Memória Petrobrás
Depoimento de Maria da Penha Martins Barreto Barroso
Entrevistado por Sérgio Ricardo Retroz e Larissa Rangel
Rio de Janeiro 18/08/2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_HV101
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Pra começar a entrevista, gostaria que a senhora falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Maria da Penha Martins Barreto Barroso. Nasci em 17 de outubro de 1954, numa cidade próxima aqui, São Gonçalo, neste Estado.
P/1 – Conte um pouco da sua família.
R – Da minha família? Bom. A minha mãe teve três filhos, eu sou a caçula e o meu pai teve dois filhos, e eu sou a mais velha. Eu não fui criada por pai, fui criada por avô, tio. E isso me valeu ser um pouco paparicada. E também, como a minha mãe era extremamente decidida e um pouco abusada, e aí eu peguei a coisa dessa coragem de encarar o mundo, da minha mãe. E, ao mesmo tempo, na minha casa, quase todo mundo era ligado à música. Meu avô era músico e é por isso que eu me chamo Maria da Penha, porque meu avô tocava no pé da Igreja da Penha. E acho que é essa mistura, de coragem, da minha mãe, uma parte de música, de sensibilidade do povo que vivia todo junto. Os meus tios...
P/1 – E qual era o nome dos seus avós?
R – Meus avós... Eu tive o meu avô, que era Antônio Martins, e a minha avó eu não conheci, porque ela morreu muito cedo. Depois eu conheci a avó, quer dizer, a mãe do meu pai. Também era uma pessoa muito corajosa, tal. Se chamava Teodora. E eu tive pouquíssimo contato, tanto com o meu pai, quanto com essa avó paterna. E até dizem que eu pareço um pouco com ela de jeito e tal, mas eu não tive contato. Contato foi, basicamente, a família da minha mãe.
P/1 – Antonio Martins, o seu avô que trabalhava com música...
R – É. A família do meu avô toda era de músicos. E ele tocava com Pixinguinha, com Cartola, com esse povo todo. Mas ele...
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Depoimento de Maria da Penha Martins Barreto Barroso
Entrevistado por Sérgio Ricardo Retroz e Larissa Rangel
Rio de Janeiro 18/08/2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_HV101
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Pra começar a entrevista, gostaria que a senhora falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Maria da Penha Martins Barreto Barroso. Nasci em 17 de outubro de 1954, numa cidade próxima aqui, São Gonçalo, neste Estado.
P/1 – Conte um pouco da sua família.
R – Da minha família? Bom. A minha mãe teve três filhos, eu sou a caçula e o meu pai teve dois filhos, e eu sou a mais velha. Eu não fui criada por pai, fui criada por avô, tio. E isso me valeu ser um pouco paparicada. E também, como a minha mãe era extremamente decidida e um pouco abusada, e aí eu peguei a coisa dessa coragem de encarar o mundo, da minha mãe. E, ao mesmo tempo, na minha casa, quase todo mundo era ligado à música. Meu avô era músico e é por isso que eu me chamo Maria da Penha, porque meu avô tocava no pé da Igreja da Penha. E acho que é essa mistura, de coragem, da minha mãe, uma parte de música, de sensibilidade do povo que vivia todo junto. Os meus tios...
P/1 – E qual era o nome dos seus avós?
R – Meus avós... Eu tive o meu avô, que era Antônio Martins, e a minha avó eu não conheci, porque ela morreu muito cedo. Depois eu conheci a avó, quer dizer, a mãe do meu pai. Também era uma pessoa muito corajosa, tal. Se chamava Teodora. E eu tive pouquíssimo contato, tanto com o meu pai, quanto com essa avó paterna. E até dizem que eu pareço um pouco com ela de jeito e tal, mas eu não tive contato. Contato foi, basicamente, a família da minha mãe.
P/1 – Antonio Martins, o seu avô que trabalhava com música...
R – É. A família do meu avô toda era de músicos. E ele tocava com Pixinguinha, com Cartola, com esse povo todo. Mas ele morreu eu tinha seis anos, por aí.
P/1 – E sua mãe, conte mais de sua mãe. O nome dela, qual era a profissão dela.
R – Minha mãe morreu tem uns seis anos, mais ou menos. Como é que era minha mãe? Deixa ver. Minha mãe era extremamente forte, extremamente gaiata, extremamente espontânea. Muito espontânea. E segurou a onda. Ela criou os filhos com muita dificuldade, principalmente depois que meu avô morreu. Porque não vai casar pessoa assim, né? A pessoa assim fica solteira, espontânea, desaforada, sabe? E extremamente humana. Então vai ficar solteira, porque não tem homem que encare uma barra dessas, né? E morreu solteira, com 80 anos. Tem seis anos mais ou menos, de morte. Eu acho que eu tenho um pouco de coisa dela, sabe? Assim, a coisa da coragem mesmo, da espontaneidade, de falar o que pensa. Eu acho que é mais ou menos assim.
P/1 – E quantos irmãos?
R – Pois é. Eu sou filha única e tenho quatro irmãos. Eu, da minha mãe com o meu pai, eu. O resto é tudo irmão de 50%. Eu tenho dois da minha mãe e dois. Quer dizer, tinha. Dois da minha mãe e dois do meu pai. De novo, com uma ligação muito maior com os filhos da minha mãe, que foi com quem eu fui criada. Hoje, na verdade, eu só tenho dois irmãos. Tenho o meu irmão mais velho, que é filho da minha mãe, e tenho o irmão caçula que é filho do meu pai.
P/1 – E como é que era a relação dos irmãos. Como é que foi a infância?
R – Como é que foi a minha infância? A infância foi uma [droga]. Foi muito complicada. Não é muito fácil você ser criada sem pai e com mãe pobre. Então aí você já viu que isso não é muito simples. Você sai disso, de uma situação muito difícil, porque, inclusive a própria família do meu avô, quando a minha vó morreu, naquele ano, ele perdeu o filho mais velho, a mãe dele e a mulher. E aí o cara se isolou, foi morar lá não sei aonde, lá no canto do mundo. E logo depois ele também morre. Então ficou tudo assim, um pouco meio desestruturado, né? E aí vem a minha mãe com os três filhos. A vida não foi fácil não, foi muito difícil, muito difícil. O que de uma certa forma, eu também acho que foi a origem, que acabou me ajudando bastante. Sabe, podia ter dado tudo errado, mas eu acho que ficou legal. Acho que o resultado foi bom. Foi bom. E você, depois que passa por um bando de coisa assim, e não foi só isso, na vida, mas você acaba também ficando um pouco forte, prá encarar o mundo, né? E que isso depois acaba também refletindo na sua vida profissional. Porque, meio que assim, não dá pra ficar no recreio. Você vai ter que encarar aquilo. Aí acho que foi bom. Até agora pra criar meus filhos, essa origem foi boa.
P/1 – E como era o bairro que a senhora morava, como era a rua? Descreve um pouquinho...
R – Você é chata, hein? São Gonçalo fica até próximo do centro, e é um lugar muito pobre. Hoje tá estourando, é o segundo colégio eleitoral aqui. Tem pobre que não acaba mais naquele lugar, sabe? E tudo quanto é pobre corre pra lá. Mas era... Você ter nascido numa rua e viver ali durante muitos anos, a rua, o bairro, vira sua casa, né? Acaba virando sua casa, mesmo. E tem muitos vizinhos que foram também muito importantes. Muita coisa. Mas foi bom assim. Minha mãe saía pra trabalhar e tudo o mais e a gente ficava solto por ali, aprendendo a viver. Aprendendo a viver. Porque pode sair do caminho, mas também pode dar bom resultado, se você... Sempre tem essa possibilidade. É muito difícil, com essa origem, chegar, é mais difícil. É melhor, é muito mais fácil você descambar, né?
P/1 – Descreve sua casa, da sua infância.
