Projeto Conte sua História
Depoimento de Edna Carla Stradioto
PCSH_HV861
Olá, você me ouve?
Agora te ouço! Edna, muito bem-vinda oficialmente às entranhas do Museu da Pessoa, ao acervo, ao programa Conto Sua História, em meio a uma pandemia viral de 2020. Queria que você começasse dizendo para mim O nome, o local e a data de seu nascimento são para situar.
Eu sou Edna Carla Estradiotto, sou natural de São Paulo, nasci no dia 13 do 10 de 1971.
E agora eu queria te pedir para você fechar os seus olhos e voltar lá para sua infância, E você vê qual que é a lembrança mais antiga que você tem na sua vida? Qual é a primeira imagem que você se recorda dessa existência?
Eu devia ter, sei lá, uns quatro anos e eu brincava muito no quintal. Eu sempre brinquei muito ao ar livre. E meu grande companheiro de brincadeira era meu irmão. E a gente brincava muito com terra. A gente vivia em mundo. Brincava com terra o tempo inteiro, cara. Era muito bom.
Pronto. Pode ficar de olho aberto. E como é que eram essas brincadeiras com ele? Ele era mais novo, mais velho?
Eu sou caçula e ele era três anos mais velho que eu. E a gente estava muito, muito bem. muito, muito bem em tudo. Eu brincava mais com brincadeira de moleque, de menino, do que com as coisas de menino. Eu gostava muito de boneca, sempre brinquei muito de boneca, tudo. Mas eu aprendi todas as brincadeiras de menino, porque eu acompanhava ele em tudo, porque era muito divertido brincar com ele. Mas a gente tinha uma pegada de brincar no quintal, que era fabuloso, cara. A gente fuçava na terra, a gente subia em árvores, a gente era terrível. Eu era... Nossa Senhora! A gente aprontava demais.
Nossa! Você tinha um quintal grande? Como é que era?
A gente nem tinha um quintal grande, cara. Mas a gente vivia numa São Paulo, na década de 70. que a rua era extensão do seu quintal, né, cara? E a gente vivia num bairro que era assim, do lado era tio, na frente era tio, era avô, era tio,...
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Depoimento de Edna Carla Stradioto
PCSH_HV861
Olá, você me ouve?
Agora te ouço! Edna, muito bem-vinda oficialmente às entranhas do Museu da Pessoa, ao acervo, ao programa Conto Sua História, em meio a uma pandemia viral de 2020. Queria que você começasse dizendo para mim O nome, o local e a data de seu nascimento são para situar.
Eu sou Edna Carla Estradiotto, sou natural de São Paulo, nasci no dia 13 do 10 de 1971.
E agora eu queria te pedir para você fechar os seus olhos e voltar lá para sua infância, E você vê qual que é a lembrança mais antiga que você tem na sua vida? Qual é a primeira imagem que você se recorda dessa existência?
Eu devia ter, sei lá, uns quatro anos e eu brincava muito no quintal. Eu sempre brinquei muito ao ar livre. E meu grande companheiro de brincadeira era meu irmão. E a gente brincava muito com terra. A gente vivia em mundo. Brincava com terra o tempo inteiro, cara. Era muito bom.
Pronto. Pode ficar de olho aberto. E como é que eram essas brincadeiras com ele? Ele era mais novo, mais velho?
Eu sou caçula e ele era três anos mais velho que eu. E a gente estava muito, muito bem. muito, muito bem em tudo. Eu brincava mais com brincadeira de moleque, de menino, do que com as coisas de menino. Eu gostava muito de boneca, sempre brinquei muito de boneca, tudo. Mas eu aprendi todas as brincadeiras de menino, porque eu acompanhava ele em tudo, porque era muito divertido brincar com ele. Mas a gente tinha uma pegada de brincar no quintal, que era fabuloso, cara. A gente fuçava na terra, a gente subia em árvores, a gente era terrível. Eu era... Nossa Senhora! A gente aprontava demais.
Nossa! Você tinha um quintal grande? Como é que era?
A gente nem tinha um quintal grande, cara. Mas a gente vivia numa São Paulo, na década de 70. que a rua era extensão do seu quintal, né, cara? E a gente vivia num bairro que era assim, do lado era tio, na frente era tio, era avô, era tio, padrinho, na rua de trás, era assim, era como se fosse uma comunidade que vivia a família toda juntos, os melhores amigos, era muito louco, cara. Era um bairro que vivia todo mundo junto e E era filha, era conhecida, era amigo, melhor amigo, e era um negócio... era sensacional. A gente vivia na rua, a gente não tinha tanto carro, era muito louco. A rua era a extensão do quintal mesmo. A gente tinha muito isso de brincar fora de casa. Essa pegada de hoje da criança viver enfurnada de casa não era assim, cara. E a outra coisa que a gente tinha muito era assim. A gente tinha um sitiozinho, então chegava sexta-feira à noite, a gente viajava pro sítio. Ficava lá até domingo à noite. Então, também chegava final de semana, a gente se emporcalhava na chácara. Tirava sapato, às vezes eu e meu irmão, na porteira do sítio, já tirava os sapatos, já tirava as roupas pra não estragar as roupas de sair de casa, né? Ficava eu de calcinha, ele de cueca e a gente já se lameava todinho pra brincar no... Mesmo, brincadeira de criança de campo, sabe? Criança rural. E nas férias de verão, a gente ia pra casa da praia. E aí eu virava caiçara, então tinha essa pegada de ou virar caipira, Ou Kaisara. Então eu tive essa infância, cara.
Eu tive uma infância muito... Qual praia que você ia?
Eu ia numa praia que era divisa entre Mongagó e Taen. Era uma praia também com essa pegada de não tinha vizinha, era tipo uma praia exclusiva. Chegava lá, eu também, a gente já descia, minha mãe nem abriu o portão da garagem, meu irmão já arrancava a roupa ali na garagem mesmo, já corria pra praia. A gente não entrava nem dentro da casa, a gente corria pra praia, pro mar. Era um troço... A gente era muito selvagem. A gente era muito livre, cara. Eu tive um espírito de liberdade desde pequena. Eu sempre curti muito a natureza e sempre prevaleceu em mim esse diálogo muito grande com a natureza e essa liberdade de interação com a natureza muito grande. E eu perdi o meu companheiro de aventura quando eu tinha 19 anos e ele 22. Mas o tempo que a gente teve junto Foi demais, cara. Vivemos intensamente cada dia.
Quem que você perdeu com 19 anos que só deu uma falhinha aqui?
Meu irmão.
Ah, seu irmão.
É.
Conta isso pra mim.
Ele teve um acidente. Ele tava voltando do trabalho pra casa e tinha um caminhão num lugar irregular na estrada. E a moto dele, o caminhão tinha que estar no acostamento porque ele tava quebrado. O caminhão quebrou, não sinalizou e do jeito que ele fez a curva, ele entrou no caminhão.
Nossa.
22 aninhos de idade. Foi triste demais.
Aí depois a gente vai chegar nos seus 19 anos, aí você comenta mais isso.
Só pra você entender porque eu tava falando no passado o tempo inteiro, entendeu? Só pra você entender que foi isso.
Esse espírito de liberdade que você fala que você tinha, qual mais memória você tem que se associa com esse espírito de liberdade?
Essa coisa de... Uma coisa que é muito relacionada a mim é a descoberta da literatura. Quando toda criança acha um saco, eu catava biografia, livro de literatura, poesia. Eu lia poesia do século XIX, poesia romântica, eu achava o máximo. E eu catava com 12 anos de idade, eu cansava de brincar. Meu pai, ele era um cara simples, mas ele sacou que o estudo era uma chave muito importante. Então a gente tinha uma estante grande em casa. E eu, todo dia, cara, eu chegava naquela estante, eu falava, bom, o que que eu vou pegar hoje? E eu... Esse espírito de liberdade, quando eu tava dentro de casa, era o meu portal pro mundo. Então, aí eu entrava nos livros assim e eu disparava. Era o meu portal, entendeu? Então, eu descobri poesia, aí eu descobri a literatura e a ilustração, cara. Porque eu ficava horas na capa do livro. Eu lia o livro, aí eu parava na capa e eu tentava descobrir o que aquele cara, porque aquele cara tinha feito aquela imagem. Voltava pro livro, voltava pra capa e eu falava, mas o que essa capa tem a ver com esse livro? E, ó, que louco! Depois de tudo esses anos, eu vim estudar ilustração, cara. Que loucura. Ó como que a vida é linda. Que louco isso, cara. Demais, né?
