IDENTIFICAÇÃO
Eu nasci no Acre, foi um nascimento muito especial, eu sou nascido de dez meses. Nós morávamos em Sena Madureira, no Acre, mas num determinado momento o meu pai teve que assumir o governo do território, foi para Rio Branco. Minha mãe ficou me esperando nascer, faltando um mês para o parto, minha mãe disse ao meu pai: “Você tem que estar aqui, senão esse menino não nasce.” Mas o meu pai começou a demorar, e na data prevista ele não apareceu, e ela disse: “Ele não vai nascer.” Quando o meu pai resolveu vir, praticamente um mês depois, quando o navio que ele vinha apitou na curva do rio, eu comecei a nascer, quando ele botou o pé dentro do batente de casa era meio-dia. Eu nasci ao meio-dia do dia 15 de maio de 1923, nasci de pé, num dia de lua cheia. São predicados muito especiais. Isso marcou a minha vida, todo esse nascimento difícil, diferente, longe, lá no final do Brasil.
FAMÍLIA / PAI
Meu pai foi uma figura muito importante na história do território do Acre, ele era poeta, filósofo, magistrado e foi ele e a minha mãe que me ensinaram as primeiras letras, eu não tive escola primária, aprendi através do meu pai.
INFÂNCIA
Nós morávamos numa casa confortável, que era feita toda de madeira, inclusive o telhado, as telhas eram feitas de cavacos de madeira, não sei se vocês já viram esse tipo de telha, é como se fosse uma telha de barro, só que de madeira. Tínhamos uma horta, um campo de gado e oito vacas para dar leite para a casa. Tudo era feito dentro de casa: o doce, as coalhadas, os queijos. Eu tive uma infância fabulosa, de um menino livre, acostumado no mato: caçando e pescando. Uma vida absolutamente livre. Eu tinha companheiros que eram colegas do meu pai, da sociedade local, mas também havia os meus amigos índios, que me ensinaram muita coisa na vida.
FAMÍLIA / PAI
Meu pai é Antonio Pinto de Arial – Dr. Arial –, era uma espécie de patriarca daquela cidade. Ele era cearense, formado em...
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Eu nasci no Acre, foi um nascimento muito especial, eu sou nascido de dez meses. Nós morávamos em Sena Madureira, no Acre, mas num determinado momento o meu pai teve que assumir o governo do território, foi para Rio Branco. Minha mãe ficou me esperando nascer, faltando um mês para o parto, minha mãe disse ao meu pai: “Você tem que estar aqui, senão esse menino não nasce.” Mas o meu pai começou a demorar, e na data prevista ele não apareceu, e ela disse: “Ele não vai nascer.” Quando o meu pai resolveu vir, praticamente um mês depois, quando o navio que ele vinha apitou na curva do rio, eu comecei a nascer, quando ele botou o pé dentro do batente de casa era meio-dia. Eu nasci ao meio-dia do dia 15 de maio de 1923, nasci de pé, num dia de lua cheia. São predicados muito especiais. Isso marcou a minha vida, todo esse nascimento difícil, diferente, longe, lá no final do Brasil.
FAMÍLIA / PAI
Meu pai foi uma figura muito importante na história do território do Acre, ele era poeta, filósofo, magistrado e foi ele e a minha mãe que me ensinaram as primeiras letras, eu não tive escola primária, aprendi através do meu pai.
INFÂNCIA
Nós morávamos numa casa confortável, que era feita toda de madeira, inclusive o telhado, as telhas eram feitas de cavacos de madeira, não sei se vocês já viram esse tipo de telha, é como se fosse uma telha de barro, só que de madeira. Tínhamos uma horta, um campo de gado e oito vacas para dar leite para a casa. Tudo era feito dentro de casa: o doce, as coalhadas, os queijos. Eu tive uma infância fabulosa, de um menino livre, acostumado no mato: caçando e pescando. Uma vida absolutamente livre. Eu tinha companheiros que eram colegas do meu pai, da sociedade local, mas também havia os meus amigos índios, que me ensinaram muita coisa na vida.
FAMÍLIA / PAI
Meu pai é Antonio Pinto de Arial – Dr. Arial –, era uma espécie de patriarca daquela cidade. Ele era cearense, formado em Direito na faculdade do Recife. Ele era do Ceará, mas resolveu participar da célebre revolução dos catraieiros, que era contra a oligarquia dos Aciollis, por conta disso teve que fugir, coisa que depois se repetiu comigo também.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Minha mãe era local, uma moça da cidade. O meu avô também era um homem do nordeste. Meus antepassados eram todos do nordeste. A grande migração que ia para o Acre eram os nordestinos, foram eles que fizeram o estado. Vocês conhecem a história? A Bolívia dizia que era dela o território do Acre, e o Brasil também falava a mesma coisa, mas de fato, a terra foi ocupada principalmente pelos nordestinos. A história do Acre é bonita por causa disso, porque nós fomos um país independente, não sei se vocês sabem disso, o Acre foi um país independente. Recentemente uma minissérie da tevê Globo contou essa história. Na independência do Acre não houve guerra, houve uma revolução, para não criar um caso com os países houve a intervenção do Barão do Rio Branco, que é o grande mentor de tudo isso, o maior dos brasileiros. Ele é o homem que consolidou essa grandeza que é o Brasil. Ele fez o Acre e fez política diplomática. Meu pai participou de uma segunda revolução do Acre, porque o governo brasileiro, quando anexou o território, prometeu uma porção de coisa e como toda a história do governo do Brasil, os governos prometem e não cumprem. O passado não foi diferente de hoje. O futuro possivelmente será assim também. Pelo não cumprimento das promessas os acreanos resolveram fazer uma nova revolução. O meu pai era um dos chefes dessa revolução e, naturalmente, eu aprendi todo esse espírito guerreiro com o meu pai. Ele era político, jovem. Foi para o Acre defender uma causa de uma firma que tinha propriedades lá, mas ao chegar, ele se apaixonou pela terra. O Acre é muito bonito, é uma terra muito fértil, eu lamento ter desenvolvido a minha vida fora do Acre, não que eu não goste de lá, gostava demais, mas eu abracei uma especialidade que no Acre não tinha como fazer, eu sou médico, eu vim para o Rio de Janeiro estudar e por aqui eu fui ficando, mesmo porque o Acre não tinha condições de receber a minha namorada, que era do Rio de Janeiro.
FAMÍLIA / AVÔS
Com o meu avô materno eu tive mais contato, porque o avô paterno ficou no Ceará, até o dia que também teve que migrar para o interior do Amazonas, que era uma coisa quase que natural do pessoal do nordeste, chegava a seca e eles migravam. A grande esperança era a borracha, os seringais, as grandes terras da Amazônia. Esse meu avô materno era um homem, vamos dizer assim, um pouco rude. Eu não vou contar a história da família porque não vale a pena, senão vou ficar dez anos aqui, mas ele era um homem muito corajoso, a principal característica dele era a coragem. Ele era seringueiro, cortava borracha e numa dessas andanças dentro da floresta, uma cobra surucucu picou-lhe o pé, ele não teve dúvida, pow cortou o pé fora para poder se salvar. Essa é uma história verdadeira. Eu fui criado nesse ambiente de coragem, porque o índio é corajoso e eles me submetiam a uma porção de provas de coragem. Eu já nasci com esse vínculo de coragem do avô. Eu me lembro dele até hoje, sentado no colo dele, ele tinha uma barba branca bem grande, parecia o Papai Noel. Eu me sentava no colo dele para ele me contar as histórias da floresta Amazônica. Mas uma coisa eu desde cedo fui incutido, não só pela convivência com os índios, pela convivência com o meu pai, com o meu avô, que tinha que ter uma coisa muito importante, que se chama coragem. Perfeito? Eu não digo que sou um homem de coragem, mas eu não costumo fugir dos problemas e das situações difíceis; eu resolvo. Sempre me marcou muito quando o meu pai teve que me trazer do Acre para fazer o ginásio em Manaus, ele me deixou na porta do colégio e até hoje eu guardo isso, até acabei de escrever um livro que eu falo nisso. Eu estou oferecendo a ele um dos livros que eu estou fazendo. Eu me lembro dessa história, uma coisa que ele deixou escrito no meu caderno: “Meu filho, respeite os outros e trate todo mundo bem, porque você será respeitado e bem tratado pelos outros.” Eu não me esqueci disso: “Tenha coragem, persistência, vontade, estude, estude muito e só faça aquilo que o seu coração pedir.” Esse foi o lema da minha vida, eu nunca esqueci.
FAMÍLIA / IRMÃOS
Eu tenho três irmãos. Um irmão que também foi médico e duas irmãs. Todos vivos. Tenho uma irmã mais velha, que mora em Manaus até hoje. O meu irmão que é médico, mora aqui em Copacabana. Minha outra irmã, que era economista, trabalhou durante muito tempo no gabinete do presidente do Banco Central. Ela também mora aqui em Copacabana. Na família era meu pai, minha mãe, quatro irmãos e um bocado de gente. Era uma família grande, a nossa vida era aquela vida de interior, fazíamos as coisas que fazem parte de uma vida do interior.
