IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Karina Cox Hollos. Eu nasci no dia cinco de março de 1971, no Rio de Janeiro.
FAMÍLIA
O meu pai se chama Francisco Bela Hollos, e minha mãe se chama Leida Cox Hollos. Meu pai era húngaro, nascido em Budapeste, mas se tornou carioca porque viveu no Rio por mais de 30 anos. E a minha mãe sim, essa é carioca, nascida em Copacabana, inclusive. Bem carioca da gema. Meu pai era um restaurador de obras de arte. E a minha mãe é uma arquivologista e também foi professora de português por muitos anos, porque ela é daquela época dos anos dourados cariocas onde o must era estudar na Escola de Educação, então ela se tornou uma professora. E aos 40 anos decidiu então fazer uma faculdade, escolheu a Arquivologia, não sei dizer o porque. [Eles se conheceram] no Rio de Janeiro. É uma história da qual a gente tem pouca memória na minha família. Mas, principalmente por conta da Segunda Guerra Mundial. Meu pai era bem mais velho que a minha mãe. Minha mãe quando se casou com ele tinha 20 anos, ele 39, então existe uma diferença grande de idade. Na época da Segunda Guerra ele já era um jovem, já tinha a profissão dele e, segundo ele nos conta, ele não aguentou ver a mudança de regime econômico, a questão do socialismo, a questão da Guerra na Europa, e ele decidiu, como muitos outros, migrar para as Américas, logo após o término da Segunda Guerra. [Ele] veio sozinho. E tem uma lenda, que a gente não sabe se é verdade, mas no mínimo é uma história interessante, que ele era um engenheiro elétrico, o que hoje em dia já não existe mais, mas na época então ele veio para o Brasil já com o emprego definido em São Paulo, que estava começando a se industrializar na década de 1950. E quando o navio – na época era navio – fez escala no Rio de Janeiro, ele viu a Baía de Guanabara e falou: “Eu não vou morar em São Paulo coisa nenhuma, eu vou ficar no Rio porque esse lugar é lindo”. E segundo consta, ele...
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Meu nome é Karina Cox Hollos. Eu nasci no dia cinco de março de 1971, no Rio de Janeiro.
FAMÍLIA
O meu pai se chama Francisco Bela Hollos, e minha mãe se chama Leida Cox Hollos. Meu pai era húngaro, nascido em Budapeste, mas se tornou carioca porque viveu no Rio por mais de 30 anos. E a minha mãe sim, essa é carioca, nascida em Copacabana, inclusive. Bem carioca da gema. Meu pai era um restaurador de obras de arte. E a minha mãe é uma arquivologista e também foi professora de português por muitos anos, porque ela é daquela época dos anos dourados cariocas onde o must era estudar na Escola de Educação, então ela se tornou uma professora. E aos 40 anos decidiu então fazer uma faculdade, escolheu a Arquivologia, não sei dizer o porque. [Eles se conheceram] no Rio de Janeiro. É uma história da qual a gente tem pouca memória na minha família. Mas, principalmente por conta da Segunda Guerra Mundial. Meu pai era bem mais velho que a minha mãe. Minha mãe quando se casou com ele tinha 20 anos, ele 39, então existe uma diferença grande de idade. Na época da Segunda Guerra ele já era um jovem, já tinha a profissão dele e, segundo ele nos conta, ele não aguentou ver a mudança de regime econômico, a questão do socialismo, a questão da Guerra na Europa, e ele decidiu, como muitos outros, migrar para as Américas, logo após o término da Segunda Guerra. [Ele] veio sozinho. E tem uma lenda, que a gente não sabe se é verdade, mas no mínimo é uma história interessante, que ele era um engenheiro elétrico, o que hoje em dia já não existe mais, mas na época então ele veio para o Brasil já com o emprego definido em São Paulo, que estava começando a se industrializar na década de 1950. E quando o navio – na época era navio – fez escala no Rio de Janeiro, ele viu a Baía de Guanabara e falou: “Eu não vou morar em São Paulo coisa nenhuma, eu vou ficar no Rio porque esse lugar é lindo”. E segundo consta, ele desceu do navio meio clandestino, pegou a mala dele e fugiu do navio, e largou o emprego em São Paulo e começou uma vida aqui. Daí ele montou uma oficina de conserto de televisão, porque as pessoas estavam começando a comprar TV, mas ninguém consertava ainda, e ele ganhou muito dinheiro com isso. Era a única oficina de TV do Rio de Janeiro (risos). A minha mãe era neta de uma costureira que gostava muito de jogar bridge, também uma coisa da época aí dos anos 1950. Era um jogo muito famoso, e existiam clubes de bridge no Rio de Janeiro, um deles era um clube da comunidade húngara. Então a minha mãe, indo acompanhar a mãe e a avó nesses jogos... Enfim, existia ali uma social qualquer, típica da cidade, ela conheceu o meu pai, que por ser húngaro, também frequentava o clube húngaro e daí eles se conheceram.
Não conheci meus avós paternos. Conheci [os avós maternos]. Minha avó materna se chamava Lúcia, e meu avô se chamava Frank. Ele era também um imigrante. Eu costumo dizer que eu sou viralata, porque eu sou a mistura de muitas raças. O meu avô veio de Barbados, da ilha que era colônia inglesa na América Central. E veio para o Brasil criança ainda, com os irmãos, e foram morar, se eu não me engano, no Pará. De lá veio para o Rio de Janeiro e aqui fez a vida, conheceu a minha avó, que também é uma carioca e aí surgiu então a minha mãe. Meu avô teve uma daquelas carreiras típicas também dessa geração que hoje em dia já não existe. Ele começou como office-boy de uma multinacional, a Esso, porque ele falava inglês, era um dos atributos dele, era ser um jovem bilíngüe. E aí fez carreira e se aposentou como diretor da companhia.
Tenho, tenho duas irmãs mais velhas, Lilian e Adriana. Sou bem caçula, eu nasci nove anos depois da minha segunda irmã. É, um pouco [paparicada] (risos), já encontrei muitos caminhos abertos, as minhas irmãs romperam algumas fronteiras e eu me beneficiei disso.