R – Minha casa? Ih, [caramba]. Na minha rua passa um rio que dava enchente. E como isso era uma coisa de infância, eu me apaixonei por enchente. Já viu gente que gosta de enchente? Adoro uma enchente, fico doida, verdade! Porque eu era criança e isso não era uma coisa ruim. Devia ser muito ruim pra minha mãe, mas pra mim era muito bom, sabe? E a casinha ficou lá. Numa época caiu, em 67, porque já era muito velha, mesmo... E aí se juntaram lá. E nesses lugares pobres, tem a coisa da solidariedade. que é muito grande. As pessoas da travessa é quase como se fosse família também, porque você precisa se unir. Quando você é muito pobre, você precisa se unir para ganhar alguma resistência. E a casa era isso. Era uma casa simples e que a gente ficou ali uns 30 anos mais ou menos. Quer dizer, mais. A casa tá lá ainda. Eu saí dali com uns 32 anos, mais ou menos. Mas tá lá, as pessoas, os meus irmãos, meus primos... Que era aquela coisa que era do meu avô e não sei o quê, tá por lá.
P/1 – E quais eram as brincadeiras?
R – Tudo brincadeira de homem: Bola de gude, pipa. Eram essas as brincadeiras... Subir em árvore.
P/1 – E qual era a que você mais gostava?
R – Não tinha muito dessas coisas, não. Agora, é interessante também, que eu sempre gostei muito de estudar. Então era assim: chegar da escola, garantir que no outro dia eu tirava... Eu era sempre a primeira aluna. Aí acabava as coisas que tinha que fazer, para ser sempre a primeira aluna e, depois, sobe em árvore, anda de bicicleta. Não tinha essa coisa assim, do que...
P/1 – E fala um pouco do dia a dia?
R – Daquela época? Era isso... É como eu estou te falando. Eu tinha essa preocupação de chegar e fazer tudo, e tinha que ser rápida, porque eu sou... Assim, não parece, mas eu sou um pouco agitada, tem que sempre estar fazendo alguma coisa. E aí era essa coisa, assim. Ah, também brigava muito com meus irmãos, o pau comia. E eu era a única mulher no meio de um monte de homem. Eram tios, irmãos e além de tudo era a caçula, né? Então, era briguenta, minha mãe ficava muito louca.
P/1 – E como era a relação dos seus tios? Eles moravam também todos na mesma casa?
R – Morava todo mundo lá. Era tudo muito desestruturado também, porque eles também perderam a mãe muito cedo. Semana passada eu perdi um tio que a mãe dele, quando morreu, ele tinha cinco anos. E ele não lembrava dela. Quer dizer, aí também era assim: quando você perde a mãe cedo, aí desestrutura tudo. Aí depois que está tudo desestruturado, nasce eu, sabe? Então era assim, era tudo muito desestruturado. Hoje está... Morreram todos, inclusive. Só tenho uma tia viva, os homens morreram todos.
P/1 – E como e quando a senhora iniciou os estudos, em qual colégio, você lembra?
R – Lembro. Eu estudei numa escola lá. Me puseram numa escola lá que era muito ruim e eu fui ficando pra lá, porque estava na escola. Aí um dia eu cismei de dizer pra minha mãe que não iria mais praquela escola. Ela me colocou numa outra, que se chamava “Escola Dois”, que hoje é um grupo escolar que tem um outro nome, que eu não me lembro. A escola também era muito simples. E lá eu conheci uma pessoa, que aí já era uma professora, porque na escola anterior, nem a professora era formada. Era uma coisas lá esquisita. Como tem Alfabetização Solidária, nem sei se é o nome disso hoje, mas naquele tempo a pessoa também não era formada. Aí eu conheci uma pessoa que se chamava Miriam Magdala, que era professora mesmo, e das boas. Das boas. Essa mulher me fez fazer Primeira Comunhão, e foi aí que eu comecei a fazer, a ser primeira aluna, porque eu não podia decepcionar aquela mulher, sabe? Tinha que estudar muito pra não decepcionar aquela mulher. Aí a gente passou a começar a aula tipo seis horas da manhã, porque tinha um bloco de crianças que não conseguia aprender conta, por exemplo. E ela dividia a turma, eu ficava com uma turma e ela ficava com a outra, pra aprender a fazer conta. Isso seis horas da manhã, porque sete horas começava a aula normal. E ela conseguiu me envolver, e eu acho que foi essa mulher que me ajudou muito, a mostrar outros caminhos, essa coisa toda, essa professora. E depois, quando eu estava terminando a faculdade, um dia eu estive lá e ela disse assim, e eu não sabia disso, foi a última turma dela. Porque a partir daí ela virou Diretora, virou essas coisas, e aí você não tem mais turma, né? E ela disse assim: “E eu fechei com chave de ouro o Magistério. Você foi uma das melhores alunas que eu tive”.
P/1 – E isso foi em que série?
R – Acho que terceira primária. Eu estudei com ela na segunda e na terceira primária. Foi isso mesmo.
P/1 – E descreva um pouquinho dessa escola, como que era?
R – A escola era muito simples, não tinha essa estrutura de hoje, não. Tinham três professoras e, mais ou menos, era tipo num espaço desse aqui, um pouco maior que esse aqui, que dividiam as turmas. E era muito simples. Ela que abria o colégio, entendeu? Era próxima da minha casa.
P/1 – E depois...
R – Aí depois eu passei dali para um outro porque... Ela mesma tinha me dito que a professora da quarta série era muito ruim. “Você pula da escola porque fulano...”. Porque aí também eu já conhecia mais ou menos, era uma conversa meio que de professor pra professor, né? Porque ela dava muita confiança. Aí eu acabei mudando, indo pra uma outra escola e depois eu fiz prova do Instituto de Educação. Naquele tempo fazia prova de admissão, e não sei o quê. Aí eu fiz prova pro Instituto de Educação e fui... Quando eu terminei, eu fiquei no Instituto de Educação, fiz o antigo Ginásio e o Segundo Grau. E, quando eu terminei o Segundo Grau, não dava mais pra continuar estudando. Foi aí que eu fiz prova pra Petrobrás, pra auxiliar de escritório.
P/1 – Mas qual o colégio? Instituto de Educação de...
R – De São Gonçalo.
P/1 – E como é que era?
R – Aí já era outra estrutura, um colégio enorme e eu fui estudar à noite. E eu devo ter um santo forte pra burro, porque os lugares que eu chego, eu sempre encontro um maluco que tem afinidade comigo. E isso ajudou muito, sempre, a vida inteira foi assim. No Instituto de Educação eu conheci um... Que era até parente dos parentes da minha mãe, um professor de Matemática, que era um cara exilado que fez umas confusões lá no Exército e tal. Saiu do Exército como Capitão, um negócio desse, em 64. E aí ele teve que virar professor de Matemática, pra sobreviver. Mas ele era muito doido e era também muito bom professor. Grosso que só ele, mas era muito bom professor. E a gente tinha uma afinidade muito grande. Aí, de novo, virei primeira aluna de Matemática. Porque ele me dava os livros e eu fazia, eu encarava aquelas maluquices dele, de fazer 50 problemas de um dia para o outro. E essas coisas acabam te dando condição. Eu me lembro que quando eu fiz a prova da Petrobrás, eu era bem nova. No dia da prova de matemática, quando a gente saiu, tinha uma porção de gente que tava fazendo faculdade e não conseguiram resolver os problemas de matemática. Eu consegui porque eu tava acostumada a fazer 50 de um dia para o outro, por causa desse professor. Eu saí rindo da prova e eu só tinha o Segundo Grau.
P/1 – E a senhora lembra o nome dele?
R – Aildo (?) Franco.
P/1 – E nesse período, no Instituto de Educação, como é que era a convivência dos alunos, como era o momento histórico, do período histórico?
R – Era normal, né? Era normal... Tinha...
P/1 – Alguma lembrança assim da História?
R – Bastante, bastante. Era normal, tinha alguns... A gente tinha um grupo bem pequenininho e que gostava de estudar. Tem umas coisas assim, por exemplo: Quando a gente terminava o Ginásio, você tinha que fazer prova de novo para o Segundo Grau porque a escola só oferecia 200 vagas. E bom, tinha mil crianças, porque não tinha tanta escola como tem hoje, hoje tem mais. Também tem muito mais crianças hoje. E aí a gente foi fazer prova, esse grupinho, e eu também. E aí entra o Professor de Matemática, esse, maluco, com fiscal, com todo mundo. Pega a minha prova de Matemática, olha e diz assim: “Essa aqui está errada”. E saiu. É claro que eu tirei dez na prova de Matemática, né? Claro. Ele era um furacão. Essas coisas assim, quer dizer, eu tenho isso, de sempre encontrar pessoas, sabe? Eu tenho essa coisa da luz.
