FATOS REAIS DO COTIDIANO
APRESENTAÇÃO
Os fatos aqui relatados a princípio surrealistas, contradissentes, hilariantes, entristecedores, na realidade estão catalogados nas diversas delegacias de polícia da grande São Paulo, quiçá de todo o país foram e são vividos de formas semelhantes por grande parte da população brasileira refletindo sua verdadeira cosmovisão lembrando-nos de que dentro do vigente sistema político seus protagonistas, além de facilmente influenciáveis por retóricas enganosas, tem o voto igualizado ao seu.
Uma reflexão mais profunda sobre esses fatos, nos leva a meditar sobre os ensinamentos do sábio filósofo Platão (Atenas, 429 a 347 aC) e a indagar se somos merecedores do atual regime político e se algum dia idealizaremos uma democracia mais própria à nossa realidade, começando pelo voto facultativo que impediria que continuássemos votando em alguns “cacarecos”, conforme já ocorreu no estado do Rio de Janeiro em pleno século XX, quando os eleitores elegeram para deputado o hipopótamo do zoológico local batizado pelo nome de Cacareco que alguém, criticando o voto obrigatório, o incluiu na propaganda eleitoral e apesar de comprovada, sua tese foi logo esquecida pois que contrariava e continua contrariando os interesses de muitos.
Seria o reconhecimento do direito fundamental de escolhermos os dirigentes da nação e não o vigente absurdo dever de votar que representa um desrespeito àquele cidadão que não se sentindo apto para essa tarefa, acaba nas mãos dos demagogos que infestam nossas legendas partidárias.
O voto facultativo, há muito adotado pelos norte-americanos, cujo exemplo ao mundo haveria de ser seguido por aqueles que se julgam desenvolvidos, seria bem próximo do ideal se não o abrasileirássemos conforme fizemos com os...
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APRESENTAÇÃO
Os fatos aqui relatados a princípio surrealistas, contradissentes, hilariantes, entristecedores, na realidade estão catalogados nas diversas delegacias de polícia da grande São Paulo, quiçá de todo o país foram e são vividos de formas semelhantes por grande parte da população brasileira refletindo sua verdadeira cosmovisão lembrando-nos de que dentro do vigente sistema político seus protagonistas, além de facilmente influenciáveis por retóricas enganosas, tem o voto igualizado ao seu.
Uma reflexão mais profunda sobre esses fatos, nos leva a meditar sobre os ensinamentos do sábio filósofo Platão (Atenas, 429 a 347 aC) e a indagar se somos merecedores do atual regime político e se algum dia idealizaremos uma democracia mais própria à nossa realidade, começando pelo voto facultativo que impediria que continuássemos votando em alguns “cacarecos”, conforme já ocorreu no estado do Rio de Janeiro em pleno século XX, quando os eleitores elegeram para deputado o hipopótamo do zoológico local batizado pelo nome de Cacareco que alguém, criticando o voto obrigatório, o incluiu na propaganda eleitoral e apesar de comprovada, sua tese foi logo esquecida pois que contrariava e continua contrariando os interesses de muitos.
Seria o reconhecimento do direito fundamental de escolhermos os dirigentes da nação e não o vigente absurdo dever de votar que representa um desrespeito àquele cidadão que não se sentindo apto para essa tarefa, acaba nas mãos dos demagogos que infestam nossas legendas partidárias.
O voto facultativo, há muito adotado pelos norte-americanos, cujo exemplo ao mundo haveria de ser seguido por aqueles que se julgam desenvolvidos, seria bem próximo do ideal se não o abrasileirássemos conforme fizemos com os outros institutos importados.
No início do século XI X criamos leis anti-escravagistas - para os ingleses verem – assim rotuladas porque nunca foram cumpridas.
No mesmo nível, nossa filiação partidária, embora presumível, na prática não traz a menor vinculação ideológica dos candidatos a exemplo do que acontece nos países do primeiro mundo. Os eleitos, na sua maioria, nos administram de forma pessoal e muitas vezes oposta ao apregoado. E se lhes for conveniente, mudam de facção política continuando no poder como se os eleitores tivessem votado em sua pessoa e não na proposta do seu partido. Os presidentes se tornam verdadeiros soberanos com poderes supra-partidários e os integrantes do legislativo não aceitando suas decisões, estranhamente podem ser processados por infidelidade partidária.
