAS, eram do governo, eram empresas estatais, quando foram vendidas, privadas, meio que não fazia mais sentido as empresas tomarem conta da cidade. Então, eu acompanhei essa fase de crescimento, por exemplo, de núcleo urbano, das pessoas comprando terreno, das pessoas comprando as casas que eram da ALBRAS. Eu, por exemplo, moro numa casa que era da ALBRAS. Então, aí veio o comércio e a cidade foi crescendo, foi expandindo. A prefeitura assumiu, porque antes a prefeitura tinha pouca administração aqui, era mais mantida pela ALBRAS. E aí, assim, a cidade foi crescendo.
40:59
P1 - Mas isso aconteceu de maneira organizada ou foi meio caótico?
R: Não, foi caótico. Até porque aqui é uma região portuária, então, assim, vinham pessoas de várias partes. Então, foi caótico. Aí, com isso, vem a violência, vêm outras coisas que acabam prejudicando a imagem da cidade.
41:22
P1 - E, por outro lado, também veio...
R: Aí vem crescimento também, vem desenvolvimento, melhorias. Aí você ganha mais escolas, você ganha mais, por exemplo, comércio. Porque antes era bem restrito. Aí, assim, você ganha com isso. Vem bancos, porque antigamente nem banco tinha aqui, tinha um ou dois bancos. Hoje você tem vários bancos. Aí acaba trazendo faculdades. Então, isso ajuda, né.
41:58
P1 - Eu ouvi dizer que tinha uma única farmácia.
R: Era uma única farmácia, Mariana. O nome era farmácia Mariana. Ela cuidou praticamente das pessoas aqui da vila. Então, qualquer coisinha que a gente tinha, a gente ia lá na Mariana. O filho dela, inclusive, o Júnior Nazareno, é amigo nosso até hoje. Acaba criando esse vínculo, essa amizade.
42:32
P1 - Em algum momento você pensou em ir embora de Barcarena, na sua juventude, assim, querer ir para Belém?
R: Quando eu comecei a estudar em Belém, a gente vislumbra, cidade grande, né? Então, assim: “Olha, eu quero vir para Belém.” Mas não, depois, assim, passou. Quando eu comecei a criar raízes aqui, comecei a trabalhar, casei e até com o falecimento do meu pai, para ficar aqui mais próximo da minha mãe, dos meus irmãos, acabou que eu criei raízes aqui.
43:07
P1 - Você fez faculdade em Belém?
R: Fiz, fiz. Fiz administração. Fiz o curso de técnico em segurança e administração.
43:13
P1 - Aí você ia e voltava?
R: Ia e voltava, todo dia. Trabalhava aqui, 05 horas pegava a condução, ia para Belém, estudava, 23 horas, voltava.
43:25
P1 - Como você ia, de barco?
R: Era de barco. De ônibus até o porto, pegava o barco e no retorno pegava o barco e vinha de ônibus.
43:37
P1 - Nossa, puxado, né?
R: Mas, assim, prazeroso. Era puxado, não era fácil, não. Mas muitos de nós, que morávamos aqui na época, fazíamos isso. Então, hoje, por exemplo, a gente tem engenheiros aqui dentro da empresa que fizeram isso. Não só aqui, mas na ALBRAS, pessoas que têm comércio aqui em Barcarena também fizeram isso. Naquela época era o que a gente fazia.
44:07
P1 - E qual era a promessa geral, assim, da cidade com essas chegadas e expansão dessas empresas? O que se falava?
R: De trabalho, de crescimento, de melhoria, de oportunidades. Então, a gente, a maioria dos meus amigos estão aqui. É a nossa vida, né? É como se a gente estivesse ocupando o lugar dos nossos pais, eles estão saindo, estão se aposentando, e a gente está assumindo, a gente está aqui. Então, essa era a oportunidade que a gente tinha.
44:40
P1 - E aí, me conta desse começo de carreira na Alunorte.
R: Nesse início de carreira eu trabalhava na expansão, então era puxado, era muito trabalho, era uma coisa diferente de operação. Então, a gente chegou a ter um pico de pessoas aqui dentro da obra de sete mil pessoas, trabalhando na obra. Naquela época, eu era muito novo também, estava aprendendo, mas, assim, aprendi realmente no maior laboratório que a gente tinha aqui na época. E com isso, assim, nunca parei de estudar, sempre fui estudando, me aperfeiçoando e sendo o profissional que sou hoje. Eu sou casado há 20 anos, mas estou junto com a minha esposa há 30, porque a gente começou o nosso relacionamento na época da escola.
45:38
P1 - Na escola que era dos filhos?
R: Que era dos filhos dos empregados da ALBRAS, né? O pai dela também trabalhava na ALBRAS. E a gente era da mesma classe e era da mesma série.
45:40
P1 - Eles são de onde?
R: Eles são de Abaetetuba, que é a vizinha aqui. E aí, a gente, assim, namoro de adolescente, acabou a escola, fomos fazer faculdade, ela também começou a fazer a faculdade dela. E a gente começou a fazer os nossos planos, “Depois que a gente concluir a faculdade, a gente pensa em casamento. Vamos focar um pouco aqui no trabalho.” E aí foi que a gente começou a construir, realmente, a nossa vida. E aí, a partir desse momento, já fixando raízes, realmente, aqui em Barcarena, eu trabalhando aqui na Alunorte, ela também prestando serviços em algumas empresas contratadas. Ela começou a trabalhar também na ALBRAS, também na prestadora de serviço, pioneira no programa de saúde que tem lá na ALBRAS. E aí, a expectativa foi assim: “Vamos estudar, continuar estudando e crescendo.”
46:33
P1 - Qual é o nome dela?
R: É Josiane.
46:39
P1 - E ela trabalha com o quê, na área da saúde?
R: Ela trabalha na área de saúde. Ela trabalha em um programa de saúde lá da ALBRAS. Ela é nutricionista e faz atendimento para os empregados.
46:51
P1 - Que legal.
R: Até vir a nossa filha, que tem 18 anos hoje. Então, a partir do momento que a nossa filha nasceu, a gente enraizou mais aqui.
47:05
P1 - É uma filha só?
R: É uma filha.
47:08
P1 - E ela se chama como?
R: Maria Eduarda. Hoje ela está na faculdade.
47:13
P1 - De que?
R: Ela faz medicina veterinária. O sonho dela, desde pequena ela falava que era, e seguiu estando aí até hoje.
47:22
P1 - Filha de Barcarena?
R: Ela nasceu em Belém, mas assim, só nasceu, é barcarenense de coração.
47:39
P1 - E aí você e a Josi, então, viram que Barcarena era uma cidade boa de se morar?
R: Sim, sim. Até hoje eu não me vejo, inclusive, saindo daqui. A minha filha indo para Belém estudar, eu não me vejo saindo daqui para morar lá em Belém. Eu falo: “Você vai e eu fico.” Então, assim, ela tem essa rotina, ou ela vai e volta, ou ela mora lá em Belém com a avó dela, a mãe da minha esposa. Mas assim, eu não me vejo saindo daqui, não está nos meus planos.