P/1 – E esse grupo de amigos que vocês estudaram. Como é que eram esses amigos, você lembra o nome deles?
R – Ah, de alguns. Por exemplo, tem uma que frequenta a minha casa, todo final de semana. Tem a Eliana, que era uma que estudava comigo, é que frequenta a minha casa, até hoje...
P/1 – E como que era a freqüencia de encontros, como é que era...?
R – Não, não era nada assim muito, não. Era só pra estudar mesmo, sabe? Tem uma pessoa na Petrobrás também, lá na AIP, a Rosângela. Ela tinha muita dificuldade de aprender, e aí a mãe dela tinha o maior prazer que a gente fosse estudar na casa dela, e ela também me chamava para ir pra lá estudar. E eu adorava ir pra lá porque a mãe dela fazia bolos, sabe? Eu só ia pra lá pra comer bolo. E sempre estudando matemática. Porque as pessoas criam pavor de matemática e, quando você tem alguém assim, que você gosta, é muito mais fácil pra você aprender, né? Por isso que eu aprendi com maior facilidade.
P/1 – Então você acabou gostando mais da Matemática pela pessoa, pelo professor, ou já tinha mais afinidade?
R – Não, não era isso. Essa professora também, ela acabou, também, acionando alguma coisa, de gostar de estudar.
P/1 – Desse grupo ainda tem contato de outros amigos, dessa época?
R – Alguns, quando eu tava na Petrobrás, de vez em quando me esbarrava com a Rosângela, lá da AIP. Eliana, que freqüenta lá em casa. E às vezes, através da Eliana, porque hoje eu moro em Niterói e Eliana continua em São Gonçalo. Um dia desses encontrei com uma outra também, a Angélica, lá perto de casa. Agora em Niterói, tudo o mais. Tudo coroa, tudo igual a mim. Foi quando a Regiane ____ ________ _____.lá
P/1 – E na juventude? Como é que era a diversão, qual era...
R – Olha, eu sempre fui muito careta e eu também tinha um... Hoje, olhando lá prá trás, eu sempre fui muito de foco. Onde é que você quer chegar? E isso, eu não tenho muita coisa pra te dizer: “Ah, na juventude, quando eu tinha 17, quando eu tinha 18”. Acho que eu não tive nada disso. Acho que eu tive 15 e depois passei a ter 30 e pouco, sabe? Porque foi um período assim. Eu precisava trabalhar e aí você não encontra emprego em lugar nenhum, né? Depois eu entrei na empresa. Quando eu entrei na empresa, seis meses depois, eu fiz vestibular e passei pra faculdade. Fazia faculdade à noite, trabalhava o dia todo. E aí quase que você pula um pouco dessa fase de 17, 18, sabe? Porque como você não tem muito recurso, não dá pra você ficar viajando... “Ah, era ótimo, viajava...”. Viajava [coisa] nenhuma, ficava em casa mesmo. E aí com essa coisa de foco mesmo, sabe? De querer chegar a algum lugar, você tem que chegar a algum lugar. Então...
P/1 – Amadurecimento, né?
R – Exatamente. Você amadurece muito mais rápido, né?
P/1 – E a senhora praticava algum esporte?
R – (risos) Vou dizer pra ela: academia (risos). Não minha filha, não. Não tinha nada disso, não: Não tinha nada de esporte, não tinha nada disso, não. A vida era dura, mesmo. E eu também, acho que eu nem precisava, eu era tão magrinha, tinha 38 kilos.
P/1 – Seus momentos de lazer, alguma atividade que você gostava... Passear, ver filmes, cinema...
R – Pois é, é isso que eu estou te dizendo. Não tinha muito isso.
P/1 – Era mais focada mesmo...
R – Era, era... Antes, até entrar na empresa, a situação era muito difícil. E depois que eu entrei, aí começa. Primeiro, eu tinha que ajudar em casa, que era a única pessoa que tinha emprego, que tinha data pra receber. Assim, no dia 25 o pagamento sai, eu era a única; segundo, depois começa essa coisa da responsabilidade mesmo, né? Então, quando eu tinha sete anos, mais ou menos, eu fazia tudo. Tipo, sei lá, faz flores, vende flores, vende sapato, vende isso, vende aquilo. O que aparecer pra fazer, pra ganhar dinheiro, eu fazia, também. Talvez por isso que eu não tenha tanta brincadeira. Era tudo muito sério, era vida de adulto. Eu acho até engraçado, hoje criança não pode trabalhar, só depois dos 16 anos. Eu comecei a trabalhar com sete. Eu comecei a ter atividade de ganhar dinheiro com sete. Com 11 anos, mais ou menos, eu comecei a fazer faxina numa casa e parei no dia que eu vim pra Petrobrás. Foram 12 anos na mesma casa, porque eu tinha que arrumar dinheiro. Então não tinha muito essa coisa, porque tinha que ter dinheiro pra ir pra escola, no mínimo, né?
P/1 – E seus irmãos, também...
R – Meus irmãos também tiveram, acho que uma situação até pior que a minha. Mas eles não... O meu irmão mais velho começou logo a trabalhar lá no Galeão, e hoje tá com a vida direita. Ele é pobre, mas tá com a vida... Tá aposentado. O outro morreu por problema de diabetes, morreu cedo também, quer dizer... Mas também trabalhando, tava tudo direito. Mas então, eu queria te dizer isso. E aí houve esse período que eu entrei na empresa. Agora eu posso voltar a estudar, porque tinha passado no concurso. Aí voltei a fazer faculdade e começa uma história diferente.
P/1 – Mas nesse período escolar, seus irmãos também estavam na mesma escola, vocês eram contemporâneos...?
R – Não, não. Eles quase não estudaram. Sabe por quê? Era uma coisa assim: Você não tinha atendido às necessidades básicas da casa. Porque primeiro você tem que comer pra depois pensar estudar. Não adianta você: “Ai, eu quero estudar, tô doido pra estudar”, se você ainda não atendeu às necessidades, às primeiras necessidades, né? Então isso não era muito... Era sobrevivência mesmo. A casa tava no nível de sobrevivência.
P/1 – E a sua mãe, ela fazia o quê?
R – Mamãe lavava roupa na casa dos parentes ou ficava com alguém que tava doente, sabe? Essas coisas assim. Não tinha um salário fixo.
P/1 – E a senhora lembra dessa época, como se vestia, como é que era a moda naquela época? Da juventude...
R – Essa época o quê, dezessete, dezoito, por aí? A única coisa que eu me lembro é que foi uma febre de calça jeans, uma calça importada que custava uma fortuna.
P/1 – Você se importava com moda?
R – Mais ou menos. A calça jeans sim, porque vendia em pouquíssimos lugares, não vendia em loja, era tudo importado, não sei o quê. Mas fora isso, não tinha como fazer parte do repertório, não. Bom, hoje eu não me preocupo muito, né? Você imagina. Hoje eu já não me preocupo muito com isso, imagina quando era jovem, esculhambação (?). Isso não faz muito parte de mim, não.
P/1 – Mas tinha um tempinho pra paquera... Essa coisa de juventude que é...
R – Pois é, eu sempre fui muito séria, né? Quando eu tinha uns 15 anos eu conheci um cara, casei com o cara, e tô com o cara até agora. Quer dizer, tudo muito simples. Sempre fui muito certa, tô com o cara até agora. Conheci com 15 anos e, sabe, não tinha muito dessas coisas. Acabei casando com o primeiro namorado, essas coisas assim.
P/1 – E ele no colégio mesmo, conheceu?
R – Não, não, não, vizinho mesmo. Vizinho que apareceu por lá. Que hora você vai entrar na Petrobrás, garota?
P/1 – risos.
