Projeto Memória Petrobras
Entrevistado por Márcia de Paiva
Depoimento de Déa Marques Santos
Local Estúdio Paulinas
Rio de Janeiro18/08/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento nº PETRO_HV102
Transcrito por Bruno Menucci
P/1 – Boa tarde. Eu queria começar com você nos dizendo o seu nome completo, o local, e data de nascimento.
R – Déa Marques Santos, nascida em Porto Alegre, e radicada no Rio de Janeiro já há 40 anos.
P/1 – Mas nasceu em que ano?
R – Em 1936.
P/1 – Qual é o dia?
R – Em 29 de fevereiro de 1936.
P/1 – Déa, e como é o nome dos seus pais?
R – Francisco Januário Marques, e Ereci Bandeira Marques. Ele paraibano, e ela gaúcha.
P/1 – Como é que eles se conheceram?
R – Ele foi ao Rio Grande do Sul.
P/1 – Ele foi a trabalho?
R – Foi a trabalho, e disse que conhecendo aquela friagem toda na época, realmente não era fácil, disse que jamais voltaria àquele local. Mas voltou, e constituiu a família, e eu e os meus irmãos somos todos gaúchos, somos cinco.
P/1 – E ele acabou ficando morando lá?
R – Morando lá. Só quando a minha mãe faleceu, foi que ele retornou a terra.
P/1 – E qual era a atividade dele?
R – Ele trabalhava em um escritório de importação, exportação, na parte e comércio.
P/1 – E você tem irmãos? Quantos?
R – Tenho irmãos. Nós éramos cinco, dois já falecidos, o mais velho, e a irmã mais moça. Uma irmã morando em São Paulo é doutora em Biologia, e o irmão é engenheiro morando na Paraíba. Que acompanhou o meu pai quando ele foi para lá, quando ele retornou.
P/1 – Ele voltou com o seu pai?
R – Ele foi com o meu pai para a Paraíba, e lá ficou.
P/1 – Déa me conta um pouquinho da sua infância, como era a sua casa...
R – Eu fui muito traquinas, fui muito avançada para a época, porque gostava de brincar, soltar pipa, coisas que as meninas da época não faziam, para o espanto da minha mãe. Mas felizmente correu tudo bem, não...
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Entrevistado por Márcia de Paiva
Depoimento de Déa Marques Santos
Local Estúdio Paulinas
Rio de Janeiro18/08/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento nº PETRO_HV102
Transcrito por Bruno Menucci
P/1 – Boa tarde. Eu queria começar com você nos dizendo o seu nome completo, o local, e data de nascimento.
R – Déa Marques Santos, nascida em Porto Alegre, e radicada no Rio de Janeiro já há 40 anos.
P/1 – Mas nasceu em que ano?
R – Em 1936.
P/1 – Qual é o dia?
R – Em 29 de fevereiro de 1936.
P/1 – Déa, e como é o nome dos seus pais?
R – Francisco Januário Marques, e Ereci Bandeira Marques. Ele paraibano, e ela gaúcha.
P/1 – Como é que eles se conheceram?
R – Ele foi ao Rio Grande do Sul.
P/1 – Ele foi a trabalho?
R – Foi a trabalho, e disse que conhecendo aquela friagem toda na época, realmente não era fácil, disse que jamais voltaria àquele local. Mas voltou, e constituiu a família, e eu e os meus irmãos somos todos gaúchos, somos cinco.
P/1 – E ele acabou ficando morando lá?
R – Morando lá. Só quando a minha mãe faleceu, foi que ele retornou a terra.
P/1 – E qual era a atividade dele?
R – Ele trabalhava em um escritório de importação, exportação, na parte e comércio.
P/1 – E você tem irmãos? Quantos?
R – Tenho irmãos. Nós éramos cinco, dois já falecidos, o mais velho, e a irmã mais moça. Uma irmã morando em São Paulo é doutora em Biologia, e o irmão é engenheiro morando na Paraíba. Que acompanhou o meu pai quando ele foi para lá, quando ele retornou.
P/1 – Ele voltou com o seu pai?
R – Ele foi com o meu pai para a Paraíba, e lá ficou.
P/1 – Déa me conta um pouquinho da sua infância, como era a sua casa...
R – Eu fui muito traquinas, fui muito avançada para a época, porque gostava de brincar, soltar pipa, coisas que as meninas da época não faziam, para o espanto da minha mãe. Mas felizmente correu tudo bem, não fui das alunas mais brilhantes, mas estudava, gostava, fazia pesquisa dos assuntos que me interessavam, e fui concluindo as etapas. O primário, o ginásio, escola normal no Instituto de Educação de Porto Alegre, e depois fiz faculdade. Fiz vestibular para a Universidade Federal do Rio grande do Sul, e entrei no jornalismo.
P/1 – Vamos só com mais calma. Me conta um pouquinho de como era onde vocês moravam, em Porto Alegre. Era casa? A pipa era na rua? Era com os irmãos? Como é que era?
R – Nós morávamos em um bairro chamado Moinhos de Vento, foi onde eu nasci, depois nós mudamos para um outro bairro, o Menino Deus. E lá as casas eram mais espaçadas, e havia muito espaço para a gente brincar na rua. E naquela época não havia perigo algum, né? E soltávamos pipa com os irmãos, andávamos de bicicleta, jogávamos caçador, que se chamava na época. Todas aquelas brincadeiras. Normalmente as meninas da época estavam brincando com boneca, e eu além das bonecas, eu também... mas sempre gostamos muito de ler, eu e meus irmãos todos gostávamos muito de ler.
P/1 – Incentivados pelos pais?
R – Pelos pais, principalmente pela minha mãe, porque quando tinha livro nós não dávamos trabalho algum, porque ficava todo mundo quieto lendo. Então ela fazia questão de incentivar esse nosso gosto pela leitura.
P/1 – O que você lembra que você leu que te marcou na infância? Tem algum que tenha sido um livro especial?
R – Na época teve um que... Madame ____ também já na adolescência, mas na época um que me causou espécie e eu nunca mais encontrei era um chamado Anne Shirley de uma escritora canadense, a história de uma menina que foi adotada. E eu achei muito bonita a história dela, entende. Nós marcou bastante, mas nunca mais encontrei, nem em sebos, não encontrei referencias a esse livro.
P/1 – E a diferença entre os irmãos era pequena, como é que era?
R – Mais ou menos, do meu irmão mais velho para minha irmã eram três anos, da minha irmã mais velha para mim quatro anos, da minha idade para a Jussara que era depois de mim eram cinco anos, e entre o Jairo e a Jussara dois anos.
P/1 – Você é a terceira?
R – Eu sou a do meio. Filho do meio, dizem que geralmente é problema. Eu acho que eu fui para minha mãe pelas brincadeiras que eu exercia em uma época que não era comum.
P/1 – E você falou da brincadeira de caçador, era pique esconde, mais ou menos...
R – Não.
P/1 – Como é que era?
R – Era um jogo de bola que ficavam dois grupos, e a bola que acertasse em alguém que caísse no chão matava aquela pessoa, então vencia que ficava com o maior numero... quem ficasse com mais sobreviventes.
P/1 – Muito bom.
R – Era bom.
P/1 – Em casa quem era mais a autoridade, era o pai, ou era a mãe?
R – Olha, ali era engraçado esses dias eu até comentei com a minha irmã, porque se nós queríamos alguma coisa a minha mãe dizia: “Vai perguntar para o seu pai.” A gente falava com o pai, “Não, a sua mãe é que decide.” Então a gente ficava entre dois fogos, o que um dizia o outro dizia amem. Mas eu acho que o pai realmente era a figura maior na época.
P/1 – E vocês tiveram educação religiosa em casa?
R – Tivemos, fomos criados todos dentro da igreja católica. A minha mãe era católica. Depois anos mais tarde nós descobrimos que o nosso pai era espírita, mas só depois de adultos, porque a minha mãe nunca falou disso, ou comentou.
P/1 – Mas ele que contou depois?
R – É, depois a gente ficou sabendo. Porque adulto já é diferente, mas criança naquela época não se permitia em conversa de adulto. Se a gente ensaiava só um olhar bastava para a gente ficar quieto.
P/1 – E da escola quais são as suas lembranças? Suas lembranças também mais antigas.
R – Nós fomos criados inicialmente em escolas... freqüentávamos escolas religiosas, escolas de freiras. Depois quando os meus pais tiveram revés na vida nós mudamos até de bairro, nós fomos para a escola pública. Eu estranhei porque na escola das irmãs quando entrava um professor a gente tinha que levantar em sinal de comprimento, e na escola pública a professora disse assim: “Não precisa fazer isso aqui Déa, porque não é habito aqui.” Mas depois eu sai daquele que era grupo escolar, do quinto ano primário eu fiz o meu grupo escolar. E então eu fiz o admissão, que era... hoje eu comparo a um vestibular, para entrar no Instituto de Educação no ginásio. E ali segui a minha carreira, fiz o ginásio e depois fiz escola normal, fui lecionar alguns anos magistério no Rio Grande do Sul, fui diretora de escola, depois eu trabalhei na Secretaria de Educação de lá do Rio Grande do Sul.
P/1 – Mas teve alguma professora também que te marcou?
