O meu nome é Manuel Egídio Filho, eu nasci em 11 de abril de 1936, no Estado de Minas Gerais. Vim para cá muito jovem, era garoto ainda, me criei no Rio de Janeiro e servi o Exército aqui.
Antes de entrar para a Petrobras, eu fui funcionário da Refinaria de Manguinhos, da qual saí em meados de 1957, quando fiquei desempregado. Em 1958, comecei a minha carreira na Petrobras. Comecei como auxiliar de segurança industrial, que é o bombeiro de combate a incêndio na Petrobras. Antes de se formar o quadro do Corpo de Bombeiros, eu fiquei três ou quatro meses trabalhando como vigia, mas logo que chegou o engenheiro de segurança, ele me convocou. Eu me orgulho muito em dizer que sou fundador do Corpo de Bombeiros da Reduc [Refinaria de Duque de Caxias]. Na época, era Refrio, Refinaria do Rio de Janeiro, da qual eu tenho um documento. Quando eu falo isso as pessoas perguntam: “Mas como você consegue provar?”. Tem aqui um crachazinho, era a identidade da Petrobras, que registra o cargo de auxiliar de segurança e o número 98, que é a minha primeira matrícula na Petrobras, porque mais tarde veio a ser 510040. Tenho essa identidadezinha, é algo que marca muito, eu devo ser um dos poucos que ainda tem uma desta, eu guardo com muito cuidado.
O pessoal de segurança tinha a preocupação de manter o patrimônio da empresa, que naquele tempo não era nenhum, comparando com o que temos hoje. Era aterro e não tinha nada, estavam construindo, fazendo a sondagem do terreno etc. Quando foi em nove de novembro de 1961 entrou o Refino. A Reduc começou a refinar.
Em 1962, foi criado o Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias, eu logo me filiei. Em 1964 nós tivemos a revolução, aquele golpe militar, e entrou a ditadura. O sindicato foi cassado, banido, eles prenderam líderes sindicais, alguns fugiram e foi aquela reviravolta danada. O sindicato ficou parado algum tempo, mas depois voltou a funcionar, mas sob vigia, sob a custódia da polícia do...
Continuar leituraO meu nome é Manuel Egídio Filho, eu nasci em 11 de abril de 1936, no Estado de Minas Gerais. Vim para cá muito jovem, era garoto ainda, me criei no Rio de Janeiro e servi o Exército aqui.
Antes de entrar para a Petrobras, eu fui funcionário da Refinaria de Manguinhos, da qual saí em meados de 1957, quando fiquei desempregado. Em 1958, comecei a minha carreira na Petrobras. Comecei como auxiliar de segurança industrial, que é o bombeiro de combate a incêndio na Petrobras. Antes de se formar o quadro do Corpo de Bombeiros, eu fiquei três ou quatro meses trabalhando como vigia, mas logo que chegou o engenheiro de segurança, ele me convocou. Eu me orgulho muito em dizer que sou fundador do Corpo de Bombeiros da Reduc [Refinaria de Duque de Caxias]. Na época, era Refrio, Refinaria do Rio de Janeiro, da qual eu tenho um documento. Quando eu falo isso as pessoas perguntam: “Mas como você consegue provar?”. Tem aqui um crachazinho, era a identidade da Petrobras, que registra o cargo de auxiliar de segurança e o número 98, que é a minha primeira matrícula na Petrobras, porque mais tarde veio a ser 510040. Tenho essa identidadezinha, é algo que marca muito, eu devo ser um dos poucos que ainda tem uma desta, eu guardo com muito cuidado.
O pessoal de segurança tinha a preocupação de manter o patrimônio da empresa, que naquele tempo não era nenhum, comparando com o que temos hoje. Era aterro e não tinha nada, estavam construindo, fazendo a sondagem do terreno etc. Quando foi em nove de novembro de 1961 entrou o Refino. A Reduc começou a refinar.
Em 1962, foi criado o Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias, eu logo me filiei. Em 1964 nós tivemos a revolução, aquele golpe militar, e entrou a ditadura. O sindicato foi cassado, banido, eles prenderam líderes sindicais, alguns fugiram e foi aquela reviravolta danada. O sindicato ficou parado algum tempo, mas depois voltou a funcionar, mas sob vigia, sob a custódia da polícia do Exército.