Os atuais direitos humanos prevêem aos condenados o direito de alimentação pelo Estado, enquanto os demais cidadãos devem trabalhar para sustentá-los. Desta forma, os detentos ficam com as vinte e quatro horas do dia livres para idealizarem novas rebeliões, novas fugas e organizações criminosas.
As leis de execuções criminais no final dos anos 70 do século passado, passaram a garantir-lhes o direito a visitas íntimas sem se preocuparem com as conseqüências negativas devido a falta de infra-estrutura dos presídios e da condição cultural dos detentos, resultando na disseminação de doenças venéreas: Aids, gravidez não planejada e com o destino e educação das crianças que nascem desses desastrados relacionamentos.
Sem nos esquecermos das demais áreas quase na mesma situação, damos ênfase ao direito penal com suas normas positivas e adjetivas obsoletas dificultando ao poder judiciário o cumprimento da sua missão denegrindo a imagem de seus respeitáveis integrantes que são vistos como os responsáveis pelas mazelas do sistema que, além de tornar a instituição morosa, algumas vezes opondo as autoridades, resultam em decisões conflitantes com o sentimento social vigente, direcionando para o pejorativo ditado popular: - “a polícia prende, a justiça solta” -
Com freqüência a imprensa exibe fichas com metros de comprimento de ex-detentos acusados da prática de novos crimes e mais uma vez detidos pela polícia enquanto a sociedade permanece sem resposta sobre a responsabilidade dessa ilógica volta às ruas e alguns, diante das adversidades da vida se contestam sobre a validade de viverem honestamente.
Considerando que somente ao Legislativo cabe revisar nossos mandamentos jurídicos, mesmo que apenas em nome da recíproca preocupação com a auto-imagem dos três poderes, isto já seria uma demonstração de que, sem nenhuma vetusta e tradicional preocupação com os estrangeiros, já estaríamos começando a cumprir integralmente o retórico, mandamento constitucional:
“São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
I – MULHER – OBJETO DE TROCA
Tarde ensolarada. Sábado. Dois indivíduos fortes, trajando apenas short e camiseta, foram encontrados em plena luta corporal em uma das ruas da cidade.
Levados à delegacia por uma guarnição da Polícia Militar, um deles explicou:
- Sabe Doutor. Eu tinha uma barraco velho e uma mulher. Há dois meses fiz um negócio com esse cara. Troquei meu barraco pelo dele que era bem mais confortável e como pagamento da diferença do preço, dei a ele a minha mulher. Como provisoriamente eu ia passar a morar sozinho emprestei-lhe, por um mês, a minha cama e o meu guarda-roupas até que ele comprasse outros móveis. O tempo passou e nada. Nem devolvia as minhas coisas nem pagava. Hoje fui procurá-lo para exigir a combinada devolução. “Pasmen doutor”, exclamou. “Veja a cena que assisti”, disse ao delegado.
Olhando pelo buraco da parede do barraco vi minha mulher peladona encostada no meu guarda-roupas e esse sem vergonha sentado na minha cama olhando e exclamando – Gostosooona Aquilo me deixou cego de ódio. Arrombei a porta e agarrei esse canalha e saímos na mão.
- Esse ordinário usando minha cama e meu guarda-roupas para fazer aquela sem-vergonhice O que o Senhor faria no meu lugar?
II - CIÚMES
Um senhor de uns 45 anos de idade entrou correndo na Delegacia e denunciou que havia pego em flagrante sua mulher em pleno adultério e não tinha feito nada contra os dois porque nesta terra havia lei e ele confiava na justiça.
Parabenizado por essa sua conduta e indagado se era a primeira vez que aquilo ocorria, o homem completou:
- Não. Minha mulher é uma sem vergonha e esta é a terceira ou quarta vez que a pego com outro na cama.