R – Tinha uma professora de Geografia no ginásio, que nós adorávamos porque ela dava aula de geografia contando as viagens dela e ela era uma pessoa super para frente, na época aquilo era uma coisa fora do comum, então nós tínhamos adoração. Em contra partida nós tínhamos uma professora de Francês que era muito, muito mesmo rigorosa. Nós tínhamos dois livros de francês, e o dia que ela pedia: “Coloquem os livros na classe.” E alguém não trouxesse um dos livros era zero, ganhava zero. Então as notas nossas eram todas um horror, todo mundo chorando com medo de ser reprovado, mas dava para passar. A minha irmã adorava porque graças a professora Ida Godinho ela aprendeu Francês muito bem. E eu até hoje o que eu sei de Francês eu aprendi com ela.
P/1 – Como era o nome dela?
R – Ida Godinho. Excelente professora, mas muito rigorosa.
P/1 – O que você gostava de estudar?
R – Matemática, Estatística, e Português.
P/1 – Bem equilibrado, né?
R – Não tem nada a ver, né? Português, junto com Matemática, e Estatística. Talvez tenha sido influencia das professoras, eu acho que isso pesa muito, a forma como a professora leva a matéria até você.
P/1 – Daí depois na sua juventude com é que foi? Você tinha também os amigos, eles eram igual aos dos irmãos, era o mesmo grupo? Como é que era?
R – Havia variações, por exemplo, eu gostava de esporte, então nós tínhamos um clube que eu freqüentava. Agora nosso pai não nós deixava ir a baile. “Só quando vocês tiverem já na faculdade.” Daí quando eu cheguei à faculdade, “Agora eu vou a todos os bailes que eu na fui.”.
P/1 – Mas de esporte você gostava de que?
R – Eu joguei vôlei, mas assim amadoristicamente. E ensaiei um pouco no basquete, talvez pela altura, mas não deu resultado.
P/1 – Mas era em clube? Você tinha um clube que você freqüentava? Qual era?
R – Em clube. O meu clube no sul é o Internacional. Agora eu vou fazer uma confissão terrível, eu fiz tanto vôlei quanto basquete no Grêmio.
P/1 – Era dividida?
R – Nossa, gremista e o Internacional hoje... o Grêmio lá hoje é que nem Flamengo, e Vasco. Flamengo e Fluminense, coisa assim.
P/1 – Mas tinha um preferido?
R – O Internacional, até hoje.
P/1 – E como é que era a moda de vocês? O que vocês... vocês tinham esse interesse, esse cuidado, como é que era?
R – A nossa moda, eu falo em termos de adolescência, eram aqueles vestidos engomados, com anágua, a gente andava de luvas de crochê, andava assim produzidas. Dentro das limitações financeiras que as nossas famílias tinham. Mas eu acho que era uma coisa muito poética até, era bem, me deixa ver... não me ocorre um adjetivo para época, mas eu acho que poético serve um pouco. A gente usava, a gente achava bonito, a gente ia para o cinema e via aqueles modelos das artistas, a gente ficava entusiasmada. Elisabeth Taylor que era da faixa etária da gente, essas coisas que o cinema sempre cria, aquela imagem assim da ilusão.
P/1 – E depois da época, quando você já estava maiorzinha, você saia com amigos, com irmãos?
R – Sempre com os irmãos, a gente só era liberada para baile se o nosso irmão mais velho fosse junto.
P/1 – E aí foi a todos os bailes?
R – Da faculdade, né? Na faculdade sim. Todos da faculdade.
P/1 – E você foi muito namoradeira?
R – Não muito. Não sei se parece, não sei se eu passo essa impressão, mas eu era muito tímida, e ainda sou. Vocês aqui que me deixaram a vontade, eu acho que por isso que eu estou falando tanto.
P/1 – Imagina. Mas namorou um pouquinho pelo menos?
R – Namorei, gostava de namoro. Eu achava muito bom, muito gostoso. Então era aquela coisa, em Porto Alegre existia a rua da praia, você procura a praia não tem nenhuma porque ela já foi aterrada a mil anos atrás. Mas ali se fazia o footing mas o que era o footing? Como era rua de trânsito, os rapazes ficavam no meio da rua, e as moças iam para o correio, para alguma loja, e naquela passada a gente fotografava tudo também, era muito engraçado. Já registrava, já marcava.
P/1 – Você se lembra do seu primeiro beijo?
R – Não, naquela época beijar era perigosíssimo, podia se engravidar com um beijo. Coisas engraçadas, né? Nós somos de uma geração que eu chamo sempre de sanduíche, porque nós viemos de um rigor terrível, e hoje a gente está vendo uma abertura muito grande, eu acho que às vezes, nem sempre benéfica. Não aquele rigor nosso, ver coisas dessa natureza não se justifica, mas eu sempre digo o quanto a gente perdia de beijar.
P/1 – E que dava uma outra aura também, era muito mais...
R – Eu acho que também, independente dessa brincadeira, é a questão do romantismo, né? Que eu acho que de uma certa forma hoje a mocidade, o adolescente perdeu esse romantismo. Então ficou uma coisa muito crua, sexo pelo sexo, não tem mais aquela coisa da conquista, do olhar, de vir falar. Eu acho que isso fazia parte da poesia, do romance das pessoas da época, eu acho que isso faz falta.
Corte na fita.
R – Em latim, e eu tinha horror de latim. Então eu achei que o jornalismo... e tinham o meu padrinho que me incentivou muito que eu fizesse jornalismo, estava passando aquela lei que todos os jornais tinham que ter jornalistas, então eu me entusiasmei porque eu também gosto muito de pesquisa, gosto de descobrir as coisa, gosto de saber o que está acontecendo. Então eu optei pelo jornalismo.
P/1 – E aí você foi fazer em qual universidade?
R – Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
P/1 – E tinha essa idéia do vestibular assustador? Como é que foi para você?
R – Tinha. O vestibular realmente era assustador como foi na época a admissão para o ginásio, nós tínhamos os conhecimentos, português, língua estrangeira, tinha uma serie de provas e a gente estudava, tinha aquele objetivo, a gente queria passar. Então a gente se esforçava, e vencia essa etapa.
P/1 – Só para voltar um pouquinho, você mencionou aquela prova para admissão para o ginásio, eu acho que até muita gente nem mais sabe como que era. Conta para a gente como é que era.
R – Dificílima.
P/1 – Era entre o primário...
R – Era acabando o primário, e indo pelo ginásio, nós tínhamos que passar por uma prova, fosse em que escola fosse. E do Instituto de Educação que era muito procurada, era muito difícil. Tanto que eu nunca esqueci que caiu uma questão sobre quintal métrico, e eu não sabia o que era quintal métrico. Eu fiquei apavorada, mas mesmo tendo errado a questão eu consegui aprovação.
P/1 – E o que é quintal métrico?
R – É uma medida de não sei quantos metros lá, é uma coisa relativa a agrimensura até eu acho. É um negócio que na época para mim me causou espécie eu nunca esqueci o quintal métrico.
P/1 – Você ia mudar de escola nessa prova também, você fez o primário em uma...
R – Eu fiz uma parte do primário em escola de irmãs, em escola religiosa, católica. No quinto ano primário em função da mudança financeira que houve na vida dos meus pais eu fui para uma escola pública que se chamava Grupo Escolar. Então eu fiz o quinto ano primário no Grupo Escolar. Aí, desse Grupo Escolar eu fiz o admissão para ir para o Instituto de Educação que também era uma escola pública.
P/1 – E o ensino público era muito bom também.
R – Excelente. Nós não tínhamos só professores, nós tínhamos educadores, professores educadores. Até a forma de a gente subir a escada, a forma da gente se sentar, elas corrigiam tudo. Hoje eu vejo que os alunos nem respeitam mais o professor, se duvidar batem no professor.
P/1 – É mesmo. E na faculdade qual foram as suas impressões, também? Como é que foi o curso? Correspondeu mais ou menos o que você tinha idéia?
R – Correspondeu, porque os nossos professores eram profissionais. Eles eram profissionais do Correio do Povo, do Diário de Noticias, e eles davam aula na universidade. Então eu acho que isso ajudou muito em termos de aprendizado profissional, a gente aprendia fazendo. Eles levavam a gente para as redações, e a gente ia lá, fazia os trabalhos, fazia o jornal. Foi bastante interessante, muito bom, muito proveitoso.
P/1 – E teve algum professor que te marcou na faculdade?
R – O professor de técnica de jornal, na primeira aula dele, ele disse: “Você vai fazer uma reportagem sobre Jesus Cristo.” Aí ele disse: “A favor, ou contra?” Então isso nós marcou, eu acho que marcou a todo o grupo, porque a favor ou contra, sobre Jesus Cristo. Então desde daí a gente vê que a questão de ética jornalística tem que ser muito rígida, eu acho.
P/1 – E terminada a faculdade como é que foi? Você foi trabalhar? Você casou?
R – Terminada a faculdade eu não fui trabalhar. Eu tinha já durante a faculdade, o nosso curso era pela manhã, e a tarde eu lecionava. Então eu já tinha o meu trabalho.
P/1 – Você lecionava onde?
R – Lecionava em escola pública lá no Rio Grande do Sul, também por concurso.
P/1 – Para primeiro grau?
R – Primeiro grau.