Nossa, lindo demais. Mas você não teve ninguém que estimulou? Era você mesmo?
Não, era eu, cara. Por isso que eu falo que eu sou selvagem, porque eu ia na contramão de tudo. Sou uma pessoa que não tenho medo de ser eu mesma.
E eu queria que você... Muito bonita essa frase, né? Sou uma pessoa que não tem medo de ser eu mesmo. Que você me contasse um pouco dos seus pais, né? Eu devo contar um pouco como era a história deles mesmo, como eles se.
Conheceram... Puta, a história dos meus pais é maravilhosa! Parece... Conto de... desses contos brasileiros, assim, que você vê nessas historinhas, assim, sabe? Meu pai de família italiana, foram parar em Paraná, numa cidadezinha chamada Cambará. Foram ser produtor de café, muito simples. E o pai do meu pai, faleceu quando ele tinha 12 anos. Ó só que louco! A minha avó, florinda, italiana, ela teve 11 filhos. Meu pai, o caçula. Quando ele tinha 12 anos, o pai dele morreu. E aí ela pegou a família e veio pra São Paulo. Morar num bairro chamado Jaguara. A família da minha mãe, o pai dela descendente de espanhol e a mãe descendente de português. Lá, mas eles de uma cidade em Pernambuco chamada Araripina, quase divisa com Fortaleza. E a história é linda, porque o meu avô, o pai da minha mãe, casou com a irmã da minha avó. E a minha avó era apaixonada pelo meu avô, mas ele casou com a filha mais velha. Só que eles casaram e ela faleceu no parto. Ela ficou grávida e faleceu no parto. Deu um tempo. Ele foi lá no pai de novo e falou, bom, eu casei com a sua filha mais velha, ela faleceu, você me dá a mão da outra filha? O vô lá foi lá e deu a mão da minha avó, a avó Tereza. E aí eles casaram. Tiveram 13 filhos. Minha mãe a décima terceira, a caçula. Minha mãe com 12 anos perdeu o pai dela. O que que minha avó fez? Pegou os filhos, vieram pra São Paulo. Pra morar aonde? Num bairro chamado Parque São Domingos, que fica a dois quilômetros da onde Jaguara. Meu pai foi trabalhar numa empresa chamada Gessilever. A minha mãe foi trabalhar numa empresa chamada Gessilever. Lá eles se encontraram e se apaixonaram. casaram, tiveram três filhos. Minha irmã mais velha, meu irmão e eu. E foi isso, cara.
Nossa!
Pô, tá muito... Muito louca essa história. Eu acho bonitinha demais, gente.
Não, linda demais. Bem literária.
Não para nesse conto!
Parece! Essa coisa do...
É, bicho! Lá do norte, lá do sul, vieram pra cá, se encontraram, vieram no mesmo lugar, cara! Muito louco!
E, assim, depois que o... Deles em vida, né? Que essa história pregressa, assim, deles. Mas você criança, como é que era a sua relação com eles? O que você lembra, assim, de histórias deles?
Minha mãe tem esse perfil de espanhol. mais fechada, mais brava, mais econômica. Meu pai era esse italianão, abraça, beija, carinhoso, quer todo mundo perto, sabe? Era esse homem, puta, delícia, esse cara que chega num lugar e ele muda tudo com a energia dele. Essa pessoa assim, que tem essa luz, Parece um holofote? Era meu pai, cara. Meu pai era esse tipo de gente. Essa pessoa delícia. Infelizmente, foi embora em 2016. Aí foi um... foi um baque forte. Foi um baque forte. Quando ele foi embora, foi difícil.
E... E você lembra de alguma história sua com ele?
Puta merda! Nossa senhora, desculpa a palavra.
Tranquilo.
Ó, meu pai, putz, como tem história com meu pai. Quando ele faleceu, eu tava fazendo na universidade uma disciplina chamada contos dos anos 2000. E a gente teve que escrever um conto fictício, autoral. E eu contei os 50 dias de UTI do meu pai, como se fosse... Se eu conseguisse tirar ele todo dia daquela cama, e se eu conseguisse voltar com ele pra praia na minha infância, que era quando a gente passava a rede à noite no mar, que eu carregava a lanterna, que ele me levava pro mar, pro fundo, e ele só falava assim, pega na minha mão e confia. Então, cara, era muito isso. Meu pai, ele parecia... Ele era meu super-herói, entendeu? Ele era um gigantão de 1,87m, que se ele falasse assim, vem, Se você conhecesse meu pai e ele olhasse pra você e você olhasse pra ele e falasse assim, vem comigo, você não ia perguntar pra onde você ia. Porque ele passava um negócio assim, no olhar, na confiança, na energia que ele tinha. Era impressionante. E eu tenho muita história. Meu pai era muito companheiro. Ele sentava pra ver televisão com a gente, quando a gente era pequeno. Tinha dias que a minha mãe, super... Aquela mãe cuidadora, né? Preocupada com a alimentação dos filhos. Ele chegava em casa com um pacote salgadinho. Hoje nós vamos comer tranqueira! E sentava lá na frente da televisão. aquele monte de tranqueira e comia Cheetos, batata frita, sei lá mais o que que ele comprava e a gente comia aquilo e ele comia junto, você tá entendendo? E ele era muito isso e ele era muito divertido e gostava de gente perto e ele... a maior qualidade do meu pai é que ele compreendia as pessoas distintivamente. Ele não passava régua assim, sabe? Não, você é assim, então você... Vou tratar assim. Então, por exemplo, a minha irmã era uma menina super disciplinada, só tirava 10 e tal. Então, quando ela chegava com as notas dela e tinha um 8, ele chegava pra ela e falava, mas o que aconteceu com você? Aí o meu irmão chegava lá, rapando na média, assim, seis e meio, não sei o quê. Ele, ô, maravilha, hein? É, mano, sei! É muito engraçado, porque ele sabia até onde podia dar, cara. Ele sabia como tratar cada um. Se ele desestimulasse, o cara largava a mão. Você tá entendendo? Aí eu chegava lá com uns 7, uns 8, e ele ia, olha, tem um 9 aqui! Legal! E se tinha uma nota baixa, ele falava, ó, você pisou na bola aqui, tem um 5 aqui, ó, isso não pode acontecer, não pode. Aí, só pra você entender como que era meu pai, que louco que era meu pai, mano. A gente fazia aula do que você quisesse. Se você quisesse roupa todo mês, ele não dava. Esquece. Mas a gente tinha aula de piano, de violão, de flauta, de inglês, de francês. O que você quisesse, ele pagava. Aí a minha irmã, a Manja, aquela pessoa super quadrada que se dedica muito pra tudo, a bicha tocava Chopin, tocava tudo no piano. Detonava. Mas como ela era perfeccionista, ela não tocava na frente de ninguém. Eu também fazia aula, mas eu errava pra caraca. Eu tocava, eu não tava nem aí. Eu era espírito livre. Você tá entendendo? Eu chegava no piano, eu tocava, eu errava os negócios. Botava as partituras lá e pá! Eu não tava nem aí. Ela era a pianista da casa. Mas quem que o meu pai chamava pra tocar piano? Eu! Por quê? Porque era divertido me ver tocar piano. Ele não queria alguém que tocasse piano direito. Ele queria se divertir. Na minha irmã eu ficava puta, entendeu? Então esse era o espírito do meu pai. E também por quê? Porque no fundo, acho que ele pensava assim, eu vou chamar a menina que toca direito, eu vou chamar essa estrupice que não toca direito pra ver se ela aprende um pouco, se estimula essa menina a fazer umas aulinhas melhor, se dedicar, né? Então o meu pai, ele tinha essa sacada de, pô, eu não posso tratar as pessoas padrãozão. Cada um é cada um. Cada um tem que ser tratado de um jeito. Então, essa sacada do meu pai era genial pra mim, entendeu? Porque a minha mãe, ela tentava enquadrar a gente numa caixinha, entendeu? E aí eu olhava e falava, puta merda, mãe, não, mãe. Eu nunca vou conseguir ser igual a minha irmã. Não consigo, porque a minha irmã era esse modelo de perfeição inalcançável, e eu me sentia muito frustrada, cara. Entendeu? Então, por que eu me dava melhor com o meu irmão? Porque o meu irmão era esse espírito jovem e selvagem, que nem eu, e a gente sempre se deu muito bem. E o meu pai entendia que a gente era assim, ele curtia que a gente era a gente, entendeu?