Depois veio o Fernando Henrique, na gestão do Nilson Viana Cesário, que era o presidente do sindicato, que lutava muito pelos nossos direitos. Mas o Fernando Henrique veio e massacrou o sindicato. Cassou, aplicou uma multa altíssima, que o sindicato ficou sem poder caminhar; não tinha como entrar dinheiro na conta do sindicato. Somente mais a frente que veio a anistia. Com o fim do governo Fernando Henrique, o sindicato entrou com uma ação, pedindo uma anistia ao congresso, que conseguiu nos anistiar, nos libertar daquela escravidão. O Fernando Henrique foi um presidente que marcou muito os petroleiros. Eu não sou simpático à política dele, foi um transtorno danado no Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias.
Em 1964, os líderes sindicais foram presos, alguns fugiram e nós ficamos sob intervenção. Eu era filiado ao sindicato e trabalhava. Existia uma lei, não sei se era do sindicato, eu não me lembro, que dizia que a minha função não poderia participar das greves dos movimentos sindicais. Quando tinha qualquer movimento que fosse parar, fazer qualquer coisa, o pessoal da segurança industrial – o bombeiro –, a segurança patrimonial – a vigilância – e o serviço médico eram liberados para entrar no trabalho. Entrávamos normalmente, existia essa compreensão. Hoje não, hoje está todo mundo junto.
As nossas reivindicações eram para aumento salarial, problemas de acidentes, direito a tratamento de saúde, direito à Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes] – para participar e funcionar. Esses eram os direitos que nós reivindicávamos.
Nós participávamos das assembléias que eram no Sindicato ou, às vezes, lá na porta da empresa. Eu sempre ia quando estava de folga ou de licença, porque trabalhando não podia sair para participar. O sindicato fazia a pauta de reivindicação e nós votávamos, depois apresentavam à empresa a nossa decisão.
Eu entrei na formação do Sindicato em 1962, quando nós criamos a associação. Todos os que estavam trabalhando tiveram que preencher uma ficha de filiação. Eles nos chamavam para se filiar, davam a ficha e nós assinávamos. Sempre foi algo com liberdade. Eu me filiei porque mesmo sem entender de política e até de sindicato, a gente conversava com os outros companheiros e eles diziam que seria uma boa se filiar para ter alguém para lutar por nossos direitos, nosso trabalho, aquela coisa toda. Achávamos por bem se filiar. Como também tinha muita gente que não queria se filiar a Petros, que foi bem mais a frente, mas também é Petrobras.
A Petros é uma instituição que garante o nosso pagamento, faz a nossa folha de pagamento e complementa o nosso salário, junto ao INPS [Instituto Nacional de Previdência Social]. Quando criaram a Petros em 1970, muita gente não queria: “Ah, eu vou pagar para ter direito?”. Eu achei que deveria pagar, para ter o direito de aposentar e ter complementação de salário. Nós somos obrigados a pagar para ter direito, porque só pagando você tem direito, realmente. O sindicato não era diferente. Lá atrás nós víamos que havia necessidade de ter alguém para discutir para gente lá na frente. Eu achei por bem pagar e sugeri para os companheiros que pagassem também. Eu não me lembro de ter havido muita intervenção do sindicato em relação à Petros, alguns diretores sugeriram que seria uma boa se filiar. Naquela época quase ninguém pensava em aposentar, estava muito cedo ainda, tinha pouca gente e nem tínhamos idade. A Petrobras emprestava dinheiro para nós, do cofre dela. Falaram o seguinte: “Isso vai passar para responsabilidade da Petros, que vai emprestar dinheiro sem juros ou com juros baixíssimos.”. Quer dizer, começamos nos interessar. “Bom, vou ser sócio da Petros, ela vai emprestar dinheiro, para construirmos e arrumarmos a nossa vida”. E assim nos filiamos a Petros. Conversamos com pessoas mais esclarecidas, participamos de palestras e fomos nos convencendo que seria uma boa. A maioria se filiou, muitos poucos ficaram fora, pelo menos no ambiente em que eu vivia.