Como o crime de adultério só se configurava naquela circunstância, explicado sobre essa nuance, o homem apresentando um recibo que às pressas tirou de um dos bolsos do paletó, fez uma contra proposta:
- Então o Sr. mande dois PMs até lá tirar a cama deles porque a cama é minha. Eu a comprei e a paguei e não posso admitir essa pouca vergonha em cima dela
III – ELES TAMBÉM DEVEM GOSTAR
Um casal procurando a Delegacia, a jovem relatou:
- Como meu marido estava com dificuldades para encontrar emprego fomos aconselhados a procurar ajuda em um centro onde o pai-de-santo nos orientou que quando meu marido saísse a procura de trabalho eu fosse até lá para iniciarmos as sessões. Durante a primeira começaram a baixar vários espíritos no homem e em dado momento ele foi tomado pelo espírito do Zé Pilintra que começou a me apalpar. Apalpa daqui apalpa dali e fui colocada deitada sobre um sofá. Tirando minhas roupas íntimas e abaixando suas calças, deitou sobre mim e me possuiu. Com nova consulta marcada, na semana seguinte, lá retornei e aconteceu tudo de novo, desta vez com o espírito do Zé Baiano.
Fui numa terceira e numa quarta sessão e tudo se repetiu e sempre com espíritos diferentes. Meu marido começando a desconfiar da conduta dos espíritos que estavam se aproveitando de mim através do pai de santo, resolveu que devíamos procurar a polícia.
O marido que a tudo ouvia, com ar compenetrado simplesmente completou:
- Pois é, doutor. Nada posso afirmar. Não discuto coisas do além, mas faço questão que tudo seja apurado.
É evidente que essas pessoas foram vítimas de falsários, pois que os verdadeiros centros, as verdadeiras religiões, bem como os que se consideram pai ou mãe de santo jamais se prestariam a esse fim, muito menos para obtenção de vantagens pessoais.
Sob a rubrica da liberdade religiosa, ficamos sem fiscalização nesse campo e os incautos a mercê dos espertalhões.
IV – CARNE DE BODE PRETO
Uma jovem ainda na tenra idade foi acometida por grave enfermidade que a tornou paraplégica. Por mais que sua família tentasse, os médicos nada conseguindo, resignou-se com seu fadário passando a viver sobre cadeiras de rodas.
Quando já mocinha, apresentou-se em sua cidade um “fazedor de milagres” e ela o procurando, sob a ordem de levanta e anda, abandonou a cadeira e voltou à normalidade.
Aos vinte e oito anos, durante sua primeira gravidez começou a sentir dificuldades para andar e novamente se tornou paraplégica.
Valendo-se da experiência anterior, imediatamente procurou pelos milagreiros e acabou sendo atendida em um centro que se propôs curá-la.
O dirigente levando-a para um cemitério ali fez um “trabalho” para obter a cura, sacrificando e espargindo o sangue de várias galinhas pretas e de um bode da mesma cor.
Não obtendo o resultado pretendido, acertadamente internou a moça em um hospital público.
Dias depois, uma pseudo mãe de santo a quem a cliente foi primeiramente prometida, ao tomar ciência do ocorrido, enfureceu-se e foi até o hospital e obteve alta da paciente, levando-a para o seu covil.
Ao examinar a moça, assustando-se com as feias escaras surgidas em suas nádegas, crosta escura indolor resultante da mortificação do tecido, devido a causas diversas, dentre elas, o paciente ter permanecido em decúbito por muito tempo, imediatamente diagnosticou que se tratava da carne do bode preto enxertada pelo outro centro.
Munida de uma tesoura foi cortando os pedaços e quase dilacerou um dos lados da região glútea da paciente.
Diante da forte hemorragia que não conseguia estancar, chamou a polícia denunciando o ocorrido.
Internada em um outro hospital, constataram que a infeliz era portadora de um antigo tumor intercostal que na sua infância comprimiu o sistema nervoso de locomoção e na puberdade, devido às naturais modificações do seu corpo tomou outra posição possibilitando-a de andar. Não houve milagre algum. Simplesmente uma obediência à ordem “levanta e anda”
Durante a gravidez a pressão do feto empurrou o tumor para o estado originário resultando na nova dificuldade de andar.
Ferida e dilacerada física e moralmente, seu estado de saúde se agravou e a jovem faleceu no hospital.
V – BIGAMIA EM FAMÍLIA
Na época em que os pais das donzelas, ainda recorriam à polícia para registrar queixa pelo crime de sedução, uma senhora procurou a Delegacia informando que seu genro havia feito “mal” para sua filha. Estranhando a informação, o Delegado perguntou se eles já eram casados e a senhora concluiu:
- Sim são casados, mas ele fez mal para a outra minha filha menor e solteira.