48:02
P1 - Com quantos anos você casou?
R: Eu casei com 25, a minha esposa tinha 24.
48:08
P1 - Teve festa?
R: Fizemos, fizemos. Na verdade, apesar de a gente já namorar há muito tempo, a gente noivou três anos, pedi ela em casamento, fiz o noivado, fiz questão de fazer o noivado, pedi a mão dela pro pai dela. Nós ficamos noivos três anos. E aí a gente, com aquela questão: “Vamos fazer planos para o casamento ou focar na faculdade?”. A gente meio que focou um pouquinho mais na faculdade. Até que um determinado dia, assim: “Vamos casar?”. “Vamos.” E aí a gente decidiu casar, tipo, em três meses, a gente organizou o nosso casamento e casamos, fizemos a festa, foi, inclusive, na inauguração do restaurante da minha mãe. A gente fez no restaurante da minha mãe no espaço. Então, foi super legal.
49:08
P1: Um festão, né?
R: Foi um festão! Convidamos os nossos amigos mais próximos. Então, foi bem legal. Foi um momento bem legal pra gente.
49:23
P1 - E nesse começo da sua carreira na Alunorte, você falou que era difícil, que era expansão. O que era difícil?
R: Trabalho, era muito trabalho. Então, por ser expansão, isso demandava muito tempo. Às vezes, atrapalhava um pouquinho a questão do estudo, continuação dos estudos. Então, eu era da área de administração, e aquela questão de estar aqui presente, trabalhando como técnico, atrasou um pouquinho meus planos, que era fazer uma engenharia, por exemplo, porque eu já comecei a dar prioridade mais pro trabalho. E por já ter um curso de graduação, meio que eu dei uma relaxada, né? Mas também não deixei isso me abalar, não, eu consegui fazer depois a engenharia.
50:16
P1 - Faculdade?
R: Sim.
50:17
P1 - Então, você é formado em quê?
R: Eu sou formado em administração e também engenheiro ambiental com especialização em segurança do trabalho. Eu sou engenheiro de segurança do trabalho.
50:28
P1 - E essa formação de engenheiro já foi com benefícios de ser funcionário daqui?
R: Sim, com certeza. Eu tenho gratidão pela Alunorte, justamente por ter me proporcionado, do mesmo modo que para o meu pai, a ALBRAS proporcionou. Ela tem me proporcionado muita coisa, além do emprego, lógico. A minha filha, por exemplo, o tempo que ela estudou foi um benefício da Alunorte, eu nunca paguei uma mensalidade da escola da minha filha, minha filha concluiu o ensino médio pelo benefício da Alunorte, estudando sempre em uma escola boa. A Alunorte também deu benefício para eu fazer a minha faculdade de engenharia. Então, se não fosse por ela, também ficaria um pouquinho mais difícil, até eu atrasaria um pouquinho mais a realização desse sonho, mas, como benefício, eu consegui fazer. Sem falar, também, tudo que eu tenho hoje, eu sou grato, porque, trabalhando na Alunorte, eu tenho a nossa casa, tem o nosso carro, podemos viajar, podemos ter um pouquinho mais de conforto graças ao trabalho que eu tenho aqui na Alunorte. Passei aí um perrengue, tem mais ou menos um ano, eu tive um câncer no pescoço e por ser funcionário também, ter os benefícios do plano de saúde, eu consegui fazer meu tratamento 100% e vencer o câncer, estar aqui hoje, por conta da oportunidade que eu tive aqui, que eu tenho aqui. É assim, é gratidão. Então, minha dedicação aqui na Alunorte é por gratidão.
52:17
P1 - Você ficou afastado do trabalho?
R: Há alguns períodos para fazer tratamento. No período da Covid também, eu fiquei afastado seis meses. Eu peguei Covid, tive algumas sequelas, fiquei afastado seis meses, sempre com suporte da empresa. E, quando eu melhorei, eu retornei para cá. Fui bem recebido, inclusive, pelos meus colegas de trabalho, assim como nós também recebemos outros colegas que também tiveram dificuldades. Então, estamos aqui hoje.
52:51
P1 - Em um momento desse, de saúde, poder contar com amigos, poder contar com a estabilidade, eu acho que isso, de alguma forma, faz bem, te ajudou, para passar por esses momentos difíceis.
R: Só quem passa por uma situação dessa sabe o quanto a cabeça fica meio bagunçada. Então, eu tive uma irmã que faleceu de câncer, mais nova que eu também, e a gente passou por esse processo. E aí, quando eu descobri o meu, a primeira coisa, assim: “Poxa, minha mãe vai passar por isso de novo.” Mas, assim, já um pouquinho mais maduro, eu falei: “Não, vamos lutar!”. E graças aos benefícios que eu tenho aqui na empresa, que a empresa proporciona. Inclusive, uma gratidão que eu também tive, porque a minha irmã, ela era casada com um empregado daqui, na época, da Alunorte. Apesar da doença dela ter sido muito mais grave que a minha, quando ela descobriu, já estava num estágio bem avançado. Mas a minha irmã teve uma qualidade de vida, pelo mesmo benefício, o meu cunhado, na época, trabalhando aqui, pôde proporcionar para ela também, pela empresa, o plano de saúde. Ela viajou, foi para outros estados para fazer acompanhamento, tratamento. Então, ela teve uma sobrevida aí de três anos. Assim, a gente ficou muito próximo, a gente estava sempre ao lado dela.
53:55
P1 - Quando isso aconteceu?
R: Em 2008, ela faleceu.
54:01
P1 - E o dela foi câncer de quê?
R: De estômago. O meu foi de pescoço. Tireoide.
54:09
P1 - Seu pai?
R: O meu pai, ele teve um aneurisma. O meu pai era bem de saúde. O meu pai tinha uma vida ativa bem, não tinha nem pressão alta, só para você ter ideia. Mas, assim, um aneurisma, a gente não conseguiu. O meu pai fazia exames, mas a gente não tinha ideia, não descobriu. E quando o aneurisma estourou, foi fatal. Aí, no primeiro momento, a gente pensava que tinha sido coração. A gente chegou a levar ele para o hospital, levamos ele para Belém, mas, lá, o diagnóstico foi de…
54:47
P1 - O seu pai foi quando?
R: Meu pai faleceu em janeiro de 2001.
54:57
P1 - Então, primeiro seu pai, depois sua irmã.
R: É. E minha irmã em 2008. Momentos que a gente passou, né?
54:53
P1 - Nesses momentos difíceis, você teve apoio do benefício do plano de saúde. Teve apoio psicológico?
R: Tudo, tudo. Apoio psicológico, além do plano, apoio psicológico, assistente social aqui da Alunorte, Fantástico! Todo momento, ali, preocupado, acompanhando, ligando, sempre, apoio 100%. Uma força extra aí, que realmente fez muita diferença no nosso tratamento.
55:27
P1 - Sei que é um momento difícil da gente relembrar, mas eu quero puxar desse momento, algo que te marcou para o bem, algum momento desse, algum apoio de amigos que você lembra que fez diferença para você.