EDUCAÇÃO
O meu pai cuidava muito da minha educação e ele tinha um cuidado muito especial porque o meu grande hobby – além desses que eu falei de nadar no rio, de pescar, de ir para o meio da floresta, cuidar das coisas da fazenda –, era a leitura. O meu pai tinha uma biblioteca muito boa e eu avancei em alguns livros que estavam muito além da minha idade. Ele tinha um cuidado especial, quando ele me via com um livro na mão, ia ver o que eu estava lendo e, certa vez, disse: “Você não pode chegar na minha estante, tirar um livro que você simpatize e sair para ler.” Passou a me orientar mais depois disso. Meu pai nunca levantou a mão para mim, nunca me disse uma palavra pesada, nunca me bateu sequer, éramos grandes amigos, isso nós sempre fomos e ele me orientou. Desde cedo eu lia muito e com isso a gente foi desenvolvendo cada vez mais.
Os livros proibidos eram de filósofos, geralmente. Ele achava que eu não ia entender aquilo, eu não ia compreender aquelas coisas. Mas me valeu muito, eu acabei de desfazer de um livro sobre ética, tinha que ler a filosofia de novo, toda aquela coisa para poder enviar, essa é a origem da ética e medicina no trabalho. A medicina no trabalho é a minha especialidade.
FAMÍLIA / PAI
O meu pai era um literato, era um poeta. Ele escrevia peças de teatro. A nossa cidade era pequena, de três ou quatro mil habitantes, mas tinha um teatro tocado pelo meu pai. Ele era chefe da maçonaria e como sempre lá tinha um bispado. O bispo em público, era inimigo do meu pai, porque a igreja não aceitava a maçonaria, mas na verdade eram amigos íntimos. Ele ia almoçar na minha casa, mas lá na igreja já viu, é como eu estava dizendo. O meu pai conduzia as peças, tinha o teatro Ceci, que era onde ele levava as peças dele. Tem uma delas que foi feito por ele, no Centenário da Independência. É uma peça sobre a independência do Brasil, essa fez sucesso inclusive fora do Acre, aquela célebre cena onde D. Pedro I pede para dona Leopoldina arranjar umas fitas verdes e amarelas para enfeitar a roupa do pessoal, porque eram as cores da independência. Ela saía por todo canto procurando as fitas verdes e amarelas e D. Pedro pedia as fitas amarelas, chega um momento que ela diz: “Pedro, não posso mais, até dos nossos travesseiros eu já tirei.” Toda cena é em torno desse episódio da independência. A gente vivia num meio, digamos assim, que apesar da rudeza da coisa, o meu pai procurava elevar o nível das pessoas. Havia até corrida de cavalo. Não sei se vocês já viram, ele inventou de jogarem o jogo de argolinhas, que não foi inventado por ele, aquilo é tradicional da Espanha, o cavaleiro sai com a lança e tem que acertar a argolinha. Tinha campeonato de argolinha, vinha cavaleiro de todo o campo para participar. Tinha festa de São João. O nome do meu pai é Antônio. A grande comemoração era no dia de Santo Antônio. Aquela fogueira enorme, aquelas coisas típicas, a minha mãe se esmerava na cozinha e tudo isso fazia parte.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
A educação inclusive era diferente, as minhas irmãs tinham perceptoras, elas eram educadas em música, línguas, essas coisas todas. Nós, homens, havia essa coisa de ter que ser forte e corajoso. Aquele negócio todo. Eu me lembro que com seis, sete anos, os índios me pegaram, me levavam para o salão do rio, vocês sabem o que é salão do rio? É um lugar no rio que tem um barranco enorme, com quase 200, 300 metros de largura, e a água fica meio parada, porque a correnteza é por baixo. Os índios chegavam na canoa e jogavam dois, três garotos lá e diziam: “Agora fiquem aí, se defendam.” Dali a pouco vinha os jacarés atrás da gente, quando chegava perto tínhamos que mergulhar por debaixo do jacaré e sair lá adiante, porque o jacaré não ataca debaixo da água. Eles faziam isso, era uma prova de coragem para você ser homem. Se começasse a gritar e a chorar por socorro, você não era um homem. A coisa mais importante era ser homem, tinha aquela outra prova de botar mel na nossa mão e depois ter que enfiá-la dentro do formigueiro, sendo que não podia nem dizer “ai”, e por aí vai. As histórias são enormes, teve uma vantagem, eu aprendi a fazer tudo que se faz numa fazenda, eu sei fazer manteiga, queijo e lavar carne. Como eu disse para vocês, eu sei matar um animal. O primeiro animal que eu matei foi um carneiro. E por que eu matei o carneiro? Porque tem uma lenda lá, um ditado popular, que diz “que um bom carneiro não berra.” Não berra por quê? Você pega o carneiro, amarra as pernas traseiras dele, passa pelo esteio, puxa ele e ele berra. Você sangra e ele não diz nada, sangra e não dá um berro. O bom carneiro não berra, mas tem uma lenda que diz que se o carneiro berrar quem sangrou, essa pessoa não chega ao fim do ano. Adulto não bota criança para matar carneiro. Eu gostava muito dos animais, eu tinha muitos, mas não em cativeiro. Eles vinham, porque a gente alimentava, eu de vez em quando estava com um sagüizinho aqui no meu ombro, até no Rio de Janeiro. Não gosto de cachorro, nem do gato, porque eu acho que o cachorro e o gato são sabujos, não são independentes. Gosto de quem tem independência e você tratando bem eles vem para perto.
ESCOLA
Eu fiz a escola primária em casa, mas no ginásio eu fui aluno salesiano. Eu fiquei interno. Esse episódio que eu contei do meu pai me deixar na porta da escola aconteceu num colégio interno. Ele me deixou e foi embora para o Acre. Nesse dia eu me despedi dele, mas fiquei interno só dois meses, porque eu era muito rebelde, não aceitei a ideia de ficar preso dentro de um colégio, obedecendo uma disciplina que eu não estava habituado. O que houve? O diretor do colégio passou um telegrama para o meu pai dizendo que não queria que me tirasse do colégio, porque eu era bom aluno, mas que eu não suportava a vida interna, aí veio minha avó e meu tio tomar conta de mim em Manaus. Meu tio estava com vinte e poucos anos, chegou na cidade grande e só queria saber de farra. Minha avó é que tomava conta. Ela era mulher desse meu avô mais corajoso, meu avô Carolino, Dona Chiquinha, vovó Chiquinha. Eu fiz o ginásio até o momento que a minha mãe veio morar em Manaus, porque vieram os meus outros dois irmãos, os outros três, aí a coisa melhorou, mas um belo dia eu tive que sair de Manaus também, porque chegou a hora do vestibular e Manaus não tinha faculdade nessa época.
FORMAÇÃO
Na faculdade eu tive que ir para Belém, naquela época chamava-se pré-médico, pré-jurídico, pré-politécnico etc. Meu pai queria que eu fosse dentista, ele era um homem sábio, já demonstrei isso, ele dizia o seguinte: “Ninguém deixa de pagar o dentista, porque na hora da dor de dente, paga o que o dentista quiser” Médico tem que ter aquela bondade e é sacerdócio também, o médico não pode se transformar num indivíduo ambicioso ou imediatista, tanto que a medicina é um sacerdócio a sua maneira, é bem verdade que está um pouco violentada atualmente, mas não por culpa dos médicos, pelas condições que são oferecidas de trabalho, mas é essa a realidade. Nessa época eu cheguei em Manaus de navio e a viagem levou dois meses.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
A Amazônia é grande Eu me lembro de tudo, é um acontecimento na vida da gente. O navio era o célebre gaiola. Vocês já viram navios na Amazônia? Tinha o camarotezinho no convés de cima e embaixo era carga. O navio geralmente parava à noite porque o rio era muito traiçoeiro e tinha corredeiras também. Tinha pau que furava o casco do navio e tinha que ter o prático, que era a pessoa que conhecia onde estavam os canais. A viagem se prolongava muito e tinha o problema das baldeações. Isso na época da vazia, na época da cheia não, a viagem era bem menor, porque o rio estava cheio e a viagem era mais fácil. Tinha todo um sistema à bordo, o navio fornecia pensão para casa, comida, roupa lavada, tudo era dentro do navio, era fornecido pelo pessoal do navio e era uma viagem agradável, porque tinha piano e música. Tinha jogo de tudo, a criançada brincava, o navio às vezes parava para a gente tomar banho no rio. Eu relembro com muita saudade a minha infância, inclusive – que é o fundamental –, lembro da liberdade que tínhamos, o horizonte era o infinito mesmo, minha mãe tinha muito cuidado, ela não gostava que a gente, por exemplo, tomasse banho no rio, ela proibia. Mas quem é que proibia? A gente saía e ia para uma praia daquela e fazíamos as nossas peraltices; por exemplo, na praia o camarada plantava melancia e a gente ia lá roubar. O sujeito ia lá e pow espingarda com sal, já ouviu falar em espingarda com sal? Dói que nem o diabo, mas não mata, só maltrata. Era assim: “Eu vou atirar” A gente saía e pulava dentro do rio e ficava nessa brincadeira. Fazíamos, às vezes, brincadeiras desagradáveis. Você sabe que jacaré bota ovo e choca o ovo, e uma das nossas brincadeiras de criança, veja bem, era mexer nos ovos do jacaré. A jacaré vinha para cima da gente, mais que depressa tínhamos que subir na árvore para poder se defender. Havia também as grandes pescarias, as grandes piracemas, vocês já ouviram falar em piracema? É quando os peixes sobem o rio para a desova. Aquilo é uma multidão de peixe e não pesca com rede nem nada, é com pedaço de pau, dando cacetada em peixe e botando para terra. A turma depois salga, descama o peixe e vai botando naquelas caixas, que é para secar, porque na época que não tem peixe come peixe salgado. Essa foi a minha infância. Eu também pratiquei esportes parados, eu tenho medalha de lançamento de disco e de dardo. Eu brincava às vezes de jogar futebol; eu sempre exerci certa liderança no meu grupo, quem escolhia o time era eu, mas no meio da passada eu tinha que abandonar, porque eu tinha um problema numa articulação. Antigamente, ninguém sabia que era uma descalcificação na cabeça do fêmur, de maneira que houve um encurtamento na perna e para jogar futebol isso não era bom porque eu acabava tendo dor, mas eu sempre entrava. Eu não fui um menino peralta, mas tive todas as coisas que uma criança teve, mas acima de tudo fui uma criança livre, muito livre, foi bom à beça. Eu sei fazer uma armadilha, eu saía com o tio cuja a especialidade era caçar onça, eles passava às vezes uma semana no meio do mato e depois vinha com três, quatro peles. Não se mexe na armadilha quando a onça chega, porque a onça que pega um pouco da armadilha vai chamar as outras para comer o resto do porco, quando vem as outras é que a gente acerta, e naquela época era época de fartura na Amazônia, tinha bandos de porcos, de cem porcos. Meu pai era patriarca dos índios também. Era os Cachinauás e os Pampas, que eram as duas tribos principais que nós ajudávamos.