INFÂNCIA
Sempre morei em Copacabana. Eu cresci ali num lugar chamado Guimarães Natal, eu morava em [uma] casa, o que foi muito bacana. E sempre vivi ali por Copacabana, pelo Posto Seis, estudei em Ipanema no Notre Dame, sou uma típica menina bem da Zona Sul do Rio. Até me perco um pouco quando saio dessa região da cidade, mas enfim, sou daqui. Era uma casa grande, uma casa gêmea, tinha um pedaço igual ao outro. E eu me lembro dessa casa, tinha um bom quintal, e uma das coisas que eu mais me lembro era que meu pai era um cara muito excêntrico e ele construía barcos, ele mesmo, era uma das coisas que ele sabia fazer na vida. Então ele construiu o próprio barco no quintal e depois passeava de barco, ele fazia pesca submarina. Eu me lembro daquele barco como meio um playground, porque a gente brincava lá dentro eu e minhas irmãs, porque era uma coisa esquisita: um barco no quintal. Eu não me lembro muito por conta dessa diferença de idade, as minhas irmãs é que aproveitaram mais essa coisa da casa, porque eu acho que com sete, oito anos nós nos mudamos. Então eu perdi um pouco essa referência e me tornei uma cosmopolita de apartamento, no Posto 6, na Raul Pompéia. [Meu pai] inclusive aposentou também a pesca, porque ele já não tinha mais idade pra mergulhar. Eu me lembro que foi lá que eu aprendi, por exemplo, a brincar de bicicleta, aí andava na garagem do prédio. Quando fiquei mais craque, que tirei a rodinha, pude dar a volta no quarteirão. Eu lembro que tinha um parque que eu ia muito, chamava Parque da Baleia, um dia inclusive a Baleia pegou fogo, e aí deixou de ser aquela referência. Mas era um parque que tinha ali próximo da minha casa. Inclusive, depois eu fiquei sabendo que é um lugar de educação de trânsito, onde as crianças aprendem a atravessar a rua, as regras de trânsito. Eu me lembro de ser o meu quintal esse parque.
ESCOLA / PROFESSOR
Nessa época eu estudava num outro colégio em Ipanema chamado Fontainha, era um colégio pra até, sei lá, quarta, quinta série, uma coisa assim. Depois, eu fui para o Notre Dame, também em Ipanema. Eu era aquela bem cdf, bem certinha. Cheia de estrela no caderno, eu era comportada. Foi legal. Eu me lembro da minha professora, acho que de segunda série, eu sempre fui muito competitiva, e eu me lembro que no início do ano eu fiquei doente então eu perdi um pouco de aula. Daí eu cheguei na sala de aula, depois das aulas terem começado, eu já tinha um monte de matéria acontecendo e ela tirava lição do pessoal, pra ver se o pessoal tinha estudado no dia anterior, e eu, obviamente, não sabia nada do que tinha acontecido e aí não pude ganhar a minha estrela (risos). E aí aquilo me deu uma vontade de estudar, e eu me lembro que naquele ano eu fui a melhor aluna da sala, premiadíssima. Então eu me lembro dessa professora que me estimulou a estudar bastante. [O nome era] Marina.
INFÂNCIA / JUVENTUDE
A gente tinha uma vida bem mansa. A minha mãe sempre trabalhou muito, o meu pai já tinha uma vida diferente porque ele tinha um ateliê dentro de casa, ele era restaurador, então ele trabalhava em casa. Então era o contrário, meu pai trabalhava em casa e a minha mãe saía pra trabalhar. O meu pai era quem cozinhava em casa e nós tínhamos duas babás, duas empregadas que hoje se tornaram pessoas da família, como acontece bastante, por passarem muitos anos com a gente. E aí ninguém fazia nada, tinham duas pessoas pra cuidar de tudo. Eu lembro que eu brincava com as minhas irmãs, a gente costurava uns saquinhos de areia e ficava jogando, não sei o nome disso. Você joga pra cima um e tem que... [Não sei o nome], mas eu brincava muito disso e claro que eu perdia muito pra elas. Acho que isso até acirrou a minha competitividade, lembrando disso agora eu estou fazendo esse link, porque como elas eram mais velhas eu precisava correr atrás pra poder brincar junto, na mesma medida. [Eram] 11 anos [de diferença para a irmã mais velha]. Eu acho que eu era quase uma filhinha.
ESCOLA
Eu fui para o Notre Dame, depois eu me mudei para o Princesa Isabel, e aí foi o pior período da minha vida, porque começa aquela questão de que você tem que passar no vestibular, você tem que decidir o que você quer fazer da vida, e aí as coisas começam a ficar muito chatas. Eu, aliás, acho um absurdo você impor isso a um adolescente de 15, 16 anos, é muito pesado. Já é difícil ser adolescente, você ainda tem essas decisões muito definitivas pra tomar na vida, então as minhas memórias dessa época não são as melhores. [Isso] era da estrutura do colégio. Eu estudava no Princesa Isabel, que era considerado um colégio que preparava muito bem para o vestibular, e eles queriam ter um ranking de alunos que eram aprovados em primeiro lugar não sei aonde, então existia uma fórmula muito competitiva, muito chata lá dentro. Tinha que ser o melhor, estudar, tirar boas notas, e o aprendizado efetivo ficava em segundo plano. A gente era craque em fazer bem provas de múltipla escolha, em ver as pegadinhas da prova, eu realmente não gostei muito dessa fase não. Era o Científico.
FAMÍLIA / FORMAÇÃO
Lá a gente sempre foi muito livre. A minha irmã mais velha é fonoaudióloga, minha irmã do meio é museóloga e eu escolhi comunicação social. Eu tive tanta dificuldade em escolher que foi nesse colégio, fazendo um psicotécnico que aí eu percebi que eu tinha algum talento aí pra essa questão da fala, da comunicação. [Não tinha idéia] nenhuma. Eu cheguei a querer fazer Matemática (risos). [Eu] era boa em matemática, era muito boa de português, eu escrevia bem então isso me dava uma boa navegação por qualquer outra coisa. [Quando] você gosta de ler, entende bem, fica fácil estudar história e geografia. Eu na verdade também não optei (risos). Sou pisciana, eu sou indecisa. Eu comecei fazendo jornalismo na escola. Porque, na verdade, o curso de Comunicação, nos dois primeiros anos você não opta, você faz um básico, que é igual para todo mundo. Escolhi jornalismo, achei uma besteira o curso de jornalismo, fiz um ano, achei um saco. E aí eu não tinha outra opção, tive que migrar pra Publicidade. Eu fiz uma faculdade chamada Hélio Alonso, uma faculdade de comunicação típica aqui, que fica aqui em Botafogo. Aí fiz Publicidade. Eu não gostei da possibilidade, primeiro, porque eu sempre fui muito objetiva, então eu tentava entender como eu ia aplicar aquilo. E aí eu não me via numa redação de jornal, com aquele estresse de fechar matéria, e ter que editar, então aquilo já não me comovia muito. A forma como a faculdade também ensinava Jornalismo era uma coisa meio de oficina o tempo todo: “Faz um texto pra rádio, faz um texto pra isso, faz um texto pra aquilo”. Eu achava aquilo um pouco chato. Eu acho que a própria faculdade não me deu uma boa visão do que é o Jornalismo, porque hoje com a minha experiência profissional, naturalmente, eu percebo que o Jornalismo tem uma possibilidade no meio da Comunicação muito maior do que eu percebi quando tinha 19 anos. E eu não gostaria de trabalhar em Jornalismo ainda, mas respeito enquanto uma ferramenta de Comunicação, sem dúvida. Eu apresentei os créditos, aproveitei alguns. Eu perdi aí um tempo na faculdade, porque eu tive que cumprir mais créditos.