R: Do meu tratamento? Assim, o apoio dos meus colegas, da minha liderança, me deixaram muito à vontade. Em momento algum fizeram cobranças, disseram: “Cara, saúde. Vai cuidar. A gente toma conta aqui. Quando você retornar..” Apoio, apoio de todos e apoio de amigos mais próximos. Então, sempre fizeram uma boa energia, trouxeram boas energias para mim.
56:13
P1 - E o dia que você voltou, como é que foi?
R: Foi, assim, aquela coisa, eu não consigo explicar. Mas, assim, eu me lembro que quando cheguei na frente da Alunorte, eu fiquei um pouquinho ali dentro do carro, pensando, retornando, então, abri a porta do carro, quando botei meu pé, me derramei em lágrimas em forma de agradecimento pela recuperação e por estar de volta. Eu sempre brinco com alguns amigos, “Meu CNPJ, minha vida.” Então, assim, eu tenho esse sentimento de gratidão eterna aqui com a Alunorte, por isso que a dedicação é ao máximo aqui. Então, ao entrar ali na sala, o pessoal me receber, me dar um abraço, estar presente o tempo todo, fez muita diferença. É um orgulho que eu tenho muito grande aí.
57:14
P1 - Posso imaginar. Eu imaginando, estou emocionada, imagina você.
R: É, foram alguns momentos aí. É luta, né? Mas, graças a Deus, deu tudo certo.
57:26
P1 - Você entrou como estagiário. Me conta como você foi crescendo.
R: Eu entrei aqui como estagiário e depois fui contratado como técnico. Aqui a gente tem níveis de classificação para o técnico de segurança, técnico 1, 2 e 3, eu fui subindo essas classificações e em um determinado momento houve uma mudança no nosso quadro, que surgiu as posições de supervisor e de segurança do trabalho, que antes não tinha. E aí, quando surgiram essas vagas, eram três vagas, hoje nós somos quatro supervisores. Eu me lembro que, na época, eu fiquei assim: “Não, isso aí não é para mim, não.” Porque existiam pessoas que estavam há mais tempo aqui na Alunorte, mais experientes e tudo mais. “Não é esse momento para mim, não.” E aí, assim, quando surge a vaga, você tem que fazer essa inscrição, “Olha, eu quero participar dessa vaga aí.” Eu não sei por que, na minha cabeça, eu não ia fazer parte desse processo, não ia participar. Até que, no último dia das inscrições, o gerente que a gente tinha aqui na segurança, ele chegou e disse: “Nailson, e aí, como é que está?”. Eu falei: “Estou bem.” “Não, você se inscreveu na vaga?”. Eu falei: “Não, eu não me inscrevi, não.” Aí ele: “Como assim não se inscreveu?”. Eu falei: “Olha, eu não me vejo hoje como líder. Eu não sei, não tenho muito esse perfil, não.” Ele falou assim: “Olha, não é você que tem que se ver agora, são as pessoas que têm que te enxergar como líder. Então, assim, se inscreva. Vai lá, participe do processo.” E aí, fiz a minha inscrição e tive a grata surpresa de ser chamado pelo RH. Ele falou assim: “Olha, você passou no processo.” E aí, desde então, em 2018, que isso aconteceu, eu estou aqui como supervisor de segurança, tenho uma equipe de técnicos. Dedicação, né? Então é isso.
59:55
P1 - Naylson, eu sei que, como você está aqui desde o começo, você também viu inovações, tecnologia, você participou disso aqui dentro?
R: Participei, participei de muitas. Eu sempre falo assim: “A segurança do trabalho não é uma cartilha escrita em pedra.” Então, assim, a gente sempre vai passando. Então, os gestores que vão passando por aqui, cada um vai deixando o seu legado, “o modus operandis”, né? É lógico, a gente tem que estudar. Então, eu passei por vários processos da área da segurança. Então, assim, me considero hoje, na área da segurança, das antigas, que é totalmente diferente do que é hoje. Antigamente a segurança do trabalho buscava culpados, “Alguém se acidentou. É culpado.” Hoje não, hoje a gente não vê mais isso, né? Mas a gente teve que estudar. Hoje a gente faz avaliação de comportamentos, embora a segurança do trabalho seja uma engenharia, mas a gente estuda muito a questão do comportamento. Então, assim, eu vi vários processos, participei de vários processos, vários estudos de implantação do nosso sistema de gestão de segurança hoje.
01:01:11
P1 - E como é que foi ficando mais seguro, então, para o funcionário? O que você acompanhou?
R: Conforme a gente foi evoluindo, por exemplo, tecnologia, antigamente, as coisas eram muito mais difíceis por falta de tecnologia. Quando eu comecei aqui, alguns equipamentos para a gente fazer medições eram analógicos, dependiam muito da nossa atuação, manipulação. Hoje em dia, você tem equipamentos totalmente eletrônicos, por exemplo, nós temos aqui medidores de atmosfera em espaço confinado que traz informações para a gente em formas de informações. Então, o empregado está dentro do espaço confinado com o equipamento, a gente está visualizando aqui tudo o que está acontecendo pelo equipamento, como está a atmosfera, se tiver alguma alteração lá, ele vai alertar a gente. Coisas que antigamente a gente tinha que entrar no espaço confinado para fazer uma avaliação, hoje eu não preciso. Então, assim, isso é um exemplo, né? EPIs, antigamente, os EPIs eram os mais grossos, hoje você tem uma vasta gama de EPIs que trazem mais conforto e segurança. Então, assim, essas evoluções eu acompanhei muito. EPIs, por exemplo, é uma das condições aqui na Alunorte que eu sempre gosto de participar, né? Então, sempre tive um pouquinho mais de envolvimento com desenvolvimento. Tenho um orgulho danado aqui, por exemplo, junto com a minha equipe de técnicas de segurança, que a gente desenvolveu um EPI específico aqui para Alunorte que no mercado não tem, que é para soldadores com uma proteção nitrílica para contato químico.
01:02:47
P1 - Como é que é?
R: É uma roupa de couro que todo soldador, todo empregado que faz trabalho a quente usa, uma roupa de couro com a intenção de proteger ele contra a abrasão, contra o agente térmico. Só que não existe no mercado o mesmo EPI com uma proteção para projeção de produto químico que é o nosso produto aqui, a soda cáustica, e a gente desenvolveu esse EPI aqui dentro da Alunorte. E no ano passado, inclusive, a gente participou do Conecta e a gente foi um dos vencedores aqui da Alunorte e a gente disputou com o BIA. Não ganhamos, mas estivemos lá presentes. Mas assim, foi desenvolvido aqui por nós. Então isso é muito gratificante, a gente estar podendo desenvolver esse processo que é segurança, trazer segurança para os nossos empregados.
01:03:34
P1 - Antigamente tinha muito mais acidentes?
R: Tinha por falta de tecnologia, de EPIs. E hoje a gente não tem, é zerado. A gente não tem mais esse tipo de acidente, contato químico para trabalhar quente, a gente não tem, está controlado. Além dos nossos processos de controle de energia, que é garantia, controles, se tiver energia residual, a gente tem o EPI adequado agora. Antigamente não tinha.