ESCOLA
Não foi difícil se adaptar ao ambiente escolar, porque tinha muita gente proveniente do interior que tinha a mesma vida, mais ou menos a mesma coisa e a educação que os salesianos davam, era uma educação dirigida para aquele tipo de gente que nós éramos, nós tínhamos muito bons professores, foi a época que eu me encantei pela história, porque eu tinha um professor, que depois inclusive mais velho um pouco, veio para cá e fez concurso do Itamarati, tornou-se um dos diplomatas. Era um homem que dominava tudo muito bem. O Álvaro Marco, que foi governador do Amazonas, foi o meu professor de português. Existia uma elite, como em todo lugar. Não existe povo, não existe comunidade que não tenha uma elite. Isso não existe Tem umas idéias aí, umas doutrinas, umas ideologias, que negam isso, mas em todo canto existe e lá na minha terra tinha a elite também. Eu vim fazer vestibular para faculdade de medicina em Belém, eu comecei o meu estudo lá, aí foi um encontro já com as namoradas, as primeiras farras, as aventuras e as coisas foram também muito boas.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Belém é uma cidade espetacular, até hoje ela é uma cidade belíssima para se viver, uma cidade que tem tudo muito típico, a própria comida e as coisas do Pará. Eu gostava muito. Todas as minhas férias eu ia para uma cidade que hoje é uma estação de veraneio célebre no Brasil, que é em Minas, Salinópolis. Eu ia para lá. Foi lá que eu tive as minhas grandes aventuras de matar tubarão com um punhal. Ué, vocês ficam admirados? Lá a gente pescava tubarão no curral, quando a maré baixava. Porque a maré lá sobe cinco ou seis metros e quando baixa os peixes ficam presos, entre eles estava um tubarão, mas ele estava em terra, a gente montava em cima dele e cravava o punhal. Só que o pobre estava indefeso.
FORMAÇÃO
Foi por causa da faculdade que eu fui para Belém, porque eu escolhi medicina, meu pai queria como eu disse que eu fosse dentista, porque ele dizia que o dentista ganhava mais dinheiro, médico não, porque ele entra naquela história da bondade, do humanismo e fica nisso e paga quem quer. Isso aconteceu comigo, eu não soube ganhar dinheiro na minha vida profissional, se não fosse a Petrobras pagar o salário que pagava, eu estava frito, mas eu enveredei por uma especialidade que foi originada na época da guerra, eu fui convocado para a segunda grande guerra. Eu quis dar um golpe, querendo bancar um sabido, porque eu não queria que o serviço militar empatasse o meu estudo e resolvi tentar a praça com 14 para 15 anos, isso era permitido, desde que tivesse a anuência dos pais. Minha mãe estava em Belém, foi na época que eu entrei na faculdade. Eu estava fazendo o admissional, peguei a autorização da minha mãe e me alistei, porque naquela época você fazia o serviço militar em oito meses. Quando eu chegasse na faculdade eu já estava livre do serviço militar, isso não me empataria o estudo, mas quando eu cheguei lá me admitiram, disseram: “Você vai ter que esperar, porque você já vai fazer o vestibular, você tem que fazer CPOR [Centro de Preparação de Oficiais da Reseva].” Lá fui eu, esperei um ano para fazer o CPOR, eu peguei três anos de serviço militar e quando eu saí, eu fui convocado para a guerra, mas como eu era da Amazônia, resolveram me colocar no exército da Amazônia, vocês já ouviram falar no exército da Amazônia?
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
O Brasil teve dois exércitos na guerra, teve o exército que foi pra Itália e eu fui convocado para esse exército. Eu não fui para a Itália porque era da Amazônia, me mandaram para o exército da borracha. O que era o exército da borracha? As forças aliadas, com a perda dos seringais lá do Oriente, lá da Indonésia, da Malásia, aquele negócio todo, perderam as fontes de borracha, já existia uma fonte de borracha, era o Amazonas, então eles fizeram um exército no Brasil para tirar a borracha para os Estados Unidos, para Inglaterra, para França etc. Eu fui porque já estava me preparando para medicina, me puseram no serviço de saúde, que era pra fazer a seleção do pessoal que ia. O recrutamento era uma beleza, saía um caminhão do exército pelas estradas interioranas, via um pessoal fazendo lavoura: “Vem cá, quantos anos você tem?” Tanto: “Tem Família?” Não, sou solteiro: “Entra no caminhão, vamos embora, está recrutado.” Vocês não conhecem essa história, vocês não conhecem o Brasil, precisa conhecer o Brasil. Eu ia por quê? Tirar sangue. Eu estava treinando laboratório e foi aí que eu descobri uma especialidade de medicina que não tinha no Brasil, que era medicina do trabalho. Eu achei formidável, porque é uma medicina de caráter preventivo, não curativo, e era o que o meu pai me ensinava, meu pai me dizia sempre: “Meu filho, razão tem os chineses, a sabedoria chinesa, porque o médico recebe das famílias enquanto não tem ninguém doente em casa, ele recebe o dinheiro, no dia em que alguém cair doente em casa, o médico paga para a família, dá o remédio, tem que dar tudo.” O médico, portanto, tinha o interesse muito grande de ter sempre o pessoal com saúde para ele não pagar. O meu pai dizia: “Vê se você descobre dentro da medicina um negócio deste.” E eu descobri, é a medicina do trabalho, que é essencialmente medicina preventiva, no sentido de evitar que o trabalhador caia doente em função das condições de trabalho. Tem uma gama enorme de coisas para fazer.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Eu sempre fui o iniciador das coisas, quando eu vim pra Manaus, vim sozinho, quando eu vim para Belém, vim sozinho, mas depois que eu vim para Belém minha mãe ficou muito saudosa do filho querido e lá vem ela com o meu irmão, minhas irmãs e mais duas irmãs que se juntaram que eram filhos de conhecidos lá do interior, e que vieram estudar em Manaus e que eram tratadas como irmãs na minha casa, a Vieirinha e a Romana. Quando ela veio pra Belém ela trouxe a turma toda. Eu fiquei na cidade até o terceiro ano de medicina, fiz os dois preparatórios que eram os iniciais, mas no final dos três anos terminou a guerra, aí entra um problema político no meio disso tudo, eu sempre fui entusiasmado, eu tenho uma coisa fantástica dentro de mim que se chama entusiasmo, eu me entusiasmo pelo que faço, pelo que discuto, pelo que eu invento, essa é a minha mola, é o meu Enteus, sabe o que é Enteus? Deus interior, é uma palavra grega que significa deus interior, palavra essa da qual surge o termo entusiasmo e eu tenho esse entusiasmo por tudo que eu faço na vida, não faço nada que não tenha entusiasmo, bastante entusiasmo, porque isso é a mola que leva a gente para frente. Entusiasmo, perseverança, coragem, audácia Você precisa ser audacioso, eu tenho inúmeros episódios na minha vida de audácia, eu saí do Pará por causa do meu momento de audácia.
