Here ehetala sotakatali ehe notana - Como me tornei mestre de cantosAnaori nasceu aldeia Halataikwa durante pescaria do ritual yaõkwa clã towalinere /LOLAHESE, quando ele nasceu as tias e mãe ficaram feliz por ser um menino.
Quando ele completou 5 anos o tio dele levava ele na barragem, primeira vez que ele viu construção de barragem e armadilha de peixe também. Tinha pegava bastante os peixes com ritual yaõkwa. Chegada de aldeia estava tendo ritual yaõkwa tinha dois clãs (KAYROLI é ANIHALI). Nesse tempo ele já era quase um jovenzinho, eles estavam fazendo ritual da roça de mandioca e tio dele morreu.
Os grupos yaõkwa foram para pescaria de barragem e ele foi junto, já sabia pescar. Depois de pegar muitos peixes todos voltaram.
Conta de outra vez que estavam fazendo roça ritual de yaõkwa. Comunidade já tinha crescido muito. Quem organizou esse ritual foi clã Anaoliali. Grupos yaõkwa foram para barragem. Quando voltaram mudaram de aldeia, para um local onde estavam fazendo roça de mandioca. Pajé pegou um cariçu de Enoli Nawe e deu para pai dele, que era cacique. Pai dele guardou o cariçu e fazia oração conversando com Enoli Nawe, e avisou Anaori que ele ia se tornar pajé.
Depois disso ele Anaori começou a se sentir estranho, parecia doente, mas não era doença, ele já estava começando a se tornar pajé. Ele estava solteiro nessa época.
Quando ele era criança ainda, o pai de uma menina (o tio), que também era criança, escolheu ele para casar com sua filha. Quando ele (o futuro sogro) pescava, caçava, sempre trazia alguma coisa para ele (Anaori), para agradar seu futuro genro. Ele (o futuro sogro) faleceu. A futura sogra faleceu também durante ritual kateoko, porque ela mexeu na roça de yãokwa e Iakariti matou ela.
Conta que cresceu e mudou de aldeia. Conta dos aprendizados com Yonãli, que ia no mato, aprender como pegar material para construção de casas, tirar, enrolar e carregar palha de buriti. Diz que é...
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Here ehetala sotakatali ehe notana - Como me tornei mestre de cantos
Anaori nasceu aldeia Halataikwa durante pescaria do ritual yaõkwa clã towalinere /LOLAHESE, quando ele nasceu as tias e mãe ficaram feliz por ser um menino.
Quando ele completou 5 anos o tio dele levava ele na barragem, primeira vez que ele viu construção de barragem e armadilha de peixe também. Tinha pegava bastante os peixes com ritual yaõkwa. Chegada de aldeia estava tendo ritual yaõkwa tinha dois clãs (KAYROLI é ANIHALI). Nesse tempo ele já era quase um jovenzinho, eles estavam fazendo ritual da roça de mandioca e tio dele morreu.
Os grupos yaõkwa foram para pescaria de barragem e ele foi junto, já sabia pescar. Depois de pegar muitos peixes todos voltaram.
Conta de outra vez que estavam fazendo roça ritual de yaõkwa. Comunidade já tinha crescido muito. Quem organizou esse ritual foi clã Anaoliali. Grupos yaõkwa foram para barragem. Quando voltaram mudaram de aldeia, para um local onde estavam fazendo roça de mandioca. Pajé pegou um cariçu de Enoli Nawe e deu para pai dele, que era cacique. Pai dele guardou o cariçu e fazia oração conversando com Enoli Nawe, e avisou Anaori que ele ia se tornar pajé.
Depois disso ele Anaori começou a se sentir estranho, parecia doente, mas não era doença, ele já estava começando a se tornar pajé. Ele estava solteiro nessa época.
Quando ele era criança ainda, o pai de uma menina (o tio), que também era criança, escolheu ele para casar com sua filha. Quando ele (o futuro sogro) pescava, caçava, sempre trazia alguma coisa para ele (Anaori), para agradar seu futuro genro. Ele (o futuro sogro) faleceu. A futura sogra faleceu também durante ritual kateoko, porque ela mexeu na roça de yãokwa e Iakariti matou ela.
Conta que cresceu e mudou de aldeia. Conta dos aprendizados com Yonãli, que ia no mato, aprender como pegar material para construção de casas, tirar, enrolar e carregar palha de buriti. Diz que é muito pesado. Não foi o pai que ensinou trabalhar, foi Yonãli. Diz que quando mudou de aldeia, trabalhava com roça e precisava muito de machado e foice.
Quando era jovemzinho não faltava comida para família dele, ele achava que era rico, porque tinha muita comida. Ele ia com o pai coletar mel na mata, tinha muito mel nessa época. O pai deixava ele um tempo no mato sozinho, ele ficava triste, com medo.
Quando foi para acampamento de roça de milho no rio Juruena. Ele já era jovem, e estava aprendendo com o pai os cantos de Kateoko. Lá no acampamento estava tendo o ritual das mulheres, estava todo mundo para lá, era um acampamento bem grande, com casa grande.