01:04:02
P1 - Eu ouvi que antes usava camiseta curta.
R: Eu sou dessa época da camisa curta. Inclusive, a única foto que eu tenho dessa camisa curta é em casa. Mas antigamente a gente tinha dificuldade, é questão também de a indústria de empenamento de alumina era novidade aqui, a gente estava acostumado com a ALBRAS. Então são poucas, inclusive, indústrias de alumina que existem. Então a gente foi aprendendo também, experiências, desenvolvendo e a gente chegou no que a gente está hoje. Por exemplo, hoje a gente tem uma camisa que tem uma proteção repelente, embora seja um tecido, mas ela tem aqui uma barreira. Antigamente a gente andava só com uma camisa manga curta, os braços ficavam expostos.
01:05:00
P1 - E aí como é que foi passando da manga curta para essa camisa? O que aconteceu com o tempo e com…
R: Na verdade, é um processo, né? Aqui é uma região muito quente, então assim, a gente trabalhar com a quantidade de EPIs que a gente trabalhava…, mas tem que trabalhar, né? Então, o primeiro impacto é o desconforto do empregado, né? “Então a gente vai colocar uma camisa manga longa nesse sol, nesse calor aqui e tal?”. Aí acaba que depois a gente se acostuma. Então assim, a gente já tinha uma camisa manga curta, “A gente vai ter que colocar agora a camisa manga comprida para vocês se protegerem, né?”. E aí o impacto é mais essa questão do desconforto, mas depois acostuma.
01:05:43
P1 - E aquela história que aí a manga era diferente?
R: É porque, como a gente já tinha a camisa manga curta, com o passar ela vai se desgastando, vai perdendo um pouquinho a cor, né? E naquela
época, assim, a produção da camisa era mais lenta. Então assim: “Olha, quem tem camisa, traz para a gente, a gente costura a manga.” E o tecido era novo, então ficava aquela diferença do tecido novo da manga para a camisa que já estava um pouquinho gasta. Mas durou pouco tempo, né? Então assim, são lembranças boas, inclusive, desse processo, que a gente fica rindo depois.
01:06:27
Em algum momento você já se machucou?
R: Não me machuquei, não. Nunca sofri um acidente aqui, não. Mas já presenciei algumas coisas e já prestei socorro para algumas condições. Eu sempre falo que no passado a gente não tinha brigada de emergência, então praticamente quem fazia os primeiros socorros, quem chegava primeiro, éramos nós, os profissionais de segurança, os técnicos de segurança. Então, assim, eu já tive que fazer algumas atuações bem difíceis. E assim, ser profissional de segurança, também tem que ter um pouquinho de equilíbrio, não são todos que têm aquela condição física, psicológica, de ver algumas cenas, mas, assim, eu não tenho essa dificuldade e isso me ajudou muito, até, também para proporcionar um atendimento para o nosso empregado, empregado contratado, mais digno.
01:07:22
P1 - E a alegria é que isso é cada vez menos até chegar nesse zero, né?
R: Menos, menos. Eu sempre digo para os mais novos: “Hoje a gente não tem os acidentes que a gente teve no passado.” Então assim, eu aí nesses mais de 26 anos aqui dentro, vi coisas que não acontecem mais hoje, não existem mais hoje. Até pela questão da nossa cultura de segurança que a gente já tem implantada, né? Então, graças a Deus a gente não precisa. Hoje eu falo assim: “A gente tem brigada, hoje eu não vou me envolver não. Deixa para os profissionais que são treinados, qualificados para isso.” Não quer dizer que eu não vá ajudar, mas é porque realmente a gente mudou, é coisa do passado.
01:08:26
P1 - E aquele produto que vocês também participaram da...
R: É o Diphoterine. O Diphoterine, assim, foi para a gente também um marco, porque a gente trabalha numa indústria química, então a gente tem presença de produto químico. E o contato com a soda cáustica, antigamente a gente tinha água, chuveiro de emergência, então quando tinha contato, a gente ia para baixo do chuveiro de emergência. Só que o chuveiro de emergência, ele diluía o produto na pele, e por onde ele escorrer, ele poderia causar mais irritações ou queimaduras, né? E o Diphoterine é um descontaminante, ele atua na molécula da soda cáustica, ele vai inibindo a atuação da molécula. Então, antigamente, com tratamento no chuveiro, fazer uma lavagem, poderia ficar vermelho, hoje o Diphoterine, por atuar na molécula, ele inibe, praticamente você não tem a lesão.
01:09:15
P1 - É um spray?
R: Ele é um spray, ele vem em frascos. Ele pode ser spray, mas ele também pode ser líquido.
01:09:23
P1 - E vocês que participaram dessa... eu não sei, é comprado ou vocês participaram do desenvolvimento dele?
R: Não, ele já foi um produto que surgiu no mercado, a gente tem um único distribuidor, inclusive, no Brasil. Então ele foi apresentado pra gente, a gente testou aqui e comprovamos a eficácia dele. E também pegamos experiência com outras indústrias que já faziam uso. E aí treinamos todos os nossos empregados, todos os empregados que entram na área operacional são treinados para fazer o uso. Hoje faz parte. Chuveiro é coisa do passado também, a gente não faz mais uso do chuveiro para contato químico.
01:10:07
P1 - Qual é o seu maior orgulho dessa história? Que você acompanhou cada passo da segurança sendo evoluída aqui dentro.
R: Eu por estar um pouquinho mais tempo aqui, eu sinto orgulho toda vez que eu passo em algum local e eu vejo alguma coisa que tem um pouco da minha contribuição, uma melhoria no ambiente, o desenvolvimento de ferramentas, quando eu vejo algum empregado usando alguma coisa que eu participei, “Poxa, aquilo é um legado, né?”. Procedimentos, nossa cultura, implantação da nossa cultura, divulgar, disseminar a nossa cultura de segurança. Ouvir dos colegas de fora que a gente é referência em segurança do trabalho, isso já me enche o peito de orgulho. Receber ligações de colegas de fora, “Poxa, Nailson, estou com uma dúvida aqui. Como é que é? Como é que a gente faz?”. Então, assim, isso a maturidade, vai trazendo pra gente.
01:11:16
P1 - Quando vocês são vistos como referência de segurança no trabalho, é dos funcionários daqui de dentro? A segurança é dessas pessoas?
R: Nós temos um grupo de pessoas mais sêniores, que a gente acaba sendo realmente essa referência. E a gente tenta transmitir o nosso conhecimento para os mais novos que vão chegando. Hoje, eu, como supervisor, tento transmitir isso pra minha equipe. As experiências que eu já tive, eu sempre tento transmitir pra eles. Bem como também os empregados mais antigos, eles enxergam a gente como essa referência. Então, hoje, toda vez que tem uma atividade crítica, alguma dificuldade, eles ligam pra gente: “Nailson, poxa, vai acontecer uma atividade aqui, eu tô com uma dificuldade. Você pode vir aqui olhar?”. Se eu falar assim: “Não, eu vou pedir pra alguém aí.” “Não, mas eu queria que você viesse.” E aí a gente vai lá. Aí a gente aproveita, passa ali, pega o colega mais novo, “Olha, vamos ali aprender um pouquinho alguma coisa.” Então, é assim que a gente trabalha. E, ao mesmo tempo, a gente acaba sendo referência um do outro. Nós somos quatro supervisores, cada um tem um pouquinho de experiência em alguma outra demanda. Então, a gente sempre vai trocando experiência ali, consultando, né? Então, isso é legal.