Existia no Pará um governador, na época do Getúlio, na época da ditadura, que se chamava Coronel Magalhães Barata. Era um homem duro, um tampinha, pequenininho assim. Eu era da facção política contrária ao Getúlio, naquela época já estava se falando em UDN, União Democrática Nacional, já se falava em uma porção de coisas, novas tendências na política. Eu, logicamente, como todo bom estudante, eu era do diretório acadêmico, comecei a fazer comício político, aquele negócio todo, um belo dia, eu saí na principal rua de Belém com um cartaz grande, com uma barata desenhada e antigamente não tinha esses inseticidas, tinha um tal de pó azul e eu escrevi lá em cima do cartaz “Pó Azul mata.” E estava a barata, o governador soube da história e chamou os delegados da polícia e disse: “Pega esse cara, Daphnis, pega o Alcir, pega Jaciara...” que era uma colega nossa: “...e dá uma surra neles, pega a cabeça, pega meio litro de óleo de rícino e faz descer garganta abaixo.” Você já viu, óleo de rícino, o que iria acontecer. Acontece que os delegados, a polícia era em frente ao pronto socorro, então tinha aquele negócio da gente viver ali com os delegados, um bom papo, aquela coisa. Um deles, o Poti Fernandes, nunca me esqueço desse nome, chegou para mim e disse: “Daphnis, nós estamos com ordem de pegar vocês hoje à noite para dar um corretivo e nós vamos ter que fazer, eu te prometo que eu vou te dar um rebenque bem macio para te dar uma lição, mas pela cabeça já está contratado o barbeiro e o óleo de rícino já está reservado.” Eu disse, Poti, você está me botando medo? “Não, é para você entender, trata de se esconder e sair de Belém, porque não tem mais ambiente para vocês.” Nós éramos da faculdade de medicina, lutávamos contra a faculdade de direito que era uma turma de esquerda extrema e nós éramos os chamados democratas, a gente não entendia bem disso, mas fazia de conta que entendia e ele me avisou isso. Eram seis horas da tarde: “Estamos reunidos lá pra ver o que nós podemos fazer com vocês.” Tinha um navio no porto, chamado navio D. Pedro I, meus amigos falaram com o piloto do navio, mandaram que a gente estivesse às três horas da manhã lá. Ele me avisou às seis horas e eu tinha que estar às três da manhã na escada do navio porque eles iam botar a gente dentro do navio para sairmos de Belém do Pará fugidos. Nós viemos clandestinos, com a ordem de só se apresentar ao comandante quando o navio estivesse em alto mar, a gente podia se apresentar ao comandante e dizer que nós éramos fugitivos políticos. O comandante mandou dar um cobertor, à noite nós dormirmos no salão. Eu viria de navio de Belém para o Rio de Janeiro praticamente sem nenhum dinheiro no bolso. Eu recebi esse aviso até de uma namorada, namoradinha naquela época, chegou dez horas da noite, veio bater lá na minha janela: “Eu vim te avisar que papai teve uma reunião, disse que o governador chega a ficar vermelho quando fala de vocês... disse pra vocês se esconderem.” Eu disse: “Pode dizer para ele que fique descansado.” Já que estava tudo arranjado. Eu vim embora, vim pro Rio de Janeiro, como todo bom estudante, vim porque a faculdade nacional de medicina, que hoje é UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], que era Praia Vermelha Nacional de Medicina, tinha mandado um telegrama para nós lá no Pará, dizendo que tinham oito vagas à nossa disposição, eu digo, está na hora de eu ir para o Rio de Janeiro, eu viria de qualquer jeito. Não tinha ninguém que queria sair de Belém, só eu. Eu sempre tive essa vontade de ir para o melhor, a minha vida sempre foi feita de estar onde tem o melhor, isso é um velho sistema meu, eu não gosto de ficar onde está ruim ou é pior, lógico, que eu faço as coisas para melhorar muito, mas eu gosto de estar num ambiente melhor, não significa luxo, melhor significa condições boas de trabalho, onde a gente possa se desenvolver como pessoa, isso é que para mim é melhor, mas eu vim aqui para o Rio de Janeiro e no outro dia já fui à faculdade de medicina, quando eu cheguei lá as oito vagas eram para todo o Brasil, tinham 300 candidatos, era de desistir, porque eu vim de uma faculdade do norte, era uma boa faculdade, excelente, depois eu pude julgar que ela não ficou nada a dever. Mas eu não sou de entregar os pontos, me matriculei e estudei, tirei o primeiro lugar. O Alcir tirou terceiro, a Jaciara tirou o último lugar e nós todos, os três, entramos na Nacional. Passei a estudar no Rio de Janeiro, pouco tempo depois veio a minha mãe com o resto da turma, meu irmão também já estava estudando medicina, minha irmã estava se formando em economia, a outra tinha casado em Manaus, a minha irmã mais velha, estava lá e tinha uma família, aliás, ela tem uma belíssima família. Agora mesmo no dia dos pais nos comunicamos, ela me telefonou e eu muito satisfeito perguntei, minha irmã quantas pessoas já são do ramo inicial de você e o Tales – o marido dela já morreu. Quantos vocês são hoje? Ela disse oitenta, teve dez filhos. Isso multiplica que não tem tamanho. Eu, com Vera, já somos vinte lá em casa. Dia dos Pais estava lá os vinte e tantos, lógico que tem alguns que já são namorados das netas, mas já conta, o que a gente vai fazer? A família aumenta e é bom para burro, muito gostoso.
CIDADES / RIO DE JANEIRO / RJ
Como todos nós nordestinos, pessoal que migra do norte para o sul, eu fui morar no Flamengo, na rua Bento Lisboa, na esquina ali no Largo do Machado. Minha mãe quando veio, ficou hospedada num hotel que tinha ali na rua das Laranjeiras, e ficamos procurando apartamento para reunir a família. Eu era o chefe da família, porque o meu pai estava no Acre, ele tinha férias só duas vezes ao ano, ele vinha nessas épocas aqui para o Rio de Janeiro, como ia a Belém, como ia a Manaus, minha mãe ia e passava seis meses com ele, quando ele vinha passar a temporada das férias acumuladas ela ficava o resto do tempo, mas a gente sempre vivendo bem, muito bem graças a Deus. Eu arranjei um apartamento para nós ficarmos, era na rua André Cavalcanti. Nós nos mudamos, era um apartamento de sala e quarto, minha mãe e minha irmã ficavam num quarto e eu e o meu irmão na sala, o que eu não sabia que aquele edifício que era um edifício de alta rotatividade. O barulho noturno não deixava a gente dormir, logo nos mudamos para a Tijuca, apareceu um apartamento melhor de três quartos na Tijuca, alugamos esse apartamento, depois o compramos e desde essa época eu passei a viver no Rio de Janeiro até terminar o meu curso médico. Terminando o meu curso médico, foi difícil a vida aqui, era tão difícil quando ainda é hoje, o início de qualquer carreira é muito ruim, me apareceu uma oportunidade de ir para o interior de São Paulo, eu aí me mudei para lá, mas aí a minha irmã e o meu irmão já não aceitaram, ficaram por aqui e eu fui para lá. Nessa época o meu pai veio doente do Acre, já estava com certa idade, ele veio e foi morar no Rio de Janeiro.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fui para uma cidade que era conhecida, que se chama Mococa, onde tem o leite Mococa, foi onde eu comecei a minha vida de médico e me dediquei muito a isso, porque eu já procurava estudar medicina do trabalho, que era aquela medicina que eu tinha visto os americanos fazer lá na Amazônia. Procurei aplicar o que eu estava aprendendo com o pessoal da fazenda em Mococa. Naturalmente isso perturbou um pouco aquela mansidão daquela cidade, eu cheguei a ter um hospital em Mococa, eu era muito empreendedor, aquele negócio de entusiasta. Eu me juntei com dois médicos que já tinham um patrimônio lá, e com o patrimônio deles eu fiz um belíssimo hospital em Mococa e eu era o diretor do hospital. Era o médico que fazia plantão, porque a minha namorada, eu não podia casar com ela, porque estava proibido. O Mendes de Moraes, quando foi governador daqui do Rio de Janeiro, proibiu as normalistas de se casarem, você não sabe disso não? Tem uma lei que normalista que estivesse fazendo curso não podia casar, porque seria um péssimo exemplo para as colegas do instituto de educação. A minha mulher estudava para ser professora, que era algo bem comum, toda família tinha duas, três filhas estudando para ser professora. O pai dela me impôs uma condição: “Daphnis, acho que você é um rapaz ótimo, mas minha filha só casa depois de formada.” Não podia casar, tive que esperar e durante esse tempo, já que eu tinha que esperar, eu fui embora para o interior, porque eu vou praticar e ganhar dinheiro para casar, porque existia aquela ideia que para casar você precisa de dinheiro, se vocês são solteiros pode pegar o exemplo, não precisa de dinheiro para casar, porque quando eu casei também não tinha dinheiro. Isso é algo desnecessário. Precisa é de muita compreensão, muita camaradagem, é fundamental. A doença do meu pai se agravou e eu tentei levar ele comigo para Mococa, não se adaptou, porque era uma região montanhosa, mais alta, mas eu fiz uma boa medicina em Mococa. Eu era muito considerado, bastante mesmo, mas eu precisava de enfermeiras no hospital, o hospital não pode funcionar sem uma boa enfermagem. Eu formei um grupo de enfermeiras. Eu sempre gostei de ensinar. O hospital tinha tudo, tinha 60 leitos, eu era o que me encarregava do laboratório, do raio-x, aquela coisa toda. Era o pau para toda hora dentro do hospital, mas também tinha a horta, o galinheiro e os presentes que davam; chegavam sacos de arroz, de feijão, aquele pessoal não podia pagar, eu não cobrava, porque se não pudesse pagar ele vinha um dia e trazia o presente. Isso não deixava de ser um pagamento e eu comecei a influenciar muito na vida daqueles peões, bóias-frias, naquela época não se chamava bóia fria, era peão mesmo, eram colonos. Íamos melhorando a casa deles, fazendo poço de água, saneamento, fossa, eu não tinha o que fazer quando eu estava de folga, eu pegava uma fazenda ia para lá para dar aula para o pessoal, de higiene. Fazer mutirão também, que era o método que eu adotava para fazer a melhora da casa do camarada. Aquilo começou a tocar um pouco no pessoal, nos donos das fazendas, alguns compreendiam, mas quando eles me conheciam eles viam os meus objetivos que não deixavam de ser médicos, eu não misturava política nem nada com isso, era mesmo pura vontade de ver aquela gente melhorar de vida, mas precisei de enfermeiras, fui atrás de enfermeiras e não encontrava, vim em São Paulo, vim no Rio, até que eu soube que lá perto de Brasília onde tem a base aérea, que é a principal base aérea da