PRIMEIRO EMPREGO
Eu demorei muito a me formar, na verdade. Porque aí o que aconteceu? No meio da faculdade eu resolvi passar pra Publicidade, o meu pai faleceu e, enfim, aí foi um momento difícil na minha vida e eu acabei resolvendo ir morar em Portugal. Eu tranquei a faculdade e saí do Brasil com 20 anos de idade, resolvi sair de casa e fui. Acho que fui viver um pouco do meu pai, fui querer ser uma imigrante, saber como é que era. E aí eu passei cinco anos fora, fazendo uma outra faculdade que é a da vida, da gente aprender a saber quanto custa a conta de luz, de gás e quando eu voltei é que eu fui me formar. Aí reabri a matrícula e fui me formar. Então eu fiz a faculdade em dois períodos. Eu tenho uma amiga de infância de origem portuguesa, os pais são portugueses, ela já morava em Portugal, e tinha outros amigos que estavam na Europa, ou em Portugal, ou em outros países e eu resolvi ir pra lá porque seria um ponto mais fácil, na mesma língua, já tinha uma referência. E o meu objetivo era meio que conhecer todos os lugares, mas eu acabei ficando lá porque eu consegui bons trabalhos lá, eu fui trabalhar em Comunicação antes de me formar, lá em Portugal. A minha mãe é uma pessoa muito bacana, muito aberta e ela entendeu que ia ser uma experiência de vida ótima pra mim, então ela me apoiou, super me apoiou. As minhas irmãs também, ficaram com saudades, mas as minhas irmãs nessa ocasião já estavam casando, pensando em ter filhos, então a nossa relação existia, mas não era tão próxima. Eu já era bem filha única, morávamos eu e minha mãe basicamente. Então quem sentiu mais saudade foi a minha mãe. Eu tinha feito estágio no Brasil, mas meu primeiro emprego foi em Portugal. Fiz um estágio, deixa eu me lembrar qual era o meu estágio, era um negócio muito bobo, eu era colaboradora de um jornal da faculdade, se chamava Vitrô, quem era meio que o nosso idealizador de jornal era o Sérgio Cabral, a gente tinha um contato com ele. Era bacana porque a gente aprendia muito porque com aquele super jornalista. E eu ficava com a parte de captar anúncios. O jornal dependia dos anúncios que eu captava. E junto com esse projeto a gente criou uma série de shows na faculdade, a gente construiu um pouco e a gente fazia as Sextas Musicais e, enfim, foi um estágio bem bacana, eu aprendi um pouco a área de captação, e também, produção dos shows que a gente acabava ajudando. E, depois, eu trabalhei com cinema, numa produtora de cinema, eu era, eu fazia um pouco de making off. Eu gostava de tirar fotografia, então ajudava a fazer as fotos do set, e eu fazia pesquisa de locação. Um vasto currículo pra quem quer ir morar em Portugal (risos). Eu fui [para Portugal], consegui um estágio lá muito bem remunerado, nos primeiros seis meses também, como vendedora de publicidade. E depois disso eu consegui trabalhar numa editora onde eu fiquei por muitos anos, aí eu fiz um pouquinho de carreira lá dentro, sempre na área de publicidade, captando anúncios. Então eu era muito bem remunerada porque eu recebia comissão pelos anúncios que eu fechava. E aí, sei lá, os anunciantes iam com a minha cara acho que porque eu era uma jovem brasileira, eles ficavam quase com pena de mim: “Deixa eu comprar o anúncio dessa menina, pra pagar as contas dela”, sei lá. Eu era vendedora sempre no topo das vendas, era muito bacana. Chama-se Meribérica Líber, bem português o nome, era uma editora de livros e revistas. Eles tinham a concessão daquele personagem Tin Tin, então eles traduziam, para o português, as histórias em quadrinho do Tin Tin e tinha uma revista mais vendida de Portugal que se chamava acho que Tele Culinária. Então a revista mais vendida de Portugal era de receitas de cozinha. E a gente vendia anúncio daquilo. [Fiquei lá por] cinco anos.
INGRESSO NA PETROBRAS
Eu resolvi passar férias no Brasil e fazer uma vigem porque eu tinha economizado dinheiro e aí eu me demiti do emprego, como um jovem faz “Ah, deixa eu largar isso, vou me demitir” Vim ao Brasil, passei férias, viajei na Europa, achando que quando eu voltasse para Lisboa eu ia conseguir um bom emprego. Não consegui, comecei a fazer alguns bicos, e aí eu percebi que estava na hora de criar uma carreira mais sólida. Então eu resolvi voltar pro Brasil pra estudar. Voltei [para a mesma faculdade]. [Me formei em] 1998. Sempre trabalhando, eu já tinha me tornado uma pessoa independente da família. E eu trabalhava na agência de propaganda do meu cunhado. Meu cunhado tinha uma agência aqui no Rio, e me ofereceu um emprego, então foi aí que eu comecei a trabalhar mais em publicidade, em planejamento, e comecei efetivamente uma carreira mais sólida em Comunicação. Eu trabalhando em planejamento, em publicidade eu percebi que queria fazer um trabalho de comunicação mais transformador, porque eu acho que a Comunicação tem um papel muito importante na sociedade, e eu me achava assim, eu queria trabalhar de uma forma mais transformadora, e eu fui pesquisar como que eu podia unir isso à Comunicação. E aí eu descobri a Responsabilidade Social e passei a namorar todas as empresas que faziam Responsabilidade Social, e mandei por quase dois anos, o meu currículo para uma consultoria especializada em Comunicação e Responsabilidade Social até que eu consegui um emprego lá, [na Comunicarte] e o maior cliente dessa consultoria é a Petrobras. Então eu trabalho pra Petrobras desde 2003, em projetos de todas as áreas da companhia. E aí uma dessas pessoas, em 2006, me chamou pra então integrar a equipe do Comperj [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro].