01:12:30
P1 - E a empresa foi mudando, o respeito ao trabalhador, a cultura interna, ela foi evoluindo, né?
R: Sim, sim, isso é visível. Eu peguei várias fases aqui na Alunorte, trabalhei com diretores e gerentes que eram bem difíceis. Na época da estatal era mais ainda. Então, assim, a partir do momento que a Hydro assumiu aqui a Alunorte, de cara, a primeira coisa que a gente percebeu foi o respeito. Quando a Hidro trouxe para cá os valores dela, a gente percebeu que houve uma mudança significativa em relação ao respeito.
01:13:08
P1 - Me dá um exemplo de antes e depois.
R: Tem várias, mas, a questão do tratar, assim, aquela questão de apontar o dedo, gritar, culpar, isso não existe. Hoje nós somos treinados, hoje nós temos uma cultura de segurança, os nossos valores ditam como é que a gente tem que seguir. Então, o respeito hoje faz parte, está presente em todas as nossas atitudes aqui dentro da empresa. Então, eu percebi essa mudança.
01:13:47
P1 - Quais são esses valores, hein?
R: Hoje nós temos três, coragem, colaboração e o cuidado. Então, são os três valores que a Hydro tem, que nós usamos hoje aqui para todas as nossas rotinas. Coragem, passa por nós, na Alunorte. A Alunorte tem um histórico de situações que ocorreram que se a gente não seguisse esse valor, cuidado, a gente desistia. A gente passou por vários desafios e estamos aqui até hoje. A colaboração que hoje a gente consegue, né? As áreas antigamente eram independentes, cada uma cuidava do seu quadrado. Hoje não. Hoje, quando você tem um problema dentro da refinaria, todas as áreas se abraçam. Então, todos os setores se abraçam. Então, vamos lá ajudar, vamos lá resolver o problema juntos. E o cuidado, é o cuidado com as pessoas, com o meio ambiente, com os nossos stakeholders, com as pessoas que estão fora da cerca, com a nossa vizinhança aí.
01:14:56
P1 - É isso que eu queria ouvir de você também, que você viu ao longo do tempo, né? A relação da empresa com a comunidade, com o meio ambiente que você estudou tanto. O que você me diz disso tudo?
R: Assim, todas as nossas ações estão voltadas para os nossos valores. Então, não é mais rotineiro nosso, não é mais assim: “Ah, vou ter um gotejamento de um material, a queda de um material contaminado fora das bacias de contenção.” Antigamente poderia ser normal, hoje não é mais normal. Tá errado? A gente tem que fazer o certo. Não podemos deixar material sair das bacias de contenção. Todos os nossos efluentes são tratados antes da gente devolver para o Rio. Então, esse é o nosso legado, o que a gente tem que deixar aqui para a sociedade, para o ambiente onde a gente está instalado. Então, é isso que a gente prega.
01:15:59
P1 - Eu entendo que você foi estudar isso, porque para você isso é importante também, né?
R: Sim, sim, é importante. Então, eu fiz Engenharia Ambiental, eu escolhi fazer, por gostar, por trabalhar já na área de HSE e também para poder ajudar, de certa forma, não só aqui, mas em outras situações aí fora. Então, faz parte da nossa vida aqui.
01:16:24
P1 - Trinta anos de Alunorte, e aí quase trinta anos na sua própria vida, né?
R: É, eu faço parte do time dedicado. Quando surgiu, “Vamos fazer um time aí para fazer a comemoração, para fazer a gestão da comemoração de 30 anos da Alunorte.” Eu estava lá na minha sala, e aí eu vi nos nossos canais de comunicação, eu falei assim: “Por que não? Por que não colaborar um pouquinho da minha experiência, da minha vivência com essa nova fase aí, né?”. Estou super empolgado também, né, poxa, a gente vai comemorar 30 anos. Nesses 30 anos muita coisa aconteceu na minha vida graças a essa empresa. E aí eu falei assim: “Vou participar, vou me dedicar, vou fazer parte dessa história aí.” Me inscrevi, recebi lá o convite, “Olha, você foi escolhido para fazer parte do time.” Agradeci, e estou fazendo participação em todos os eventos que a gente tem organizado para essa comemoração de 30 anos.
01:17:34
P1 - Como é que você se sente?
R: Ah, eu estou orgulhoso, estou orgulhoso. Participei de um evento que eu fui padrinho, que foi a visita de empregados. “Poxa, Nailson, como é que é? Empregados vão visitar a empresa?”. Mas é aquela história, tem empregados que estão aqui dentro da empresa, mas nunca saíram ali do seu cantinho. Falei assim: “Olha, você vai visitar, conhecer todo o processo, né?”. E isso foi muito legal. Foi muito legal ouvir os feedbacks depois: “Poxa, Nailson, eu estou há 10 anos aqui na área, e eu nunca fui lá no DRS.” Aí, chegar lá, e já encontrar o DSR recuperado, com vegetação, isso dá um orgulho danado para a gente. Até eu. Eu sou da época que a gente usava o DRS1, né? Toda vez que eu vou lá, eu vejo, assim, mais verde, eu já fico bem orgulhoso.
01:18:52
P1 - Eu não entendi, porque eu não conheço o DRS. Como é que era e como é que ficou?
R: A gente tem dois depósitos, né? Antigamente, a gente usava um, que o nosso produto gerado aqui do processo, a gente depositava lá. Então, assim, a bauxita, o resíduo, ele é vermelho, ele cria um aspecto ruim, uma imagem ruim. Hoje, como a gente não usa mais o depósito, a gente já está com uma tecnologia nova de filtro prensa e a vida útil do depósito 1, ele já foi encerrado, a gente está fazendo a recuperação desse local e fazendo plantio de vegetação nativa, que é para recuperar o ambiente. Antigamente, aquele cenário que era todo vermelho, hoje você vai lá, você já o vê verde, inclusive com fauna. Você já encontra lá fauna, não só vegetação, mas fauna. Então, assim, é legal a gente ver isso, né?
01:19:52
P1 - Sim. Nesses 30 anos, o que o seu trabalho te proporcionou? Viagens ou shows ou alguma coisa para a sua família?