No dia marcado para a lavratura do boletim de ocorrência, o BO, e o encaminhamento da moça a exame de conjunção carnal, aparecem na Delegacia, a mãe, um rapaz e duas moças.
O Delegado chamando em particular os três envolvidos para ouvir o que tinham a dizer, uma das moças esclareceu:
- Não sei porque minha mãe veio fazer queixa.
- Há muito tempo que isso aconteceu e nós três dormimos no mesmo quarto, na mesma cama.
- Meu marido às vezes faz sexo comigo e às vezes com minha irmã e às vezes com nós duas. Não temos ciúmes uma da outra.
O Delegado diante daquela confissão, olhando bem para os três e admirando a beleza das moças, deixou escapar o que pensava e imediatamente se resignou:
- Vocês fazem coisas que deixam até o seu Delegado com inveja
Provavelmente a autoridade se conteve porque suas cunhadas naqueles tempos já tinham mais de sessenta anos e imaginou a triste cena que viveria com duas velhas na cama.
VI – AEROPORTO DE MOSCAS
Tarde ensolarada. Dia quente sem sinais de chuva. O plantão de uma Delegacia da periferia estava repleto de pessoas, quando chegou mais alguém.
Era uma formosa morena clara com seus vinte anos de idade, corpo bem delineado, pernas grossas bem torneadas, trajando uma leve blusinha e uma micro-saia.
Não houve quem não a percebesse
Sentando-se em um dos bancos, com uma rápida cruzada de pernas postou-se em uma posição onde sua beleza ficou ainda mais exposta e silenciosamente permaneceu.
Em dado momento, o policial que fazia a triagem das partes, dirigiu-se ao Delegado e pediu-lhe que viesse ver o que estava ocorrendo.
A Autoridade pessoalmente constatou:
Todas as moscas que casualmente passavam pelo Distrito tentavam alvoroçadas pousar entre as pernas da moça por dentro da sua saia como que disputando milimetricamente algum lugar.
Disfarçadamente a jovem procurava espantava-las abanando com uma das mãos.
VII – BRIGA
A moradora de um bairro, após breve discussão, avançou contra seu vizinho tentando agredi-lo a socos, pontapés e mordidas.
Na defesa, ambos se atracaram.
Luta renhida
Os contendores rolaram no chão.
A cada tentativa de golpes, o homem por cima a segurava e forçosamente a apalpava.
Mordidas de lá, defesa com a boca de cá. Tentativa de socos, os corpos se entrelaçavam. Tentativa de pontapés, as pernas se cruzavam. Nas ameaças de joelhadas, as mãos roçavam suas coxas.
Contidos, foram conduzidos à Delegacia quando a mulher percebendo que seus argumentos não convenciam completou:
- Doutor. Realmente o Sr. tem razão.
- Acho que ele não estava me batendo mas procurando se aproveitar de mim.
-Quero registrar queixa por abuso sexual
VIII – DESAVENÇA CONJUGAL
Uma senhora procurou pela Delegacia reclamando que seu marido muito a perturbava a ponto de sequer deixá-la dormir a noite e queria uma providência.
Segundo ela, o marido a criticava por tudo e por nada, não lhe dando um minuto de descanso.
Fazia acusações falsas, dizendo inclusive que ela era uma adúltera.
Não podia conversar com ninguém e novas críticas surgiam.
Se ia ao supermercado começava com novas suspeitas. Enfim, sua vida estava insuportável
O Delegado com a maior atenção, pediu-lhe o endereço para intimar o acusado.
A senhora um tanto desconsertada parou de falar, pensou, pensou e completou:
– É que meu marido morreu há três meses e está enterrado no cemitério da cidade.