COMUNICARTE / PETROBRAS
A Comunicarte, desde 2000 que ela vem trabalhando junto com a Petrobras de uma maneira muito forte, porque quando houve o acidente da Baía de Guanabara, se eu não me engano foi em 2000, ou em 2001, houve uma mudança na cultura da Companhia. Todo esse posicionamento socioambiental que a gente vê hoje nasceu por conta desse acidente. O diretor da Petrobras, ele foi um dos consultores da Companhia no relacionamento com a empresa, e na gestão daquela crise, e trabalhou em projetos que foram muito estruturantes para a Petrobras. Por exemplo, a primeira organização dos investimentos sociais da Petrobras, que se eu não me engano era o Petrobras Social, foi feito, foi organizado pela Comunicarte. Então a Comunicarte era uma consultora que trabalhava diretamente para a Comunicação Institucional da Petrobras. É um parceiro. E por conta desse primeiro relacionamento foi conhecendo as outras áreas e sendo convidada pra projetos, participando de licitações. Então nós atendíamos o E&P [Exploração e Produção], o Abastecimento, a Comunicação Interna, a gente atendia realmente todas as áreas.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Em 2006 eu passei a integrar a equipe do Comperj. [O primeiro trabalho] foi confidencial, não sei se eu vou poder falar aqui, mas está dentro da Petrobras. A gente trabalhou para o E&P num projeto de relacionamento comunitário, por conta dos passivos dos estudos. A Petrobras faz pesquisa no solo para descobrir onde tem petróleo, e descobriu-se um passivo desses estudos. Isso tava gerando problemas em algumas comunidades e a gente fez um projeto pra que a comunidade nos ajudasse a encontrar esses passivos que estavam no solo há mais de 20 anos. [Aí fui trabalhar no desenvolvimento do Plano de Comunicação Integrada], que foi um plano da Comunicação Interna. Na ocasião, a gerência de Comunicação Interna tinha como meta aprovar a política de Comunicação Interna, e pra isso eles não queriam simplesmente ir à diretoria e dizer: “Aprova, por favor, a política”. Eles queriam que essa política realmente representasse o que todas as áreas pensavam da Comunicação Interna. Então nós fizemos um projeto para criar a participação de todas as áreas de comunicação da Petrobras em função da construção de uma política participativa. Foi um projeto muito interessante. A gente reuniu 150 gerentes de comunicação do Brasil inteiro pra esse projeto. A política foi aprovada. Só que logo depois houve uma mudança na gestão, a própria Comunicação Institucional ela se reconstruiu e nem existem mais essas gerências de Comunicação Interna. Se eu não me engano, ela mudou a configuração, então eu acho que se perdeu um pouco esse trabalho, porque a Comunicação Interna hoje não tem mais a sua própria gestão, ela esta espalhada em todas as áreas. Mas eu acho que o fato de ter sido aprovada foi muito bacana, eu acho que um outro resultado também que mostra esse trabalho é que a partir dele a gente conseguiu padronizar todos os veículos da Petrobras. Antes disso era uma bagunça, se você olhasse os informativos de cada área não tinha o menor padrão. E eu acho um luxo uma companhia do tamanho da nossa hoje ter, pelo menos, um padrão gráfico e editorial dos seus impressos, isso foi um resultado desse trabalho. Houve também uma economia de recursos. Eu me lembro que nessa oficina nós pedimos que cada gerente levasse os informativos, os veículos que usavam na sua gerência. E a gente montou uma mesa de uns cinco metros de tamanho com montanhas de papel. E a ideia não era nem fazer uma análise qualitativa, era mostrar pra eles: “Olha só quanto papel, quanta informação, quanto recurso humano e será que a gente está cumprindo um objetivo de comunicação com isso?” E todos ficaram assustados com a montanha que a gente gerou. E a partir daí foi mais fácil implementar um manual que dizia: “Olha, na sua área não pode ter cinco informativos, só pode ter um”. Eu acho que quando eles receberam isso, com essa orientação, eles lembraram daquela montanha de papel e assimilaram um pouco melhor a orientação.
COMPERJ / DESAPROPRIAÇÃO
Uma parceira de comunicação que havia sido fiscal de um contrato onde eu atuava, que foi convidada pra montar uma equipe, me convidou pra atuar na equipe de comunicação da obra do Comperj, [seu nome é] Marcela Alves (ela mudou o nome porque ela se casou, mas eu não estou me lembrando agora o nome novo dela. Ela vai me matar se ela souber isso). Fiquei assustada com o tamanho do projeto, projeto grandioso. E ela me convidou pra resolver logo um problema, porque na época em que a gente começou a trabalhar já tinha sido dada para a população local a informação de que ali haveria o Comperj e que eles seriam desapropriados. Então existia uma comoção da comunidade em função dessa mega desapropriação que ocorreu. A área do Comperj é equivalente a cinco bairros de Copacabana Então quando eu entendi o tamanho do projeto, e o tamanho do problema que a gente tinha que resolver, foi uma mistura de susto com desafio. Foram cerca de 150 propriedades que foram desapropriadas. Mas o impacto é maior porque aí você tem as famílias, cada proprietário tem a sua família e cada propriedade tinha também o seu grupo de caseiros e de empregados. Houve um impacto de, sei lá, 500 pessoas. Na equipe de comunicação [éramos] eu e a Marcela (risos). A equipe inicial do Comperj não era muito maior do que nós duas, nós éramos um grupo de 20 pessoas. Eu e Marcela cuidando dessa área de Comunicação, criando tudo que precisava. E aí o primeiro trabalho foi esse: resolver um problema que havia sido causado na comunidade por conta de vários fatores: primeiro, que esse é um muito político, é um projeto importante, é um projeto do PAC, então o nosso primeiro comunicador comunitário foi o Presidente da República, que disse: “Aqui será construído o Comperj”. Isso gerou uma comoção na população local muito grande e as pessoas descobriram onde era a desapropriação antes de nós termos um trabalho organizado. Então foi uma emergência que a gente teve que resolver. E os interlocutores da Engenharia, do nosso projeto, não estavam muito preparados pra esse tipo de coisa. Eles tinham que cadastrar as propriedades pra poder desapropriar, e fizeram isso de uma maneira um pouco truculenta no início, pensando só nos seus prazos, nas suas chefias, e não na vida daquelas pessoas, que era um papel da Comunicação, era natural. Então nós entramos pra dar esse tom mais humano para o trabalho. Só que a gente não tinha muito o que dizer para aquela pessoas, porque a gente não sabia nem quando elas iam ser desapropriadas, não sabíamos quanto tempo isso ia demorar, não podíamos dizer os valores, porque a gente tinha que avaliar ainda a propriedade. A gente não sabia dizer nada. E a gente tinha que falar com as pessoas. Então a nossa estratégia foi falar: nós procuramos cada um dos proprietários. Nos apresentamos e dissemos assim: “Olha, nós somos aqui da equipe tal, sabemos que vocês estão cheios de dúvidas. O nosso trabalho está começando e a gente veio aqui dizer para vocês que assim que nós soubermos alguma coisa a gente vem dizer (risos). A gente vem dar notícias. Está aqui o telefone, se você tiver alguma dúvida, me diga agora, não vou poder responder, mas a gente vai trazer a resposta”. A gente fez um trabalho de comunicação direta, de criar diálogo, mas informação a gente não tinha. Fomos [bem recebidos]. E isso foi um aprendizado que a gente inclusive tem trazido para outros projetos que a gente faz hoje. Quando a gente lida com uma situação de crise numa comunidade, abrir o diálogo e ser transparente é a primeira medida que tem que ser tomada, porque todo mundo gosta de ser respeitado. Todas as pessoas gostam que alguém lhe procure e diga: “O que você está precisando? Eu estou aqui pra ouvir, pelo menos”. Então essa política deu muito