R: Já me proporcionou muita coisa legal. É lógico, além da gente ter a nossa casa, conquistar a nossa casa, o nosso carro, fazer viagens, eu conseguir fazer uma graduação com benefício da empresa, eu já pude proporcionar várias coisas para a minha família. Eu e minha esposa, nós somos super fãs do Djavan, toda vez que o Djavan vem em Belém, a gente faz questão de ir no show. Antigamente, a gente ia para o show, a gente ficava lá no fundão, e hoje não, vamos comprar uma mesa na frente do palco. Então, assim, a gente já comemorou, inclusive, aniversários de casamento no show do Djavan na frente do palco. Então, eu já pude viajar para assistir shows fora do estado. Eu já fiz uma viagem internacional trabalhando aqui, fui para Dubai. Então, são coisas que foram proporcionadas por estar trabalhando aqui na Luz Norte.
01:21:09
P1 - O que você foi fazer em Dubai?
R: Eu fui passear. Eu tenho um amigo, assim, que é irmão, que trabalha lá, e aí, ele sempre falava: “Vem aqui, vem me visitar.” “Não dá, é caro e tal. Eu falei: “Não, quer saber, vamos.” E aí, fui visitar lá, Dubai.
01:21:30]
P1 - Era férias?
R: Era férias. Eu tive que tirar umas férias para poder fazer essa viagem. Então, assim, foi surreal, uma viagem para um país que tem cultura diferente da nossa. Eu sempre sou assim, eu gosto de fazer viagens e uma das coisas que me chamam a atenção é a cultura do local. Então, eu sempre gosto de ler, estudar um pouquinho, é isso que me chama a atenção. E aprendi muito lá.
01:21:55
P1 - Então, aquele menino que queria ser caminhoneiro…
R: Queria ser caminhoneiro. E trabalho hoje na indústria aqui, na área de segurança do trabalho. E já dei umas boas voltas aí pelo mundo.
01:21: 59
P1 - Como é a sua rotina hoje?
R: Minha rotina hoje é: eu, por ser supervisor de equipes na área de segurança do trabalho, eu tenho a minha equipe, os técnicos de segurança, eu tenho técnicas de segurança, minha equipe hoje é 100% feminina. Então, cada uma dá suporte em uma determinada área operacional. E o meu papel hoje é dar suporte para elas. Então, estar presente ali, estar dando suporte no que for preciso.
01:22:28
P1 - É o paizão da galera.
R: É, tem que estar presente. Tem que estar dando suporte, orientações.
01:22:36
P1 - E quando você não está no trabalho?
R: Quando eu não estou no trabalho, eu sou muito caseiro. Eu não sou de festa, não sou de estar saindo. Eu gosto do meu cantinho. Eu já passei por várias fases. De leitura, de gostar de séries, de assistir filmes. E hoje eu estou mais na fase do YouTube. Então, eu gosto de ver muita coisa. Eu sou amante do motociclismo, eu sempre tive motos. Então, hoje eu assisto muitos vídeos voltados para viagem. E já comecei a dar os meus passos de fazer viagens longas. Então, por exemplo, eu dividi as minhas férias em dois períodos, um que é para eu poder fazer minhas viagens de moto, onde eu vou sozinho, porque às vezes não coincide com a minha família, com a minha esposa, com a minha filha. E um outro período das férias juntos. Então, a gente sempre arruma um tempo para tirar umas férias, um período para a gente viajar. E a gente gosta de viajar. Todas as férias, se a gente tiver uma oportunidade, a gente viaja, vai conhecer um estado. Tem locais que a gente já visitou várias vezes, por a gente gostar, por criar, inclusive, amizades, a gente acaba voltando sempre.
01:23:51
P1 - Esse ano já foi de férias?
R: Eu vou sair de férias agora dia 28 de julho, e eu vou para Brasília de moto. Eu fui no ano passado e esse ano resolvi repetir a dose. E em novembro nós vamos para Minas Gerais, para Ouro Preto, que é um local que a gente já foi bastante vezes, a gente gosta, a gente tem um vínculo de amizade lá muito forte. Aniversário de 50 anos de uma amiga nossa que é irmã e a gente vai para lá, está programado.
01:24:24
P1 - Aqui te deu muitos amigos de vários lugares?
R: De vários lugares. Tenho vários amigos, pessoas que vieram, trabalharam aqui e já foram embora, mas a amizade continua. Esse meu amigo, por exemplo, que mora em Dubai, ele trabalhou aqui na ALBRAS. E ele trabalha também numa indústria do alumínio lá em Dubai. E a amizade, é meu irmão, na verdade.
01:24:45
p1 - E quando você anda, você ainda encontra gente que começou junto com você? Da vila?
R: Sim, encontro, encontramos. A gente tem, inclusive, da época do Ângulo Americano, da escola, todo ano a gente faz um encontro anual de ex-alunos do Ângulo Americano. E aí a gente tem essa oportunidade de rever amigos que não moram mais aqui na região, mas sempre que podem, participam desse encontro que a gente faz. Aí é legal.
01:25:12
P1 - A casa que você mora hoje é no mesmo bairro que você morou quando chegou com a família?
R: É o Núcleo Urbano. O Núcleo Urbano é um bairro de Barcarena. Então, eu considero que é o mesmo local. Lógico, onde eu cresci, que era a casa da minha mãe e do meu pai. Hoje eu moro numa casa que fica a uns dois quilômetros de distância. Mas é pertinho, é uma reta.
01:25:52
P1 - Você acha que foi muito bom eles terem vindo para cá?
R: Sim, com certeza. Sempre que posso, eu volto lá em Primavera e faço isso, inclusive, de moto. Eu tiro um final de semana e eu vou lá. E aí eu vejo, por exemplo, pessoas que ficaram lá, que inclusive eram meus amigos de escola, que não tiveram a mesma oportunidade que eu. Então, eu vejo que a oportunidade que meu pai teve de trazer a gente para cá fez uma diferença muito grande. Muitos de lá não fizeram faculdade, trabalham ainda, alguns vivem até de roça ainda. Interior, né? Ficaram, pararam no tempo.
01:26:42
P1 - É uma outra história, né?
R: É uma outra história. E eu vindo para cá, a gente está aqui.
01:26:37
P1 - E para você, hoje em dia, então, são essas viagens. E no dia a dia, tem algum momento do seu dia com a família que você gosta?
R: Assim, quando eu chego em casa, a rotina hoje mudou um pouco, porque a minha filha foi para Belém para fazer a faculdade, mas ela está de férias. A gente sempre gosta de ficar na sala, tem alguns programas que a gente gosta de assistir. Por exemplo, esse final de semana, ela: “Poxa, pai, eu queria ver um filme. Eu queria ir ao cinema.” “Vamos.” E nós fomos, nós três. Inclusive, era a reprise de um filme, um filme que era de um desenho que ela assistia na época que ela tinha 4, 5 anos, e aí fizeram uma nova adaptação. Ela falou: “Poxa, eu quero assistir.” Aí, nós fomos para o cinema. Então, assim, a gente sempre gosta de estar fazendo esses programas.
01:27:28
P1 - E ficar perto da sua mãe também, né?
R: É, eu sempre estou perto da minha mãe, estou lá pela casa dela. Minha mãe é engraçada, ela faz questão, inclusive, que aos finais de semana, a gente vá almoçar com ela lá no restaurante, e se a gente não for, ela fica brava, ela fica chateada, fica triste.