P/1 – Você se lembra o nome da escola?
R – Ela não tinha nome, ela era a Escola Pública do Pasto(?) Feijó, que era o nome da localidade onde ela ficava que era a grande Porto Alegre como se chama hoje, né? Depois eu vim para escola de Canoas, aí eu vim para o Emílio Massot(?) que era uma escola dentro de Porto Alegre.
P/1 – E foi nessa que você foi diretora?
R – Não eu fui diretora em Teresópolis, depois que eu saí da Emilio Massot(?) eu fui diretora, e depois eu fui trabalhar na Secretaria de Educação na área de assistência a saúde do educando.
P/1 – Depois que você saiu desse colégio Teresópolis?
R – É.
P/1 – Como é que foi para você o seu primeiro emprego? Você trabalhava, e fazia o seu curso?
R – O emprego... o ingresso no magistério lá é por títulos, então como eu havia lecionado na ocasião em que eu estava cursando a escola normal, eu havia lecionado para adolescentes, e adultos a noite, aquilo contou pontos para a minha carreira. Então quando eu fui nomeada aqueles pontos valeram tanto que eu fiquei na frente da menina que tirou o primeiro lugar no Instituto de Educação. Então eu podia escolher a escola que eu quisesse trabalhar. Só que aí teve um episódio interessante, eu fui nomeada para uma escola que não existia.
P/1 – Como é que é essa história?
R – Aí eu fui me apresentar na delegacia de ensino, e todo mundo ficou apavorado, porque não existia a escola, criaram, mas não havia a existência física. Então eu fiquei prestando serviços na delegacia, até que por questões políticas eu fui para o interior, e aí que eu não fazia jus, eu fazia jus de uma escola perto de Porto Alegre. Mas para fazer atendimento de pedido de político, eu fui para o interior de Ozório. Foi muito bom, eu encontrei pessoas maravilhosas, eu morava na casa do senhor que era o agente ferroviário, porque só se chegava ali de trem, né? Eu fiz de setembro a dezembro ali naquela escola, depois eu fui para Porto Alegre.
P/1 – Isso foi antes desse Pasto(?) Feijó?
R – Foi antes do Pasto(?) Feijó, foi quando eu fui para o Pasto(?) Feijó.
P/1 – Imagina.
R – Foi uma coisa interessante. Eu tenho alguns episódios interessantes tanto fora da Petrobras, quanto dentro.
P/1 – Mas aí você fez esse período com o magistério, foi diretora... quando você foi diretora, isso já foi assim... era uma promoção. Como é que foi Déa? Pegar um colégio para dirigir era um desafio para você?
R – Naquela época o Brizola tinha feito escolas públicas em todo o estado, mas fazia de madeira, eram pavilhões de madeira. E essa região, é uma região pobre de Porto Alegre, Teresópolis. Hoje não mais, mas na ocasião era. Aí nós tínhamos aquele problema da merenda, nós ganhávamos apenas o leite, para dar a merenda para as crianças. A gente não ia dar o leite puro, então nós fazíamos festinhas no fim de semana com as professoras, cada uma contribuindo, fazia tipo uma quermesse, e arranjávamos verba para comprar chocolate, e açúcar. E num episódio desses... aí que eu te digo como é a situação, e eu vi coisas piores ainda quando estava na Petrobras. Um aluno tomando a canequinha dele de merenda, eu disse assim: “O que meu filho, você não está gostando?” “Não, estou sim senhora.” “Mas porque que você não está...” “E que eu quero levar para os meus irmãos em casa.” Aí eu chamei a servente e falei: “A senhora me faz um favor dona Camila, no final a senhora pega a garrafa de coca cola, sem ninguém ver porque se não depois começa, né? A senhora dê para ele levar. A senhora vai com ele até a casa dele e leve.” O menino era todo defeituoso, sabe? Fisicamente todo. Então você pode imaginar em que situação não deveria viver aquela família. Então na Petrobras quando eu fiz o programa Gasoduto do Nordeste, que a gente entrou por aquelas cidades do interior, eu vi coisas que te arrasam, sabe?
P/1 – A gente chega lá Déia. E aí então você depois trabalhou na Secretaria de Educação.
R – Trabalhei na Secretaria na área de saúde, na assistência aos alunos, fazendo aquele preventivo de tuberculose uma série de coisas que a gente fazia em todas as escolas de Porto Alegre, foi muito bom também o trabalho.
P/1 – E aí nesse ponto você já estava namorando, estava casada? Como é que estava a vida?
R – Eu já estava casada.
P/1 – Quando é que você casou?
R – Quando eu fui para Canoas que eu conheci o meu marido, ele era da Aeronáutica, e eu o conheci a uma visita da nossa escola aquela região militar da FAB que tinha em Canoas, foi aí que eu o conheci. E aí nós casamos.
P/1 – Casou logo, ou namorou...
R – Casamos. Entre conhecimento, noivado, e namoro, seis meses.
P/1 – Foi rápido até.
R – É. Agora nós já estamos há 50 anos um agüentando o outro.
P/1 – Que beleza.
R – Agüentando muito bem. Graças a Deus.
P/1 – E ele nunca se importou de você trabalhar?
R – Não. Ele já me conheceu trabalhando, e depois eu tinha também... tanto que eu achava que eu nunca ia me casar, porque eu sempre fui muito independente. Mesmo com todo o rigor que eu fui criada com os meus pais, eu nunca cheguei assim: “Mãe, posso ir nesse lugar?” Eu dizia: “Mãe, eu vou nesse lugar.” Quer dizer, isso já é uma forma diferenciada dos meus irmãos que pediam para ir, eu já dizia que vou lá em tal lugar. Então eu acho que eu não... desculpa os rapazes presentes, eu não teria me dado bem com um machista não.
P/1 – Mas Déa, com os seus pais isso dava problema, ou eles aceitavam numa boa?
R – Não, meu pai embora fosse do século XIX ele tinha uma cabeça muito... ele tinha participado da primeira guerra mundial, ele tinha andado pela Europa. Então ele tinha uma outra visão de mundo. Tanto que na época... isso fica em off, eu via umas primas que eu tinha mal casadas, e eu disse para ele: “O senhor não pense que se um dia eu me casar, e me casar com uma pessoa desse tipo, que eu vou ficar casada por causa de família. Eu vou-me embora, eu mando ele embora.” E naquela época ele disse:”A porta da casa dos seus pais vai estar sempre aberta para vocês.” Quer dizer, naquela época era uma coisa rara, porque a filha dava um mal passo, não queriam nem saber mais da filha. Eram umas coisas que a gente ouvia contar dos círculos de vizinhos, amigos. E ele tinha essa cabeça. E sempre... nunca bateu em ninguém, sempre conversou muito, sempre explicou tudo para a gente.
P/1 – E separar então, era uma coisa do outro mundo, né?
R – Era. Naquela época. Eu tinha colegas minhas, amigas minha até hoje que a mãe tinha morrido. Não era nada, era separado do pai. E diziam que a mãe tinha morrido.
P/1 – E como é que a Petrobras chegou na sua vida? Ou a sua vida chegou na Petrobras?
R – Meu marido foi transferido para o Rio, aí parou a minha ligação profissional, porque era estadual, né? Eu vim para o Rio, e fiz concurso para a Petrobras, e ingressei na Petrobras. E a partir daí, comecei uma nova vida.
P/1 – Isso em que ano?
R – Em 1967. Eu fiz o concurso em 1966, e fui chamada em 1967.
P/1 – Você pode dizer o nome do seu marido? Porque a gente falou até que você se casou, e agente nem...
R – Eliezer Augusto Santos.
P/1 – Ele é oficial da Marinha?
R – Não, ele é da Aeronáutica. Ele é mecânico de avião.
P/1 – Aí vocês vieram para o Rio, e você fez o concurso logo.
R – Eu fiz o concurso, e ingressei na Petrobras, e continuei trabalhando desde então até me aposentar.
P/1 – Você fez concurso já direcionado para a sua área? Como é que foi?
R – Não, o concurso inicial eu fui... tanto que eu fui trabalhar no serviço de pessoal. Trabalhei no serviço de pessoal um ano, e depois a Petrobras abriu concurso para a área de comunicação.
P/1 – Isso era um concurso interno?
R – Interno, e externo. Todos os dois eram internos, e externos. Tanto que no meu ingresso embora eu tivesse... vou colocar isso só de curiosidade, eu fui aprovada em primeiro lugar, eu tive esperar que todos os internos fossem reclassificados, porque eu era de fora. Eu acho justo porque era norma da empresa. Aí quando eu era interna que eu fiz, e que também eu fui primeiro lugar, aí eles queriam botar os de fora primeiro. Eu digo: “Puxa, vai dá azar assim lá longe.” Mas de qualquer forma na época, o chefe que era o senhor Darci Siqueira, que era o chefe do serviço de pessoal, falou: “Não. A norma da empresa é essa, vai ser seguida essa norma.”
P/1 – Quer dizer que nas duas vezes você tirou o primeiro lugar, e teve que esperar.
R – Mas eu estudei para isso. Foram as duas únicas vezes que eu estudei mesmo, porque precisava né? Primeiro eu precisava de um emprego no Rio, e depois eu precisava mudar de categoria que a diferença salarial era significativa.