certo. Sempre que a gente tinha alguma informação a gente levava pra eles, e isso começou a criar um certo vínculo de confiança, pra gente poder realizar o trabalho. Sempre pessoa a pessoa. Um aprendizado: quando a gente tem uma crise numa comunidade, a última coisa que se pode fazer é juntar todo mundo, porque um estimula a crise do outro. Então é melhor falar com cada pessoa, resolver cada clima, do que fazer uma grande reunião. Aí vem até uma estratégia um pouco nefasta, porque quando você junta todo mundo um conhece o outro e aí eles realmente viram um grupo, o que antes podiam não ser. Eles viram um grupo organizado, aí começam a criar realmente empecilhos para o trabalho de uma empresa. Então a política sempre: comunicação direta. A gente levantou o perfil das pessoas, a gente começou a traçar um projeto. Na verdade, a Engenharia já tem toda essa metodologia. Eu me orgulho bastante de trabalhar nessa área dentro da empresa, porque a gente tem realmente uma cultura de trabalho com a comunidade. Então eu diria que a Engenharia inventou um método de trabalho que chama Levantamento Socioeconômico e Socioambiental, é um trabalho que é feito, que se associa aos estudos de impacto ambiental, verificando a situação social das pessoas e fazendo um retrato das comunidades por onde a obra vai passar, porque quando a gente chega com a obra, a gente já sabe quem são os interlocutores, quais são os problemas daquela região, quais são as questões que a gente pode resolver com projetos de responsabilidade social. Então a nossa estratégia era fazer um levantamento desse tipo naquela região. [Já havia essa metodologia] e a gente queria implementar. No entanto, nesse meio tempo, como o projeto estava começando, pelo acordo de serviço da Engenharia com o Abastecimento, essa área passou a ser responsabilidade do Abastecimento. Então nós fomos retiradas desse projeto e o Abastecimento passou a liderar essa relação com a comunidade. Nós tivemos que ficar só com a Comunicação Interna, com outras ferramentas. A gente foi retirada do trabalho de campo. É uma opinião muito pessoal, mas eu acredito que o conceito de cliente interno na companhia é visto de uma maneira totalmente equivocada por alguns gestores. Eu acho que essa questão de prestação de serviço interna, do ponto de vista financeiro, econômico é muito importante, é o que justifica áreas como a da Engenharia, mas eu acho que isso é levado numa relação de poder que cria uma gestão muito complicada, fica uma coisa assim: “Eu mando, não quero saber. “Sou eu que contrato” É como se fosse uma coisa: “Eu estou pagando, então você é meu prestador de serviço” e cria uma situação totalmente estranha dentro da mesma companhia, tem um apartheid. E a gente viveu isso de uma maneira bastante forte no projeto. O início desse projeto foi muito complicado. Não se perdeu, eu acho que o que a gente está percebendo hoje, a gente tem conversado isso nas nossas últimas reuniões, é assim: a gente percebeu que houve um corte, a gente percebeu o nosso lugar, até porque nós somos terceirizadas e isso faz uma diferença grande. E foi um aprendizado pessoal e profissional muito grande pra mim e pra toda a equipe envolvida porque a gente entendeu que se a gente desejava fazer um bom trabalho, que a gente tinha que costurar de uma outra maneira. Então nós guardamos nossos relatórios, guardamos nossas informações e fomos fazer um trabalho de relacionamento, de criar relacionamento, criar posições mais diplomáticas para as nossas posições técnicas, que às vezes batiam de frente. E a gente costurou isso de uma certa maneira, a ponto de hoje o cliente realmente pedir ajuda pra gente. Eles hoje reconhecem que nós temos uma bagagem técnica, não só de informação do projeto, porque a gente começou no Comperj quando lá era uma fazenda ainda. A gente conhece desde o início. Mas por sermos da Engenharia temos também uma capacidade técnica de ajudá-los, e eles hoje reconhecem e a gente esta podendo resgatar essa informação que a gente trouxe lá do início para o trabalho de hoje. Mas foi um caminho árduo. Eu, inclusive, cheguei a me retirar da equipe, em outubro do ano passado, eu cheguei em um nível de estresse, de falta de vontade mesmo de estar no projeto, e eu aproveitei uma das mudanças de contrato e falei: “Olha, então eu vou fazer um outro caminho”. E me tornei consultora da Petrobras por esses meses todos, e acabei de ser reintegrada à equipe. Eles me convidaram pra voltar. Mas eu cheguei a sair da equipe de tão, não foi estresse, mas eu fiquei um pouco decepcionada. Não tem como não se apaixonar quando você lida com as pessoas. O relacionamento comunitário faz a gente ficar muito próximo de quem esta ali sendo impactado de uma maneira que ninguém imagina. Quando você desenha um projeto você está pensando tecnicamente, e você não percebe as pessoas que estão por trás daquilo. Eu sou tão apaixonada tecnicamente pelo Comperj quanto pelas pessoas que são impactadas por ele. É um trabalho, existe uma divisão amorosa, complicado. Eu sou a pessoa que tem que encontrar esse equilíbrio.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Hoje eu trabalho como fiscal de contratos. A gente tem a Engenharia, que é quem orienta todos os contratos do Comperj; quem constrói o Comperj é a Engenharia, e nos contratos de maior envergadura nós temos anexos específicos de Comunicação e Responsabilidade Social, e temos um grupo de profissionais que fiscalizam a implementação desses contratos pelas empresas contratadas. Então nos projetos, a gente chama de extramuros, é o que está fora do muro do Comperj, a gente tem um impacto grande na comunidade, e a fiscalização acaba indo de encontro a essa situação de relacionamento comunitário, que a gente tem que cuidar para que as nossas contratadas atuem de uma maneira que respeite a imagem, e o posicionamento da Petrobras no seu comportamento. Então acaba que a gente está fazendo relacionamento comunitário. [Isso] depende muito da cultura das empresas contratadas, porque essa questão da Responsabilidade Social ela é quase uma utopia em algumas empresas. Dependendo do tamanho da empresa ela não consegue trabalhar do jeito que a gente quer. Você imagina eu falar de respeito comunitário com um peão que vai fazer uma sondagem, um furo. É complicadíssimo, ele não está nem aí pra isso, ele está preocupado porque ele ganha mal, ele tem que voltar pra casa, pegar um super ônibus, e a família dele que não está bem, ele quer fazer o trabalho dele e ir embora. E eu estou preocupada porque ele vai fazer um furo num jardim de um cara que está me emprestando o jardim dele pra eu fazer um estudo. Então eu tenho que tomar cuidado com o jardim do cara. É uma situação muito delicada. A gente tem que tomar cuidado com tudo isso, todos os detalhes. Pra você ter uma ideia, acontecem coisas incríveis: o Comperj era uma grande fazenda, você olhava você via várias cercas e grama, grama e grama. O peão também via assim, então ele foi lá, ele está com mapa de sondagem: “Eu vou fazer um furo aqui”, fez lá o furo. No dia seguinte, o furo dele era ali na frente, o que tinha entre ele e o próximo furo? Uma cerca “Uma cerca? Vou pular a cerca” Então ele pulou a cerca, fez lá o furo depois da cerca, só que ao pular a cerca ele foi pra fazenda de um vizinho enfezado que mandou os capangas atrás dele, confiscou todo o equipamento, ligou quase que pra ouvidoria da Petrobras fazendo uma reclamação. Isso gerou uma comoção na gerência. O nosso gerente teve que sair lá do escritório dele, pegar um carro e ir lá na fazenda pedir desculpas para o sujeito, pra gente poder continuar o trabalho. Então são circunstâncias difíceis que a gente tem que viver, tem que explicar para o peão que ele não pode pular a cerca, que ele tem que sair pelo portão, entrar na estradinha, tocar a campainha e entrar pela outra porta.