01:27:47
P1 - Como é o nome do restaurante?
R: Tribos. Restaurante Tribos. Fica aqui na Vila dos Cabanos.
01:27:56
Tem algum prato especial nesse restaurante?
R: Tem, tem. O carro-chefe lá dela é peixe. Então, nós temos lá o filhote na chapa. Nós temos comidas típicas também, como maniçoba, vatapá e churrasco. Também o carro-chefe lá é churrasco. Comidinha com gostinho de comida caseira. Então, isso é uma das diferenças que a gente tem no restaurante dela.
01:28:27
P1 - E o jeito dela também se manter bem ativa, né?
R: É, minha mãe vai fazer 70 anos esse ano. Hoje, eu não faço mais isso, mas eu já tive um momento que eu falei: “Mãe, larga esse negócio. Vai aproveitar um pouquinho mais.” Porque restaurante dá trabalho, é acordar cedo, chega em casa já é quase final do dia, o tempo todo ali em pé, cozinha, atendimento. Mas é o que ela gosta, é o que deixa ela realmente ativa. Minha mãe passou por muita coisa, perdeu o meu pai, a minha irmã, e assim, é o que ela encontra, né? Tanto que é conhecidíssima aí na vila dos cabanos, aí na região por conta do restaurante, dessa garra que ela tem.
01:29:19
P1 - Você tem ainda algum sonho?
R: Sonho? Eu tenho. Mas assim, está mais voltado, por exemplo, ir no Ushuaia de Moto. É um sonho que eu tenho. Aí depois, pelo que eu passei, esse sonho, na verdade, assim: “Poxa, será que um dia eu vou?”. E aí, depois, pelo que eu passei, eu falo assim: “Eu vou.” É só questão de tempo, de organizar para ir. Esse é um dos sonhos. Hoje, um dos sonhos é ver a minha filhota aí formada, no curso que ela escolheu para a carreira dela. Então, esse é o sonho maior hoje.
01:30:02
P1 - E você quer ficar aqui até se aposentar?
R: Pretendo. Pretendo, né? Sempre digo assim: “O dia que a Alunorte me mandar embora, eu volto para cá numa contratada, alguma outra coisa, né? Mas, assim, não me vejo saindo daqui da região. É o que eu gosto. Não tenho, assim, não vislumbro viajar para fora, para outro estado. Não digo, assim, que nessa água eu não beberei, mas, pela minha vontade, eu permaneço por aqui.
01:30:40
P1 - E tem um plano, assim? Você está com 27 anos de trabalho. Até quando?
R: Hoje, com as mudanças que a gente tem aí, eu penso em uma previdência privada que é para dar um reforço para a gente. Hoje, a questão da aposentadoria é uma incógnita. Eu sempre digo que é uma incógnita. Mas, enquanto eu tiver força e saúde, eu quero estar trabalhando. Minha mãe é um espelho para mim, eu ainda brinco com ela, assim: “Eu queria ter essa energia que a senhora tem.” Porque tem dia que eu estou esgotado, chego lá em casa, ela está ativa. Então, assim, é um espelho para mim. Então, enquanto eu tiver energia, eu quero estar ativo também.
01:31:30
P1 - Para você, Nailson, o que vencer o câncer te trouxe de aprendizados?
R: É uma situação desesperadora para quem passa por isso, é um momento de questionamentos, “Por quê? Por que é comigo?” Mas, por outro lado, é um momento que te aproxima muito de Deus. Muito de Deus. Então, Deus sempre vai ter um propósito para a gente. E a partir do momento que eu entendi que ele me deu a cura, eu tenho esse propósito, viver a minha vida o melhor possível. Aproveitar cada momento, cada segundo, curtir a minha família, viver as alegrias da minha filha, que hoje é a minha maior inspiração. Tudo está ali. Então, quem sabe um dia eu seja um avô, né? Sei lá.
01:32:35
P1 - Você mudou muito?
R: Mudei, mudei, mudei. É impossível a gente não mudar, né? Então, por exemplo, eu sempre tive fé, eu sou católico, mas, a partir do momento que você passa por isso, e você tem o seu momento com Deus, você começa a ver as coisas de um modo diferente. Então, tudo, tudo hoje tem a mão de Deus. Então, o fato de, assim, esse ano eu voltar lá pra Brasília de moto, é que no ano passado eu já tinha o resultado da doença, né? Então, assim, são dois mil quilômetros em cima de uma moto, conversando com Deus, dentre essas conversas, esses pensamentos, eu falei assim: “Deus, se você me der uma oportunidade, ano que vem eu quero fazer de novo essa viagem, mas de um modo diferente, é realmente te agradecer.” E tem um localzinho específico que eu quero, no meio do caminho, visitar, que foi ali que eu fiz uma promessa: “E eu vou voltar aqui pra agradecer.” E essa é a minha intenção de viajar de novo para cumprir essa promessa.
01:34:06
P1 - Pode contar qual é a promessa?
R: Não, não posso. Não posso. A minha esposa também, mas eu não posso, né? Na verdade, eu fiz algumas promessas, e uma eu vou realizar agora também no dia do meu aniversário, dia 14, que é a semana que vem, que é a minha devoção à Nossa Senhora de Nazaré. Então eu tenho um encontrinho lá na Basílica de Nazaré, em Belém, no dia do meu aniversário, que vai ser importante pra mim. Esse eu conto.
01:34:41
P1 - Aí você vai lá agradecer.
R: Vou lá agradecer e vou entregar meu coração, minha alma, pra ser devoto à Nossa Senhora de Nazaré.
01:34:54
P1 - Eu fico imaginando que antes, todo mundo tá vivo e a hora de todo mundo vai chegar, né? Mas quando a gente tem essa finitude mais próxima, de alguma forma, dá uma sacudida, não dá?
R: Dá uma sacudida. Dá uma sacudida, né? Te acorda, né? Às vezes você tá numa zona de conforto e você deixa algumas coisas de lado. A fé é uma. Tô aqui confortável na minha vida, quando isso acontece, você, “Poxa, eu tô sendo egoísta, porque eu tô ali só pra mim. Eu preciso ser para os outros.” Então essa é uma das grandes viradas que a gente tem aí na nossa vida quando a gente passa por esse tipo de processo.
01:35:46
P1 - Tem alguma coisa que você começou a fazer agora, que você não fazia antes?
R: Sim, orações. Então, assim, antigamente as minhas orações eram mais vazias ou quando eu queria socorro. Hoje não. Hoje a minha fé, ela é mais espontânea realmente. Então até o fato de voltar a frequentar a igreja, de participar da comunidade da igreja, isso são coisas que eu resgatei e que hoje eu faço questão de cumprir.
01:36:25
P1 - E hoje você ficou mais carinhoso, mais amoroso? Você fala mais dos seus sentimentos, talvez, pra sua filha, pra sua mulher, pros seus amigos?