Eu entrei para direção do sindicato quando eu já estava aposentado. Eu me aposentei na empresa em 1986. Em 1998, um companheiro muito meu amigo me perguntou: “Você está fazendo o quê?” “Eu não estou fazendo nada. Eu fiz algumas viagens e agora estou parado.” “Eu vou fazer um convite para você: Não quer participar da eleição do sindicato para ser diretor? Eu quero colocar pessoas na direção do sindicato que trabalharam com a gente na refinaria. Vocês conhecem o trabalho, as pessoas.” “Está bom”. Eu fui com ele, e ele falou: “O sindicato é uma instituição criada por nós, que vela pelos nossos direitos, nós temos empregados a quem pagamos salário, INPS, tudo direitinho, mas aos diretores nós não assinamos carteira e não damos direitos sociais, mas nós damos uma ajuda de custo para se manter, calçado, roupa, alimentação”. Foi uma porção bem irrisória, bem pouquinho, só para se manter. Eu participei porque também era uma atividade – sem atividade envelhecemos mais rápido. O ser humano tem que ter uma atividade. Nessa minha andança, de 1986 a 1998, eu fiz tudo o que tinha que fazer em relação a andar, passear, viajar etc. Eu estava precisando de alguma coisa para encher o espaço. Eu fui para o sindicato em 1998. Muito trabalho. Teve muita madrugada que nós saímos de casa para o sindicato, do sindicato para refinaria, indo meia-noite para a refinaria para conversar com os companheiros sobre a questão de greve ou de algum movimento. Mas eu me sentia bem, e me sinto bem até hoje, por isso eu estou no sindicato, porque gosto da instituição, dos companheiros, do trabalho etc.
Na eleição de 1998 o nosso presidente era o Nilson Viana Cesário, que hoje está afastado, não é o mais presidente. Teve a eleição, nós ganhamos e ficamos três anos. No final de três anos, houve a eleição, ele foi reeleito, fiquei mais três anos com ele, seis no total. Aí veio outro companheiro, o Fonseca – nome de guerra –, Luís Carlos Fonseca. Ele veio como substituto e ficou conosco mais três anos. Atualmente o presidente é o Simão Zanardi Filho, também foi reeleito e fica no comando até 2011. Em 2011 deveria haver eleição, mas houve um problema nessa última eleição, porque tinha três chapas disputando. Em abril de 2007, nós ganhamos a eleição, mas a chapa três entrou com protesto, dizendo que a eleição tinha sido ilegal, que a gente tinha parado a eleição e voltou a eleição sem avisar, coisa e tal. Teve um problema, foi pra justiça, aquela coisa, e o sindicato ficou praticamente com intervenção. Todo mundo ficou no sindicato, mas só quem poderia assinar a documentação era quem estava na gestão anterior, quem entrou na atual não poderia assinar nenhum documento. Passou aquele tempinho e a justiça, uma juíza, achou por bem o sindicato fazer uma nova eleição. Nós fizemos essa nova eleição, que foi agora no final do ano passado, e conseguimos ganhar de novo; confirmou-se que tínhamos ganhado a eleição. A chapa dois foi reeleita. Agora estamos no mandato certo. Pela lógica teríamos que sair em 2012, mas não sei como vai ficar, já foi falado no sindicato, mas não está bem. Quando ficar mais próximo nós provocaremos esse assunto para ver se a reeleição vai ser em 2011 ou 2012. Eu diria que a reeleição deveria ser em 2012, porque houve a impugnação e ficamos parados. Embora tivéssemos tocando o trabalho no sindicato não tínhamos liberdade total, por causa da justiça.
A direção executiva do sindicato prepara os boletins; eu não escrevo os boletins, nós ajudamos a conferir. Nós temos uma gráfica própria, rodamos o boletim e começamos, normalmente, na parte da manhã a distribuir. Todos os diretores são convocados a comparecer à base. Nós damos transporte, nós vamos para base distribuir o boletim de mão em mão, a cada funcionário da empresa, na entrada da refinaria. Os funcionários aceitam bem o sindicato, graças a Deus. Não tem nenhum problema. Somos nós que convocamos as assembléias. Tem o turno e a HA [horário administrativo]. Quem toca a refinaria, a produção, é o turno. Se o turno parar e cruzar os braços, pára a refinaria, porque o administrativo não toca a refinaria. O turno está bem ligado ao sindicato, o turno é o sindicato, o sindicato é o turno. A nossa base é a Refinaria Duque de Caxias, mas também temos filiados de outras unidades próximas, como o pessoal do oleoduto Rio-Belo Horizonte. Nós fazemos assembléias com eles e explicamos em que ponto está o movimento sindical. Em Duque de Caxias, nós temos também o sindicato da construção civil. Temos um relacionamento bom, tem épocas que tem um querendo estranhar com o outro, mas isso é só política. O sindicato da construção civil opera na área da Refinaria Duque de Caxias, os associados dele são os terceirizados que trabalham na empresa. Existem outros sindicatos, mas o forte mesmo na refinaria é o sindicato dos terceirizados e o dos petroleiros.