Nossa, que interessante. E aí, aproveitar que você mencionou essa coisa do boletim, ia falar pra você, puder contar um pouco como foi o seu período na escola.
Puta, ó, eu... Nossa, cara. Muito louco, porque eu estudei... No primeiro a parte da escola, o fundamental, eu fiz um colégio de freira. Só mulher. E freira, aquela coisa quadrada, só disciplina, aquela tudo tal, né? E eu sofri demais, cara. Aquilo me arregaçava, né? Porque o que eu te falei, eu sou um espírito diferente, eu tenho essa pegada de não é indisciplina, mas eu preciso dar flexibilidade, eu preciso me expressar na minha individualidade, né? E era um colégio tradicional. Então, foi muito difícil pra mim. Tanto é que eu fiz uma puta pressão. Na verdade, não precisei fazer pressão, não. A minha turma foi tão terrível no oitavo ano, que dois terços das meninas foram convidadas a não fazer matrícula pro ensino médio. Fomos convidadas a não matricular. Eu fui uma das. Pro desgosto da minha mãe, eu fui convidada a não renovar a matrícula. Minha mãe recebeu uma cartinha. Sua filha está... Porque nós botamos terror na terra lá, nós fizemos um regaço geral no oitavo ano. Acho que era o hormônio, a rebeldia, sei lá, juntou uma palhaçada geral lá, nós fizemos um regaço no oitavo ano. Cara, a gente jogava uma na lata do lixo, a gente roubou chave da capela, a gente botou um terror naquele ano lá. Nós fizemos um regaço geral no colégio naquele ano. Foi, foi... Putzgrilo! Quase todo dia a diretora vinha lá e falava, porra, de novo, cara! Qual que é o problema de vocês? Não, e o mais legal era assim, tipo, dois terços era um puta regaço, né? E tinha CDFs lá, né? As meninas quietinhas. Mas elas eram legais, elas não entregavam a gente, cara. Elas não entregavam, elas ficavam quietinhas. Porque aí as freiras botavam pressão nelas, né? Pra elas entregarem a gente, né? As bagunceiras. E elas falavam assim, não, a gente não faz ideia do que tá acontecendo. A gente não viu nada. E elas sabiam, né? Elas sabiam. Todo mundo sabia quem que era sempre o tempo todo. A gente sabia quem fazia as coisas, né? Uma vez ou outra só que era tanta zoeira que às vezes a gente não sabia. Porque às vezes era coisa ao mesmo tempo que acontecia e a gente não sabia. Mas era... Aquele ano foi um regaço. A gente não entendeu. Começou no começo do ano, terminou no... Do começo ao fim, nós arregaçamos o ano. E aí, quando foi a época da matrícula, as freiras falaram, ó, dois terços de vocês não matriculam aqui, nós não queremos vocês aqui. E aí, por desgosto... Aí eu fui pro colégio do meu irmão. Eu estudava nesse colégio chamado Notre Dame. E aí eu fui pro colégio Rio Branco. Lá na Eugenópolis, que era colégio misto. E fui estudar no colégio do meu... Aí... Putsgrilo! Aí eu não tinha uniforme. Era colégio misto. E se você quisesse cabular a aula, você cabulava. Aí... Aí o que eu descobri? Eu descobri que era careta. Eu entro no colégio, que era toda certinha, vindo há oito anos, você imagina? Oito anos em Colégio Freira. Eu chego num colégio misto. Você tem autonomia pro ensino médio. Eu descobri que era careta. Eu era a careta da turma. Que fazia lição, que anotava tudo. Eu era a que menos cabulava. E eu falava assim... Que legal, cara! Eu sou careta! Muito louco! E aí... Eu passei, então, dessa fase rebelde, a super rebelde, no Colégio Freira, para descobrir que eu era careta no ensino médio. Quando eu terminei o ensino médio, a minha melhor amiga, a família dela, mudou para Paris. E eu tava muito perdida, que eu não sabia o que eu queria fazer do vestibular. Eu queria fazer artes plásticas já. E a minha família super desestimulou. Artes plásticas não é carreira, não é profissão, é hobby. Baixa uma profissão que dá dinheiro. E aí, eu perdi daça. A família dessa minha amiga falou assim pra mim, vem com a gente. Vem pra Paris com a gente. Fica lá o tempo que você quiser. Meu pai não. Não! Como assim? Ela nunca viajou sozinha. Vai pra Paris fazer o que? E meu irmão. Pai, olha que oportunidade. A família deles é uma família igualzinha a nossa. Eles têm o mesmo estilo de família. Elas são meninas que estudaram a vida inteira com a Edna. Estudaram no Colé de Freira. Agora estudaram no Rio Branco. Meu pai falou. Tá bom, você quer ir? Falei, eu quero! Terminei o ensino médio, fui morar em Paris. Olha que ruim!
Nossa!
17 anos fui morar em Paris. Aí minha vida mudou. Aí não teve como, cara. Essa experiência foi divisor de águas, porque primeiro eu tive a experiência de morar com a família europeia, porque eles eram portugueses, vieram morar um tempo no Brasil, acabaram ficando mais do que gostariam. E aí eu tive essa vivência com essa família europeia. Conhecemos da França a França, Espanha e Portugal. Eu conheci tudo que você possa imaginar. Norte a Sul, tudo. Fiz essa imersão na cultura, em especial na pintura, porque aí eu descobri que a parada que eu queria era isso mesmo, que foi a vida. Descobri esses impressionistas do caraca que enlouqueci, enlouqueci. Eu passava dias dentro do Museu d'Orsay, passava dias no Museu do Louvre. Dias! Tinha semanas que a mãe da minha amiga falava, essa semana quantas vezes você foi pro Louvre? Eu duas! Essa semana você foi pro Museu d'Orsay? Fui uma! Era assim, né?
Caraca! Mas o que que pegou o seu interesse? O que que fisgou? Do nada você começou aí em museu?
É... Aquilo, cara. Aquilo... Quando eu olho pra uma pintura, assim, é como se eu realmente entrasse numa outra existência. Eu... É quase metafísico, é como se eu fosse para um mundo divino, um mundo perfeito. É um diálogo com o mundo perfeito. Eu saio, eu descolo dessa realidade aqui. Eu começo a... Eu me concentro na pincelada, na composição de cores, na harmonização das formas. Eu vou vendo como aquilo foi construído imageticamente. Eu tento ver a elaboração narrativa que o pintor, como ele criou aquilo. E, olha, não é só no figurativo isso, cara. Eu faço a mesma coisa com o quadro abstrato. Eu fico horas num figurativo e eu sou capaz de ficar as mesmas horas num quadro abstrato. É o diálogo que se estabelece com a obra. Se aquilo me comove, se aquilo me encanta, eu mergulho completamente naquela pintura. E eu percebo assim, escultura, eu gosto? Gosto. Eu gosto de várias linguagens e vários suportes. Gosto muito. Mas a pintura é, de longe, o tipo de arte que mais me encanta. E é isso, cara. É um encantamento. A pintura me encanta como se ela sugasse a minha existência durante esse diálogo que acontece enquanto eu tô diante ali da obra de arte. É uma experiência maravilhosa. E em particular, quando eu estou na frente de um Monet ou de um Van Gogh, o negócio, a pegada é mais forte. A pegada é mais bruta. O negócio é comovente. Aí eu me debulho, aí eu vou num negócio que é muito intenso e eu me Aí é como se arrasgasse a minha alma completamente e eu não sei nem te descrever direito o que acontece. É um negócio maravilhoso. Eu acho que quem não experimentou isso precisa fazer essa tentativa, porque Muita gente por aí usando droga e eu vou falar pra vocês, não tem viagem mais deliciosa do que essa. Você entrar em contato com a arte nesse nível.