EMPRESAS CONTRATADAS
Nós temos usado empresas as mais variadas, empresas de sondagens, topografia. A gente tem agora o grande contrato é o contrato de terraplanagem do Comperj, que é a maior terraplanagem da América Latina, e por aí vai. [Tem] empresas também que fazem estudos socioambientais de levantamento ambiental, EIA/Rimas [Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente]. A gente ainda está muito no início, na fase de estudo de projetos e de terraplanagem. A fase de construção e montagem começa no próximo semestre, a gente vai ter a primeira grande epecista, que é um jargão da Engenharia, que são as empresas que fazem efetivamente a construção das unidades. Então a nossa primeira unidade começa no segundo semestre. Em todo o processo a responsabilidade é da Engenharia. A gente constrói tudo até o final. A gente faz o primeiro teste: “Ah, funcionou o Comperj, saiu o primeiro óleo, toma”. Aí o Abastecimento vai operar. Mas a gente constrói até o final.
COMPERJ / ESTRUTURA
A gente está nessa fase que é a fase extramuros. A gente está tendo que construir toda a infraestrutura pra que haja a obra do complexo, e pra que depois ele opere. Então pra você ter uma ideia, tem uma linha de transmissão sendo feita pra gerar energia para a obra. Tem uma adutora sendo construída para que haja água suficiente, porque é uma região com pouca distribuição de água. E a gente está construindo também algumas estradas, alguns acessos, uma estrada que a gente chama de Principal, que é a que vai escoar toda a produção e fazer também uma boa entrada dos equipamentos. E nesse momento a gente está estudando o que se chama de estrada de transporte especiais, porque boa parte dos equipamentos que vão ser utilizados pra construir o Comperj são de tamanho gigantescos. Eles falam lá em 1500 toneladas, eu não sei o que significa isso, mas eu imagino sei lá, um dinossauro precisando ser transportado. E não existe hoje nenhuma via que possibilite fazer isso sem que se pare toda uma cidade. Então a gente vai ter que construir uma estrada só pra esse tipo de transporte. São muitos estudos ao mesmo tempo. Na verdade, os órgãos ambientais são flexíveis, e determinam, dependendo do projeto como será o estudo. A estratégia para o Comperj é fazer um estudo para cada projeto. A impressão que eu tenho é que, infelizmente, essa cultura da companhia, de relacionamento, ela não passa de uma área pra outra. Um projeto tem a sua própria memória e isso não é uma memória da Companhia. Eu não sei até que ponto o Memória Petrobras tem essa missão. Porque eu acho que o dia que a Petrobras conseguir transferir cultura e aprendizado de uma área pra outra ela vai ser uma empresa espetacular, eu acho que só falta isso. São ilhas e a gente participa de GTs integrados dentro da Engenharia, de Grupos de Trabalho, e é incrível, o coleguinha que está no andar de baixo fazendo uma coisa muito parecida, está indo por aqui e a gente está indo por ali. É impressionante É algo assim que abisma a gente, eu acho que a palavra integração deveria ser um dos valores da Petrobras. Pode ser que em outras áreas funcione. Eu, pelo menos em coisas banais da empresa, no início do trabalho, por exemplo, eu vou te dar um exemplo simples que eu vivi: primeira obra. A gente fez uma pequena obra, perto do que a gente vai fazer, a obra que a gente fez há um ano atrás era mínima, que era construir um prédio. Eu aprendi que um prédio não é nada, é uma besteira. Mas a gente fez um predinho ali em São Gonçalo pra alojar o Centro de Integração do Comperj, que é um projeto de capacitação de mão de obra local, um projeto muito interessante. E a gente tinha que fazer uma campanha de SMS [Segurança, Meio Ambiente e Saúde] para os trabalhadores da obra. O que passou pela minha cabeça? “Tá pronto, eu vou buscar isso em algum lugar que isso está pronto” Eu não achei nada pronto, eu precisei fazer. Está pronto sim, mas está pronto lá na gerência de Comunicação do empreendimento X Y Z. Está pronto na gerência de Comunicação do outro empreendimento, mas não existe disponível por uma área de SMS uma campanha onde eu possa simplesmente pegar e implementar. Eu fiz a mesma cara, eu procurei em vários lugares e eu demorei a ir no meu gerente porque eu achei que eu estava errando, como eu estava a pouco tempo eu falei: “Não é possível, eu vou, o cara vai me dar uma bronca, porque eu não achei uma coisa que está no meu nariz”. E eu não achei. Então eu acho que não existe essa transferência de cultura e de aprendizado.