Eu participei das greves depois que eu entrei no sindicato. Como expliquei inicialmente, quando eu estava na ativa não participava das greves porque o sindicato e a Petrobras diziam que nós deveríamos zelar pelo patrimônio. Depois que me aposentei o pessoal da segurança industrial e patrimonial começou a participar das greves também. Depois que me aposentei, participei também de algumas greves da refinaria junto aos companheiros. Nós guardamos lembranças de todas as greves, porque existiram greves e movimentos na refinaria em que houve intervenção da polícia militar. Alguns companheiros foram presos e levados para a 60ª DP, em Campos Elíseos, e precisou da intervenção de um deputado estadual para haver a libertação. Toda vez que vai haver reivindicação, que vai fazer greve, tem problema. Sempre somos cercados pela Polícia Militar, vão quatro, cinco, seis, dez. Um exagero, às vezes, tem até dez camburões da polícia militar. Muita polícia para conter um monte de bandido (risos). Como se a gente precisasse de tanto segurança ali. Para quê? Todo mundo é petroleiro, sabemos o que estamos fazendo. Sabemos que é uma empresa nacional, uma empresa nossa. Eu não sei qual é a preocupação da polícia. Mas estamos sempre lá, não tem por que a gente dizer que não vai fazer o movimento.
Nós fazemos assembléia na porta da refinaria com todos os grupos de turno, mais o HA, mais o DTSE [Dutos e Terminais do Sudeste] . Nós formulamos os pontos de pauta e nossas reivindicações. É dado o direito aos companheiros falarem sobre o que nós estamos propondo. Depois, marcamos o dia que vai iniciar a greve, normalmente, a zero hora. O turno que começa a zero hora vem e volta, os carros entram vazios, eles descem no arco, fazemos a assembléia, e eles aguardam o tempo. A refinaria manda os carros de volta, o pessoal põe o carro ali na porta e vai embora para casa. Depois, o outro turno vem e volta também. Tem sempre aquelas pessoas que nós chamamos de pelego, que são os que furam a greve. Às vezes, um ou dois tentam entrar, ou entram. Mas nós fazemos o nosso movimento. O prazo é determinado: cinco, dez dias de greve. Nesse ínterim, o sindicato vai se reunindo e vai vendo a necessidade da greve se estender mais a frente ou não. O pessoal faz a avaliação dos acordos que a Petrobras propõe, e vê se a greve deve seguir ou não. Teve uma greve que eu me lembro, quando o Nilson Cesário era presidente, que nós estávamos impedindo o pessoal e os ônibus de passarem, fazendo o pessoal descer e não ir até o arco de ônibus. Teve um coronel da Polícia Militar que deu voz de prisão ao Cesário por duas vezes: “Você está preso”. Não, ele não deu ordem de prisão, ele falou: “Eu vou te dar voz de prisão.” Mas não deu porque o movimento estava muito quente e ele viu ia ter uma briga danada ali, porque tinha muito petroleiro. Mas ele ficou ameaçando o tempo todo. O presidente do sindicato não acreditou naquilo que ele falou e tocou o movimento. No peito e na raça. É muita agitação, a adrenalina vai a mil por hora. Tem horas que estamos ali, mas sabemos que corremos risco de ser baleado, espancado. Mas nós temos esta missão e não podemos ter medo, temos que ir em frente, ir para cima. É igual a linha de combate de incêndio. O bombeiro é a pessoa que vai ter disposição de ir para cima do fogo, não pode afrouxar.