P/1 – Mas você foi bem paciente, né? Porque as duas situações são de se descabelar.
R – Mas na segunda vez valeu, e eu como interna fui a primeira a ser chamada.
P/1 – Daí você então... você entrou primeiro, e nesse concurso interno que você foi para a área de comunicação?
R – Foi. Mas era também externo. Era público interno, e externo. Mas aí eu fui para a área de comunicação, e fui trabalhar na revista Petrobras que era editada lá no antigo Serviço de Relações Públicas.
P/1 – Era o SERPUB.
R – SERPUB. E no SERPUB, nós alem da revista, nós editávamos todas as publicações da Petrobras, e de todas as subsidiadas. Relatório inclusive.
P/1 – Antes da gente entrar até nas publicações, você... Esse concurso interno você fez um ano depois?
R – Um ano depois.
P/1 – Então em 68?
R – Em 68.
P/1 – Então como é que estava o SERPUB naquele momento? Era um departamento grande? Tinha muita gente?
R – Era um serviço de comunicações grande. Tínhamos grandes atividades na área publicitária, por exemplo, participávamos daqueles salões de automóveis, feiras que existiam no país, tinham um departamento especializado nisso. Tinha um setor na área internacional, ele já era bastante atuante, entende?
P/1 – E tinha um numero de funcionários também...
R – Um número representativo.
P/1 – E você tem idéia?
R – Eu acho que talvez em torno de 70 funcionários.
P/1 – Onde é que funcionava o SERPUB?
R – Quando eu fui para o SERPUB, que eu saí do Serviço Pessoal que era na Rio Branco, eu fui para a Rio Branco 109. Depois ele se mudou para Bueno Aires 40. E da Buenos Aires 40, nós mudamos para o Edifício Sete.
P/1 – Quem é que estava dirigindo o SERPUB, quando você chegou?
R – O doutor Barroso. Adolfo Cabral Barroso. Era ele que dirigia o SERPUB. E o adjunto era o General Dávila.
P/1 – E quais eram as publicações que vocês tinham nessa época?
R – Por exemplo, a legislação do petróleo, o relatório da Petrobras, a revista da Petrobras, depois foi instituída a revista Gente, e folhetos explicativos para pessoas que não sabiam sobre a Petrobras, então a gente fazia...
P/1 – E aí você trabalhou ligada à revista Petrobras, ou as outras também?
R – O setor editorial que era o nome do setor que eu pertencia, fazia todas as atividades. Às vezes era redação, às vezes revisão, acompanhamento gráfico, tanto que eu tenho um curso de artes gráficas que eu fiz no SENAI em função do trabalho que a gente executava lá.
P/1 – Você fez porque você quis?
R – Porque eu quis.
P/1 – De artes gráficas. Então vocês faziam um pouquinho desse lado. Como é que era? Todo mundo fazia tudo?
R – Todo mundo fazia tudo. Quer dizer, nem todos, mas a revisão principalmente era nossa. A redação, e a revisão eram nossas. E depois a gente acompanhava, porque, por exemplo, tinha a equipe de arte que fazia a paginação. E nós acompanhávamos, fazíamos as modificações, sugestões. Escolhíamos as fotos.
P/1 – Quem trabalhava lá do serviço de artes? Tinha um grupinho? Como é que era?
R – Não era uma firma. Era o Paulo de Oliveira que fazia na ocasião. Foi uma das firmas que fez, que eu lembro. Depois tinham autônomos que trabalharam para lá, que faziam essa atividade.
P/1 – Como é que vocês criavam as pautas para a revista Petrobras? Você chegou a trabalhar como editora também?
R – A gente se reunia, e dávamos sugestões, trocava-se idéias, a gente via os artigos do momento, as realizações que a Petrobras estava realizando, e assuntos também da parte de cultura brasileira, né?
P/1 – Mas enfim, era uma revista meio de variedades, direcionada ao público... quem era o público?
R – O público interno, e o externo. Nós tínhamos assinantes em todo o país, e fora do país também. Como eu cheguei a registrar já, nós tínhamos até uma vez que recebemos uma carta de um professor de Oxford que dizia que usava a revista Petrobras para dar a aula dele sobre assuntos da América Latina. A gente fazia matérias sobre a questão de energia de uma forma geral, e também nós tínhamos um outro depoimento que é o inverso do professor de Oxford, de uma assinante nossa que morava em uma cidadezinha no interior de Santa Catarina, e ela disse que reunia um grupo a noite, e lia a revista para eles. E dizia que aquele lampião que estava iluminando a sala deles, o querosene era fabricado pela Petrobras. Porque só ela sabia ler naquela cidade. Você vê que coisa incrível.
P/1 – E ela lia a revista da Petrobras para as crianças?
R – Lia a revista, e ia explicando. Inclusive dando aula sobre os derivados do petróleo, modestamente mas era.
P/1 – Me conta uma matéria dessa época que você tenha gostado de fazer.
R – Nós fizemos como eu te disse, coisas muito interessantes. Mas dentro do... fora a Petrobras, eu fiz uma matéria sobre a origem do samba que teve uma repercussão muito grande. A Petrobras inclusive foi homenageada pela Portela na ocasião, em função dessa matéria. Depois nós fixemos também, eu tive a oportunidade, isso foi um dos ganhos da profissão... foi ter entrevistado Câmara Cascudo, uma raridade. São pessoas que te acrescentam muito, muito mesmo. Traz um enriquecimento profissional muito grande, que a gente tem nessas entrevistas que nós realizamos com varias pessoas de renome na nossa sociedade.
P/1 – Vocês tinham a liberdade de criar essas pautas variadas?
R – Sim. Não havia nada que nós... que fosse determinado, “Oh, tem que fazer isso.” Não, a partir dali a gente fazia a pauta, submetia a chefia, e tocávamos o barco.
P/1 – Mas existia um equilíbrio entre as matérias as Petrobras, e as matérias...
R – Sim. Sempre matérias da Petrobras também, sempre. Vamos dizer assim que a matéria da Petrobras sempre era a principal.
P/1 – Dessa época vocês também estavam inaugurando muitas refinarias, como é que foi também? Vocês acompanhavam as inaugurações? Iam lá cobrir como repórter? Mandavam alguém ir lá cobrir?
R – Sim. Nós fazíamos toda a cobertura, não só na questão das refinarias, como na parte de exploração, e produção. Nós também íamos lá a campo para aprender como era, inclusive para poder traduzir aqueles termos técnicos para uma linguagem que o grande público pudesse entender. E os colegas, os geólogos, eram excelentes, nos davam explicações minuciosas. E o trabalho muito bom, porque eles trabalham principalmente apesar dos riscos das refinarias, a exploração, e produção também. Os locais na época... hoje nós temos os satélites fazendo cobertura, mas na época eles iam nos locais para verificar as regiões que fossem bacias sedimentares, para determinar onde deveriam ser feitos os furos. Então hoje com o avanço da tecnologia, isso já é passado remoto.
P/1 – E você acompanhou alguma dessas matérias?
R – Acompanhei.
P/1 – Me conta uma.
R – Nós inclusive fomos, e quando chegou lá pelo meio do caminho, no meio do mato, os Jipe atolou, eles usavam umas botas que vinham até aqui por causa de cobra. Eu tinha um pavor de cobra. Aí nós descemos, tivemos que nós sentar em um lugar mais cedo, para esperar que viesse aquele bugue grande para tirar o Jipe do atoleiro. E eu o tempo todo sentada, só olhava não querendo passar vexame, né? Olhando com medo, eu ouvia um estalo qualquer eu olhava para ver se não era um bicho, louca de medo se fosse um bicho...
P/1 – E isso foi aonde?
R – ...mas agüentei firme. No interior da Bahia. Outra experiência também interessante nessa área de exploração, foi na plataforma. Nós íamos de barco até a plataforma em alto mar, e lá descia uma cestinha e nós tínhamos que entrar... não se entrava na cestinha. Era o seguinte: A gente pisava... a gente agarrava na corda, e eles te içavam para depois te botar lá na plataforma...
Fim do CD 01/02
... aquele marzão em baixo te esperando, é uma sensação bem angustiante, mas valeu como experiência de vida.
P/1 – Isso já depois na bacia de Campos?
R – Não, em Sergipe.
P/1 – No Guaricema?
R – As primeiras descobertas do mar foram...
P/1 – Em Guaricema?
R – ...quer dizer, tinha na Bahia mas eram próximas, Guaicemas mais longes, as primeiras foram em Sergipe. A bacia de Campos eu tive outro episodio. Minto foi Rio Grande do Norte, nós fomos visitar varias plataformas, e depois quando nós chegamos na última que nós íamos retornar para a terra não havia mais autorização para viajar de helicóptero. E eu tive que dormir em plataforma, quando mulher nenhuma dormia em plataforma, foi muito engraçado. Daí eu fiquei no apartamento do pusher que era o chefe de lá. “A senhora sabe que quando eu chegar aqui eu bato assim, quando a senhora ouvir essa batida sou eu.” Eu tive que dormir do jeito que eu estava, de calça jeans e tudo, porque não tinha jeito. Aí todo mundo: “Ah dormiu na plataforma.” Eu disse: “Gente, é tudo colega.” O que se vai fazer, não era praxe. Hoje as mulheres estão em todos os postos, mas na época causou espécie realmente. Mas foi uma experiência interessante.