O pai não deixava ele andar com amigos, porque quando se tem amigos não consegue aprender os cantos e conhecimentos, perde muito tempo, se distrai. O pai era grande mestre de cantos (sotakatali) e ensinava para ele o conjunto rigoroso de regras para se tornar um cantador, regras de alimentação, de comportamento, porque a vida do cantador é muito diferente. Ele aprendeu com o pai primeiro howanati (sopro, rezas). O pai falava para ele aprender já desde criança, porque se aprende melhor, quando cresce já não consegue aprender bem. Quando ele era ainda jovemzinho o pai já o chamava para conduzir Yaõkwa.
Diz que a menina que tinha sido escolhida para ele casar menstruou, mas ele ainda era muito novo, não tinha virado jovem. Conta que eles estavam numa viagem de pesca e seu pai chamou a menina, e foi lá que eles casaram, mas ele ainda não tinha colocado a palhinha peniana. Tempinho depois ele já fazia as coisas sozinhos, ia para o mato, caçar, pescar, fazer roça.
Foi o pai ensinou como soprar, como cantar, desde criança. Mas nessa época ele não entendia bem ainda. Um dia eles estavam fazendo roça de yaõkwa e pai ia fazer howanati na roça para proteger. Ele era criança, e viu que o pai estava trazendo peixe. Ele falou para o pai que queria ir também. O primo Kaliyoko, estava aprendendo com o pai dele, aí o pai falou que ele podia ir, mas sem chorar, sem fazer birra, porque ia demorar muito tempo.
Conta quando colocaram a palhinha peniana nele, com yaõkwa. Ele ainda era bem jovenzinho, ele não entendia do corpo da mulher, não tinha transado ainda, mas a esposa engravidou, era de outro homem. O pai dele ficou muito preocupado com ele, porque a esposa traiu e engravidou de outro. O pai queria se vingar de quem engravidou a nora. Estava pensando o que fazer para se vingar, soprar (malefício), ou envenenar, pensando se matava o homem ou a nora também, só não tinha o veneno. Aconteceu que o bebê nasceu e seu pai o matou. Depois disso a menina continuou na safadeza. Só um tempo depois ela quis voltar para ele, e eles voltaram. Nesse meio tempo diz que outras mulheres quiseram casar com ele, ele se envolveu com algumas, mas não deu certo com nenhuma. Quando a mulher voltou para ele, ela tinha refletido sobre seu futuro e quis ficar sério com ele. Ela gostava que ele ia ser sotakatali porque os sotakatali recebem muitos alimentos. Nesse tempo ele refletia que só depois da morte dos sotakatali ele iria substituí-los. Mas esposa queria que ele assumisse já como mestre cantador.
A mulher passou a tratá-lo muito bem, não teve mais traição. Ele ainda era jovem e estava aprendendo muitas coisas, fazer cesto, peneira, flautas, armadilha para pegar gavião. Quase tudo ele aprendeu com seu amigo Yonãli e com seu pai. Diz que depois da morte do pai quem continuou repassando conhecimentos de sotakatali para ele foi Kaliyoko, primo dele. Ele tinha medo do Kaliyoko, mas depois eles se encontraram sozinhos e Kalioko falou para ele que ele devia continuar aprendendo, mesmo com o pai falecido. Kalioko tinha aprendido tudo com o pai do Anaori e por isso disse que ia repassar tudo para ele de volta para o Anaori. Então começou aprender e aprofundar os conhecimentos com o Kaliyoko. Pai dele já tinha dito que quando ele morresse o Anaori poderia perguntar tudo para o primo Kaliyoko, que também já era mestre. Ele diz que nesse tempo ele ainda não participava do ritual como cantador. Ficou um tempo aprendendo mais com Kaliyoko e também com outros mestres.
Por isso até hoje ritual e os cantos não acabaram. Essa aldeia atual já tinha sido uma aldeia antigamente. Nesse tempo os Enawene tinham muito medo dos Cinta Larga porque eles atacavam os Enawene. Por isso foram embora do lugar onde é a aldeia atual. Hoje não tem mais isso. Nesse tempo não tinha celular, motor, carro, hoje já tem carro, estrada, escola, convivência com os brancos. Ele andava remando muito longe, de canoa. Ele diz que hoje quando anda de carro fica lembrando do pai, desse tempo, e fica triste com saudades. Ele diz que com a mudança no modo de vida, viagens para a cidade, convívio com os brancos, muito uso do celular, ele mesmo já esqueceu muitos cantos. Diz que hoje é muito difícil manter o ritual sem dinheiro, ficam pensando em recurso para poder manter.
Anaori já tinha aprendido howanati e os cantos (derati), mas mentiu para a esposa que não tinha aprendido, porque os cantadores guardam em segredo.
Quando tinha ritual Kateoko ele tinha ciúme da esposa, ele achava que ela estava traindo ele, porque ficava dia todo fora. Por isso ele não gostava de ver o ritual das mulheres. Enquanto estava tendo Kateoko ele ficava deitado na casa, só ouvindo os cantos. Ele pensava que esses cantos não eram importantes. Daí ele começou a aprender os cantos de kateoko com seu primo-irmão Kaliyoko, e ele falou que era muito importante. Então Anaori começou a ir no Kateoko acompanhando Kaliyoko na condução dos cantos.
Ele também conta sobre os cantos de Yãliña. No ritual do Yãliña ele observava os cantos e foi gravando, aprendendo. Por isso hoje ele é o mestre desse ritual. Diz que hoje não falta nada para ele aprender, já é mestre de cantos, howanatali, sabe fazer adornos, cestaria, peneira, criar os pássaros para a plumária.
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