Nossa! Que forte! E aí, você nessa época começou a pintar também?
Então, aí quando eu voltei pro Brasil, Eu fui fazer cursinho e conheci uma outra moça. Fiquei amiga dela, a gente se identificou muito com essa coisa da liberdade. Eu queria também, quando eu voltei de lá, eu queria zoar, eu queria dançar, eu queria ir na night e tal. Mas a gente tinha uma pegada muito de estudar, de disciplina, porque eu queria passar numa universidade e tal. E eu descobri que o vô dela era pintor. E a gente saía de... Domingo o nosso programa era cinema. E às vezes ela falava assim, ou eu dirigia, ou ela dirigia, ou ela falava assim, vamos passar antes na casa do meu vô pra eu visitar ele? Eu falava, vamos. Era pertinho, meio no caminho assim. Descobri que o vô dela era pintor. Aí eu falava, que legal, seu vô é pintor, quero ver. Aí comecei a conversar com ele e tal. Um dia ele me leva pro ateliê dele, e eu passo no caminho assim, eu falo, putz, que que é isso aqui? Aí ele fala assim pra mim, é uma aquarela. Eu falei, aquarela? Porra, que coisa linda isso aqui! E eu parei em frente daquele quadro ali, e eles foram embora, e eu fiquei ali. Acho que eu fiquei uns 20 minutos parada ali, e eu falei, meu Deus do céu, que coisa linda! Pelo amor de Deus, coisa linda! Nossa, que coisa linda! E eu fiquei louca. E aí ele falou assim, você quer ter umas aulas de aquarela? Eu te dou umas aulas de aquarela. Você quer umas aulas de aquarela? Eu falei, quero! Na hora, eu falei, quero! Eu comecei a ter aula de aquarela com ele.
Caramba!
Foi assim, cara, foi... E como foram.
As aulas com ele?
Foi amor à primeira vista. Ah, era um dos negócios muito intuitivo, né? Ele falava, você tem que fazer isso, isso, isso, isso, isso, isso, isso. E ele falava assim pra mim, faz. Antigamente era assim, o cara sentava e fazia. O artista se faz fazendo. E eu falava, yeah, é isso aí. Comprei os trem e fazia, fazia. Levava pra ele, ele olhava, ele não falava que tava ruim. Ele falava, é, você viu que aqui não tá bom, né? Aqui você jogou água demais e você precisa estudar a teoria das cores, né? Porque isso aqui não é uma composição interessante, né? Aí eu voltava, aí trazia mais coisa pra ele. Eu não tinha aula lá, ele fazia uma espécie de curadoria comigo, você tá entendendo? Então, e era assim, era nesse crescente, entendeu? E aí, eu fiquei, eu não sei se foram uns 11 meses nessa pegada, Aí eu já tinha entrado na faculdade de administração. Você sabe, o trabalho começa a apertar na faculdade. É trabalho, é apresentação, é não sei o que, não sei o que. E aí eu desanimei. Mas naquela época eu já tava com um negócio interessante de aquarela. Já tava produzindo bem a aquarela. Só que minha família se estimulava demais. E eu, naquela época, eu falei pra minha família. Eu vou largar a administração e vou prestar vestibular de novo pra artes plásticas. Ah, você tá louca! Casa caiu, cara. Casa caiu. Só faltaram falar assim. Se você fizer isso, a gente te bota pra fora. Só faltaram falar isso.
Caramba.
Foi. Minha família é muito tradicional nesse ponto. Uma pena.
Como você lidou com isso?
Me resignei. Me resignei porque eu sou a pessoa sim. eu consigo ser feliz com o que eu tenho. Não é me acomodar na minha pequenez, não é isso. É de encontrar motivação dentro de mim e motivos em tudo que existe há coisas boas. O que você quer focar? No ruim ou no bom? Eu gosto de focar no bom. Então, o que eu fiz? Dentro da administração, eu achei uma área que era legal para trabalhar e que eu encontrava diversão e coisas interessantes para eu atuar. Uma área chamada área de crédito e risco, que me mantinha ligada nas atualidades, na economia, nos setores macroeconômicos, Então, eu tinha essa pegada super legal. Eu tinha que interagir com todas as áreas, no caso, no banco, porque primeiro eu fui para uma empresa ligada ao Citibank, meu primeiro trabalho. E eu tinha que conversar com todas as áreas do banco. E eu me sentia... Essa pegada de utilidade também é uma coisa que me move. Eu tenho que ser útil para alguém. Então, o que que eu fiz? Eu encontrei dentro do meu, da minha realidade, algo que me motivasse a e me movesse fazer pra eu ser feliz. E eu fiquei nessa área 22 anos, cara. Então pra você ver que não era balela, o que eu queria fazer. não tô falando balela. A arte ficou adormecida. meu espírito selvagem, divertido, espontâneo, não. Ele tava lá, tanto que eu levei isso o tempo todo comigo pra todos os lugares que eu fui e que eu trabalhei depois. Eu trabalhei ao todo em quatro grandes multinacionais. A primeira foi o Citibank, a segunda foi o Santander, a terceira foi o Grupo Alianza GF, E o último foi uma empresa chamada SESC, que era nada mais, nada menos do que do grupo, do grupo, do governo espanhol. Então foram as quatro grandes multinacionais que eu trabalhei na minha vida.
E dentro delas tem alguma memória que você quer destacar? Alguma vivência que você teve nesse lugar?
Não, o que se destacou sempre dentro de mim foi esse espírito de liderança, que eu percebi logo desde o início. Porque quando eu era estagiária, eu já virei chefe dos estagiários, logo no primeiro trabalho, já me botaram como chefe dos estagiários. E eu sempre vi que eu sempre, eu tive sempre esse espírito de liderança, uma coisa que se destaca em mim, porque eu sou muito proativa, porque eu tenho essa pegada mesmo da utilidade. Eu gosto de repassar o que eu aprendo para os outros. Eu gosto de aprender, por exemplo, eu sempre falava assim para a pessoa que era meu líder, eu quero aprender o que você faz. Porque o dia que você for embora, o dia que você sai de férias, o dia que eu tiver a oportunidade, eu quero o seu espaço. Eu quero crescer. Porque aí eu vou também dar o meu espaço pra alguém. Então eu sempre tive umas coisas muito nítidas, não de competição por competição, mas de competição saudável, de eu quero o meu espaço, eu quero crescer, existe uma escalada que eu quero seguir. Então isso foi muito legal. Outra coisa muito legal é que desde o meu primeiro emprego até hoje, Eu tenho grandes amigos e companheiros que estão comigo até hoje, que me acompanham, que fazem parte da minha vida. E é uma grande alegria saber isso, né, cara? Num mundo em que as pessoas não se toleram, não aguentam olhar uma pra cara das outras. Eu tenho amigos que diariamente a gente se cumprimenta em Facebook, em Whats, em coisas assim. E que me acompanham e ficaram super felizes quando, por exemplo, eu migrei pra essa carreira. Nem sabiam desse meu lado B. Que, na verdade, é o meu lado A, né? Mas tudo bem.
Nossa! Que viagem! E teve uma coisa que você não contou ainda, que foi a sua vida amorosa, né?
Verdade! Oh, mas eu bati cabeça, enfim. Vixi! Bati! Aí, é... Eu vou contar as duas coisas mais importantes porque não vou ficar falando de namorinho, né? Essas coisas não dá, né? Eu fui casada, tive um primeiro casamento, que foi uma experiência dolorosa. Meu filho é do meu primeiro casamento. E foi um desastre, meu casamento foi um desastre em todos os aspectos. Eu mergulhei de cabeça no meu relacionamento e a pessoa não foi... Nunca entrou num relacionamento, na verdade. E por isso que foi um desastre. Era um relacionamento de uma pessoa Aí não tem como dar certo, né? Era uma puta roubada, né? Então, pra você ter noção, na véspera do nascimento do meu filho, eu me lembro de pensar assim, quando eu voltar da maternidade, vou dar uns dias de estabilização emocional assim, aí eu preciso ir atrás de um advogado pra preparar o divórcio. Você tá entendendo? A pegada, como que foi?