aeronáutica perto de Brasília, tinha uma escola de enfermagem, que era de uma missão americana e que formava boas enfermeiras. Eu bati para lá e falei com o diretor da escola se ele me arranjava uma enfermeira para ensinar aquele pessoal que eu tinha em Mococa. Eu expliquei a razão, até emotivamente, para mexer lá com os brios do cara. No outro dia eu vim embora, quando eu estava saindo, ele disse: “Doutor, o senhor pode ir, arranja uma casa, que eu vou mandar três enfermeiras.” Eu quase caí duro, puxa vida, será que eu tenho tanta lábia assim que o sujeito se emocionou com a minha conversa e resolveu me dar as enfermeiras? Um mês depois elas estavam lá e começamos a trabalhar, o hospital ganhou fama de hospital maravilhoso, aquele negócio todo, e as coisas iam acontecendo e a gente ia dando conta, geralmente o Paionni, que era o outro médico e o outro... como é que era o nome do outro? Era gente que tinha fazenda, eles tiravam folgas sábado e domingo e quem ficava com o hospital na mão era eu, então tudo que acontecia quem dava conta era eu, fazia parto, fazia operação, fazia o diabo a quatro. A Raquel, era a enfermeira chefe. Foi uma beleza. Essas enfermeiras eram de uma missão protestante, como é que a gente diz? Elas foram lá e começaram a catequese, lá era sede de municipal, já viu né? Aí começou a aparecer aquelas indiretas, eu ia lá com o pessoal tratava muito bem, o bispo me tratava muito bem, mas quando chegava no público, dizia: “Pessoas que vem de fora com ideias, com não sei o quê, perturbar a vida.” Até o dia que ele foi franco. Eu caí fora, apesar da coragem, eu já estava com vontade de sair por causa do meu pai. Eu ia sair limpinho, porque tudo que eu tinha eu tinha investido no hospital, eu não tinha dinheiro, não tinha ganho dinheiro. Mas eu comecei a ouvir umas indiretas, eu digo, não, esse ambiente não é para mim, eu não sou católico, eu não sou religioso, eu sou um agnóstico, então o que eu posso fazer numa terra onde só se pensa em igreja, só se pensa nisso, então eu caí fora, voltei para o Rio e ao voltar, naturalmente, o Paionni e o De Lucca, que era o outro, se reuniram e disseram: “Isso aqui está valendo tanto, um terço é seu.” E me deram o dinheiro, isso começou a me tocar também, porque ao ser decente na vida, ter os seus valores e lutar por eles, a gente sempre é recompensado, eu tenho a minha idade que eu tenho, e tenho absoluta certeza disso, inclusive a minha vida na Petrobras foi assim.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Chegando ao Rio, fazendo medicina do trabalho, eu acabei indo dar uma mão ao serviço especial de saúde pública, num acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, para desenvolver saúde em locais de mais baixo padrão de vida. Acabaram me mandando para Niterói. A primeira coisa que eu fiz em Niterói foi um inquérito sobre verminose nas escolas, a minha tese era simples, ao invés de gastar o dinheiro com exame de fezes, faz o inquérito, estatística, epidemiológico, vê quais são os vermes, dá o remédio que sai mais barato. Assim se fez e as crianças de Niterói melhoraram muito. Tira primeiro os vermes, depois dá comida para eles, e pronto. Eu acabei como chefe do centro de saúde, que tem ali em frente ao cais do porto, ali na entrada da ponte Rio Niterói. Tem ali um posto de saúde grande, eu fui ali diretor e me deram a incumbência de fazer o posto de saúde de Santa Rosa, quem construiu aquele posto de saúde está aqui. Veio a epidemia de poliomielite, que foi uma grande epidemia que nem está sendo essa de gripe. Mas não tinha vacina, o Sabin ainda não tinha inventado a vacina, não tinha nada e eu tomei conta, mas havia uma possibilidade de se recuperar essas crianças com cirurgias, posteriormente, mudando os músculos que tinham sido atingidos na perna, no braço, mudando a ligação deles com outros músculos, tinha um médico, o Hernani, que fazia isso, mas precisava de um bom hospital, tinha o Antônio Pedro, mas não era um hospital que prestasse. O Antônio Pedro tem uma história meio esquisita, não era um hospital, agora já mudou muito, naquela época era um hospital que a gente nem podia fazer reforma nele, porque tudo, até o tijolo, veio do Canadá. Mas nós conseguimos combater a epidemia. Para dar assistência as crianças eu fiz o hospital infantil de Niterói, é o Getulinho, que está lá até hoje, um hospital de 150 leitos, só para crianças.
ESTADOS UNIDOS
Um dia chegaram para mim, no Serviço Especial de Saúde Pública, e disseram: “Você vai para os Estados Unidos para estudar a medicina do trabalho.” O governo americano me deu uma bolsa, porque eu já tinha um acervo de trabalhos, interesses. Eu vivia fazendo saúde dentro das fábricas, eu ia para dentro das fábricas mostrar onde estava o problema, mostrar qual era o cara que estava intoxicado, estava envenenado, o que aconteceu, isso tudo era comigo e eu fazia isso em Niterói. Me mandaram para os Estados Unidos, passei três anos lá. Me preparei na minha especialidade, eu comecei uma vida, não tinha mais intenção de voltar para o Brasil. Casei e resolvi talvez ficar por lá. Mas eu voltei para o Brasil porque o governo americano me pediu para eu voltar. Eu devia isso a eles, para quê? Para fazer iniciar no Brasil a medicina no trabalho dentro de novos critérios, porque já existia um ministério do trabalho aqui, já tinha tudo, mas era tudo sem um planejamento, sem nenhuma orientação e eu vim. Eu vim em função da Guerra Fria, que existia entre os Estados Unidos e a União Soviética. Para poder manter a soberania, o poder de intimidação um aos outros, era preciso ter elementos fundamentais, ou seja, armas e conhecimento, foi por isso que o governo americano me mandou. Os EUA fizeram três grandes centros de estudos na América do Sul: um no Peru, para fazer a defesa do trabalhador do chumbo, porque o chumbo era fundamental ao desenvolvimento nuclear, não tinha bomba atômica sem chumbo, porque o chumbo fazia a defesa da radiação; precisava de cobre que era no Chile, que é o grande produtor de cobre no mundo. Para que o cobre? Para transmitir a energia elétrica em grande distância, porque o cobre tem pouca perda de energia enquanto que o ferro ou o alumínio tem uma grande perda, até de 50% da energia transmitida; nós aqui, no Brasil, éramos responsáveis pelo ferro, a estrada de ferro, que tem de Vitória até Belo Horizonte. Quem fez? O brasileiro não sabe, foi o governo americano, por causa da guerra fria, porque precisava do ferro de Minas Gerais e precisava do cristal de rocha do interior do Brasil, senão não tinha comunicação aeroespacial. Todo sistema de comunicação tem um cristalzinho rocha que é a peça mais fundamental do sistema.
INGRESSO NA PETROBRAS
O governo americano me deu um laboratório, foi o primeiro laboratório industrial de saúde do trabalhador que se fez no Brasil. Era em Niterói, na rua Barão do Amazonas, eu montei esse laboratório lá e aí eu já tinha engenheiros que trabalhavam comigo. Eu era o chefe dessa equipe, eu era o diretor desse serviço, eu estava no que eu queria, porque eu queria fazer medicina no trabalho e não se faz medicina no trabalho sem engenharia de segurança. Volta Redonda nos pediu para fazer uma avaliação da cidade. O serviço médico de Volta Redonda quem fez, fui eu, toda a estrutura de Volta Redonda quem estabeleceu está na sua frente. Eu fui trabalhar em Volta Redonda e a Petrobras no seu início tinha uma turma que estava sendo treinada como engenheiros de segurança e engenheiros de processo, eram cerca de 50, foram visitar Volta Redonda durante o curso que eles tinham e nessa visita eles ficaram admirados com algumas coisas que estavam sendo feitas. Desse interesse me apresentaram ao engenheiro que era o chefe desse serviço em Niterói, o doutor Barbosa Teixeira. Muito admirado ele me perguntou se podia levar essa turma para visitar o meu laboratório, eu disse: “Quando você quiser” No dia seguinte ele me telefonou perguntando se podia levar a turma para fazer a visita. Aí começou uma amizade técnica boa, saudável, entre eu e o Barbosa Teixeira, e naturalmente com os meus engenheiros. Começamos a ter influência na Petrobras, começamos a sermos chamados para dar curso. Até que fui chamado junto com um consultor médico que tinha na Petrobras, que era uma única pessoa médica na Petrobras, ajudar a formular o que a Petrobras precisava. A Petrobras precisava de matéria de saúde e aí eu resolvi dar uma assessoria, mas para isso eu tinha que ter uma licença especial, porque eu tinha exclusividade de trabalho com o pessoal da ciência especial de saúde pública, que foi o melhor serviço de saúde que já se fez no Brasil. Quem acabou com ele foi o Collor, sem razão. Nós começamos a desenvolver uma assessoria na Petrobras, para isso eu tive que pedir licença, para me dedicar algumas horas na semana para Petrobras. Eu fazia o meu expediente em Niterói de manhã, quando era mais ou menos duas horas, eu atravessava e vinha para cá, estudar o problema da Petrobras. Um belo dia, dentro de um processo quase natural, a Petrobras me convidou para ficar lá. Eu já me encarregava de toda a parte de planejamento etc. e tal, eu que fiz todo o planejamento da Petrobras em matéria de saúde. Todas as coisas que tem a Petrobras em matéria de saúde, seus postos de saúde, seus tipos de exame, tipo de assistência médica, isso foi tudo planejado por mim. Pessoalmente, me dediquei a isso, porque eu achava que a Petrobras seria a redenção do Brasil. E vai ser, sem dúvida nenhuma. Eu tinha essa visão porque eu já havia trabalhado em empresa de petróleo nos Estados Unidos, eu sabia o que era petróleo. Eu tinha realmente um objetivo que era chegar na Petrobras, eu trabalhei na Califórnia numa universidade que prestava serviços para empresa de petróleo, por exemplo, era petróleo e poluição atmosférica, naquela costa da Califórnia, toda de Los Angeles, São Francisco, era o local onde tinha o maior índice de poluição atmosférica. Eu trabalhava nesses programas também, tanto que os primeiros inquéritos de poluição no Rio e em São Paulo foram feitos por mim, tanto que a revista Cruzeiro – se lembram dessa revista, não era do tempo de vocês, Cruzeiro era a Veja de antigamente –, chegou a publicar umas reportagens. Eu não gosto, sinceramente, eu não gosto de fazer propaganda, eu gosto de ciência e nem sempre a propaganda se junta com muito critério com a verdade científica. Nem sempre a verdade é bom para a propaganda. Eu acabei saindo do instituto para vir me dedicar a Petrobras.