IX – NÃO PROCUREI, NEM PROCURO
Uma jovem judicialmente separada do marido procurou a Delegacia queixando-se de que, a pretexto de visitar a recém nascida filha, ele vinha a sua casa inopinadamente a qualquer hora da madrugada sendo que na realidade sequer era o pai da criança. Estranhando essa informação, a pedido da Autoridade, a moça esclareceu:
- Sabe doutor, existia alguma coisa estranha com o meu ex-marido, por isso nos separamos. Aquele moço, respeitoso e responsável, na noite do casamento durante a festa, bebeu tanto que se descontrolou. Para que os demais convidados não percebessem eu e um amigo íntimo dele o levamos para o nosso quarto. Já indignada com aquela situação fiquei mais perplexa quando, provavelmente fingindo embriaguez, ao agradecer o amigo, afirmou que estava tão grato que o retribuiria naquela noite com a minha virgindade. Num ato de revolta não pensei duas vezes. Tirei minhas roupas deixei o bêbado no chão e fui para a cama com seu amigo, resultando na gravidez. O tempo foi passando e como ele nunca tocou no assunto nem me procurou, entrei com o pedido de separação judicial para posterior anulação do nosso famigerado casamento.
Como o acusado era subgerente de uma agência bancária próxima à Delegacia, convidado por telefone, imediatamente se apresentou munido de um alvará judicial e fez questão de mostrar que por aquele documento podia visitar a filha no momento que lhe aprouvesse.
Como apesar das ponderações o rapaz em tom firme não mudava de opinião o Delegado resolveu usar da penúltima cartada:
- Afinal o senhor nem sequer é pai da criança.
O acusado com um ar de indignação e surpresa virou-se para a mulher e dialogaram:
- Benzinha, você me traia desde aquele tempo?
- Claro Você algum dia me procurou?????
Repentinamente tudo mudou.
Aquele homem alto forte, trajando paletó e gravata, de voz grave, aspecto austero, resoluto, determinante, agora descontrolado, punho direito cerrado batendo contra a palma da mão esquerda, olhando firme para o Delegado, com voz e trejeitos femininos nervosos, desafiou:
- Não procurei nem procuro, quero ver quem me obriga
X – CASAMENTO NA POLÍCIA
Nos anos 70, quando o serviço publico era muito mais rudimentar do que hoje, as pessoas sem recursos, acometidas de enfermidade mental ficavam custodiadas nas Delegacias até que se encontrasse um lugar para interna-las.
Uma jovem completamente alucinada após uma semana no xadrez, foi internada em um hospital psiquiátrico recebendo alta trinta dias depois.
Imediatamente a paciente retornou à Delegacia perguntando se um rapaz fizesse “mal” para uma moça era obrigado a se casar com ela. Obtendo resposta afirmativa, passou a exigir que fizessem seu casamento com um dos PMs que guarneciam a Delegacia.
Perguntado qual deles, a moça esclareceu que foram todos. Quando passou pela delegacia, durante a noite os PMs a levavam para um alojamento onde haviam muitas camas e faziam sexo com ela, mas é claro que não queria se casar com todos mas com apenas um deles. Em dado momento, olhando pela janela viu um PM passando pelo pátio e exclamou:
- Com aquele Doutor. Com aquele Quero me casar com ele porque foi o mais gostoso de todos
- Sabe doutor. Não foram só os PMs que abusaram de mim. Aquele dia eu não cheguei aqui em uma perua branca do Fórum?
- Pois é. No caminho, o Oficial de Justiça e o Motorista pararam a viatura próximo a um terreno baldio e também fizeram sexo comigo.
Como a jovem ainda aparentava forte distúrbio mental, diante dessa deixa, a Autoridade agindo com toda cautela, mandou redigir um oficio apresentando a moça ao Juiz Corregedor da Comarca na tentativa de obter algum orientação.
Solicitado o concurso da Polícia Militar, dois PMs foram até o Fórum da Comarca escoltando a denunciante.
Horas depois os PMs voltaram sozinhos e entre gargalhadas contaram que ao se apresentarem ao meritíssimo, o homem de cara feia e postura arrogante, passou a ler o oficio da Delegacia enquanto a moça permanecia sentada em sua frente.
Em dado momento a moça, “psiu, psiu”, fez ao Juiz que parou de ler e a olhou de cara ainda mais feia.
- Sabe que o senhor também é lindo – completou a moça.
O Juiz desconsertado, limpou a garganta e gritando, determinou:
- Tirem essa moça daqui Tirem essa moça daqui
O Juiz nunca se manifestou e a moça simplesmente desapareceu.