P/1 – Mas quando você entrou não tinha também um lado de mulher trabalhando, já tinha bastante mulher? Como é que era?
R – Tinha bastante mulher. Mas geralmente era na área administrativa. Eu tenho uma amiga que é Engenheira de Petróleo, ela é da Bahia, é mais antiga que eu. Ela é Engenheira de Petróleo, mas lá na Bahia. Ou era essa especialidade assim, atividade fim da empresa, né? Ou então na área administrativa.
P/1 – Dessa parte de comunicação também, houve uma reforma depois do SERPUB, para o SERCOM. Como é que foi isso Déa?
R – Foi quando a legislação começou a cobrar a questão de... o termo de relações públicas, nem todos eram relações públicas, né? Tinham publicitários, já havia aquela especialização dentro da universidade, né? E tinha os jornalistas. Então o Governo Federal lançou Comunicação Social, então a partir dessa atitude do Governo Federal a Petrobras também partiu para esse sistema de comunicação social. Então ficou Serviço de Comunicação Social, que abrangia todas as especialidades dentro da área. Os publicitários, relações publicas, e jornalistas.
P/1 – E aí o SERCOM, você se lembra mais ou menos quando foi?
R – Eu acho que foi, quando foi para a Buenos Aires 40. Eu tenho essa data, mas...
P/1 – Mas houve um aumento também da área? Foi repensada as diretrizes com essa modificação?
R – Nessa época realmente a Petrobras como eu te falei, não divulgava muito os fatos, as coisas que ela realizava. Ela se limitava a usar os canais que ela possuía, mas ela não era agressiva como é hoje em termos de propaganda, que a todo momento você tem uma informação sobre o que ela está realizando em função do país. O que ela está investindo no país. Então nessa época, eu acho que começou realmente a parte... porque até então a gente fazia palestras em escolas, para deputados, senadores, para área política, para a área educacional, a gente fazia palestras divulgando os trabalhos que a Petrobras realizava. Mas isso ficava muito restrito, eu acho que a partir daí é que começou a implementar a área de publicidade.
P/1 – Mas vocês pensavam assim: “Qual é a imagem que nós queremos construir da Petrobras?” Vocês como um departamento de comunicação, já tinham essa preocupação?
R – Já tínhamos essa preocupação.
P/1 – “O que a gente vai passar? Qual é a imagem que a gente...
R – Que ela era uma empresa nacional que investia no país, isso era o fundamental, e relatávamos os fatos que ela fazia. Por exemplo, aonde ela chegava que não tivesse nada, o caso, por exemplo, do xisto, o xisto tinha uma exploração aqui em Tremembé. Depois eles descobriram as minas lá em São Mateus do Sul, que era mineração a céu aberto, então a Petrobras lógico optou por lá, e não existia nada, então ela construiu hospital, escola, estradas, tudo. Criou um ambiente de modo atrativo para os empregados se fixarem na cidade. E assim ela fazia em todos os lugares. As estradas de acesso lá na Refinaria de Mataripe ela que constrói, e ela que mantém. Não sei hoje, acredito que continue assim. Então ela investe muito no país, ela é uma empresa realmente preocupada com o país, lógico ela tem preocupação com os seus lucros, e hoje ela é uma empresa internacional, mas naquela época ela estava começando essa área. Começou a INTERBRAS, a BRASPETRO, naquela época as subsidiarias começaram a aparecer em função das atividades que ela começou a desenvolver, entende?
P/1 – Vocês se davam conta, que vocês estavam ajudando a construir a imagem da Petrobras? Tinham um pouco essa noção?
R – Tínhamos essa noção, e nós preocupávamos muito por não sermos mais agressivos. Nós achávamos que a Petrobras tinha que ser mais, porque ela era o Judas entende? Ela apanhava, apanhava, e ficava quieta. E a gente ficava revoltado porque não podia ficar quieto, tinha que contar para o povo brasileiro o que ela estava fazendo.
P/1 – E aí você estava falando desse sentimento que vocês tinham da Petrobras bater, como é que era?
R – Porque a gente queria realmente que ela mostrasse o que ela realmente fazia, porque ela sempre foi muito de investir no país, na área de educação. Por exemplo, teve um projeto comunitário que nós desenvolvemos, que se chamava Descura o Petróleo, nós íamos para os interiores das cidades, dos locais onde a Petrobras tinha unidade e levávamos caderno lá, porque as crianças não tinham nada, nem bandeira do Brasil, não sabiam nada, então a Petrobras oferecia tudo. E isso tudo ficava só no âmbito daquele núcleo que nós estávamos atendendo, a população brasileira não ficava sabendo o que a Petrobras fazia. Naquele outro projeto que era o Gasoduto do Nordeste, a gente passava por aquelas cidades que não são cidades turísticas do nordeste, são aquelas cidades do interior do interior, você via aquela miséria, aquelas crianças na escola escrevendo em papel de pão, entende? Com aquelas doenças, típicas doenças de fome, de fome realmente aquilo. E a gente levava tudo para eles, era lápis, borracha, caderno, mapa do Brasil, bandeira brasileira, a gente fornecia tudo para eles.
P/1 – O do gasoduto foi em que época mais ou menos?
R – Foi, acho que na década de 70. Eu lembro até que nós estávamos em uma das cidades que eu fui, para você ter uma idéia do nível da população, eu falando com as professoras locais, eu disse assim: “Olha, qualquer duvida que vocês tenham, por favor, me interrompam que eu explico para não haver depois dificuldade de entendimento no restante. Nós vamos conversar sobre o Gasoduto do Nordeste.” Aí uma levantou a mão assim timidamente lá no fundo e disse:” O que é Gasoduto?” Aí eu disse assim comigo: ”Eu vou te que botar o nível lá em baixo.” Aí eu expliquei: “Sabe como é um tubo de água que leva água para dentro de casa? Esse é um tubo que leva gás. Ele está trazendo gás lá do norte, lá do mar, para botar nas indústrias da região para que elas não utilizem madeira.” Aí contei a história, tive que fazer um outro tipo de palestra. Porque você não pode querer que uma pessoa que não tem certos conhecimentos, entenda de craqueamento catalítico, ou coisa semelhante, não tem jeito. Então você tem que baixar o nível da sua linguagem para que ela possa entender. Aí foi tranqüilo, mas eu a elogie já, “Excelente pergunta.” Para que as demais não ficassem intimidadas, e depois não quisessem perguntar. Porque a pior coisa é isso.
P/1 – Déa, essa ligação de vocês com o pessoal do gasoduto era uma parceria já estabelecida? O pessoal que estava construindo o gasoduto pedia para vocês fazerem o trabalho? De onde nasceu essa idéia de vocês irem para essas comunidades, e fazerem esse trabalho?
R – A questão era a seguinte...
P/1 – Isso hoje é muito fácil da gente entender, mas você está falando da década de 70, também que é um outro contexto.
R – É um outro contexto, exatamente. O caso é o seguinte, há um tremendo desmatamento ali, inclusive a própria seca é um resultado desse desmatamento que houve no nordeste. E a Petrobras tinha o interesse que eles usassem o gás. Então a Petrobras tinham interesse em que eles deixassem de usar a lenha, né? Que era o desmatamento, e passassem a usar o gás que ela estava trazendo lá do Rio Grande do Norte, inclusive ela colocou equipes para transformar as fábricas, as indústrias, transformar todo o equipamento deles para da lenha, passarem a operar com gás. Então nós tínhamos que conscientizar a comunidade, e falar para eles porque aquilo era importante, para quando eles vissem as pessoas trabalhando, eles soubessem para que era aquilo também, porque são pessoas que não tem informação nenhuma, eles não tem informação nenhuma nesses interiores. Não sei hoje, não acredito que tenha mudado muito, pois eu acho que há um interesse em deixar eles não sabendo muito das coisas para melhor manipular.
P/1 – Mas a iniciativa partiu de uma coisa conjunta...
R – É. Conjunta com a diretoria da empresa, entende? Porque havia um interesse da Petrobras para que o gás fosse utilizado.
P/1 – E a partir daí vocês sempre tinham esse papel de fazer essa ponte com a comunidade?
R – É. Nós corríamos...
P/1 – Como é que era?
R – Nós tivemos também outros programas alem desse do gás em função dos interesses da empresa, havia outros programas, o próprio Conheça o Petróleo, foi um trabalho muito bom porque nós levávamos algumas coisas a mais para eles, inclusive nós passávamos uns filmes de como era a exploração, para eles entenderem as modificações.
P/1 – Mas isso vocês passavam aonde?
R – Nós levamos todo o equipamento conosco. Máquina de passar filme, tela, tudo ia com a gente, a nossa tralha era enorme. A gente ia e fazia esse trabalho de uma cidade para outra, de uma cidade para outra.
P/1 – Isso ligado os gasoduto, ou de uma maneira geral?
R – De uma maneira geral. Todas as vezes que nós tínhamos programas com as comunidades, a gente levava um certo tipo de material para ser projetado de acordo com o plano que a gente estabelecia, o que ia se falar com eles, o que ia ser feito com aquela comunidade.
P/1 – Esses projetos com as comunidades foram crescendo? Como é que foi?