CIDADES / NITERÓI / RJ
Em Niterói eu fiz o hospital psiquiátrico. Eu tenho um bom serviço em Niterói, tenho o Centro de Saúde Petrópolis, o Centro de Saúde de Nova Iguaçu, isso tudo é obra do doutor Daphnis, mas o principal é o Hospital Infantil Getúlio Vargas. Esse hospital tem uma história muito bonita, porque a inauguração dele foi marcada para o dia que o Getúlio se suicidou. Quem deu o material para sala de cirurgia do hospital infantil foi a dona Darci Vargas. Ela era presidente da Legião Brasileira de Assistências e ela me impôs uma condição: “Eu lhe dou todo o material cirúrgico, dou o que você quiser, mas o nome do hospital tem que ser o nome do meu filho que morreu.” É lógico que sim, que importância tem o nome de um hospital, tem importância ter o material e ter as coisas lá dentro. Isso que é importante. Mas não teve inauguração, eu não deixei inaugurar, porque veio toda aquela reação política contra o Getúlio, aquele negócio todo, o país entrou em convulsão. Como é que eu ia botar o nome do Getúlio no hospital? Botei a placa, mas não teve festa nenhuma, quer dizer, aquele hospital é como se ele tivesse existido antes, mas ele começou a existir no dia que o Getúlio se suicidou, essa é a história. “Ah, vai ter a inauguração?” “Não vai. Como é que nós vamos inaugurar o hospital? Doutor Abel, já lhe disse 500 vezes que nós não podemos inaugurar esse hospital. Não ter inauguração é uma reverência que a gente faz a uma personalidade como Getúlio.” Eu não gostava dele, porque ele era um ditador, eu não gostava de ditador, eu não gosto. Mas a gente tem que ver o mérito de algumas coisas. Aí ficou Getulinho, ninguém chama de Getúlio Vargas Filho, só chamam de Getulinho. Todo mundo sabe, isso para mim é muito bom, muito gostoso.
SERVIÇO MÉDICO DA PETROBRAS
Quando eu comecei a organizar os serviços médicos da Petrobras surge a audácia. Eu fiz o serviço médico da Petrobras, que é hoje a célebre assistência médica. Ninguém pode tocar nisso. Eu fiz primeiro todo o sistema de medicina do trabalho, que é exame médico admissional, exame médico periódico, exame médico de admissão, aquele negócio todo. Locais de trabalho, verificação e estudo, inquéritos, dosagem de tudo quanto é substância tóxica, condições que podem levar a acidente, tudo isso foi comandado por mim e o pessoal de engenharia junto comigo. Foi eu e o Barbosa, ele era muito ligado ao acidente, tinha muita noção sobre questão de ambiente, mas eu tinha estudado muito poluição, tinha estudado muita coisa nesse sentido, cheguei aqui apliquei e em matéria de medicina no trabalho no Brasil, que depois se tornou uma obrigação legal, quem começou foi a Petrobras. O exemplo é sempre da Petrobras. Eu fico muito feliz com isso, eu não quero dinheiro, não ando atrás, eu não quero saber de nome, vocês nunca ouviram falar do meu nome, não é isso que me interessa, eu quero é me sentir bem, eu quero é ter esse prazer de dizer que fiz e que fui eu que fiz. Tá bom à beça.
PETROS
A segunda coisa que fiz foi a Petros, por quê? O que acontecia? Nós tínhamos uma empresa muito boa, notável, tinha assistência médica, que quem inaugurou fui eu. A Golden Cross foi aprender comigo. O Seguro Bradesco é todo meu, fui eu que o fiz todinho depois que saí da Petrobras. As grandes empresas como Vale do Rio Doce, CSN [Companhia Siderúrgica Nacional], empresas de automóvel, pólo petroquímico do sul, pólo petroquímico do norte, a Alcoa, todas essas grandes empresas, todos os seus serviços médicos foram planejados e implantados por mim. Foi muito trabalho. Eu trabalhei muito e aí veio a Petros. A Petros era uma necessidade da Petrobras, existia alguma coisa no país, por exemplo no Banco do Brasil havia uma associação dos empregados. Mas não tinha um planejamento, não foi uma coisa estudada, surgiu assim de movimentos, mas não é assim que a gente deve trabalhar, a gente deve procurar planejar as coisas. O que é que acontecia? A empresa de petróleo é uma empresa diferente das outras, a não ser a parte industrial propriamente dita, é uma empresa muito móvel, você começa a furar um poço aqui pode dar petróleo, pode não dar. Tem que mudar. Primeiro, portanto, é essa questão da mobilidade. Segundo, é um pessoal especializado, quem se prepara para petróleo depois só tem petróleo. Tem que fazer a sua vida até se aposentar, só que pelo sistema brasileiro, como a Petrobras é uma empresa de alto padrão econômico, ela podia pagar bem os seus empregados, só que na hora que o sujeito ia se aposentar, às vezes era um cara que, digamos, estava ganhando hoje dez mil reais, quando ele se aposentava tinha dois mil reais de aposentadoria. Havia uma quebra de padrão enorme e isso acontecia no Brasil inteiro. É verdade também que a previdência social brasileira tinha sido espoliada. Primeiro o Getúlio resolveu dar assistência médica para o pessoal de graça, nada se pode dar de graça em canto nenhum, tudo que é dado de graça vai dar problema depois, é o que eu estou vendo aí com esse negócio de Bolsa Família, vai dar um bode que não tem tamanho, é a minha experiência. Tem que existir uma contribuição, um esforço conjugado das pessoas para poder ter benefício, para poder dar certo, senão não dá certo.
PETROS
A idéia da Petros foi minha, eu sou o idealizador e o organizador. Isso eu faço questão de dizer, não me recuso a afirmar. Estou dizendo aqui porque tem que ficar na memória e todo mundo sabe. A Petros já me homenageou como idealizador. De vez em quando eles resolvem fazer algo e me chamam. Eu fico muito grato, porque não tem coisa melhor do que você ser reconhecido, eu não ganhei nada para fazer a Petros, eu era empregado da Petrobras, eu tinha que fazer porque era a minha obrigação. Eu nunca registrei a ideia, podia até ter feito algo do gênero, mas isso não é meu, nem é da Petrobras, isso é do povo brasileiro. Hoje tem uma porção de empresas que imitam a Petros. Existe cerca de 400 instituições iguais a Petros no país. Nasceu na minha mão, isso eu tenho certeza, não sei se esteve aqui o Ramiro Tostes. O Ramiro foi meu companheiro nisso. Eu tinha a idéia e corria atrás. Naquele momento nós estávamos numa dificuldade com a previdência social brasileira, precisávamos fazer novos programas. Existia uma história de fazer o programa da Espanha, ou do Chile, ou dos Estados Unidos, a mania do brasileiro é imitar os outros. Eu não gosto de imitar ninguém, a gente tem que fazer coisas nossas estudando o problema e procurando soluções para ele dentro da nossa cultura, dentro das nossas possibilidades, daquilo que a gente pode fazer. Não adianta imitar os outros, lógico que absorvemos o que vem de fora, podemos adaptar algumas coisas dos outros. Eu não sou jacobista a ponto de querer que não se faça nada aqui de bom, mas tem que saber adaptar, nunca adotar, sempre adaptar. Eu sentia a necessidade da assistência médica na Petrobras, porque eu não podia mandar o meu pessoal para um instituto e nem eles podiam ter médicos particulares sem uma ajuda da empresa. Um belo dia eu resolvi fazer um programa, resolvi aplicar, e mandava debitar na conta da Petrobras. Pronto Não tinha a autorização de ninguém, o tesoureiro da Petrobras disse: “Doutor Daphnis, o senhor está me causando a maior dor de cabeça, da onde é que eu vou tirar dinheiro para pagar essas contas?” Eu digo: “Se vira, eu já me virei.” Brincadeira, não foi bem assim, porque ele veio e disse: “Tem que arranjar um dinheiro, porque o senhor não levou esse programa para ser aprovado pela diretoria, mas é uma realidade.” Esse programa médico eu não experimentei primeiro na Petrobras, eu fui experimentar na fábrica de automóveis DKW, se lembra do DKW? Eu experimentei lá porque era um ambiente menor, a Petrobras era grande demais. Tudo é muito difícil na Petrobras porque ela é grande e são várias regiões do Brasil, com diferentes culturas. Um parto em Porto Alegre e Belo Horizonte é diferente de um parto em Belém ou em Manaus. As culturas são diferentes, a maneira que as pessoas encaram determinadas endemias no Brasil difere de lugar para lugar. Eu tinha que fazer uma coisa suficientemente flexível para poder atender todo mundo. Eu consegui. Inclusive dentro das dificuldades que se tinha de estabelecer um preço nacional. Fiz um método que podia ter um preço nacional. Depois esse Jarbas Passarinho, maluco, veio e desmanchou, porque quis botar o negócio no INSS [Ministério da Previdência Social], não soube botar e acabou também com o meu. Mas eu arranjei outro.