R: Sim. Antigamente o pessoal me falava que às vezes eu era muito rancoroso, eu dizia: “Mas é porque é meu jeito, que eu sou fechado mesmo.” E hoje não, assim, aprendi a chorar, não importa o local, se eu tiver que chorar, eu vou chorar. Antigamente eu segurava. Eu passei por isso quando meu pai faleceu, por exemplo, eu segurei muito, até para dar suporte pra minha mãe e pros meus irmãos. Eu ainda tinha irmãos que eram menores, eu meio que dei uma segurada, pra segurar o Rojão. Só que isso ficou. E isso vai deixar a gente um pouquinho mais fechado. E hoje não, hoje tá diferente.
01:37:11
P1 - E melhor?
R: Tá bem melhor, bem melhor. Isso me aproximou mais, inclusive, da minha esposa. A gente nunca teve problema, a gente nunca brigou, na verdade, mas trouxe mais aproximação, porque a gente conversa de Deus hoje. Então minha esposa sempre foi uma católica, praticante, tem uma fé que eu acho muito linda. E hoje a gente conversa sobre isso. Eu converso com a minha filha sobre isso. Antes eu não conversava com a minha filha sobre isso. Então hoje a gente conversa.
01:37:45
P1 - Fez um funcionário melhor, um homem melhor.
R: Tudo melhor. Dedicação aqui no trabalho. Ser um pouquinho mais, um pouquinho não, mas ser mais empático com as pessoas. Usar a minha experiência para realmente ensinar, para fazer com que até que as minhas técnicas de segurança, minha equipe, aprendam um pouco mais. Antigamente era cobrança, mas hoje não, hoje eu sou mais participativo.
01:38:27
P1 - Tem alguma história que você não me contou, que você quer me contar? Eu fui descobrindo aqui boas histórias, da Promessa…
R: Não, acho que não. Na verdade, tem muita coisa. Eu me lembro que quando eu fui fazer a minha formatura do curso de administração, eu estava sozinho, porque era um momento que a minha irmã estava em uma fase bem ruim do câncer. E no dia da minha formatura, eu não sei por qual motivo, a minha esposa não estava comigo, eu não me recordo, mas a minha família toda estava em São Paulo, cuidando da minha irmã, que ela estava passando. E no mesmo horário da minha formatura, da celebração, da colação de graus, a minha irmã entrou para uma mesa de cirurgia. Porque ela passou por um problema, ela teve que fazer uma nova cirurgia. Então, no momento que eu fiquei sozinho ali, peguei o meu diploma, o diploma veio com um gostinho meio diferente. Em momento algum eu senti uma alegria ali. A minha cabeça estava toda lá. Foi um momento meio difícil para mim. Mas a gente tem que seguir, né? Então, isso foi um momento difícil na minha vida.
01:39:46
P1 - Qual é o nome dela?
R: Era Neliane. Neliane de Paula.
01:39:49
P1 - Como que ela era?
R: Ela era a filha que trazia alegria para a família. Ela era diferente. Ela tinha uma luz. Fazia questão de reunir todo mundo. Então, assim, ela cuidava da gente. Era diferente. Tanto que o marido dela, até hoje a gente tem essa relação de cunhado. Ele é casado. A gente se chama de cunhado. Ele tem um filho hoje. Eles tinham um sonho de ter filho, não puderam. E hoje ele está casado, tem um filho, o Teozinho, que a gente reconhece como sobrinho. Temos um respeito enorme pela esposa dele, um carinho enorme também, até pelo fato dela ter entrado na vida dele e hoje estar cuidando dele e ter dado de presente para a gente o Teozinho. Para a gente é da família, independente de não ter sido filho da minha irmã, mas para a gente ele é nosso sobrinho de coração. Então, assim, esse é o legado que a minha irmã deixou para a gente.
01:41:05
P1 - A vida insiste, né?
R: Ela insiste. Ela insiste. É legal.
01:41:11
p1 - Que bom. E para você, que era um Naylson fechado. Mas não é mais. Como foi abrir seu baú de lembranças? Contar suas histórias?
R: Foi bom. Nesse processo eu aprendi muita coisa. Passei por várias coisas, aprendi a perdoar, uma coisa importante, pessoas que magoaram a minha família, pessoas que me magoaram. Um momento também sozinho, conversando com Deus, eu entendi que isso tinha que mudar. Do meu jeito, do meu modo, eu perdoei. Não sinto mais rancor. Isso, para mim, foi uma das grandes mudanças.
01:42:20
P1 - O coração segue mais leve, não é?
R: O coração segue mais leve. Hoje eu tenho um compromisso comigo, que é cuidar mais da minha saúde. Estou correndo atrás, cuidando. Então, pretendo perder peso, praticar mais atividade. É um compromisso que eu estou assumindo agora comigo mesmo.
-1:42:44
P1 - E tem uma mulher nutricionista.
R: Tenho uma mulher nutricionista. Aquela história, “o santo de casa não faz milagre”. Na verdade, a minha alimentação em casa não é ruim, ela cuida, ela é muito cuidada. Na verdade, o meu metabolismo é muito preguiçoso. E eu descobri o meu câncer fazendo exames para entender o meu metabolismo. Foi através de um exame que eu fui em um nutrólogo, o nutrólogo me encaminhou para um endócrino, o endócrino falou assim: “Olha, vamos ver aqui a tua tireoide, como é que está.” Então, foi dessa forma que eu descobri o meu câncer. Ela falou assim: “Olha, primeira fase, vamos eliminar essa coisa que está aí.” E aí, hoje faz oito meses. Faz oito meses. Aí eu estou retornando de novo agora com cuidado. Já estou curado. Já fiz a parte aí. Estou na fase hormonal, tratando do hormônio, como eu tirei a tireoide, eu tenho que estar fazendo acompanhamento agora constante. E agora eu já estou retornando de novo. Agora sim. Agora vamos dar continuidade naquilo que a gente iniciou, parou. Mas agora já está na hora de voltar.
01:44:02
P1 - Está se sentindo bem?
R: Estou me sentindo bem. Bem aliviado. O peso já foi embora.
01:44:05
P1 - Quando você acorda, dá vontade de quê?
R: Olha, a minha esposa que está feliz. Ela já até falou assim: “Poxa, você mudou mesmo.” Porque hoje eu acordo, levanto, vou fazer o café, arrumo a mesa. Antigamente eu era mais preguiçoso. Há oito meses que ela está vivendo, como ela fala: “Estou vivendo no paraíso.” Quando ela acorda, não tem que se preocupar mais com café, com mesa. Isso foi uma das mudanças. Então eu acordo já com disposição, passo o café para ela, faço questão de fazer o café, já arrumo a mesa de tomar o café com ela. E aí tomar banho e ir para a empresa. Essa é uma diferença hoje.
01:44:56
P1 - Está sorrindo mais, né?
R: Estou sorrindo mais, com certeza. Tem muita coisa ainda pela frente para viver, trabalhar e contribuir aqui também. Cuidado para as pessoas, que é o meu trabalho.
01:45:28
P1 - É o seu legado.
R: É o meu legado que eu quero deixar.
01:45:30
P1 - Muito obrigada, viu?
R: Obrigado a vocês pelo dia.
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