Eu gosto de participar das assembléias, da distribuição de material do sindicato. Eu gosto de todas as atividades do sindicato e por isso eu estou lá. Não tem salário, não tem nada, mas eu estou lá porque gosto. É uma atividade, eu estou sempre junto. A política sindical é a política do trabalhador. Tem alguns companheiros que dizem que o sindicato não é partidário. Outros dizem: “O sindicato é partidário”. São opiniões diversas. Na minha concepção, o sindicato é político, partidário. Eu vejo assim. Eu sou PT, sou filiado, tenho apoiado a política do PT e acho que o sindicato tem que ser partidário sim. Porque nós lidamos com a empresa e é um envolvimento que às vezes dá problema político, dá polícia, essa coisa toda. Tem que ter amparo também. As coisas também só se resolvem se forem com política, com política partidária. Eu me filiei há algum tempo ao PT, não me lembro quando foi, mas deve ter mais de dez anos. Fiz carteirinha, fiz tudo, pago mensalidade, me sinto bem.
Existe uma diferença de ser um sindicalista dentro de uma empresa de governo. Às vezes, você pode sofrer uma ameaça, uma repreensão, mas ainda assim é um órgão público, não é como uma empresa particular. Nós tocamos a política normalmente. Tudo o que nós temos de fazer, como sindicato, nós fazemos. Toda reinvindicação que está ao nosso alcance, nós fazemos. Não temos nenhum constrangimento.
Durante o governo do Fernando Henrique, nós fizemos uma greve de 32 dias. O governo pediu para pararmos a greve; o sindicato achou por bem não parar porque não estava sendo atendido nas suas reivindicações. O governo jogou muito duro, não teve nenhum diálogo. Depois de várias assembléias, chegamos a conclusão de cessar a greve. O sindicato falava: “Não podemos acabar a greve sem consultar a categoria. E a categoria é consultada a cada 24 horas. A categoria é quem está com a greve, quem faz a greve. São as pessoas que estão trabalhando. Temos que estar constantemente em contato com eles para saber até quando nós vamos levar a greve, até quando nós podemos resistir.” Foi marcante para todos nós.
Eu acho que o governo Lula mudou muita coisa. Neste governo, na minha concepção, melhorou muito, de um modo geral. Acho que no país inteiro. Mas política é aquilo, em minha opinião melhorou, para outro, piorou. Eu estou satisfeito, com os dois mandatos. Seja com o Lula ou outro qualquer, o governo não pode falar que vai dar tudo o que nós pedimos. Tem que discutir, tem que conversar. Com o Lula nós também temos a nossa reivindicação, a administração dele também nos força, não dá de mão beijada. Temos que fazer greve, se movimentar. O governo é nosso, é do trabalhador, mas não é também porque é do trabalhador que se pode fazer o que bem entende no país. Não é assim. Eu acho que nem deve ser assim. O governo Lula é o melhor que o povo teve. Para falar do governo Lula tem que falar dos outros governos. Eu nem vou falar dos outros governos citando nome de ninguém, mas vou dizer que sempre teve aqueles problemas políticos de roubar o dinheiro público. Isso sempre existiu, no mundo todo existe essa desonestidade, não é todo mundo honesto, seria muito bom se todos fossem honestos. Mas o governo Lula foi o único governo que deixou os caras aparecerem, dizendo: “Não vou dar cobertura”. Saiu muita gente suja do governo. E nos outros governos, será que saiu alguém sujo? Acho que muito pouco ou nenhum. Com o Lula não tem esse negócio de ficar apadrinhando: “Ah, esse aqui é o meu afilhado, não pode”. Muitos dizem que o período que se teve mais ladrão foi no governo atual, eu não concordo, acho que não se deu cobertura, por isso eles apareceram mesmo.
Nos movimentos sindicais, todos eles, nós sempre esperamos ter uma conquista. Eu não saberia apontar um único momento. Mas na atual presidência, do Simão Zanardi Filho, temos tido uma conquista mais saudável, com uma melhor compreensão de todos. Na repactuação o sindicato está envolvido também para nos ajudar. O que é a repactuação? Na verdade é separar o pessoal aposentado do pessoal da ativa. Todos nós repactuamos. É uma política, tem direito, coisa e tal. Eu acho que a repactuação foi bom para todos. Eu repactuei. Todos os movimentos sindicais, todos eles, são bons, dos mais agitados aos mais calmos. Todos eles têm um só objetivo, que é procurar alcançar o melhor para os nossos associados.
O meu trabalho no sindicato é praticamente de voluntário. Eu tenho um compromisso, mas se tiver problemas com família nós telefonamos para um amigo e justificamos a nossa ausência. Ficamos liberados imediatamente.