R – Foi crescendo, nós começamos com um projeto em Macaé. Macaé foi o princípio entende? Nós iniciamos um que se chamava Escola Planta e Colhe, para desenvolver as hortas comunitárias, e as hortas particulares, para fazer com que as pessoas se conscientizassem da importância, da alimentação que eles mesmos poderiam produzir. Havia esse programa junto com a Secretaria de Educação, sempre junto com a Secretaria de Educação, com as áreas locais de governo que estivessem envolvidas. Depois teve um projeto de energia no campo, como as pessoas poderiam fazer, publicávamos, fizemos jornais explicando como é que era. Fizemos também um programa junto as rádios de divulgação do que a Petrobras estava realizando. Quer dizer, foram crescendo a medida que a gente foi fazendo. E depois também tivemos um trabalho ainda em Macaé, que foi junto com a FEBEM de Macaé, para a questão dos menores abandonados, que foi um trabalho que a gente fez com eles lá.
P/1 – Esses primeiros projetos partiram da iniciativa da Petrobras, ou como é que foi?
R – Havia algumas sugestões da área da comunicação, entende? Por exemplo, a Escolha Profissional que foi um dos projetos que a gente desenvolveu junto com as Secretarias de Educação de todo país. E também esse Escola Planta e Colhe, essa questão da FEBEM também da área de comunicação, certo? Sempre com o apoio é lógico, e com a aquerencia da empresa, da Petrobras, da diretoria.
P/1 – Quem participava com você desses projetos? Você tinha uma equipe? Como é que era?
R – Não. Nós éramos uma equipe...
P/1 – Já era formatada para este projeto. Como é que era?
R – Já. Já existia uma equipe para esse tipo de trabalho. Nós tínhamos também algumas pessoas contratadas na área educacional, que também prestavam uma acessória para o projeto, entende? Mas havia no próprio SERCOM havia a equipe que fazia as palestras, havia a equipe que fazia palestras para estudantes, para a escola, para os estudantes especificamente sobre petróleo, outras que eram para o Gasoduto do Nordeste, que abrangia não só as entidades ligadas a área de educação, como também aos parlamentares, entende? A gente fazia, às vezes até na Paraíba. Na época o presidente, eu fui até com ele, o General Araquém(?) ele era o presidente da empresa e ele fez a palestra para os parlamentares. Então era um trabalho do SERCOM, junto com a presidência.
P/1 – Só também porque eu queria voltar, você me falou que quando você fez a faculdade estava iniciando essa oficialização da carreira de jornalista, quando você entrou o quadro dos funcionários eram jornalistas? Como é que era?
R – Não. Tinham vários, tinham jornalistas, tinha pessoas da área de publicidade, tinham pessoas da relações públicas, e tinham muitos que era nível médio, não tinham especialização, em termos de Petrobras, né? Podiam até ter já a universidade, mas não eram perante a Petrobras tido como profissionais, não tinham sido reclassificados como profissionais.
P/1 – E como foi esse crescimento da área? Qual foi o momento em que você achou que tinha dado um pulo? Que estava mais especializado, maior? Você se lembra mais ou menos em que fase? Perto de algum projeto? Alguma coisa que tenha marcado?
R – Olha, eu acho que foi crescendo a gente já estava no Edise(?), e nós estávamos fazendo esse tipo de trabalho, sabe? Eu acho que isso realmente já era na década de 80, na década de 80 começou realmente a eclodir vários projetos. É foi mais ou menos na década de 80 mesmo. Foi na década de 80 que começou realmente a serem ampliados esses... a própria Petrobras foi sofrendo modificações, entende? Começou a admitir pessoas, como eu te disse a área feminina começou a entrar em áreas que antigamente eram fechadas para homem, no caso da plataforma. Quer dizer, ela mesmo começou a se modificar, a própria empresa começou a se modificar. E o crescimento dela, eu acho que vamos dizer assim que em cadeia, veio afetando o crescimento de todas as áreas.
P/1 – E esses projetos que você... até esse primeiro em Macaé, o da Escola Planta e Colhe, são embriões, são os primeiros projetos com a comunidade?
R – Sim, foram os primeiros projetos com a comunidade. Esses, o primeiro realmente foi o Descubra o Petróleo. Eu acho que a partir desse Descubra o Petróleo a gente foi verificando que as necessidades que existiam fora do Rio de Janeiro, a gente começou a ampliar esse outros projetos.
P/1 – Qual eram as necessidades que vocês verificavam?
R – A pobreza geral do país, a falta de informação, eu estou fazendo isso em termos de Petrobras, né? Você vê que essa questão de _____ com a escolar, a criança não ter nem material escolar. A Petrobras nunca teve mãos a medir para atender, e é esse que eu digo que é o ponto alto da empresa, é essa preocupação com o país, certo? Eles sempre tiveram essa preocupação com o país. Ela é uma empresa voltada para o nosso país. E posso te dizer com sinceridade, e acho que isso vale para todas as pessoas, todos os ex petroleiros tem uma doença que é petróleo que corre nas veias também, sabe? Porque a gente gosta muito da empresa, a gente ama muito a empresa, nos temos algumas criticas. Hoje tranqüilamente não é o caso porque o nosso papo aqui é para falar de Petrobras, né? Então eu acho que Petrobras é algo que precisa ser bem divulgado, ela não é só patrocínio do Flamengo, não é só patrocínio de Canecão, ela tem algo muito maior, que é a preocupação com o povo brasileiro. Então eu acho que isso que é importante, eu acho que o foco maior deve ser voltado é para que o povo brasileiro saiba disso, que ela é uma empresa nacional voltada para ele, o povo brasileiro. Porque aonde ele precisa, ela está lá.
P/1 – E aí num determinado momento já tinha uma área ligada só à comunidade? Ou como é que foi?
R – Teve, havia um setor que como eu te disse, havia um setor editorial, de repente ele passou a ser setor... aí eu fui para o setor da área comunitária, né? Fui para o setor de Relações com a Comunidade, era o nome na época. Na década de 80 já. Relações com a Comunidade. Foi quando então eu participei, não mais produzindo as peças, mas participei agindo, interagindo com os públicos que eram... a qual eram dirigidos esses programas.
P/1 – Me fala mais um pouquinho dessa área.
R – Eu acho que o papel social da Petrobras nessa época... hoje eu tenho acompanhado, mas acompanhado de longe é uma coisa, você vivenciar é outra. Eu acho que a preocupação da Petrobras na época era muito grande, em levar o povo brasileiro as condições mínimas, né? A preocupação... o que a Petrobras tem haver com horta? Tinha a Petrofértil na época. Mas não era nem esse o caso, era o caso de hortas comunitárias, né? Era a conscientização das pessoas da importância de uma horta, que aquilo era uma coisa que eles poderiam fazer. Então a Petrobras tinha essa preocupação. Depois a questão do próprio ensino, ela queria divulgar a Petrobras, mas ela levava material para as crianças terem a oportunidade de ter um ensino de acordo, com o material escolar de acordo. A questão desse outro projeto Escolha a sua Profissão, aí o pessoal logo vinha: “Ah, eu quero ser engenheiro.” Em uma palestra que eu fiz eu disse: “Olha, em uma refinaria, nós temos 2000 funcionários, nós temos 22 em nível superior, o resto tudo é nível médio, então é no nível médio que a gente tem que concentrar.” Por que às vezes a pessoa tem aquela ingenuidade de acreditar que o diploma universitário vai abrir portas para ele, e às vezes não abre. Ao passo, que um operador da Petrobras de nível médio, um operador de processamento em uma refinaria, ele ganha muito bem. É nível médio. Tem umas serie de profissões que são de nível médio que eles podem ser direcionados para lá. Quer dizer, elas tinham essa preocupação de fazer com que eles vissem que há outras opções alem do diploma de universidade. Principalmente para aqueles que não tem condições de pagar uma universidade paga, né? Que hoje em dia a maioria é universidade paga. Então eu acho que a Petrobras nesse ponto foi muito... não sei, eu acho excelente esse aspecto da Petrobras, está entendendo?
P/1 – Como é que vocês escolhiam esses projetos? Eram projetos que vocês apoiavam?
R – nós tínhamos assim um grupo, era o chefe da divisão que na época era o Antonio César, e a gente trocava idéias sugeria, e a partir disso se instituía o programa. O grupo discutia como ia fazer, quais eram os elementos que iríamos utilizar, quais as atividades que seriam desenvolvidas naquele projeto, em que áreas nós iríamos atuar. E aí cada um pegava a sua fatia, quer dizer, um ficava com o Rio Grande do Norte, outro ficava com Sergipe, outro ficava com a Bahia, a Bahia era muito grande dividia com dois, ou três. E assim por diante, entende? Então a gente se dedicava a desenvolver os projetos dentro de cada uma dessas comunidades.
P/1 – Vocês tinham essa preocupação de atender as diversas regiões?
R – Diversas regiões. Aonde houvesse... nós até fizemos uma vez na revista Petrobras as cidades do petróleo, aonde a Petrobras estava, o que ela tinha feito naquela região desde que ela tinha se instalado ali.
P/1 – Você tem idéia de quando essas matérias? De 80 e...
R – Essas matérias foram da década de 70.