Como foi? Na festa?
Na véspera do meu filho nascer? Então a mãe tá feliz, né? Que o filho vai nascer! Meu filho vai nascer! O meu pensamento, quando eu fui deitar, foi assim... Preciso... Assim que as coisas se estabilizarem, eu preciso achar um advogado pra fazer esse negócio, hein? Entendeu? Nossa!
Caramba!
Pra ter noção. É, ele foi... Ele foi... Bom, não sei como vocês vão editar isso, mas não tem problema, eu não tenho problema de falar isso. Ele foi uma pessoa que teve problemas muito sérios, de violência física. Ele, inclusive quando meu filho era pequenininho, ele foi muito violento, inclusive quando eu estava amamentando. E aí a gente se separou. O dia que eu consegui negociar, a minha advogada conseguiu negociar com ele, pra ele sair de casa, foi o dia que ele tentou me enforcar na frente do meu filho. E ele, graças a Deus que a minha funcionária estava em casa até um pouquinho mais tarde aquele dia, foi ela que tirou a mão dele do meu pescoço. E... É isso. Então foi esse tamanho de desastre que foi meu primeiro relacionamento. E depois disso, claro, obviamente que eu fiquei super traumatizada. Eu achei que nunca ia confiar num homem e não queria. Não queria, não queria, não queria. Mas a vida... A vida tem caminhos que... Por isso que a gente tem que ser uma pessoa boa todo dia. viver a vida com força, com propósito, com honestidade, com bondade. O que tiver que ser, vai ser. Apareceu essa pessoa do nada na minha vida, numa época que eu tava pensando em morar no Chile, tava com um convite pra ir pro Chile, pra trabalhar. E a primeira coisa que eu falei pra ele, eu falei, não investe em mim, cara. Eu tô indo embora pro Chile. Ele falou, ah, tudo bem. Eu vou no final de semana lá te visitar e tal. Eu falei, ah, que goiaba. Acabou de me conhecer, falou que vai pro Chile me visitar. Que bicho louco. E eu querendo dar um perdido nele e tal. A gente se conheceu no começo de dezembro de 2017. Num barzinho. E ele me cantou, eu dei o número do meu telefone pra ele, porque eu também... Pra dar um perdido é fácil. E fui sair com ele dia 18 de janeiro. Fiquei um mês e meio enrolando ele, ele me ligava três vezes por dia.
Nossa!
Todo dia, ligava três vezes por dia. E aí ele falou sim pra mim.
Você atendia o telefone?
Eu atendi, ele era bom de papo, era que nem terapia. Ele era legal, ele é uma pessoa... Ele era, não.
Ele é.
Eu casei com ele, caramba. Ele falava... Aí... Bacana, super bacana. Ele é um ótimo companheiro e o meu melhor amigo. A gente conversa muito até hoje. Ele falava assim pra mim naquela época. Vamos combinar um negócio? Eu tenho uma proposta pra te fazer." Eu falei, tá bom. Ele falou assim, ó, nós vamos fazer assim. Você vai sair comigo e eu te prometo, você vai me falar pessoalmente, não me liga mais, não me enche mais o saco, não quero saber de você. Chega! Aí... Acabou. Aí eu não vou mais te encher o saco. Não vou mais te convidar pra sair e acabou. Ó que legal. Aí eu falei, tentadores, hein? Tá tentador esse negócio. Falei, tá bom, vai. Aí eu aceitei sair com ele. Aí a gente saiu, ficou cinco minutos conversando, ele falou, você me dá licença que eu vou ao toalete? Falei, claro. Aí ele levantou, passou por trás de mim, ele ficou atrás de mim, aí ele pegou a mão dele aqui, ó, levantou meu rosto e pá! Tascou um beijão de cinema. Me. Nossa. 18 de janeiro de 2008. Nós estamos juntos até hoje. Casei, casei. Estamos casados. E ele é o pai do meu filho. Meu filho, eu chamo ele de pai. Ele é o pai do meu filho. E é isso, cara. 2000 e... Eu falei 18, né? 18. Então, a gente se conheceu dia 5, do 12, do 7, e começamos dia 18, do 1, do 8. E tamo junto até hoje. Ó que coisa louca! Numa fase que eu jamais, na minha vida, achei que eu fosse abrir meu coração pra outra pessoa. É isso.
Caramba! E aí, aproveita pra falar um pouco da relação com o seu filho também, né? Como foi esse toda manhã.
Puta! Mãe é uma loucura, cara. Nossa, é sensacional. Eu tive uma gravidez maravilhosa, uma experiência que já da gravidez foi uma coisa muito louca, porque eu falo pra todo mundo que Foi muito, muito diferente minha gravidez de tudo aquilo que as outras mulheres tinham falado pra mim que era gravidez. Eu chegava em casa, eu tomava banho de banheira pra relaxar, e a partir do terceiro mês eu descobri que quando eu fazia imersão dentro da água, eu escutava dois tambores. O meu coração e o do meu filho. Então, todo dia, Eu mergulhava pra escutar o coração do meu filho. Coisa mais sensacional. A coisa, a experiência é linda demais. Eu falo pra toda amiga minha que ficou grávida depois de mim, eu falei, mergulha na banheira, escuta o coração do seu filho. É lindo demais. É lindo demais. E eu tinha... Com quatro meses, a gente escolheu o nome. Que foi a minha, na verdade, segunda opção. Mas graças a Deus que eu escolhi Henrique. Que eu amo esse nome. E... E eu botava a mão na minha barriga assim e eu falava assim... Henrique! Se for sim, você chuta do lado direito. Se for não, você chuta do lado esquerdo. Aí eu fazia uma pergunta. O bicho chutava? Ele chutava toda vez que eu fazia pergunta. E uma coisa que acontece até hoje é que eu e meu filho a gente conversa muito, muito, muito, muito. Ele tá com 17 anos agora. E a gente conversa muito e ele ri muito comigo. Eu comecei a pintar cabelo dessas cores aqui, louca, em 2014. E meu filho é caretérrimo, ele é careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, careta, Você não vai falar nada. Eu vou pintar de rosa. careta, careta, careta, Eu tô falando careta sério, eu vou pintar de rosa. Não é rosinha, é rosa. E ele não passa vontade. Eu falei, você não vai ficar com vergonha? Ele falou assim, eu? Eu não, quem vai tá com o cabelo rosa é você. E eu falei, bom. Aí eu cheguei pro meu filho. Vou pintar o cabelo de rosa. Não, não vai não, porque você não é adolescente. Você não tem idade pra pintar o cabelo de rosa. Aí eu falei, não tô nem aí, o cabelo é meu, eu faço o que eu quiser. Aí marquei, fui no salão, pintei o cabelo de rosa. Quem busca meu filho no colégio sou eu. Aí eu chego lá pra buscar o meu filho, tô parada lá no estacionamento, meu filho abre a porta. Sabe como que é, né? O cara abre a porta, senta lá. Oi. Eu, oi. Eu com o cabelo rosa. Oi, oi, oi. Aí eu, tipo... O cara não vai reparar que eu tô com o cabelo rosa? Não é possível! Aí eu... Aí... Você pintou o cabelo e não falou nada pra mim? Eu falei, porra, mas eu falei que eu ia pintar. Eu falei que não era pra pintar! Eu falei... Eu só comuniquei, né, Henrique? Eu não pedi sua bênção, né? Sua mãe, né? Aí ele... É! Mas ficou bom, hein? Combinou com você esse rosa, hein? Ah, que legal! Nossa, mas ficou bom! Daí pra frente, eu já tive cabelo de todas as cores. Roxo, verde, turquesa, azul, violeta, tudo. Pensa numa pessoa. Ruivo, laranja, todas. Todas. Rosa mais clara, rosa mais escura. Eu adoro meu cabelo assim. E de vez em quando eu tenho que, nas transições, quando ele fica muito ressecado, eu tenho que ficar careta. Careta, cabelo, cor normal. Aí eu fico deprimida. Ah, é horrível ser careta. Detesto, detesto, detesto. Detesto, detesto.
E você sentiu que mudou alguma coisa na sua vida, assim, a energia de você pintar o cabelo de rosa?