P/2 – Você disse que quando entrou na Petrobrás a sua vida mudou, porque você tinha uma renda fixa, né?
R – Exatamente.
P/2 – Como é que... Mudou seus planos também, perspectiva?
R – Quando eu entrei na empresa, eu não fazia a mínima idéia de onde estava entrando. Eu estava procurando emprego. Então. Estava procurando emprego e fazendo concurso e não sei o quê. Aí pintou essa oportunidade, mas eu não tinha idéia do que era a empresa, não. Acho que poucas pessoas hoje, quando entram, têm. Mas pelo menos sabe que existe a Petrobrás, não sei o quê. Naquele tempo, não. E aí eu fui conhecer a empresa mesmo lá dentro. E fui trabalhar na Área de Comunicação. Trabalhava na Área de Redação da Revista Petrobrás, folheto, relatório. Então, eu comecei a ter contato com jornalistas, porque na minha sala só tinha jornalista. E também, pra variar, cheguei lá, encontrei também uma pessoa... Isso que eu digo, eu sempre tenho... Encontrei uma pessoa que foi o meu primeiro contato na empresa, que é a Neusa Duarte Cruz. E que também foi muito responsável. É como se alguém tivesse te mostrando o caminho da empresa, passar a Cultura da empresa, sabe? Essa pessoa que na época devia ter uns 38 anos. Eu me lembro que ela tinha 18 anos de Petrobrás, já. E ela é que conduziu, assim, a coisa de muito trabalho, da Petrobrás ser muito séria, sabe essas coisas todas? E também dos problemas da época, do tipo, “cuidado com o que fala no telefone, é tudo grampeado”. Porque era 76, então ainda tinha a coisa da Ditadura e tal. O meu Gerente Executivo era General. Quer dizer, ela passou essa coisa. Na verdade, ela foi a responsável pelo início de mostrar como era a Cultura da empresa. E a coisa do trabalho mesmo. Na Petrobrás, as pessoas trabalham muito. Ela era muito boa empregada, era muito trabalhadeira. E aí a gente trabalhou junto dois, três anos, mais ou menos.
P/2 – Aí você reaprendeu o estudo, é isso?
R – Como assim?
P/2 – Porque você foi estudar Administração.
R – Não, aí eu fui fazer Administração e tudo o mais. Isso fazia à noite, depois eu fiz Ciências Contábeis, não sei o quê. Mas isso tudo era, eu fazia fora da empresa. Mas trabalhando na área de Comunicação. Então, eu acabei não trabalhando com o que eu aprendi diretamente, porque eu acabei ficando na Comunicação, fazendo mesmo a parte administrativa, e essa coisa toda, por onde eu passava. Até que... E eu também nunca tinha sido transferida. Trabalhei 16 anos, sem nunca ser transferida de um lugar pra outro, essas coisas. Aí vem, a minha área que mudou. Aí teve um chefe... Tõ dando o maior salto, né?
P/2 – É, vamos voltar...
R – É, acho que dei o maior salto.
P/2 – Vamos por partes. Em 76, quando você entrou, quantas pessoas tinha? Era grande o Departamento?
R – Era o Setor de Editoração, eu acho, ou Impressos, uma coisa assim. Sei lá, umas seis pessoas, aí depois teve um concurso e entraram mais algumas. Mas era uma diferença de idade muito grande, todos bem mais velhos que eu. Eu tinha 20 anos, eu era, assim, a bebê. E todo mundo tinha 38, 40, 50... Acho que hoje na Petrobrás talvez acontece meio que o contrário. Como tem tido muito concurso, tem muita gente nova e os antigos não dão, não têm como fazer, talvez, que a empresa hoje tenha isso. Porque naquele tempo você entrava e tinha muito contato com os mais velhos. E aí, hoje eu acho que tem muita gente nova. Talvez a empresa. Bom, a empresa também é outra hoje, né? Tem outros desafios.
P/2 – Quando você começou a trabalhar o que você fazia?
R – Eu cuidava da parte administrativa desse setor. Esse setor tinha jornalistas. A minha chefe também era jornalista. E eles faziam relatório, revista, folhetos, pra Petrobrás toda. E eu ficava com a parte administrativa. Naquele tempo também não tinha computador, era tudo datilografia, né? Então, tinha muito trabalho de datilografia. Além disso, tinha muita coisa de concorrência, licitação. Nessa época, eu acabei virando especialista em Editoração. Sabe assim, de contratação, de lay-out, de arte final, de não sei o quê, que hoje já é uma outra coisa. Mas eu acabei virando especialista disso. Então tudo quanto era licitação, de impresso disso e daquilo vinha parar comigo. E depois passamos pro setor... Aí houve reestruturação e aí virou Setor de Veículos Internos.
P/2 – E você continuou na parte administrativa?
R – Continuei na parte administrativa.
P/2 – Mas o que tinha mudado?
R – Olha, a gente ficava um pouco mais, agora, com a parte interna. Tinha um jornal interno, tinha a revista. Revista, acho que não tinha mais, acho que a revista já tinha terminado. Aí tinha essa coisa interna, e também tinha alguma coisa de eventos, do que rolava, também. Sabe, era coisa mesmo, era a Divisão de Empregados. E a minha área era a de Impressos. E a gente ficou ali também durante um bom tempo.
P/1 – E a revista terminou por quê?
R – Olha, acho que foi em mil novecentos e... Eu não me lembro a época. Houve uma época que nós tinhamos Revista Petrobrás e Revista Gente. E aí, foi logo depois da saída do General, que houve qualquer coisa lá. A revista tava muito cara, não sei o quê, e paramos com a Revista Gente. E logo depois pararam com a Revista Petrobrás. E depois de alguns anos ela retornou. Ficou um período sem revista. E depois desse Setor de Empregados, eu fui parar, fui transferida mesmo e fui parar na Área de Comunidade. Aí começou a mudar, porque eu comecei a ter contato externo com a empresa. Não era mais, quase que não era um trabalho interno. Era comunidade de Macaé, do Espírito Santo, da Bahia, de Sergipe, e você começa a ter contato fora da Petrobrás.
P/1 – E qual era o objetivo disso?
R – A empresa sempre teve um relacionamento muito grande com comunidade. Essa coisa da responsabilidade social da empresa... Hoje as empresas usam isso como marketing, como necessidade sustentável. Mas a Petrobrás nasceu fazendo isso.
P/1 – E ela surge dentro da Área de Comunicação?
R – Acho que sim. Médio, porque eu me lembro de entrevistas, que... Naquela refinaria de Canoas, as pessoas se _____, compraram uma ambulância. E um dia aconteceu um acidente, qualquer coisa, com um empregado da Petrobrás, e ele acabou tendo de usar exatamente a ambulância que eles tinham comprado. Quer dizer, eu não diria que tenha sido dentro da Comunicação, com tanta convicção, não. Eu tenho a impressão que a Petrobrás sempre foi assim, sabe? Há muitos anos tinha um grupo de pessoas, em outras unidades, que faziam um trabalho junto à comunidade. Grupo de empregado. Quer dizer, isso na Petrobrás é uma coisa assim, era do empregado. Depois isso acabou virando uma coisa profissional, né? Mas, isso sempre... A Petrobrás faz responsabilidade social desde que nasceu, ela nasceu fazendo isso.
P/2 – Você falou da época do General, como Diretor de Comunicação.
R – Gerente executivo.
P/2 – Como é que era a relação com ele, como é que era a empresa nesse período, a comunicação nesse período?