P/1 – Esse crescimento da Petrobras pelo Brasil que foi se expandi, Bahia, São Paulo, Cubatão, Rio de Janeiro. Vocês discutiam essa necessidade de atender também esses outros estados? Vocês setorizavam? Quer dizer regionalizavam. Como é que era a comunicação também? A medida que houve esse crescimento.
R – Nós em cada uma das unidades da Petrobras havia uma área de comunicação, certo? Então o nosso acesso sempre, as nossas comunicações eram sempre através deles. Por exemplo, Paulínia tinha lá na refinaria da REPLAN, Cubatão também, na refinaria de Porto Alegra também, na REFAB, na REGAP em Minas, todas elas tinham, ou nos escritórios da área de exploração e produção também. Nós tínhamos essa região de produção da Bahia, região de produção do nordeste, e nós tínhamos também o apoio dos superintendentes que sabiam do nosso trabalho, a gente se apresentava a eles, dizíamos o tipo de trabalho que nós íamos realizar, e nós mantínhamos esse contato, e eles nós davam todo o apoio que nós precisávamos na área em que estávamos atuando.
P/1 – Mas vocês tinham noção de que vocês tinham que acompanhar esse crescimento?
R – Nós fazíamos todo o projeto depois a gente fazia a avaliação dos resultados, e a partir dessas avaliações de resultado, a proposta para o projeto seguinte.
P/1 – Isso para o Brasil inteiro?
R – Para o Brasil todo, ali era... às vezes, determinado tipo de atividade, o próprio regional resolvia, mas esse projetos maiores a equipe ia, lógico que sempre com o apoio, e a presença do colega da região, entende? Que a gente nunca estabeleceu essa diferença da cede, isso não. Pelo menos da minha parte eu nunca fiz isso. Mas eu acho que a tônica do grupo, da equipe toda da cede, era trabalhar em conjunto com o pessoal que estivesse lá atuando na área de comunicação.
P/1 – E formar diretrizes, metas, como era? Vocês tinham algumas diretrizes para passar para eles já formatada?
R – Sempre. A gente fazia justamente o planejamento anual. E nesse planejamento anual a gente mandava para eles, e eles faziam de uma certa forma, uma adaptação a realidade deles. Lógico, sempre trocando... havia a reunião anual dos representantes, a gente conversava, discutíamos, e eles depois reformatavam o projeto de acordo com as necessidades das áreas deles.
P/1 – Dessas reformas do próprio SERPUB, SERCOM. E depois ainda teve uma outra, não sei se você pegou...
R – Sim, institucional.
P/1 – O que você poria me falar mais também para a gente ter um pouquinho mais de informação dessas mudanças? O que tem marcado na sua memória?
R – Eu acho que a mudança pra área de comunicação social, no mais abrangente, eu acho que foi interessante, entende?
P/1 – Foi com o Rabassa? Com quem foi?
R – Não, foi com o General Barros Nunes. Que aliás, embora general, foi o melhor chefe de comunicação social que eu vi na minha trajetória.
P/1 – Me fala um pouco dele, como é que...
R – Ele era uma pessoa que delegava, em primeiro lugar. Delegava com responsabilidade, certo? E se ele te entregasse uma tarefa e tu chegasse e explanasse pra ele, ele te dava total apoio à tua atuação, entende? Agora, ele gostava, lógico como todo mundo, que jogasse limpo com ele. Não vem querendo engambelar porque não era por aí. Ele era uma pessoa assim muito gente, entende? Porque nós temos uma visão, e não é só visão, há casos reais bastante desagradáveis daquela época, daquele período, mas justiça seja feita: ele nunca foi atrás do que soprasse no ouvido dele não. Ele ia, conversava com a pessoa e verificava realmente se procedia, aquelas coisas assim que a gente sabe de realidade. Então ele foi muito gente, não só em termos profissionais, como ele dava plena autoridade e plena liberdade de ação, se tu realizasse as propostas. Como ele também era muito gente pra auxiliar colegas nossos, às vezes até com problemas sérios de alcoolismo e tudo, e ele ajudava particularmente e ninguém ficava sabendo.
P/1 – E ele ficou até... Quer dizer, ele fez essa reformulação?
R – Ele fez essa reformulação. Começou talvez na gestão do Adolfo Cabral Barroso, mas se concretizou com o General Barros Nunes que ficou muitos anos ali conosco, entende? Depois do Barros Nunes, é que foi para o Rabassa. Mas o Rabassa foi muito pouco tempo lá, sabe?
P/1 – Eu queria que você me falasse da revista Gente. Porque vocês resolveram criar uma outra revista? E qual era a proposta da revista Gente? Como é que foi essa história?
R – Essa revista teve realmente uma história interessante. Na ocasião que eu saí do serviço pessoal, para o serviço de comunicação, que era relações públicas, né? Eu ainda não sabia, mas o chefe da divisão tinha ido fazer um curso na Sorbonne, o chefe de setor. E estava no lugar dele...
P/1 – Quem era?
R – ...era o Vânio Coelho. E estava no lugar dele estava a Lucia Saldanha com que eu estive trabalhando durante alguns anos. Quando ele retornou, ele achou... acho eu, isso é uma opinião minha, que ele iria retomar o antigo local, o lugar dele de trabalho, mas ela não foi afastada, ela permaneceu, então se criou uma divisão da comunicação, entre comunicação externa, e comunicação interna. E aí então o Vanio criou a revista Gente. Por muitos anos ele ficou com a revista Gente, depois ele foi para a divisão, foi ser chefe de divisão. E a revista Gente... o setor editorial voltou a ser responsável por todas as publicações, e a revista Gente voltou para nós. Então a gente editou algum tempo, alguns exemplares a revista Gente, certo. Até que quando o Rabassa chegou, ele acabou com as duas revistas a Gente, e com a revista Petrobras.
P/1 – Espera aí, então vamos por partes, a Gente ficou para público interno.
R – Público interno.
P/1 – O que vocês pensavam em comunicar a esse público interno?
R – Na ocasião que ele passou a ser atividade nossa, nós dizíamos aos nossos colegas como é que eram feitos, por exemplo, na ocasião tinha um tal de calculo para fazer recebimento da PL, que era participação nos lucros, então aquilo era um tabu, e nós colocamos na revista como era feito o calculo. Causou espécie, revolucionou um pouco, as chefias que... mas tudo bem. Então assuntos que a gente achava que eram do interesse do empregado, nós colocávamos como era feito, como o calculo era, se era assim, se era assado, com detalhes. E aquela parte que já estava consagrada que eram os retratinhos dos filhos, e tal, a gente deixou. Mas a gente procurou dar essa outra orientação para a revista também, não só mais aquelas reportagens genéricas, mas mais objetivas, sobre... porque a outra revista que o empregado recebia, que era a revista Petrobras, falava das realizações da empresa. Então não tinha porque repetir na revista Gente.
P/1 – E aí porque o Rabassa acabou com as duas revistas?
R – E com o jornal que tinha também do edifício Sete. Eu não sei, eu acho que ele achou que não... até hoje eu não entendi.
P/1 – Estava faltando dinheiro? O que foi?
R – Dinheiro nunca foi o problema para a Petrobras, inclusive na época como eu te disse não havia o dispêndio com a publicidade, então as publicações tinham uma boa verba, entende?
P/1 – Vocês tinham um numero bom de assinantes?
R – Nossa! Mais de 100 mil, 130 mil assinantes em todo o país, e no exterior também, da revista Petrobras, né? E houve muita solicitação de que ela voltasse a circular, mas ela não voltou. Agora ela já está com um outro feitio, já começou. Temos outra revista Petrobras.
P/1 – Aí ela retornou, você ainda estava lá? Como é que foi?
R – Não, eu já não estava mais lá quando ela retornou. Eu me aposentei em 87.
P/1 – E aí antes de você se aposentar, você ficou trabalhando ligada a esses projetos comunitários? Como é que foi? Déa vamos continuar com a sua trajetória.
R – No meu trabalho eu fiquei até... de 84 até 87, eu trabalhei nos projetos comunitários, entende? Eu deixei a área de publicação, para entrar na área de projetos comunitários. E gostei muito, porque te dá uma visão de Brasil que você não tem. Porque quando você vai para o nordeste, você vai normalmente para uma praia, uma cidade litorânea, cidade turística, então você não vê o que é o nosso nordeste. O que precisa ainda ser feito para que o nosso país realmente cresça. É muito triste a miséria em que eles são mantidos. Não sei hoje, porque não tenho ido para lá. Não corri mais a linha do gasoduto. Mas na ocasião me deixou bastante traumatizada. Vê o estado em que aquelas crianças... é muito triste.
P/1 – E desses projetos qual foi o que você mais gostou de fazer? De acompanhar?
R – Descubra o Petróleo, eu gostei muito.
P/1 – Como é que era? Me fala um pouquinho mais dele?