Nós estamos apontando uma greve de cinco dias. Pensei que tivesse trazido o boletim, mas não trouxe, devia ter trazido. A Petrobras está com um problema sobre PLR [Participação nos Lucros e Resultados] e também sobre alguns acidentes e mortes que tem ocorrido. O sindicato está achando que é um descaso da empresa.
Eu agradeço muito a Petrobras, eu sou muito agarrado à empresa e há uma razão para isso. Eu entrei para a empresa com 21 anos, muito jovem ainda, e criei a minha família na Petrobras. Eu defendo a Petrobras porque faz parte da minha vida. Eu fiquei velho na Petrobrás, eu não fui para lá velho, eu fui para lá garoto. Eu vi crescer a refinaria. Tudo o que você vê ali na Reduc, até 1986, eu vi fazendo. Todo dia eu chegava lá e olhava o que tinha feito de novidade. Era obra dia e noite. Foi muito bom, é algo que recordo sempre, tenho muita lembrança do tempo da minha juventude. Aqueles trabalhos na obra, muito barro, a gente amassando barro, lama, era muita cobra, muito cachorro do mato. Tinha de tudo (risos). As pessoas também eram completamente diferentes de hoje. Tinha muitas pessoas do interior mesmo, lá de cima, mais da roça. Era muito diferente. O trabalho era muito bravo, muito ruim mesmo. Só serviço braçal, serviço pesado, não tinha máquina para nada. Os carros atolando naqueles brejos, uma complicação danada. Hoje é tudo asfaltado, limpinho, iluminado.
Caxias continua sendo Caxias. Eu não sou PSDB e nem voto PSDB, mas o melhor prefeito de Duque de Caxias foi um prefeito desse partido, por incrível que pareça. Na cidade sempre entrou muito dinheiro, é a oitava cidade em arrecadação no Brasil, segundo eu soube. Era uma cidade largada. Nos mandatos do PSDB lá atrás, a cara de Caxias foi mudada. Hoje é uma cidade completamente diferente. Está limpa e civilizada.
Em 1960, quando implantaram a Reduc não tinha nada. Não tinha nem água. Tinha que pegar água lá na Ilha do Governador para a refinaria. Levava e enchia depósito. A Petrobras comprou um Chevrolet Marta Rocha, caminhão pipa de 5 mil litros, e o motorista ia na Ilha para apanhar água e levar para o depósito, para depois distribuir, botar nas caixas lá dentro da obra da Reduc. Nós bebíamos água de poço, e era boa, não podíamos reclamar. Não tinha outra para beber. Não tinha comida, em 1958 e 1959 não tinha comida. Levávamos uma marmita e se trabalhássemos 24 horas, ficávamos sem comer. Depois, em volta da refinaria, começaram a fazer aquelas barracas de madeira, vendendo comida, sem água, sem luz, sem nada. Era uma coisa de doido. (risos). Às vezes, nós íamos lá para jantar porque não tinha outro lugar. Ou comia aquela comida, ou ficava com fome. E quem foi de um Exército, da Infantaria brava, como eu fui, qualquer comida é comida. Nós estávamos acostumados a tudo (risos). Pior que era boa. Vinha muita gente de fora trabalhar em Caxias. Tinham muitas brincadeiras, encarnação, aquela coisa toda. O Cesário, certa vez, fez um abaixo-assinado em Duque de Caxias, para os caxienses assinarem, com o número do título. Porque você só prova que mora no lugar com o título de eleitor. É um documento que você não pode forjar. Você vai votar naquele local, não é isso? Carteira de identidade, de motorista, você pode tirar em qualquer lugar, você pode trocar. Ele recolheu um determinado número de assinaturas para que nós passássemos uma lei orgânica na Câmara, para que 60% dos empregos da Reduc fossem para as pessoas que morassem em Duque de Caxias. Mas não chegamos a colher as assinaturas necessárias para a lei, então não foi feita. Esse abaixo-assinado foi feito entre 1990 e 2000. Seria uma boa lei. Em toda cidade do país deveria trabalhar aquelas pessoas que nascem e moram naquele local. Na Reduc trabalha muita gente de fora, e até de outros estados.
Eu acho que foi muito bom, foi uma participação que eu não esperava. Depois, eu queria ver se falei algo que não fosse necessário, porque começamos a falar e, às vezes, nos perdemos por falta de conhecimento no assunto. Mas eu espero que dê para tirar proveito do tempo que fiquei aqui com vocês. Muito obrigado.
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