R – Olha, a relação com ele, eu nunca tive assim, tão próxima. Era chefe que tinha e a gente ficava sabendo. É o reflexo do Brasil da época, né? Ele era um homem muito forte do Geisel, diz que o Geisel tinha sido Presidente da Petrobrás e tal. E a gente ficava protegido, a comunicação ficava muito protegida, porque era um homem forte. Agora, independente disso, diziam, pelo menos a minha chefe, que ele era uma pessoa boníssima, sabe? Era assim, eu tenho a impressão que era meio que de proteger, mesmo: “Aqui tá todo mundo protegido”, entendeu? Porque ele era o General Barros Nunes. E eu não tinha, assim, contato direto com ele, mas o que eu ficava sabendo na época era isso, que ele era muito bom. Também tinha as pessoas lá que ele protegia, até por fora mesmo. Eu acho que o general acabava entrando nessa coisa de responsabilidade social também. Agora, não peguei nada de Ditadura, nada de perseguição. Eu já entrei numa outra fase da empresa, essa coisa já tava tudo passando. Tanto que, sei lá, quanto tempo, eu não me lembro muito bem, sei lá, dois anos, três anos. Acho que ele ficou lá dez anos, e eu peguei os últimos dois anos, um ano. Eu peguei um Brasil já mais, caminhando.
P/2 – E ainda no Setor de Empregados, qual era a atividade que você fazia?
R – Pois é, era isso. Eram as publicações internas, jornal. Aí já tinham separado, que era publicação externa de interna. E era basicamente isso: era jornal, acho que tinham alguns folhetos, algumas coisas assim, e distribuição. Quando tinha algum folhetinho, alguma coisa pra empregado. Era meio Comunicação Interna mesmo, tudo que era ligado ao empregado. Aí depois eu passei pra Comunidade. Mas olha, aí você fica com uma visão também que antes você ficava interno, depois você sai, e começa a ver o que as pessoas falam e pensam da Petrobrás. E aí o meu chefe, dessa época, houve uma outra reestruturação e foi criado, novamente, a Divisão de Planejamento, Gerência de Planejamento. O Setor de Planejamento. Quando eu entrei existia uma Gerência de Planejamento, que tinha um Setor de Pesquisa e um Setor de Planejamento. Depois, numa reestruturação dessa, tudo foi pro espaço.
(Pausa)
P/2 – Estava falando da reestruturação...
R – Ah sim, aí foi criado. Volta numa outra reestruturação e foi criado o Setor de Planejamento e que tinha como função, também, fazer Pesquisa. E aí a pessoa que ia assumir esse setor, o Gerente do Setor de Planejamento, achou que eu devia ir para lá, trabalhar com pesquisa. O legal disso tudo é que a empresa é muuuuito exigente. Agora, paga direito, paga no dia 25, direitinho, nunca atrasou. Se você quiser, sem sair da empresa, você se torna especialista em várias... Como se você mudasse de trabalho, sem sair da empresa. Não é assim, se você trabalhou na Comunicação 31 anos e, como é que pode, ficou fazendo a mesma coisa? Não, não fica fazendo a mesma coisa. Porque é duma riqueza tão grande que, se você quiser aprender, você se torna especialista onde você encosta. E aí eu fui trabalhar com Pesquisa. Eu disse pra ele: ”Não entendo nada do assunto”. E ele disse: “Não, não, mas você tem um perfil...”, não sei o quê. Eu acho que na verdade, ele gostava de mim, sabe? Porque a gente, de novo, essa coisa da afinidade, você sempre acaba... A minha vida toda foi assim. Aí a gente tinha, tanto que a gente é grandes amigos hoje. Eu fui trabalhar lá, com pesquisa. Começamos. Foi num período que a empresa, tinha... Quer dizer, com a saída do Hugo Aloi, que era da Pesquisa, ele se aposentou. A pesquisa ficou meio que, antes, caminhava com ele. Ele era chefe de não sei o quê, e a pesquisa tava com ele. Quando ele saiu, criou um vácuo, não tinha ninguém na área de pesquisa. Aí fica com fulano, fica com beltrano. Mas isso levou muuuito tempo, acho que uns dez anos, sem uma pessoa conduzindo. E aí a gente começou a trabalhar e foi, foi... O Hugo, a gente teve até algumas aulas com o Hugo, tal, no início, pra retomar alguma coisa de História mesmo, como funcionava. E foi crescendo, acabou que o Setor virou Gerência, que é o que tem hoje, a Gerência de Planejamento e Pesquisa, e eu tive o prazer de trabalhar, acho que uns 15 anos, com pesquisa. É como eu te falei, acabei virando especialista, me aposentei como consultora de pesquisa. Aprendi muito, muito, muito. Isso é, além do que a empresa paga, se você quiser, se for do seu interesse, você acaba fazendo várias especializações lá dentro com o próprio trabalho. Eu aprendi muito.
P/2 – E nessa... Você falou que fez treinamento e tudo com o Aloi, né?
R – É, uma coisa mínima. Não é assim,: “Ó, o Hugo deu um...”. Não, sabe, foi uma coisa mínima. Mais pra retomar mesmo. E deu não foi só pra mim, não. Foi pra mim e pra algumas pessoas que trabalhavam juntas, no mesmo setor. Mas foi uma coisa mínima.
P/2 – E nessa retomada, o que vocês começaram a fazer? Quais foram as primeiras pesquisas que chegaram lá?
R – Acho que aí a Pesquisa começa a fazer parte, novamente. Quer dizer, a Comunicação começou a utilizar a Pesquisa profissionalmente, novamente. Porque a pesquisa na comunicação é uma coisa também que veio junto. O Hugo entrou na empresa fazendo pesquisa. O Hugo foi especializado pela Petrobrás, acho que nos Estados Unidos, pra fazer pesquisa. Porque antigamente não tinha esse bando de Instituto de Pesquisa. E aí, a Pesquisa começa a ser utilizada, de novo, pela Comunicação, pela Petrobrás, de um modo geral, né? Nós fizemos muita coisa, sabe? Não sei te dizer o que foi a primeira, o que foi a segunda. Mas é uma fase que eu começo. Quer dizer, a Pesquisa volta pra Comunicação, pra ser tratada com mais personalismo e eu acabei ficando com essa parte durante muitos anos. E trabalhando com quase todos os institutos. Com o Hugo, o Hugo fazia pesquisa. Quando o Hugo saiu, ninguém mais cria uma área para executar pesquisa. Você acaba sendo comprador de pesquisa. Mas isso também tem a vantagem de que você lida com muitos profissionais de pesquisa. E cada um tem uma especialização, tem um outro jeito. Todo mundo é capaz de fazer qualquer tipo de pesquisa. Todo mundo é capaz. E é você que tem que saber qual é o profissional que tem o perfil praquele trabalho. Porque isso vai fazer toda a diferença na qualidade do trabalho, e é quem compra quem tem que saber. Que, apesar de você ser excelente pesquisador, esse trabalho, você não atende. Aí você começa a conhecer o mercado todo, a saber quem é que dá o melhor resultado pra isso. Eu acho que foi isso que me fez crescer bem nessa área. De sair da empresa, assim, como um especialista sem nunca ter feito nem um curso de especialização.
P/2 – O que você fazia? O cotidiano de trabalho, como era?
R – Lá, ultimamente, assim?
P/2 – Não, quando você entrou nessa área...
R – De Pesquisa? Olha, as pesquisas eram contratadas de agências. Eu tive sorte também nisso, porque na agência também tinha gente da pesquisa. E hoje não existe isso. E aí ficava um contato muito grande com esse pessoal, que era de pesquisa, da agência. Então, a gente trabalhava em conjunto: Eu e as duas pessoas de pesquisa. Surgiam os projetos de pesquisa e a gente ficava montando os projetos e tal. Mas sempre eu e as duas pessoas da agência. Aí chegou uma hora que o contrato acabou e a gente começou a ter dificuldade porque as agências não querem mais colocar um especialista em pesquisa, porque é caro. Aí bota um comprador de pesquisa. E é complicado isso, porque você precisa montar um projeto. E foi quando eu tive que me virar, porque agora sou eu e mais a pessoa do instituto, e mais a pessoa que é a ponta na agência, mas eu não sentia muito apoio da agência mais. Agora eu tinha que me virar com os projetos todos, mas eu tinha feito. A gente trabalhou talvez uns três anos juntos, esse pessoal que era de pesquisa. Bom, então depois, quando eu tive que me virar, eu passei a fazer os contatos direto com os institutos. E foi a fase que eu mais aprendi. Porque não tem jeito, cada um tem uma maneira de fazer e você vai crescendo. Porque você olha o objetivo, cada profissional vê uma forma diferente de fazer aquilo, não é? E quando você participa desse processo, você cresce muito, e aí eu fiquei com o negócio na pele. Porque deu o problema, eu fazia tudo, me deu uo problema agora, eu já fazia por telefone o brief e daqui a pouco eu já tinha o preço, quando era uma coisa muito urgente.