Puts, você não imagina! Primeira coisa que... Eu me lembro de quando a... Porque a moça, ela fez tudo de costas. Ela queria que eu tivesse surpresa. Então, quando ela terminou de arrumar meu cabelo, e assim, tipo, o salão parou pra ver meu cabelo cor de rosa, né? Porque não é toda louca que aparece de vez em quando pintar o cabelo de rosa, né? Eu me lembro quando ela virou a cadeira assim, que eu olhei no espelho e eu vi o meu cabelo rosa. Meu olho encheu de lágrima. Foi verdadeiramente a primeira vez que eu me achei linda. Juro pra você. Eu nunca fui uma pessoa de tirar selfie, ficar postando. Cara, eu passei a sair mais com meu marido pra jantar fora. Eu fiquei mais vaidosa de colocar roupa mais feminina. Eu adoro tirar selfie. Se eu puder, eu tiro selfie todo dia. Eu me adoro! A minha autoestima, ela não é que ela cresceu 100% não, ela cresceu 1 milhão por cento. 1 milhão por cento. Eu não me achava bonita. Eu tava numa pegada, você imagina, se agora eu tô com 48 e isso faz seis anos, eu tava com 42. Eu tava numa fase que a mulher depois dos 40, cara, o seu corpo começa a reagir muito mais devagar a tudo. Começa a aparecer ruga, o seu metabolismo começa a diminuir, você começa a lidar com as coisas de menopausa. Não, menopausa não, mentira. Eu tive um outro problema, eu tive que tirar o útero. Porque eu tava com um probleminha. Você começa a lidar com os problemas femininos, que te põe muito pra baixo. Essa coisa da estética que te cobra muito. Mulherada, toda mulherada. Eu quero pôr botox, eu quero fazer o seu care lifting. Cara, é muita pressão. Muita, muita pressão em cima da mulher. Essa coisa da cosmética, estética. E eu tava nessa vibe muito, tipo, tô ficando velha, tô ficando horrível, tô ficando feia. Cara, eu pintei meu cabelo, parece que a pele melhorou, as rugas subiram, eu comecei a me cuidar mais. Cara, não sei o que aconteceu. Tudo melhorou, bicho. O efeito emocional, psicológico disso... Eu falei outro dia para o grupo de artistas que eu fundei, preciso te contar isso. que eu gostaria que todas as mulheres tivessem a experiência dessa conexão, que elas encontrassem isso que eu encontrei, esse poder motivacional com maquiagem, com sapato, com florzinha no cabelo, com cor de cabelo, com esmalte, sei lá o que. Eu gostaria que toda mulher encontrasse Essa conexão motivacional que encontrei pintando meu cabelo com essas cores fantasia. É espetacular. Espetacular.
E aproveitando esse ensejo, né? Desse redespertar de várias qualidades femininas. Queria perguntar, assim, você falou que a arte ela ficou adormecida há vinte e poucos anos e depois ela acordou.
Voltei em 2012 a pintar e aí veio, cara, veio tipo tsunami na minha vida. Veio... numa onda de pintar 40 aquarelas por semana. E veio também com a Faculdade de Letras ao mesmo tempo. Eu voltei para a universidade para esse sonho que eu tinha. Já no primeiro ano da Faculdade de Letras eu descubro que a Faculdade de Letras me permite estudar ilustração. Por isso que eu te falei da questão da capa, porque a primeira coisa que me vem na memória, quando eu tô dentro da universidade, me falam que eu posso ir estudar ilustração, é eu tô lá, eu volto dentro dessa biblioteca que eu tenho dentro da minha casa, e eu tô lá com a capa da Borboleta Tíria, da editora Attica, e eu tô com aquela capa na minha mão, tentando entender porque o cara criou aquela capa totalmente geométrica de borboleta. E eu falo, eu vou descobrir esse trem tudo! E aí eu começo, já em 2013, a estudar teoria da imagem. E eu não parei até hoje. Terminei a faculdade de letras. No último ano da letras, eu passo num concurso, num edital, para fazer intercâmbio na Universidade da Georgia, lá nos Estados Unidos. Passo seis meses estudando lá. Volto, termino a universidade aqui. Já entro num processo pra mestrado. Faço mestrado, defendo meu mestrado no passado. Aí meu marido fala, onde você quer fazer doutorado? Aí eu escolho. Universidade do Minho, lá no Portugal. Me candidato, passo. Só que aí, por causa da pandemia, acabei não indo. Ainda! Ainda! O mundo me aguarda, que eu ainda vou fazer os regaços em tudo quanto é lugar. Deixa comigo. Então, mas voltando lá pra 2012. E aí eu volto, volto e tenho ciência de que perdi muitos anos. Olha que coisa linda! Quando você tem um propósito, quando você tem uma meta clara na sua vida, tudo que você fez serve para o seu propósito. Eu peguei toda a minha experiência na área de administração e falei, essa bagaça vai ter que me servir para alguma coisa. Eu usei para construir a minha carreira de artista. Fiz um planejamento de curto, médio e longo prazo, onde eu queria estar em dois, três e cinco anos. Então, eu construo a minha carreira no curto prazo dentro do Brasil, médio prazo no exterior e digo pra mim que em cinco anos eu quero estar fazendo exposição dentro de um museu. Aí, o ano passado, eu consigo fazer a exposição dentro do Museu Casa Guilherme de Almeida, aí em São Paulo, lá no Pacaembu, com 14 aquarelas, curadoria do Marcelo Tapias. Era pra durar um mês, eu tô lá desde abril de 2019, sem tempo pra acabar minha exposição, Marcelo Tapias já falou pra mim, fica até quando você quiser, suas aquarelas são maravilhosas, a casa é sua.
Caramba! E foi nos cinco anos certinho?
Não foi nos cinco anos certinho. Eu comecei a pintar de novo em 2012. Quando? Foi em 2014. Ah, deu cinco anos certinho. Foi quando eu fiz o planejamento. Deu cinco anos certinho. Porque eu fiquei esses dois anos sem saber se eu ia profissionalizar. Fiquei pensando, eu não sabia se eu ia conseguir, mas eu comecei a postar os treinos no Instagram e aí o pessoal começou a me chamar pra exposição aqui na minha cidade. O povo começou a querer comprar minhas coisas e eu falava, vocês estão louco? Vocês ficaram louco? E aí foi quando eu profissionalizei em 2014. Foi quando eu sentei e fiz o meu plano de curto médio e longo prazo. Outra coisa que eu pus por longo prazo foi que eu queria sair em revista de arte e tal. Eu já fui publicada na Das Artes, na Revista de Arte Brasileira, no Cultura Coletiva do México, no INSP, no blog INSP. Já fui no Jazz Jazz Blog, que eu nem sei de onde é, no... Street Baileys, não sei das quantas, Artists, Support Artists, Viché, um monte de blog de arte, revistas de arte, que nem sei mais. Outro dia eu tava mandando uns links pra uns artistas, já tinha até esquecido onde que eu tinha sido publicada. Então isso também fazia parte de um planejamento que aconteceu até um ano antes. Começaram a me publicar em 2018.
Eu queria te perguntar se você tem algum quadro, alguma aquarela que você teve alguma história específica para criá-la.