PETROS
É aquela história de ter que ter audácia, porque sem audácia ninguém faz nada. A Petros foi um bocado de audácia, eu comecei a estudar o problema dos aposentados na Petrobras e todos os casos de viúvas e órfãos vinham para minha mão porque eu era médico. Era o humanismo do médico que fazia com que o pessoal viesse a mim e dissesse: “Vem cá, fulano morreu, a viúva está desesperada, não tem nem comida em casa porque os títulos só vão pagar daqui a seis meses, o que você vai fazer?” Eu aí saía dentro da Petrobras, falava com um diretor, falava com outro, mas isso não pode ser assim, você tem que ter um programa, tem que ter uma atualização, tem que ter um método. Eu comecei em fazer um instituto nosso. Nós já estávamos fazendo a unificação da previdência, que antigamente eram os bancários, os transportes, os industriários, comerciários, cada um tinha um tipo de função do dinheiro que dispunha na economia. Os bancários eram os donos da pelota, como se diz, tinham um instituto, era o caso do Banco do Brasil etc. O Banco do Brasil nunca teve noção do que era o dinheiro, por que eles não fabricavam nada, só trabalhavam com o dinheiro, quando a gente não fabrica nada não temos noção do dinheiro. É a mesma coisa do governo, não tem noção, aumenta as coisas, aumenta o salário mínimo. O governo diz que estudou, mas é mentira porque faz política. Se vocês me disserem que o governo produz eu vou dar a mão a palmatória. Só sabe o valor de dinheiro quem produz alguma coisa e a Petrobras produz. Ela não tem maquininha para fazer dinheiro, essa é a verdade. Mas a minha idéia foi de fazer um tipo de aposentadoria para os empregados da Petrobras que não enfraquecesse o sistema nacional, que pudesse dar uma aposentadoria contínua para o pessoal, desde que todos contribuíssem para isso, tanto os empregados, como a Petrobras. Foi o que foi feito. Todos os programas o empregado paga. Recentemente, eu já estava aposentado, quando eu resolvi tirar o sistema de reembolso, trabalhei junto com o pessoal da Ambep [Associação de Mantenedores Beneficiários da Petros], fizemos um programa. A Petros nada mais é que um sistema de suplementação de aposentadoria, você é aposentado no INSS e suplementa o teu salário para aquilo que você ganhava no dia que você saiu.
PETROS
Eu sou persistente, quando acredito numa coisa eu não largo o osso, eu comecei a fazer a Petros antes da revolução de 1964. Quando veio a revolução de 1964 o pessoal pensou que eu tinha acabado, não tinha mais jeito, tinha uma campanha muito grande contra mim. Nessa ocasião diziam que eu tinha ideia estranhas, que eu ajudava o pessoal que estava sendo perseguido pela revolução. Eu ajudava mesmo, eu escondia o pessoal, escondia gente de todo jeito, hoje a gente pode dizer isso. Não tem mais importância porque eu estou velho, se me botarem na cadeia até vai ser bom, porque eu fico fazendo repouso, mas eu escondi muita gente na revolução. Salvei muita gente, mas não era partidário disso ou daquilo, eu tenho um partido, chama-se medicina, eu tenho uma ideologia, chama-se humanismo, fora disso, estou fora. Lógico que às vezes a gente usa algum canal para chegar em algum lugar, mas é essa a essência da vida. O fato é que na criação da Petros nós não tivemos grandes adversidades, com exceção de um pessoal de nível superior que não queria gastar dinheiro, porque tinha que pagar. Eu não admitia que fosse de graça. Algumas pessoas se sentiram prejudicadas, porque as suas idéias não se encaixavam com as minhas, no meu humanismo, queriam mudar as coisas politicamente de uma maneira abrupta. Sou a favor de mudança, eu acho que a renovação é um negócio espetacular, mas a Petros foi um movimento que nasceu naturalmente pelo que estava acontecendo na empresa, eu só tive que juntar os cacos disso e fazer um corpo. Deu certo pelo menos até agora. É o que está aí, uma instituição forte. Eu decidi que seria uma suplementação justamente para não abalar o sistema das outras empresas. Eu nunca aceitei do empregado da Petrobras ter certas vantagens que a comunidade não tivesse. Eu uso a assistência médica dos mesmos médicos que vocês usam nos hospitais. Queriam fazer hospital, chegaram a fazer um. Eu desmanchei dois hospitais dentro da Petrobras, eu conheci a experiência da PMEX [Petroleos Mexicanos], que tinha um belíssimo hospital na Cidade do México, com cento e tantos leitos. O melhor material médico do mundo sempre foi o sueco, o hospital da PMEX tinha de tudo. Eu nunca vou fazer um hospital para Petrobras, a gente vai é com o nosso dinheiro melhorar a situação dos hospitais da cidade. Em São Mateus do Sul, por exemplo, quem fez o hospital fomos nós. Na Bahia tem hospital feito pela gente. Ajudamos o hospital a se desenvolver. Antigamente quando a pessoa se queimava era morte na certa, porque o cara se infectava e morria. Na Petrobras, um dos nossos medos é o fogo. Eu tive que desenvolver toda uma cadeia de serviço de queimados no Brasil, todos financiados pela Petrobras.
A conjuntura política da época não atrapalhou o desenvolvimento da Petros. Eu enveredei por um sistema onde não precisava usar o político, era tudo técnico. Eu não precisava da aprovação de um ser, porque uma fundação é como se você tivesse deixando um legado, é como se você tivesse fazendo um testamento. Um testamento é um instrumento juridicamente válido. A fundação é um testamento que a Petrobras fez para os seus empregados, não precisa de aprovação de ninguém, posteriormente, como ela cresceu muito, e as outras fundações cresceram muito, o governo começou a intervir, querendo tomar o dinheiro dela. Esse foi o problema, mas nós não deixamos, porque a gente tem as garantias do próprio sistema. Atualmente tem aí uma porção de gente brigando por causa da Petros. Eles muitos brigam porque acham que devem ter o salário do dia, do cargo, depois de aposentados. Isso é uma pouca vergonha, não tem razão para isso, nós não somos mais produtivos, nós devemos ter condição de manter o nosso padrão de vida, como é que você mantém esse padrão de vida, fazendo os teus aumentos de acordo com o próprio aumento dos... O camarada que não está produzindo querer ganhar participação de lucros, adicional de não sei o quê de turno, isso é malandragem, isso é pouca vergonha.
Eu não gosto de começar nada sem saber o terreno que eu estou pisando. Eu distribuí um formulário que foi o primeiro grande inquérito para se fazer a Petros. Esse meu formulário era bem completo, eu queria saber de tudo. Eu distribuí cerca de trinta mil formulários dentro da Petrobras. Eu recebi de volta uns 22 mil, hoje isso é uma amostragem fabulosa, eu posso trabalhar até com 2 mil, 3 mil, que já é uma boa amostra. Isso me deu retrato de quando o pessoal ia se aposentar, qual era o tamanho da família, isso me deu uma porção de outros retratos que eu precisei ponderar, por exemplo, a composição familiar no sul do Brasil é diferente da composição familiar do norte. O homem do norte casa mais velho com a mulher mais nova, porque ele só vai ter dinheiro para casar depois de certa idade, porque a economia de lá é baixa, mas ele aí tem o direito de escolher a mulher mais bonita da cidade. Mas ela é novinha e começa a encher de filho. O sujeito morre e deixa a mulher com uma porção de filhos. No sul o homem casa mais ou menos com a mesma idade da mulher, quando ele morre não deixa dependentes, porque já estão todos maiores. É uma situação inteiramente diferente. Eu comecei a estudar isso para ajustar essas diferenças, para fazer uma taxa única, senão o norte não podia ter uma fundação. Pelos meus estudos o norte não podia ter fundação, porque não tinha economia para isso, mas também não é o caso de dizer que o sul sustenta o norte, não é bem isso, é saber estudar e dar uma taxa compatível para todo mundo.