XI - DINHEIRO CONSOLO DA VIÚVA
Uma mulher aparentemente inconsolável ao ser confirmada a morte do seu marido que a pouco havia sido atropelado em baixo de uma passarela sobre uma rodovia, gritava e lamentava o passamento de pessoa tão querida.
O Delegado contristado com aquela cena, ao orientá-la sobre os procedimentos legais, na primeira oportunidade ponderou que ela teria a receber determinada importância em dinheiro correspondentes ao seguro obrigatório.
Nesse ínterim chega à Delegacia o proprietário do caminhão atropelante que foi logo avisando que além daquela importância, ela iria receber mais dez mil de um outro seguro feito pela sua empresa.
Diante daquelas mágicas palavras os gritos se aplacaram e a mulher que após a informação da Autoridade já apenas soluçava, soltou uma enorme gargalhada e a partir de então não falava mais de outra coisa a não ser de quando e do quanto ia receber o dinheiro.
A felicidade que tomou conta daquele ser se irradiou por toda Delegacia e a viúva consoladíssima e sorridente se retirou não mais falando da morte do marido que descansou em paz.
XII – DEVER DE OFÍCIO
Uma jovem, cujo marido havia sido assassinado por desconhecido, com certa freqüência passou a se apresentar na Delegacia queixando-se de que também estava sendo ameaçada. O Delegado suspeitando da veracidade do alegado, ao inquiri-la, a mulher entrou em contradições e, tentando justificar-se, afirmou:
- Olha doutor. Depois da morte de meu marido passei a ficar muito nervosa a ponto de não mais conseguir conciliar o sono noturno. Consultando meu ginecologista, fui orientada a arrumar outro homem para não acabar me enlouquecendo. Tive a idéia de procura-lo, mas como minhas ex-cunhadas não me largam do pé, inventei a estória da ameaça. Na realidade eu gostaria de vir até a Delegacia e, ao invés de registrar B.O., que o senhor fechasse a porta da sua sala e fizesse sexo comigo.
Perguntada porque não fazia com o seu ginecologista a jovem completou:
- É porque não é o ginecologista, mas sim a ginecologista.
A Autoridade que não deixava nenhum caso sem solução se propôs ajudá-la telefonando ao Fórum da Comarca expondo os fatos a um jovem Representante do Ministério Público, sendo a mulher posteriormente a ele encaminhada munida de um memorando de apresentação.
Tempos depois Promotor e Delegado se encontrando, dialogaram sobre a inusitada ocorrência:
- É doutor, a polícia judiciária tem o dever de resolver esses conflitos.
- Doutor A curatela da família é da responsabilidade do Ministério Público e não da Polícia Civil
Na realidade ambos estavam indignados com a concepção que aquela mulher e talvez parte da população faziam sobre os representantes das instituições públicas.
XIII – FALTA DE PROVAS
Um homem de aproximadamente trinta e cinco anos de idade, chefe de família, resolveu se converter ao evangelho.
Assíduo freqüentador de igreja, não deixava de ler a bíblia por nada.
Sua fé cresceu tanto que certa manhã acordou se achando o próprio Jesus Cristo.
Como primeiro ato decidiu mandar toda sua família para o céu.
Chamou a esposa e os filhos maiores dando-lhes a “boa nova”.
Como qualquer mortal, seus familiares apesar de amarem a Deus sobre todas as coisas mas não tendo a menor pressa de encontrá-lo, saíram correndo.
O homem foi até o berço onde seu filho, um recém-nascido, repousava e despejou na boca da criança, água quente da panela de arroz que coincidentemente estava no fogão cozinhando.
Após assassinar a criança foi até o quintal da sua casa, forrou o chão com um lençol branco, tirou a camisa e banhou-se com um ou dois litros de álcool, ateando fogo.
Não dava um gemido qualquer. Simplesmente orava e pedia a seu Pai que recebesse a alma do seu netinho.
A polícia, chamada, o conduziu até o Hospital das
Clínicas onde medicado, retornou imediatamente com alta.
Quando da lavratura do auto de prisão, ao ser interrogado pela autoridade, ao ouvir que estava sendo preso por ter matado seu próprio filho, o homem imediatamente retrucou:
- Matei uma ova O senhor não está vendo que sou Jesus Cristo? Simplesmente o mandei para o céu - Bolas
Uma semana depois o homem morreu dentro do xadrez sem que ninguém acreditasse nele.