Tenho, tenho. Eu era retratista. Eu só gostava de fazer retrato. Tanto que você vê que essa aqui é uma aquarela muito importante pra mim, é de 2014, que foi quando eu me profissionalizei, que me chamaram pra uma exposição primeira individual. É coleção da primeira individual que eu fiz na minha vida. E aí eu só fazia retrato. Gostava de retrato, que as expressões humanas, essa coisa de... Isso me pegava muito e eu gostava muito. Mas aí, depois do falecimento do meu pai, eu passei um 2017 complicado. Tive uma crise criativa. Quando foi no começo de 2018, eu falei pro meu marido que eu queria viajar. Queria ir lá pra Bombinhas, em Santa Catarina. Queria muito conhecer Bombinhas. Só que eu queria ir de carro, porque a gente tem uma cachorrinha, uma salsichinha, e ela fica muito triste quando a gente viaja. Eu falei, já que não é tão... Tudo bem, não é tão perto, mas também não é tão longe. Vamos passar um dia e meio, dois dias viajando de carro, mas vamos curtir. Estamos de férias. Beleza. Cara, quando a gente sai de São Paulo e a gente começa a entrar em Curitiba... Mentira, já no final de São Paulo, a gente, na estrada, na BR-101, Esquece da 101. Começa a ver aqueles campos, assim, ó. Parecendo umas plumagens, assim. Cor de rosa, com uns pendão gigante. Parecendo um balé, assim, ó. Flutuando no ar, assim. Aí eu... Falei, o que é isso aqui? Cheio, assim. Lotado. Lotado. E eu falei, o que é isso aqui, gente? Fiquei fascinada. Tirei foto, tem uma amiga agrônoma. Eu falei, cara, se você não souber o que é isso, ninguém sabe. Aí ela falou, isso aí é capim dos pampas. É capim isso aí! Eu fiquei capim, parece uma flor, coisa mais linda. Falei pro meu marido, para! Para que eu quero tirar foto! Quero cheirar esse negócio! Quero tocar nisso aí! Entrei no meio do matagal, meu filho. Eu sou urbana, eu tenho medo de cobra, de aranha. Tenho um monte... E meu pé era severeiro. Final de janeiro, começo de fevereiro. Tinha acabado de chover, meu pé chafurdava assim, ó. E eu fui entrando. Quando eu cheguei perto daquele negócio, o capim dos pampa tem dois a três metros de altura. O pendão tem um metro e meio, só o pendão. Eu olhava aquele trem daquele tamanho, eu tenho 1,62m. Olhava assim e falava, que que é isso? Catei um galho de seco, juntei uns capim lá, catei uns três pendão pra mim, apaixonei naquilo. Apaixonei, vai vendo. Ficamos de férias, voltamos pra Rio Preto. Nunca mais. Eu consegui, eu consigo pintar retrato. Se eu quiser, agora eu só pinto retrato das pessoas que eu gosto pra dar de presente. Não faço, não. Se você disser, eu quero comprar um retrato, faz um retrato. Não faço. Eu faço só pra quem eu amo. Pra dar de presente. O que que eu pinto? Paisagem. Eu não pintava muita paisagem, não. Pintava... Não gostava muito, não. Agora eu pinto paisagem. paisagem de capim, campo de capim, o céu é capim, o sol é capim, os cabelos quando eu pinto é capim, as pessoas são capim, pode olhar, se você olhar meu Insta, você vai rachar de rir. Meu céu é capim, o chão é capim, o mar é capim, o capim é capim, tudo é capim. Meu jeito de pintar mudou, minha paleta de cor mudou, eu ganhei identidade visual, Todo mundo que me segue, meus amigos, meus seguidores, eles me mandam foto de capim. Viaja pro mundo e fala assim, eu achei capim dos pampas, lembrei de você. Manda foto pra mim dos capim dos pampas. Eu virei referência de capim e de capim dos pampas. E isso já acontece desde o ano passado. e eu ganhei um nome, uma identidade, eu ganhei uma relevância no mundo da pintura graças a uma viagem que eu fiz para Bombinhas, porque eu me apaixonei por um troço chamado capim, que é uma planta marginal que cresce selvagem, sem poda, sem adubo, sem cuidado e que para a maioria das pessoas é invisível. Ó que coisa maravilhosa! Eu falo para as pessoas, eu sou o capim dos pampas.
Nossa! Nossa, que profundo. Repete pra mim só essa parte do capim. Qual que é a filosofia do capim?
Marginal. Sem adubo. Sem poda. Sem cuidado. Invisível pra maioria das pessoas.
Nossa, que profundo. E aí esse conceito do capim, ele permeia várias coisas da sua arte.
100% da minha arte. É 100% da minha arte. Eu ganhei demais com essa viagem. Eu ganhei uma viagem interior com essa viagem que eu fiz pra Bombinhas, porque... A minha arte mudou, cara. Minha arte mudou por causa de um negócio chamado capim. Virgicruz, cara. Eu vou tentar, eu vou pegar talvez aqui o capim que mais me represente pra te botar na tela aqui. Pegar umzinho só.
Tá. Olha só.
Esse é um capimzinho do Pampa.
Que lindo.
Isso é uma pintura minha.
É uma pintura nossa bem realista, né?
Essa é uma pintura mais realista. Eu tenho uma pintura como essa aqui, que já é mais a minha pegadinha.
Que massa!
Então... Fala.
Não, pode falar.
Não, eu ia falar isso, cara. Você tem que encontrar, cara. A sua essência. A minha essência tá... nessas coisas assim que a maioria das pessoas não encontram significado, bicho.
Nossa. E me conta um pouquinho... Eu vi que você tem uma página que tem vários artistas.
Então, cara, isso é muito legal. Isso nasceu assim, ó. Em 2017, tem uma agência de publicidade aqui e ela organizou pra um shopping aqui uma série de eventos durante 12 meses que juntava os artistas plásticos uma vez por mês a fazer um cocktail e juntava umas exposições. E aí eu percebi, cara, que o artista plástico ele é um bicho isolado, né? Ele é uma quarentena eterna, né? A vida dele é uma quarentena eterna, né, bicho? A gente é um bicho... Nossa, cara! Como nós somos isolados, apartados. E aí eu notei Todo mês, cada mês que passava, juntava mais gente. Vinha mais artista. Porque aí um ia falando pro outro. E era uma alegria. Porque aí a gente começou a fazer amizade. A gente se encontrava e tirava foto. E era foto nas mídias. E a gente trocava. E aí eu começava a falar de tinta. E começava a falar de família. E aí começava a levar a família pros eventos. E começou a virar uma irmandade. Aí... Falei, pô, cara, isso é legal, hein? Acho que alguém devia fazer alguma coisa nesse sentido. E eu tinha um grupo de exposição no Brasil, no WhatsApp, e um grupo de artista que fazia exposição no exterior. E eu sugeri pra ele, falei assim, pessoal, você não tem interesse da gente montar um grupo, formalizar um grupo, né? Vamos se juntar, trocar experiência, conversar, sei lá, né? Fazer uns projetos juntos, né? Uma pessoa se interessou. Eu falei, ah, um é melhor do que nada, né? Vamos fazer esse negócio. E aí, em dezembro de 2017, Montamos um grupinho no WhatsApp e começamos a chamar. Começamos a chamar. Quando? 2017, então, dezembro de 2018. Mentira, 2018. Aí juntamos 100 artistas. Mas era uma bagunça louca, você não tem noção. Trocava receita, o povo queria trocar receita. Queria falar de política, queria falar de bom dia, boa tarde, boa noite, amém, mandar religião, corrente, era loucura. E aí eu criei um grupo no Facebook, um grupo fechado, dei o nome de Artrilha, que é artistas buscando trilhas pra já identificar que são essas pessoas com proatividade que querem buscar caminhos alternativos fora dessas amarras, fora dessas entranhas já calcadas por essas pessoas que se acham detentoras das normas e das regras já pré-estabelecidas dentro do mercado da arte. Porque o que eu vou fazer? Eu vou chutar, eu vou pegar meu pé assim, eu vou dar um chutão em todas essas regras. E vou criar as normas que eu quiser. Vou fazer arte do jeito que eu quiser. Projetos que eu quiser. Bons do jeito que for pra mim. Entendeu? É isso que o artista já começou a fazer. E aí... O grupo lá no Face hoje tem quase 2.300 pessoas. Porque eu faço seleção. Eu só boto profissional, só boto gente que é das artes visuais. Porque tem gente de rodo querendo entrar. Por que que eu ponho lá? Eu posto edital, eu posto oportunidade de curso gratuito, eu posto tudo que tem de acontecendo no mundo das artes plásticas, visuais, eu posto lá. Qualquer oportunidade de galeria, de digital, tudo eu posto lá pro pessoal. Gratuito, não cobro nada, não cobro pra entrar, nada, é tudo. Eu faço a pesquisa, eu posto lá, dou oportunidade pra todo mundo. Eles postam o portfólio deles, à vontade, não crio treta com ninguém. É a casa deles, a casa do pessoal das artes, plásticas e visuais. Entendeu?
Nossa!
Aqui você tem voz, ficar à vontade, é o lugar pra você se mostrar.
E como foi que você teve esse pensamento de elaborar toda essa coisa, desde postar curso, postar digital?