COMPERJ / COMUNIDADE
Não temos um programa de Relacionamento Comunitário formal, mas pelas atividades da Engenharia nos projetos de extramuros, que eram esses que a gente estava falando, de dutos, estradas e linhas de transmissão, a gente precisa fazer um trabalho de relacionamento comunitário bastante forte, e fazemos hoje em grande parceria com o Abastecimento. Não ouvi falar de nenhuma iniciativa de um plano de relacionamento comunitário, [mas] é o que a gente tem trabalhado, é no ponto crítico do relacionamento comunitário, que é a fase de desapropriação para a construção de uma obra. Esse é o ponto mais crítico. Nós já fizemos um levantamento, mas provavelmente faremos ainda três mil desapropriações naquela região. E não vai ser tão fácil quanto foi no Comperj, porque no Comperj eram sítios, fazendas, você chegava para o dono e dizia: “Por favor, os seus documentos”, ele ia numa gaveta e tinha tudo certinho. A gente está falando de posseiros, a gente está falando de pessoas de baixíssima renda, de comunidades de alto risco social. Então é uma situação muito delicada que vai exigir um grande trabalho. E a gente está fazendo justamente esse levantamento pra junto com outras área da Engenharia poder trazer aprendizados pra gente fazer direito, fazer bem feito. Porque exige uma série de questões: convênios com prefeituras, planos de realocação de famílias... Às vezes, pela lei, o que você vai pagar para uma família sair daquela casa que ela tem não é o suficiente pra ela comprar uma nova casa, então não adianta você indenizar, você precisa dar uma casa pra ela. Mas a Petrobras não pode dar uma casa pra ninguém, então a gente tem que passar pelo governo, pelos órgãos públicos, e aí tem muito trabalho pela frente. Porque o Comperj está localizado em Itaboraí, numa área sem nenhuma infraestrutura. A gente não tem energia pra fazer a obra, a gente não tem água pra fazer a obra e a gente não tem os dutos, que vão escoar e levar matéria prima para o Comperj, então tudo isso tem que ser construído. Além das estradas pra que os equipamentos cheguem lá dentro e pra que os epecistas, que são os construtores, também cheguem. Pra vocês terem uma ideia, no pico da obra, serão 15 mil pessoas trabalhando, você imagina o trânsito de ônibus, o trânsito de entrada e saída de equipamentos, é um negócio absurdo, a gente tem que ter vias exclusivas pra obra. E aí cria uma necessidade do Comperj ter um trabalho fora dos seus muros, nas comunidades vizinhas.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Eu me lembro assim... Foi interessante viver isso, porque eu cheguei a ver pessoas chorando quando falavam do assunto: “Ah, o meu sitio que eu plantei cada roseira, cada coqueiro, e agora?” Aí a gente tentava explicar: “Olha, mas a Petrobras é uma empresa super correta, trabalha dentro de todas as normas, com certeza você vai ser desapropriado de uma maneira muito justa”. A gente não ia dizer que o cara ia ganhar muito dinheiro, porque não podia, mas a gente tentava mostrar: “Fica tranquilo” E nada, as pessoas choravam Tinha uma situação de um senhor que quando a gente visitava a casa dele, a gente tinha que avisar antes e ele pedia pra gente deixar o carro fora, entrar a pé porque o pai dele, de 80 anos, morava com ele, e o pai não sabia da situação. Então a gente tinha que entrar escondido pra falar com ele, para o pai não descobrir e não ter um enfarto. Então eram situações meio assim. A gente entrava na ponta do pé, aí a esposa dizia: “Pode passar, ela está lá”, aí a gente passava. Era uma situação meio amante, muito engraçada. Tinha essa situação engraçada, e essas pessoas que no início estavam muito tristes a ponto de chorar. Eu visitei uma jovem, uma moça de 35 anos com o marido jovem que tinha largado tudo e resolveu fazer a vida na fazenda, sabe aquele sonho do casal jovem? E quando ela soube que ia ser desapropriada ela ficou deprimida a ponto de tomar remédios e tudo o mais. E aí quando essas pessoas foram indenizadas, um ano depois, com vultosas quantias, estavam todas sorridentes. Então, realmente, o dinheiro não resolve tudo, mas as pessoas ficam muito felizes, elas esquecem esses vínculos quando são bem remuneradas. O pessoal até brinca com essa moça porque ela é muito bonita, o pessoal brincou que ela era a princesa do Comperj. Dizem que ela recebeu o cheque, a primeira coisa que ela fez foi entrar em uma concessionária e comprar um super carro zero, aí a depressão dela acabou em um minuto. Eu estou aqui brincando. Claro que houve o impacto emocional, da notícia, não há dúvida. E havia também uma expectativa assim: “Pô, será que eu realmente vou receber, ou vão se apropriar da minha propriedade? Eu vou receber o que é justo?” Então quando as pessoas percebiam que eram uma situação tranquila elas ficavam inclusive felizes. E algumas pessoas começaram a querer serem desapropriadas (risos). “Puxa vida, a linha passou por um triz aqui, vocês não podem checar o decreto?” Porque as pessoas viam os seus vizinhos felizes e contentes com a remuneração recebida. [Teve o caso do senhor,] mestre de capoeira, esqueci o nome dele, é um mestre de capoeira famoso inclusive. Eu não acompanhei o caso todo dele não, mas ele tinha realmente esse sítio onde ele fazia aulas de capoeira para a comunidade. Ele acabou usando um pouco isso. A negociação com ele, se eu não me engano, foi muito dura, foi muito difícil negociar com ele porque ele queria jogar um pouco com essa questão da função social dele. E havia um projeto pra aproveitar o projeto social dele, o sítio, mas eu acho que isso não foi pra frente não. Eu não sei exatamente porque, eu acredito que tenha sido pela localização da propriedade dele. Ela não podia ser aproveitada, porque ela teria que ter ali uma unidade industrial.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
No Comperj a gente está fazendo da seguinte maneira: nós elencamos algumas ações de responsabilidade social que são possíveis de serem implementadas na obra. Porque que a gente percebe também é que o pessoal faz uma ideia muito grandiosa do assunto, se compromete com planos de ação infactíveis e acaba que não consegue implementar. Então a gente trabalha com o que é possível fazer. Então o nosso carro chefe na responsabilidade social do Comperj é implementação do PDMO, que é o Programa de Desenvolvimento de Mão de Obra. É um programa que foi desenvolvido pela Engenharia para desenvolver a alfabetização e a escolaridade da força de trabalho, do peão da obra. Então enquanto ele está na obra por um ano ele tem a possibilidade de estudar e ir mudando de série. Então, se ele tiver a primeira série, ele pode sair de lá com a quarta série, depois da obra. Se ele for analfabeto, ele pode ir até a segunda série. É um programa muito interessante que a gente faz em parceria com as contratadas, porque elas precisam dar pra nós o tempo de trabalho daquela pessoa. Ele precisa ser liberado um pouco mais cedo da obra pra frequentar a escola. Na semana passada do Centro do Consórcio de Terraplanagem foram as duas primeiras turmas. O índice ainda é baixo, eu acho que foram 40 pessoas que se formaram, nós temos três mil pessoas trabalhando, é pouco, é bem pouco. Inclusive, nessa minha volta, um dos meus objetivos é a gente criar um plano pra que haja uma adesão maior da força de trabalho ao projeto. Acho que precisa trabalhar um pouco melhor isso pra que o contratado tenha desejo de fazer o curso, porque é um benefício e tanto, não tem porque ele não ser. Tem alguma questão no processo que pode melhorar.