P/2 – E de onde surgiu esses projetos?
R – Depende.
P/2 – A demanda?
R – Não, depende, pode surgir da própria Comunicação, pode surgir de outro órgão, depende. Alguém tá com uma dificuldade e corre pra Pesquisa. Aí o pessoal de Pesquisa é que vai analisar e saber se a pesquisa resolve, responde, ou se não é pesquisa. Porque também tem isso, as pessoas acham que a Pesquisa resolve tudo. E não. Então você tem que dizer: “Não, não conte com a Pesquisa, porque a Pesquisa não pode resolver isso”. Ou:”Não, a pesquisa pode te ajudar muito nessa decisão. A gente pode fazer um projeto assim-assado e resolve”. Agora, a necessidade depende. Quando aquela Plataforma... P-37? 36? Acho que é P-36... Quando ela tava adernando, alguém disse: “Olha, a empresa tá perdendo muito com imagem”. Naquela semana que ela ficou cai-não-cai. E aí a gente teve que sair, desesperado, pra fazer um Projeto de Pesquisa. Se não me falha a memória foi Salvador, Recife, Brasília, Rio, São Paulo e Porto Alegre. Eu fui pra Porto Alegre. E a gente precisava saber o que a população tava pensando a respeito daquilo: Se era incompetência da Petrobrás, se a Petrobrás tava perdendo imagem de tecnologia, “como é que deixa uma plataforma dessas afundar?”, e essa coisa toda. Mas a empresa precisava saber daquilo, ali, naquele momento, com a Plataforma descendo. E aí, é isso, depende do problema que esteja tendo na hora.
P/2 – Você lembra de outras pesquisas de imagem institucional da Petrobrás?
R – Lembro de várias. Uma coisa também, que, aí já agora, mais pro final. A empresa tinha uma necessidade muito grande de criar indicadores. E a empresa, isso é uma coisa assim, como é que você faz pesquisa? A empresa é uma empresa de engenheiros e, hoje, você tem que medir retorno de tudo que se faz. E, por outro lado, a pesquisa é muito cara pra você ficar fazendo. Ou você faz um questionário e acha que tá medindo alguma coisa, porque isso tudo tem muita técnica, tem muita gente especializada nisso. Tem gente que só faz questionário. E aí o Heraldo, que já era o Gerente da Gerência de Planejamento, que é hoje ainda. Ele, toda vez que vinha de uma reunião, vinha arrancando os cabelos, porque a gente precisa ter indicadores de imagem. E eu disse: “ Mas Heraldo, e difícil você medir Imagem. Imagem é uma coisa” “Mas Heraldo, como é que você vai medir Imagem com número? Como é que você vai fazer um negócio desses?”. E ele vinha das reuniões desesperado. Aí eu disse: “Quer saber de uma coisa? Tem que fazer, vamos fazer”. Um dia me deu um ataque: tem que fazer, vamos fazer. Aí eu chamei uma pessoa de São Paulo, que é um muito bom pesquisador. Passei acertado com o Heraldo. Eu disse: “Heraldo a gente tem que montar, vamos montar isso pra acabar com essa conversa”. E aí a gente montou um sistema de monitoramento de Imagem. Com a parte de conhecimento da empresa, que eu tinha e o Heraldo, tal. E a gente contratou um Instituto de Pesquisa pra montar o que seria isso. Porque a idéia era você decompor a Imagem da empresa, decompor, e criar números. E isso foi crescendo. O primeiro projeto que se fez foi com Imagem junto à comunidade. Que deu um trabalho danado, muita coisa, tal. E que é a maior pesquisa que eu já vi. Eu nunca vi empresa nenhuma fazer essa pesquisa de imagem junto à comunidade. Na Petrobrás é muito grande. E junto, Opinião Pública, também. E aí começou com Monitoramento de Imagem, começou com a Pesquisa de Comunidade. Se não me engano, foi em 97. E aí, logo, o resultado partimos pra Opinião Pública. Aí começamos a medir junto à opinião pública, junto à comunidade, de dois em dois anos, porque é o tempo suficiente para se criar projeto, para que aquela Imagem consiga se mexer. E opinião pública também. A gente faz. Não sei como é que tá agora. A idéia era fazer uma vez por ano, pra ter indicador de imagem da comunicação. O que é isso? Você pega, a comunicação toda ta trabalhando: a Imprensa, Patrocínio, isso, aquilo, tá todo mundo trabalhando. E, quando chega mais pro final do ano, a gente solta a pesquisa e vê qual foi o efeito desse conjunto de atividades da comunicação. De todo o trabalho da comunicação, qual foi o efeito no indicador de imagem. E passamos a fazer Fornecedor, Cliente, Terceiro Setor, Empregados, Acionistas. Acabou decompondo. Você é empregado e, ao mesmo tempo, você é cidadão. Final de semana você tá lá no clube, conversando como cidadão, né? Então, essa Imagem do empregado acaba interferindo lá na sociedade também. O Acionista, ele participa, ele tem interesses particulares na empresa e, ao mesmo tempo, ele também é cidadão. O Jornalista, também. Tem uma hora que ele é jornalista, tem uma hora que ele é cidadão. Então, essa de Opinião Pública é a que mede todo o resultado, o trabalho da Comunicação. E eu participei bastante desse projeto, que ele nasceu e aí você ajeita. E aí muda o Planejamento Estratégico, aí você vai ajustando de novo. E vai ajeitando o Projeto, de acordo com o que a empresa quer. E depois ele acabou indo para outros países também. Porque a Argentina faz, Bolívia, Colômbia. Eu cheguei a fazer alguns, coordenei, alguns projetos desses fora.
P/2 – E tinha feedback também da própria Comunicação, dizendo se foi útil, ou não, a pesquisa?
R – Olha, o resultado é disponibilizado e, de qualquer jeito você precisa alimentar os BSCs da vida. A Petrobrás tem, todas as empresas têm. Você tem que alimentar aquilo. Quer dizer, é a resposta da Comunicação para a empresa, pro desempenho da empresa. O pessoal do Desempenho da Petrobrás, eles têm lá metas, isso e aquilo. Eles passam para a Comunicação. E a Comunicação tem que medir isso e retornar, entendeu? Agora, muitas vezes você faz também, você tem muito estudo pontual. Por que foi feito isso? Por que foi feito aquilo? Algumas vezes tem muita coisa assim, pontual. Eu me lembro que no acidente do Rio Iguaçu, no Paraná, eu participei de uma pesquisa junto à comunidade de Curitiba até União da Vitória, pegando o rio todo, até lá. E também fizemos um estudo com empregados. E eu acho que ninguém sabia daquilo que tava acontecendo lá. Não na Comunidade. Na Comunidade, a empresa tinha uma Imagem muito forte lá e agüentou. A Petrobrás tem uma Imagem muito boa, né? Quer dizer, ela tem um colchão muito bom. Então, é como se a imagem tivesse saúde. Então ela agüenta um tranco. É claro, ela não vai agüentar tranco o ano inteiro, mas um ou outro ela agüenta, porque ela tem saúde pra isso. Ela tem. Acho que isso, a Comunicação trabalhou muito bem, durante esses anos todos, que é cuidar da Imagem, da marca, Petrobrás. Mas a gente também descobriu muita coisa, que foi bom na época. Aí não é nem a Imagem. Para a Repar. A gente descobriu muita coisa interessante, lá pra Repar, que eu tenho certeza que foi excelente pra eles. E conheço vários projetos. Eu já cheguei a coordenar, de uma vez só, 15 projetos de pesquisa. Quinze. Não sei como é que ta agora lá, como é que ta rolando isso. Mas a gente teve um período que tinha muita coisa. Porque é assim, você começa. Daí começa uma solicitação. Aí alguém, lá não sei da onde, e acaba... E muito, também, coisa de consultoria mesmo. Assim, da Presidência da República, pessoal da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Consultoria assim, como é que faz aquele projeto, sugestão, não sei o quê. Porque aí você começa. Aí um outro órgão liga, e um outro quer fazer não sei o quê, e você acaba tendo muito trabalho. Já tive época que foi assim. Agora não sei como é que ta, se está mais calmo, não sei como é que anda, porque já tem quase um ano que estou fora e não...