Lembra que eu te falei da utilidade? Lembra que eu te falei antes lá que eu queria ser útil? Sempre tive essa pegada de ser útil? E a questão da liderança, que eu já tinha reparado lá atrás? Por causa disso, cara. Eu sabia que eu tinha esse perfil proativo, eu sabia já que eu tinha esse perfil de liderança. Eu gosto de exercer essa função. Eu gosto de ser útil pros outros. Eu sei que as pessoas têm problemas de... Vou falar uma coisa séria pra você. Sabe qual é o feedback que eu recebo das pessoas? Elas falam assim, ah, eu podia fazer também, mas eu vou ficar fazendo de graça pras pessoas. Você não acha que você é boba de fazer isso? Eu falo não. Eu faço com alegria no meu coração. Eu faço com tanta alegria no meu coração que eu não preciso que ninguém me agradeça.
Nossa, que lindo. Entendeu?
Então eu não preciso mesmo que ninguém me agradeça. Porque se eu ajudar uma pessoa, isso vai me motivar a continuar fazendo. Assim é.
Oxi, muito bom.
E aí, deixa eu contar. Não, não, deixa eu contar, deixa eu contar. Aí, começou a pandemia. Porra, cara!
Era disso que eu ia perguntar, da pandemia.
Puta que pariu! Muita gente deprimida, muita gente preocupada, muita gente com problema financeiro. Caiu a bagaça, caiu geral, o mundo desse pessoal. Porque aí era a exposição cancelada, era a galeria fechada. Era queda de vendas geral, o pessoal preocupado com a economia. Quem que ia comprar quadro, meu amigo? Esse pessoal se fudeu assim, ó, generalizado. Aí, o que eu fiz? No primeiro momento, eu criei um monte de live. Comecei a fazer umas lives muito louca, mais louca. Pensa uma pessoa louca, era eu fazendo live. Esse jeito que eu falo com você aqui, multiplica por 20, era eu fazendo live. Piada, falando uns negócio muito louco. O pessoal terminava a live e ficava três horas no WhatsApp falando com os artistas. Querendo, você é muito divertida, adoro suas lives, até que enfim é uma coisa boa pra eu ver. Era assim. Tá? Nesse nível. Aí, eu um dia conversando com o meu marido, dia 26 de abril. Dia do aniversário do meu filho. A gente no café da manhã, meu filho nem tinha acordado. Ele falou assim pra mim, eu acho que você devia fazer uma revista digital. Esse pessoal tá muito pra baixo, você devia fazer uma revista digital. Eu falei, porra, eu não entendo nada desse negócio. Eu vou fazer uma revista digital, eu não entendo nada. Não, você não entende, mas você vai entender. Você vai entender, se vai atrás. Aí eu postei lá no grupo. Se eu fizer uma rádio e revista digital, quem que quer? Aí, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, Foto com X de resolução lá, uma foto pessoal. Fechei isso dia 31 de maio, 24 horas. Aí, botei pra dentro 40 artistas. Mês de junho, eu fui fazer a revista. Me ferrei porque entrei numa plataforma gratuita, que era um lixo, uma bosta. Perdi 19 dias de trabalho. Resolvi assinar o pacote da Adobe. Fui para o InDesign. Adorei a plataforma. E aí, cara, eu passei 30 dias mágicos nessa plataforma maravilhosa que é esse do InDesign. E criei a revista. A revista tá pronta. Eu tô há 20 dias lidando, fechando cotação com a agência publicitária pra gente fazer umas artes muito cavernosas. Só essa semana que eu consegui fechar uma agência que entendeu o que eu queria. E a gente vai, no começo de agosto, lançar a revista. Com arte, com publicidade, com assessoria de imprensa. Vão tá fogo nesse negócio, vão arregaçar. Você vai ver só. Aí, aí! Aí meu marido pôs, e aí hoje eu tô recebendo proposta pra virar curadora, pra fazer catálogo, pra fazer não sei o que, já tô recebendo uns trem louco. E aí meu marido falou, esse negócio vai virar maior do que você imagina, você não tá entendendo, você vai parar com esse tempo. Sou micro empresária, virei editora. Tenho um CNPJ.
Ah, essa pandemia... Nossa, você é muito empreendedora.
Cara, olha onde foi parar esse bagulho todo.
É, que maravilha. Nossa. E da sua vida toda, assim. Tem mais algum episódio marcante que você gostaria de deixar registrado?
Cara, tem muita coisa assim. É que tudo se resume a uma questão. A que você não faz nada sozinho. Viver não é você se isolar do mundo, porque mesmo quando você tá isolado, você está interagindo. Há algo maior do que nós, que nos move. E tudo que você faz gera energia e isso volta pra você dar e receber. E nós somos professores uns dos outros. Então preste atenção em todas as pessoas. Todas elas são maravilhosas. Todas elas têm algo importante pra te ensinar. Seja grato por tudo que te acontece. Aprenda porque o autoconhecimento e o auto-amor é a primeira chave pra tudo que você vai fazer. Ah, ame a Deus. Mas como você vai amar a Deus, cara? Você não se ama, bicho. Mas dá má, Deus como, meu filho? Se ama primeiro, depois você vai querer amar o outro. Fulano não me ama, mas você também não se ama, meu filho. Não fala que o cara não pode te amar, você não se ama, bicho. Essas são as coisas mais simples do mundo. Tudo começa com autoconhecimento, tudo começa dentro de você. São chavões, mas é isso. Tudo começa dentro de você, você precisa se amar, você precisa buscar autoconhecimento, Depois você vai passar a olhar para as pessoas, enxergar a beleza das pessoas, ver que todas elas têm algo legal pra passar pra você. Todas elas são pessoas interessantes, maravilhosas, que você precisa respeitar. Todas elas... Meu irmão falava uma coisa muito bonita, morreu muito jovem, mas ele falava assim pra mim, quem vê cara não vê coração. Então eu gostaria que a gente pudesse ver o coração das pessoas, porque normalmente o coração das pessoas é muito bonito, na grande maioria. Então a gente precisa mudar sua chavinha e passar a ver a beleza das pessoas e ser grato por cada dia. Existe uma expressão em latim que se chama Memento Mori. Quer dizer assim, lembre-se de que morrerás. Por que isso? Porque nós somos mortais. E se a gente vivesse todos os dias como se fosse o último, a gente daria um pouquinho mais de valor à vida que a gente tem. Então eu vivo todos os meus dias com muita intensidade, com muita alegria, no volume máximo.
Que maravilha!
Travou! Deu uma travadinha.
Não, mas voltou. O que você achou de contar essa história hoje?
Puta, eu adorei, cara. Eu adoro falar com gente, eu adoro falar. E eu acho essa pegada sensacional. Eu não sei como vocês vão publicar isso. Eu espero que... Eu sempre falo isso. Se eu ajudar uma pessoa com a minha história, eu já vou estar feliz.
Então, já me ajudou. Então já fique feliz.
Ah, que lindo!
Não, muito boa, sim. História, sabe? Profunda, muito, muito bonita. Coloriu o meu dia. Aquarelou, né?
Ah, que lindo! Eu adoro! Eu uso... Você sabe que é o último hashtag que eu tenho usado quando eu vou fazer meus posts? Agora é eu sou aquarela. Eu me transformei num aquarela, ó. Agora eu coloro meus cabelos. Eu virei uma aquarela.
Então é isso, Edna. Muito obrigado, viu?
Eu que agradeço.
Você vai ver sua história publicada.
Como que vocês publicam? Só pra matar a minha curiosidade?
Ela vai inteira editada. Ela vai inteira vídeo. Acho que tem um vídeo editado também. Aí eu vou transformar essa história num texto, numa biografia, numa sinopse. E ela entra no portal do museu.
Ai, que chiquérrimo! Adorei! Eu falei pro meu marido hoje, vou entrar pro museu. Não, mas não sou a mesa aquarela, sou eu. Ele falou, e ficou véia. Eu falei, então tá ótimo!
Nossa, mas é isso. Você é uma contadora de história, Nath.
Ai, que legal! Muito obrigada, viu? Você é muito simpático. Você facilita as coisas.
Então, beijo, viu, Edna?
Beijão! Obrigada!
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