[Essas aulas estão sendo ministradas] lá mesmo. Agora, o PDMO do Comperj tem uma inovação que é o seguinte: cada contrato prevê uma sala de aula, só que o Comperj é um lugar imenso que vai ter centenas de contratos, então não adianta a gente ter centenas de sala de aula no mesmo local. Então a gente separou uma propriedade, dessas que foram desapropriadas, não demolimos, e esse local ele vai ser a escola PDMO. Ali vão ser orientados todos os contratos; todas as aulas do PDMO vão ser orientados para esse mesmo lugar, porque a gente não precisa de sala de aula todo o Comperj. E a gente está ainda no início disso, a gente precisa ter mais turmas, dar mais resultado, mas a gente acredita que esse vai ser um projeto inovador da Engenharia. E representa essa integração que a gente tanto deseja, mostrando que a gente consegue integrar dentro de um mesmo projeto todas as contratadas. Essas pessoas [que precisam se engajar] significam os nossos grandes gerentes e alguns são sensíveis ao assunto, outros realmente não estão preocupados com isso e a gente precisa sempre da adesão deles às ideias. Mas eu acredito que a gente vai conseguir sim, eu não vejo problema não. Um dos nossos planos é fazer um trabalho interno de visita aos gerentes, a gente vai fazer reuniões porque hoje o Comperj tem 400 profissionais, então nós somos um grupo que a gente se encontra no elevador e não sabe que somos da mesma equipe. A gente precisa criar muita integração entre nós, e um dos projetos é a gente levar essa informação do que a gente faz, como gerência de Responsabilidade Social e Comunicação, pra que eles possam comprar internamente os nossos serviços e implementá-los nas suas obras. Porque são oito unidades distintas fazendo obras paralelamente, que nem sempre se conversa. Eu sou da equipe do Giovanni [de Souza Almeida], mas a nossa área atende as oito unidades, quatro áreas estratégicas, [Logística, Comunicação, Responsabilidade Social] e RH [Recursos Humanos]. [É um] enorme desafio. A gente entende que isso é uma missão do Abastecimento: que é divulgar o seu projeto dentro da companhia. A Engenharia ela divulga dentro da própria Engenharia, e isso acontece muito pelos nossos sites internos, nossas intranets, isso roda bem. E por nós sermos um projeto de grande visibilidade a gente tem tido muita pauta, nas revistas e nos informativos. Então essa questão dentro da Engenharia, na nossa missão de divulgar, ela está mais ou menos resolvida. Mas eu acho que a missão de Comunicação interna é talvez muito maior que da Responsabilidade Social para o público externo, porque a gente vai ter aí 15 mil pessoas trabalhando em 80 contratados diferentes. Então é uma orquestra e o Giovanni é o maestro. Só que ele é maestro do maestro. Tem outros gerentes que realmente vão orquestrar cada um desses 80 contratos e tem que olhar pra ele regendo um direcionamento de comunicação. Então a gente vem se planejando, a nossa gerência, a gente entende que a gente não está nem no começo do trabalho. e o tempo todo a gente planeja o futuro pra que, quando chegue esse pico da obra, a gente possa fazer um bom trabalho porque isso nunca aconteceu na Petrobras. A nossa equipe entende que daqui a cinco anos a gente vai ter feito um trabalho inédito, nunca ninguém gerenciou tanta gente ao mesmo tempo.
VIDA PESSOAL
Hoje eu não estou namorando, já namorei bastante, já fui casada, já morei junto, já separei. Mas não tive filhos, não é um projeto meu ter filhos. Mas eu acho que eu dei muito mais valor pra minha vida profissional do que pra minha vida amorosa. Eu sempre trabalhei muito, trabalhei viajando e isso acaba que a gente não dá muito valor para os relacionamentos. Hoje eu estou até num momento de rever isso, eu inclusive faço terapia, converso bastante sobre isso na terapia; entender que lugares isso tem na minha vida, pra eu poder namorar mais e criar uma história de mais longevidade.
COMPERJ / DESAFIOS
Aprender a diplomacia das relações internas pra gente conseguir fazer o trabalho, [tem sido um grande desafio]. Eu acho que quem vem da iniciativa privada e entra na Petrobras precisa entender isso, a gente lá não está procurando reconhecimento pessoal, não existe assim: “Puxa, seu trabalho foi muito bacana, parabéns” O resultado do nosso trabalho vem pela gerência, pela nossa área, pelo projeto e aí como você está naquela equipe você é reconhecido. Mas a gente tem que aprender a sair dessa visão pessoal, e possibilitar aos nossos gerentes – que nem sempre tem todas as habilidades que eles precisam pra fazer um trabalho –, pra ele brilhar, e você então vai brilhar junto. Eu aprendi isso, aprendi isso na Petrobras, e aprendi a ser mais política, a ter diplomacia pra conseguir fazer o trabalho que eu quero fazer. Não adianta a gente ser muito opinativo, falar sempre a verdade, porque a gente não vai ser ouvido. Eu acho que eu deixei de ser adolescente profissional, (risos)
COMPERJ / ALEGRIAS
A equipe onde eu trabalho, nós somos uma equipe muito feliz, muito harmônica. Você citou o Giovanni, eu vi que você lembra dele, conheceu. O Giovanni é um gerente absolutamente encantador, porque ele é trabalhador, correto e ele é muito humano, ele vem da área de RH. Então ele criou uma equipe de amigos, nós somos todos muito amigos, nós nos divertimos no trabalho, nós nos ajudamos, somos colaborativos. Então a gente acorda de manhã e fala: “Pô, que bom que eu estou indo pra lá” E eu acho que, pelo menos na minha vida profissional, eu nunca tive um ambiente de trabalho tão gostoso, porque é muito bacana você acordar de manhã: “Que bom que eu estou indo para o trabalho”, já que a gente passa muito tempo da nossa vida no trabalho. Então uma grande alegria é isso. Uma parte da equipe fica sediada fixamente em Itaboraí, e uma parte é móvel. Eu, por exemplo, ontem estivesse lá [em Itaboraí], amanhã eu vou, depois de amanhã já estou no Rio. A minha agenda é toda móvel, depende dos contratos aos quais eu estou ligada e as atividades desses contratos, aí eu fico pra lá e pra cá. Mas nós não temos ainda espaço físico em Itaboraí para todos os profissionais, isso vai começar a ser construído agora, eu acredito que em 2011 o nosso destino seja em Itaboraí.
MEMÓRIA PETROBRAS
Como eu falei, eu conhecia [o Memória Petrobras] de nome. Sou bastante curiosa [sobre] os aspectos institucionais da Petrobras, acho que leio os manuais, eu acho que sou meio esquisita, nem todo mundo deve fazer isso, talvez porque eu seja da área de Comunicação. Eu já entrei no mini site de vocês, sempre achei muito bacana, e como eu falei eu conhecia a Laura, que trabalhava aqui. Mas é muito superficial a ideia que eu tenho do Projeto Memória. [Achei] muito legal, agradeço a oportunidade, até perguntei para o Giovanni, falei: “Giovanni, como assim?” Ele me indicou e eu falei: “Mas Giovanni, como assim?” Ele falou: “Eu acho que é bacana porque você iniciou no Comperj, você pode colaborar, eu falei: “Está bom, vamos lá então” Mas me senti honrada de poder participar dessa memória. Eu tenho muitas críticas, sou uma pessoa crítica natural, mas tenho bastante orgulho de trabalhar na Petrobras porque é uma empresa que dá quase uma forma luxuosa da gente realizar o nosso trabalho, quando eles compram as nossas ideias a gente tem a possibilidade de fazer muito bem feito. Participar do Memória Petrobras é participar assim de um luxo, de uma empresa que está preocupada em registrar a sua cultura. Então é muito bacana poder fazer parte disso.
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