P/2 – Você tava contando da relação da Comunicação com a Pesquisa...
R – Pois é, isso aí. Esse trabalho de Monitoramento, ele tem essa coisa de alimentar os dados lá do desempenho da Petrobrás, e também... Você faz Pesquisa porque a própria área de Comunicação tem necessidade e solicita. E esse Monitoramento é uma coisa à parte. Você tanto tem um Monitoramento, como tem Pesquisas Pontuais, dependendo da necessidade. Tem coisas, tipo, anúncio pra testes, se a Agência sabe pra onde caminha, se não sabe. Aí você vai lá, tentar colaborar pra descobrir alguma saída, ou então o próprio anúncio, mesmo. Anúncio de campanha, de você, pré-testar. A gente pré-testou a Campanha de 50 anos da Petrobrás em Brasília, São Paulo, Rio. Não me lembro se São Paulo, Rio. Acho que Brasília, São Paulo e Rio porque tinha uma audiência muito grande. Mas isso é pra própria comunicação, necessidade da própria comunicação. Você tem algumas pesquisas na área de empregados, que também vai alimentar a comunicação interna.
FINAL DE CD
P/2 – E você continuou lá até a aposentadoria?
R – Isso. Eu saí trabalhando na área de Pesquisa.
P/2 – Tem algum projeto nesse período que se destacou, que você se envolveu mais, talvez?
R – Olha, essa coisa de envolvimento, eu sempre me envolvo muito no que eu faço. Tem umas coisas, assim, Projeto Interno, é muito chato de fazer. Muito trabalhoso lidar com empregado é muito complicado. E aí você precisa se envolver muito, nesses projetos internos. Esse projeto que a gente fez, pra Repar, de alguns anos atrás, e esse da Plataforma quando tava adernando, talvez tenha sido assim, emocionalmente, os mais fortes. Teve alguns depoimentos muito contundentes, de você ter de segurar pra não desabar. É, não tem uma coisa assim... Se você não se envolve muito, você não consegue. Projeto de pesquisa é assim, se você não tiver muito empenho, tipo agarrar, porque você vai ter um monte de dificuldade. E, se você, eu costumo dizer isso, pesquisa sai se você pega e, aparece uma dificuldade e você vai, vai, vai... Porque, se você não estiver agarrado com o projeto, você não consegue fazer um bom trabalho. Apesar de que não é você que está executando, você está coordenando, você ta dando condições. Mas o envolvimento, tanto é de quem tá executando lá fora, o Ibope ou quem quer que seja, como você. Porque acaba que o projeto sai da cabeça dos dois. Porque você que monta o projeto, o que você quer. E você começa a trocar com quem ta fazendo. Melhor fazer assim, não... Aí é muito envolvimento mesmo.
P/2 – Você chegava a fazer entrevistas. Você falou que...
R – Não, não, não. Pesquisa interna. Não. A gente acompanha o projeto. Normalmente você tem o roteiro. Quer dizer, a profissional de Pesquisa tem o roteiro, que foi elaborado em conjunto. Eles fazem, a gente ajusta, tal. Daí você vê muita discussão de grupo, tem muita coisa que surge. Normalmente é quali, também.
P/2 – E quando chegou a aposentadoria? Como foi pra você se aposentar, sair da empresa?
R – É. Ultimamente eu não estava sentindo... Houve algumas mudanças de Gerência e tal, e ultimamente eu não tava assim, sentindo tanto prazer. Sabe, as coisas estavam um pouco amarradas, assim. Não tinha toda essa velocidade, tava um pouco amarrada. E junto a isso, também, surgiu uma outra coisa. Que eu tinha sido gerente um período. E aí, eu pude contribuir. Eu pude contribuir, continuar contribuindo, com a Petrus, um valor maior, pra quando eu me aposentasse, eu receber uma aposentadoria compatível, como se eu tivesse continuado como gerente. E era muito dinheiro que eu tinha que pagar todo mês. Era muito dinheiro. E aí eu continuei, fiz 30 anos, continuei, não to muito preocupada com isso. Mas aí chegou uma hora que eu descobri que eu tava perdendo muito dinheiro. Que aposentada, eu ganhava mais, do que trabalhando. Eu ganhava muito mais em casa, do que trabalhando. Então, contra esse argumento, você não tem mais com o que discutir, entendeu? Quando eu percebi que naquele ano... E o trabalho também tinha baixado muito. Não tinha tanto trabalho mais, como nos anos anteriores. E, querendo ou não, você acaba perdendo dinheiro, tipo, diária e isso e aquilo, você acaba perdendo, porque, diminuiu o trabalho, você não tem tanta coisa a mais pra fazer. E, ao mesmo tempo, em casa você estaria ganhando mais do que trabalhando. E aí? Quer dizer, você não precisa tomar a decisão, ela ta tomada. Eu to pagando pra trabalhar. Então foi bom por isso, porque também não precisei tomar decisão. Eu tinha que ir embora, fazer o quê?
P/2 – O período que você assumiu a Gerência, foi em que ano?
R – Em 2002, assim, mais ou menos. Por aí assim, um ano e nove meses, um ano e oito meses, assim. Eu tenho o ano 2002 na cabeça.
P/2 – E aconteceu isso de assumir a Gerência?
R – É, foi no período que o Heraldo. O Heraldo era o Gerente nosso. Aí o Heraldo foi ser Gerente de Publicidade. E aí o Sérgio Bandeira assumiu a Gerência do Planejamento. Só que ele assumiu por uns 20 dias, por aí. Não, dois meses, mais ou menos. E ele foi ser Gerente de Comunicação da Petrobrás Distribuidora. E, na época, parecia que ia haver uma reestruturação ali. Quer dizer, na comunicação. Vem aí uma reestruturação, isso vai mudar tudo e não sei o quê. E eu acabei sendo indicada porque vinha uma nova estrutura e não sei o quê, e acabei ficando, quase dois anos, um ano e pouco, mais ou menos. O que foi bom, porque eu também estava no final de carreira, eu pude continuar pagando, porque eu já tava próximo de me aposentar. E me aposentar melhor, financeiramente.
P/2 – E como foi ser gerente? Pra você mudou muito, assim?
R – Não foi uma coisa assim... Eu não tinha me preparado pra ser gerente. Nem eu tinha me preparado, nem a empresa tinha também. Porque é diferente. Quando você entra como profissional, a empresa investe muito em você. Então, dez anos de Petrobrás você ta, com certeza, muito preparado, porque ela não vai economizar dinheiro pra te treinar. Mas quando você é nível médio, não. Você fica bem restrito a treinamento, a essas coisas todas. Hoje, a empresa ta com isso bastante aberto, mas no meu tempo, não. Pra você ter idéia eu podia me aposentar depois de 26 anos de empresa. Existem algumas cláusulas lá na Petrobrás que diz, que se você fizer MBA, por exemplo, ou qualquer um outro curso desse, que hoje todo mundo faz, você tem que ficar dois anos na empresa depois de concluir o curso. E aí, quando a empresa abriu, eu não podia fazer mais nada, porque eu já era aposentada, entendeu? Mas isso me fez muita falta quando eu fui gerente, porque nem a empresa tava preocupada com isso, porque eu era nível médio, e eu também. Então foi assim, eu acho que eu fiz o máximo que pude, entendeu? Eu fiz o máximo que eu pude nesse período e, pra mim, particularmente, foi bom, porque eu pude investir nisso. Não foi fácil pagar também, não. Foi muito complicado, sabe? Porque é muito dinheiro por mês. Mas passou, paguei. Mas, de qualquer jeito, é uma trajetória de auxiliar de escritório à especialista em Pesquisa, que normalmente você precisa ter curso de Psicologia, de Antropologia, de Estatística, de tanta coisa, pra você se tornar, né? E eu fiz isso com o próprio trabalho. Quer dizer, é uma trajetória legal.