Nós fomos para a rua, fizemos uma propaganda da Petros e botamos um galhinho que era o símbolo da propaganda, que era o alvorecer do novo dia para os empregados da Petrobras. Era a garantia da aposentadoria e de uma porção de outras coisas. A assistência médica quem faz é a Petrobras, nós aposentados, temos através da Petros, mas a Petrobras nos ajuda e é um seguro. Nós pagamos a assistência médica. Eu estabeleci um prêmio, que é igual a qualquer seguro, nós pagávamos uma parte e a Petrobras pagava a outra. Todo mundo paga, é um seguro barato. Eu poderia pagar mesmo que tivesse que pagar tudo. Eu estou com 87 anos, minha mulher com 82, nós estaríamos pagando R$ 400,00 por mês. Hoje eu pago R$300,00, qualquer lugar um casal desse tipo vai pagar R$1.500 por mês. A Petrobras não vai tirar lucro de assistência médica do trabalhador, ela tem petróleo aí para tirar o lucro, isso é um benefício, a Petros não precisa disso. Ela tem outras maneiras de tirar, tem as taxas de isso e daquilo. Eu enveredei por esse caminho e esse é o ovinho de Colombo, é botar para funcionar, mas precisa ter peito, levei nove anos... Teve, por exemplo, um camarada da comissão de defesa dos capitais nacionais, cheguei lá com problema, porque ele defende o capital das empresas, é um órgão que existe. Cheguei lá e disse: “Sou contra.” “Mas por que o senhor é contra?” “Na sua vida você tem que fazer uma opção, ou vai para empresa particular, aí você ganha bem, mas tem que fazer um pé de meia para quando ficar velho, ou então você vai ser servidor público, que você não tem preocupação, porque a tua aposentadoria é a mesma coisa que você ganha quando está na ativa. A tua vida é essa.” Eu digo: “Mas eu não aceito essa peça.” Mostrei por A mais B a ele, que não tinha razão aquilo, tivemos uma discussão muito séria e ele acabou aprovando, tive empecilhos no ministério da fazenda, o ministro era o Delfim Neto, eu fui diversas vezes conversar com ele, estive lá, fizemos conferências enormes. Ele sempre favorável, não pode vir apanhar, e eu ia apanhar não chegava, era pressão das companhias de seguro em cima do ministro da fazenda, tinha o Roberto Campos, no ministério do planejamento que era contrário a todas as novidades. Mas a nossa proposta ele acabou aceitando porque era uma coisa séria, porque era uma coisa matematicamente calculada, eu nunca fiz alguma coisa que não chamasse o grande mestre que era o Rio Nogueira, que era um matemático. Eu tenho a minha matemática, mas é matemática de médico, não é de matemático. Eu nunca fui orgulhoso, nem vaidoso de não chamar quem eu precisasse para me ajudar. Eu sei até onde eu posso ir e daí em diante eu chamo sempre outro. Não foi por outra razão pela qual eu montei um grupo de trabalho para fazer a Petros. Tinha pessoas de todas as áreas da Petrobras me ajudando. Eu tinha economistas, engenheiros, médico, assistente social, que me ensinaram coisas do arco da velha. A Maria Gaspar de Oliveira, que morreu antes da Petros ser concluída, era uma mulher de uma capacidade intelectual espetacular, eu virei um freqüentador da biblioteca dela, ela era muito mais do que uma assistente social, era uma filósofa, uma mulher espetacular. Eu tive gente muito boa trabalhando comigo. Ramiro era economista. Minha dupla, hoje é a dupla que é considerada a principal na criação da Petros, hoje a gente está em oposição, em grupos diferentes. Pessoas que querem ver coisas diferentes. Mas eu vejo a coisa por um óculos, porque eu costumo dizer que a Petros foi feita para ser eterna, ela não foi feita para ser hoje ou amanhã. Eu cheguei a dizer que um dia a Petros será dona da Petrobras, que eu já vi isso em outros lugares, eu tive experiências, eu estive nos Estados Unidos estudando.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Os Estados Unidos me deram uma grande lição. Não sei se vocês se lembram do automóvel Studbaker, você se lembra dessa marca de automóvel? A fábrica Studbaker de automóvel tinha entrado em falência nos Estados Unidos. Eles tinham uma associação deles que era mantida pela empresa para dar aposentadoria para o pessoal, só que quando a Studbaker foi a falência, puxou tudo junto, porque era a mesma coisa. Entrou no hall do pagamento da falência. Eu estava lá nos Estados Unidos freqüentando um laboratório de toxicologia, porque a Petrobras precisa muito de toxicologia. Eu, como médico chefe, eu não lidava só com esses problemas, eu lidava muito com medicina e toxicologia. Eu sou um cara que até hoje continuo estudando, tenho minhas horas certas, todo dia são três horas de estudo. Até hoje, com a idade que eu tenho, fecho o meu gabinete, chega neto lá e a avó diz: “O avô está estudando.”
Eu estava lá e fiquei ali hospedado num hotel que a Petrobras oferece para gente. Ali tem uma praça e quando eu acabava de jantar eu ia dar dez voltas em torno da praça antes de ir para o meu quarto. Ali eu vi uma porção de velhos sentados no banco da praça. Eu sentava lá e batia papo com eles. Até que um dia eu perguntei, porque eles à noite chegavam ali e ficavam esperando aquela hospedaria. Eles responderam que dormiam lá e pagavam um dólar por noite para dormir naquele local. Eles eram do Fundo da Studbaker. Todos eles trabalhavam. O escritório era por ali. Moravam ali por perto. Eles me disseram: “Quando ela faliu, nós ficamos sem aposentadoria. Nós aqui passamos o dia na casa dos filhos, mas à noite, como geralmente os apartamentos aqui em Manhattan são muito pequenos, viemos para a hospedaria, para deixar o apartamento para eles.” Olha que vida Isso é vida americana, eles tem esses problemas. Mas eu perguntei porque daquilo e eles me responderam: “Porque nós pertencíamos a empresa, o fundo era dentro da empresa.” A primeira coisa que eu aprendi aí foi fazer a Petros de forma independente. A Petrobras pode acabar, mas a Petros não acaba. A gente tem que tirar essas lições do que a gente vê, eu viajei por aí vendo uma porção de problemas. Fui ao Chile, à Espanha, porque tinham nome, mas não tinham nada de maravilhoso. Eu tinha que fazer o meu programa e a melhor maneira foi essa. É suplementação da aposentadoria. Não mexe com programa oficial. Temos o nosso e todos nós ganhamos. Se eu não tivesse a Petros eu não poderia vir de paletó e gravata. Eu não teria dinheiro para comprar gravata, porque o que o INSS me dá depois de quase 40 anos de serviço são 2.100 reais por mês.
FAMÍLIA / CASAMENTO
O meu casamento foi aqui no Brasil. Houve uma época que a minha esposa ficou aqui no Brasil esperando o neném. Eu, quando vim conhecer o meu filho, ele tinha exatamente seis meses de idade. Eu fiquei um ano e tanto sem ver o meu pessoal, para poder estudar, porque a vida sem sacrifício não vai.
LIVROS
Eu estou fazendo um livro sobre a Petros. Acabei um agora. Eu já tenho dez livros escritos, inclusive um que é muito conhecido por aí. Eu fiz um manual de primeiro socorros, que é o manual de primeiros socorros da Petrobras. O Globo e a Folha de S. Paulo publicaram durante 20 anos naquela página de interesse público. Publicava toda vez uma página. Isso por 20 anos. Há uns quatro, cinco anos, ou mais, eu pedi ao Globo para suspender a publicação no jornal. Porque a medicina avança, ali tinha coisas que já não se fazem mais, era um manual de primeiros socorros para os leigos, não era para profissional. Eu cansei de receber cartas de agradecimentos de pessoas que seguiram as normas do manual. Hoje, eu escrevo permanentemente no jornal da Ambep, que tem uma página de saúde. Eu escrevo sobre coisas que as pessoas precisam saber, mas que não são usuais, não dão ibope.
FAMÍLIA / FILHOS E NETOS
Tenho dez livros e três filhos. São sete netos. Plantei uma árvore também, aquelas duas árvores que tem em frente da minha casa foram plantadas por mim. Fora as que eu plantei no Acre. Está completo.
MEMÓRIA PETROBRAS
Eu gostei para burro, vocês me fizeram falar sobre coisas que eu não falo normalmente, mas foi bom, muito bom, porque isso me dá ânimo de novo. Eu conto essas histórias para os meus netos, eles são loucos pelas minhas histórias. Eu invento histórias do arco da velha para eles, as que eu contei aqui não foram inventadas não, foram vividas, mas eu gostaria de ter mais tempo. No dia que vocês quiserem ouvir mais coisas a respeito, independente disso, eu estou à disposição de vocês.
LIVROS
A gestão de um plano de seguridade privada é um dos temas de um dos meus livros. Nele eu boto toda a trama vivida com as autoridades, sobre o programa Petros. O Roberto Simonsen ficou meu amigo por causa da Petros. Eu quando pedi a ele para dispensar imposto de renda da Petros ele aceitou. Tenho declarações do Roberto Campos, do Delfim, tenho declarações de todo esse pessoal. Eu fui guardando. No livro eu conto toda a saga da Petros. Tenho que escrever agora enquanto ainda tenho memória. Vou fazer o próximo livro, seria um livro contando essas histórias de crianças para os netos, transmitindo aos meus bisnetos. Já tenho um bisneto, já nasceu, está com seis meses. Eu pretendo fazer isso agora. Tenho feito livros de medicina, inclusive tem um que se chama “Saúde no Trabalho: uma revolução em andamento”, esse livro passou a ser cartilha para médico no trabalho. Não estou me elogiando, não é essa a realidade, tem alguns outros sobre diversas matérias. Eu faço um jornal todinho, que é o da minha sociedade, é um jornal de 12 páginas. Ele é trimestral. Esse jornal já tem 36 anos de idade. Esse material que eu entrego para Ambep tem 18 anos. Todo mês eu faço um artigo e se eu reunir tudo isso dá uma enciclopédia. Eu fui chefe do serviço médico da Petrobras durante 27 anos, tive momentos de muita alegria, tive momentos de desespero.
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