XIV – A FIEL DE UM CHIFRUDO
Um sitiante cansado da vida na roça resolveu mudar-se para a cidade grande, mas como seus recursos eram parcos foi morar em um barraco da periferia que lembrava muito a região da sua procedência. - Um ribeirão, terrenos baldios, pastos e algumas cabeças de gado.
Provavelmente como era costume seu, em dado momento interessou-se pelos animais e muito mais por uma gorda, robusta e bonita vaca.
A noite, quando ninguém observava, foi até o pasto e tentou conquista-la oferecendo-lhe mais alimentos.
A vaca com o seu indiferente olhar continuou pastando sem se importar com sua presença.
O homem dela se aproximou e deduzindo que havia ganho sua confiança, resolveu possuí-la.
Na primeira tentativa levou um par de coices na virilha e ao desmaiar deve apenas ter balbuciado:
- Ela era fiel
No dia seguinte foi encontrado morto pelo dono dos animais enquanto a vaca continuava indiferente pastando pelas imediações.
Os fatos foram devidamente apurados em inquérito posteriormente arquivado eis que a inimputada “indiciada” comprovadamente agiu em legítima defesa de sua honra, da honra da sua família.
XV – CHAVÃO POPULAR
Em plena revolução militar, iniciada em 1964, em um anoitecer de um sábado quando apenas alguns policiais militares, orientados por um novato escrivão, guarneciam uma pequena Delegacia, para lá foi conduzido um indivíduo alcoolizado sob acusação de que promovia desordens nas ruas da cidade.
Como o homem passou a dizer que era funcionário civil do exército e a pleitear direitos, o Escrivão pediu para que buscassem o Delegado em sua residência.
O Delegado demonstrando indiferença para esse fato simplesmente orientou o Escrivão a, juntamente com os PMs, conduzir até o Instituto Médico Legal, o elemento detido para exame de dosagem alcoólica necessário à lavratura do auto de prisão em flagrante.
No retorno o bêbado, mais refeito, passou a pedir para que o escrivão tivesse dó dele que era pai de oito filhos para criar e não podia ficar preso. O escrivão que só o ouvia, em dado momento contestou:
- Calma Você tem pelo menos dez cruzeiros no bolso? Se tiver, na hora do flagrante você paga a fiança que vai ser arbitrada no máximo nessa importância e vai embora
- Oh seu Escrivão eu só tenho cinco – retrucou o homem.
A conversa terminou aí.
Na Delegacia, particularmente o Escrivão ponderou ao Delegado que não fizessem o flagrante pois de nada adiantaria já que o valor da fiança era por demais irrisório. O salário mínimo da época era de Cr$ 187,20. Trabalhariam o resto da noite e o indiciado chegaria em casa primeiro que eles.
O Delegado concordou mas determinou:
- Coloque o homem no xadrez e só o solte segunda-feira de manhã.
Na segunda-feira ao chegarem na Delegacia, todos perceberam que ela estava sitiada por soldados do exército armados com fuzis e metralhadoras prontos para prender o corrupto escrivão.
O comandante daqueles militares esclareceu que o seu funcionário queixou-se ao Coronel do Quartel onde serviam que na noite de sábado havia sido detido por um sargento da PM e por um investigador só porque tinha bebido um pouquinho e como não tinha dez cruzeiros para pagar ao escrivão, teve que passar duas noites na cadeia.
Depois de uma demorada negociação ficou decidido que o escrivão seria conduzido ao quartel do exército em uma viatura civil e não no comboio dos militares.
O Escrivão que naqueles tempos era universitário e gostava de se trajar executivamente, conduzido ao Quartel, ao ser visto pelo Coronel, foi imediatamente sentenciado:
- Não Não Esse rapaz jamais pediria dinheiro para alguém, muito menos dez cruzeiros. Desculpem-nos pelo incidente e para esquecê-lo, estão todos convidados a aqui retornarem no próximo sábado e almoçarem uma feijoada comigo.
Da rápida decisão do Coronel se pode concluir que aquele velho chavão popular era e é verdadeiro:
Homem de gravata eu respeito
Recolher