P/2 – E como é a vida de aposentada agora. Como foi esse ano?
R – Olha, você tem que aprender tudo de novo. Porque você saiu de casa a trinta e poucos anos atrás e agora você volta pra casa e você tem que aprender tudo de novo. Primeiro, que você não morava ali. Aquela casa, os espaços, não te pertence. Porque você ficar em casa o dia todo, você incomoda quem tava em casa sem você, concorda? Aquele espaço não é seu. Então, todo mundo tem que se adaptar, tanto você quanto as pessoas. E a minha filha diz isso, e com muita propriedade. “Você nunca morou aqui, agora vai querer tirar as coisas do lugar?”. Você tem que começar tudo de novo, né? Segundo, tem que adaptar esse negócio, porque essa história de você ficar em casa de final de semana, de férias, todo mundo sabe que você daqui a pouco volta... Agora, você em casa, e vai envelhecendo. Quer dizer, não é muito tranqüilo, não é muito fácil, não. Isso foi no início. A gente sente falta da conversa fiada de café, isso é muito bom. Sinto falta disso. Do trabalho, mas também você pode contrabalançar com as aporrinhações. Quer dizer, às vezes, quando você sente falta do trabalho, você diz: “Mas lembra daquele dia?”. Aí o negócio zera na hora. Não dá pra sofrer muito não, porque eu tenho algumas cartas negras, que eu puxo na hora quando eu sinto falta do trabalho, eu puxo: Mas lembra daquele dia? Aí pronto, já dá uma esfriada e dá uma vontade de brigar de novo. Então, eu acho que é uma coisa natural, sabe? Um dia você vai se aposentar. É natural, como um dia você vai morrer também. Ninguém vai ficar aqui eternamente. Então, é uma questão de fase da vida. Um dia eu precisei fazer o concurso e entrar na empresa pra trabalhar. Um dia você sai. É uma coisa assim, é muito simples e muito natural. Eu tenho visto assim, com essa naturalidade.
P/2 – Quais foram as aporrinhações, você lembra? (risos)
R – Não, aí não (risos). Não foram tantas, foram muito mais... Foram muito mais contribuições. Se eu tivesse que fazer um balanço, ele é extremamente positivo. Foram pessoas assim, muita gente assim, amiga, sabe? A primeira pessoa que eu encontrei na Petrobrás é madrinha da minha filha. Aquela, lá no passado, que me passou a Cultura, papapa, ela é a madrinha da minha filha, que é essa que tem _____ (?) história. Então é muito positivo. Não tem assim, mágoas, revoltas, e não sei o quê porque fui injustiçada, porque fui... Não existe isso não, não fui nada. Acho que também faz parte de mim mesma. Você vê que, durante a vida, eu sempre tive pessoas que contribuíram, que foram muito próximas, eu sempre tive, sempre... É claro que estou te dando uma síntese, mas, sempre tive gente. Acho que é coisa de luz, mesmo, sabe? De você encontrar pessoas que você tenha afinidade. E que também não é muito simples, porque eu também não sou nenhuma filha de freira. “Você é freirinha?”. Não sou. Eu sou muito de falar o que eu to pensando. Aí também só encosta quem for muito parecido. E isso foi muito bom, eu tive muita coisa.
P/2 – E os filhos são três, é isso?
R – Duas.
P/2 – Ah, duas mulheres.
R – Duas meninas. Uma tem 26 anos e a outra tem 23.
P/2 – Moram com você, as duas?
R – Moram. Tem uma, a mais velha, nasceu com problema de hipotiroidismo congênito, que me deu um trabalho maluco... E a outra, ta aí, fazendo Jornalismo na PUC, faz Filosofia na UFE, faz Literatura na UERJ. Aonde ela quer chegar? Ela disse que vai fazer o que ela (tem direito ?). Bom, e essa outra que nasceu com hipotiroidismo, a gente demorou pra descobrir e aí ela teve algumas seqüelas. E, porque é falta de hormônio e, quando ela nasceu, isso não era tão divulgado como hoje. Hoje, o negócio ta sendo visto de uma outra forma. Na época, o Instituto Universitário de lá de Niterói tinha cinco crianças com isso, hoje acho que tem uns 25, por aí. E isso também retarda o tratamento, essa coisa toda, né? E ela precisou muito de ser estimulada, essa coisa toda. E isso também, a coisa da aposentadoria, também, hoje eu vejo assim... Eu sempre. Ela fez tudo que podia ser feito de estímulo, dessa coisa toda. Disse o médico, uma vez, que ela é o caso que mais evoluiu no país. O titular de Endocrinologia da UFRJ. Mas isso também é uma coisa que, ao mesmo tempo, ela mesma não tava acostumada. Ela sente um pouco o espaço roubado, das coisas que ela gosta de fazer e tal. Bobagem, mas, por outro lado, eu nunca pude ficar com ela. Eu sempre patrocinei e, nos acordos todos, de procura do profissional e monta o esquema, e tal. Agora, ficar junto, isso também eu nunca tinha feito, né? Então, hoje, ficar em casa também tem isso. Porque eu tenho ela, que, ela é independente. Assim, ela cuida dela e tal. Mas, por exemplo, ela não anda na rua sozinha. E eu tenho uma empregada três dias por semana. Hoje a menina ta lá em casa. E o resto ela fica comigo. Eu acho que eu também devo, essa coisa da presença. Mesmo isso. Eu não tenho nenhum problema, eu não sinto assim com dívida com ela, não. De jeito nenhum, porque eu fiz tudo que tinha que ser feito. Não tem nenhum lance desse. É mais presença mesmo, entendeu? Ainda há pouco mesmo, a minha filha: “Ah, por que você não vai fazer não sei o quê, por que não vai fazer não sei o quê?”. E eu nem contei isso, que estou falando aqui pra vocês. Eu disse: “Pois é, minha filha, mas tem Maíra, né?”. Sabe, porque querendo ou não, se eu começo a fazer uma coisa agora, você começa a se dedicar àquilo e aí você se tranca no quarto, vai estudar, vai não sei o quê. Ela também ta estudando agora, ela voltou a estudar agora e tudo o mais. Está estudando numa escola especial. Mas eu também tenho essa dívida com ela, né? Ela tem 26 anos e quando ela nasceu eu já estava na Petrobrás. Então, por isso que talvez a coisa de estar em casa aposentado, não vejo assim: “Ah, e agora?”. Tem outras coisas, você descobre outras coisas. Precisa continuar vivendo porque você mudou de fase. E é natural, é assim mesmo: nasce, cresce, morre. Simples assim.
P/2 – O que você achou de ter participado desse projeto, “Memória Petrobrás”?
R – Eu acho que vocês têm que... Eu acho que a empresa deve fazer isso porque a gente tem uma Cultura lá na Comunicação, de que a gente passou, entendeu? Esse aqui era meu trabalho, daqui a pouco você não ta mais ali. Aí chegou um outro, pega aquilo e joga tudo fora. E aí você não tem história, né? E se você não tem História, o futuro fica comprometido, né? Você precisa ter história, e eu acho que a gente não tem. Eu acho que o Santa Rosa trouxe esse negócio de tentar registrar isso, eu acho que é muito legal. Tem que ter, você tem que ter. E participar, assim, acho que tinha que participar depois de ter ficado tanto tempo lá, ter vivido tanta coisa, tem que deixar registrado alguma coisa.
P/2 – Obrigado Penha.
FINAL DA ENTREVISTA
Palavras em dúvida:
Página 5: Aíldo (?).
Página 6: Foi quando a Regiane ____ ________ _____lá.
Página 8: esculhambação (?)
Página 11: Acho que sim. Médio, porque eu me lembro de entrevistas, que... Naquela refinaria de Canoas, as pessoas se _____, compraram uma ambulância.
Página 19: Aquela, lá no passado, que me passou a Cultura, papapa, ela é a madrinha da minha filha, que é essa que tem _____ (?) história.
Página 20: Ela disse que vai fazer o que ela (tem direito ?).
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