R – Nós tínhamos cartazes com toda a indústria petrolífera, bem explicadinho bê-á-bá, né? E tínhamos os folhetos para os professores, e a gente ia lá, explicava para eles, mostrava como é que era, para eles entenderem como é que do petróleo, como é que... eles não sabiam como ficava o petróleo em baixo da terra. Eu fui e disse assim: ”Vocês já viram uma esponja? É uma esponja. A esponja não fica cheia de água? Quando você espreme sai. O petróleo fica assim, no meio da rocha porosa, ele fica ali. Na é um lago que está lá em baixo.” E por aí a gente ia explicando detalhadamente para eles, e as crianças iam se interessando, os próprios professores que às vezes não tem noção de... tanto que às vezes me perguntavam se eu era geóloga. Eu digo: “Não, eu aprendi com os geólogos, mas não sou geóloga.” Então a gente trazia aquela informação para eles, mas adicionando a isso vinha aquele contato, talvez pela minha formação inicial de professora, com as crianças, né? Ela gente ver a criança descobrindo as coisas, é uma coisa muito interessante. Então foi um projeto muito bom, porque alem do mais ele divulgava a Petrobras, o que a Petrobras fazia. Porque a Petrobras era uma coisa muito abstrata, e ali eles tinham uma noção do que realmente a Petrobras fazia. Até a construção de escolas, hospitais, estradas, tudo aquilo a gente mostrava para eles que a empresa fazia quando ela chegava nos locais.
P/1 – E vocês iam pelo Brasil inteiro? Como que era esse itinerário? Como vocês escolhiam para onde vocês iam? Tinha uma rota?
R – Não. Nós fazíamos assim, por exemplo, eu vou citar o gasoduto do nordeste porque ele passava por Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, e ia até Salvador, Bahia. Então um colega ficou com o Rio Grande do Norte, eu fiquei com a Paraíba, que é as minhas origens, um outro colega ficou com Pernambuco, e o outro com a Bahia. Então nós tínhamos uma linha de ação, do que a gente fazia, todo um trabalho bem detalhado. E seguíamos aquele roteiro, e fazíamos o nosso trabalho. Depois a gente chegava no Rio, e trocava aquilo tudo em miúdos, e fazíamos o nosso relatório, indicávamos os pontos que precisavam ser fortalecidos, os pontos que podiam ser retirados porque não havia realmente necessidade daquilo, e coisa novas que a gente precisava acrescentar que faziam falta realmente no projeto, e que a ente de uma forma insípida já tinha iniciado alguma coisa nesse sentido.
P/1 – E Déia, esse é o nordestão, né? Que chamavam de nordestão.
R – Exatamente.
P/1 – E aí você trabalhou nisso até se aposentar?
R – Trabalhei nesse, e em outros projetos. E depois nós focamos em Macaé, porque aí começou a grande atividade e Campos. Então em Macaé nós desenvolvemos vários projetos, inclusive praças públicas, com entretenimento para idosos, fazendo aqueles joguinhos... como se fosse mesa. Tudo isso foi feito. Você vê só como a Petrobras tinha preocupação... tem preocupação com detalhes com relação à comunidade. A questão do menor abandonado também, a questão das hortas escolares, e hortas, que também foi implantado em Cubatão. Todos os projetos depois... o projeto inicial era em Macaé, mas depois dali passava para as demais regiões. E aí nós contávamos com os nossos colegas das refinarias, da Petrobras da exploração e produção, que aí eles desenvolviam um trabalho lá.
P/1 – Era como se fosse um piloto?
R – Exatamente. Macaé foi o piloto, para esses outros projetos. Inclusive para a Escolha Profissional, que a gente ia nas escolas e fazíamos todo o... aplicávamos testes nos adolescentes, e tudo mais para...
P/1 – Foi bacana que aí você pode unir com o inicio da carreira.
R – Finalizei mais ou menos dentro da área de educação.
P/1 – Conseguiu ligar. Déa me conta uma história desses anos aí. Pode ser engraçada, marcante, uma que a sua memória selecionar.
R – Eu entrevistei o Lutzenberger, negócio de energia solar que foi extremamente enriquecedor. Mas eu acho que o ponto alto realmente foi Câmara Cascudo, foi algo fabuloso de ter essa possibilidade de privar com aquela cultura toda que ele tinha, uma pessoa maravilhosa. Ele fez inclusive eu botar o meu nome na parede, “Não, a senhora ponha o seu nome aqui na parede que essa casa aqui vai ficar tombada, aí a senhora vai vir aqui um dia, e vai ver o seu nome ali.” Uma pessoa maravilhosa.
P/1 – Essa casa era onde?
R – Lá no Rio Grande do Norte. Ele morava no Rio Grande do Norte.
P/1 – Era Natal mesmo?
R – Natal.
P/1 – E assim dessas andadas por aí, com o nordestão, com... tem alguma?
R – Teve uma passagem cômica. Em uma dessas cidades que nós fomos, porque sempre a gente ia acompanhado, o meu colega Zezinho, era o nome carinhoso que a gente dava a ele. Ele era o que projetava os filmes e tudo, e às vezes dava algum enguiço na máquina, ele puxava o pente dele metia lá na maquina, e arrumava e continuava a projetar o filme. Mas nessa cidade, eu não estou lembrando o nome agora mas foi no interior da Paraíba, foi onde a professora fez a pergunta o que era o gasoduto, choveu tanto, e nós não tivemos condições de pegar a estrada federal, tivemos que pernoitar na cidade, e não tinha hotel. Eu dormi na casa do prefeito, e ele dormiu em uma pousada, uma pensão que tinha lá e a noite ele me contou depois no outro dia: “Dona Déa, aqueles caranguejos...” Um bicho que tem nesses alagadiços assim, abriu o lugar onde eles estavam, ele disse: “Eu acordei cheio daqueles bichos em cima de mim.” Eu teria morrido se acontecesse isso comigo. Então foi uma coisa assim, _____ dormindo em um lugar que não tinha nada. Mas nada, nada, nada. A casa do prefeito bem simples, você pode imaginar, mas o lugar que ele ficou pior ainda.
P/1 – Os guaiamuns, né?
R – Guaiamuns, isso aí. Agora tu lembraste o nome. Mas olha eu imaginei, porque eu já tinha visto vários presos nas gaiolinhas, mas meu Deus do céu. E aí ele veio me contar no dia seguinte que tinha acontecido isso.
P/1 – E esse Zezinho você se lembra o nome dele? Era o cinegrafista que acompanhava vocês. Como era a equipe que ia?
R – Ele... uma vez nós na Paraíba mesmo, nós estávamos fazendo a... entrando para ir para um outro estado, não me lembro qual o outro estado que nós íamos. Estávamos despachando o equipamento, era um excesso de bagagem, você pode imaginar, nós levávamos tudo. Aí a minha passagem não estava marcada, aí eu disse assim: “Mas não pode ser, eles não podem viajar se eu não for junto, pois eu sou chefe da equipe.” Mas foi uma confusão no aeroporto da Paraíba, mas acabou a gente viajando. Ele era uma pessoa sensacional, ele faleceu, lamentavelmente ele faleceu.
P/1 – Mas você se lembra do nome dele?
R – Ah, mas eu posso... Isso eu faço questão de te dar, porque era carinhoso, né? Zezinho. A gente até hoje nós nos encontramos no Clube Militar para almoçar juntos, a turma toda do CERCOM. Nós almoçamos, eu acho que toda... a primeira terça, ou quarta feira do mês a gente se reúne para almoçar. Mas não vão todos, sempre tem um ou outro que aparece. E no fim do ano tem a geral, aí vem mais gente. Aparece mais gente. E a esposa dele vai, a esposa do Zezinho vai. Nós todos gostávamos muito dele. Fizemos não sei quantas mil viagens para Macaé, e quando ele se aposentou em uma viajem de volta de Macaé para cá, ele faleceu em um desastre de avião. A pessoa que estava dirigindo não morreu, mas ele sim. Que coisa incrível, né? Mas é a vida.
P/1 – Déa, mas a equipe era você, o Zezinho, como era essa equipe?
R – Tinha muita gente, tinha o Edson. O Edson era uma pessoa maravilhosa, também fazia as palestras. O Edson, eu, o Zezinho, teve a Elaine que nos acompanhava mais aí ela já começou assim... estava iniciando, sabe? E aí a gente fazia esse trabalho, e o chefe na época era o Antonio César.
P/1 – Antonio César Cabral?
R – É.
P/1 – Ele vem também falar. E você se aposentou quando Déa?
R – Em 87, em 1987. No dia 1º de julho. Já vai para 21 anos, maioridade.
P/1 – Eu não te perguntei. Você teve filhos?
R – Temos dois homens, e uma moça.
P/1 – Qual é o nome deles?
R – Eliédio(?) Francisco, o mais velho. Mauricio Augusto, e Sandra Helena.
P/1 – E você nunca teve problema em trabalhar, e cuidar de casa?
R – Não, tive problemas porque eu vim morar no Rio, e não tinha ninguém da minha família, nem do meu marido porque ele é paulista. Então tinha dias em que eu tinha que levar eles para a Petrobras. Aí começava o problema, né? Porque ele não podia levar porque ele trabalhava com aviões, não podia. E eu dizia para os meus filhos:”Olha, vocês não podem levantar da cadeira, tem que ficar lá. Só quando quiser ir ao banheiro que eu vou. Se não a mamãe perde o emprego.” Aí eu tenho uma grande amiga minha que chagava e dizia assim: ”Vocês não tem nada que olhar para a mãe de vocês venham aqui, e venham mexer...” Naquela época era maquina elétrica, era um máximo, eles ficavam doidos para mexer. Eu só olhava para eles, eles ficavam quietos. “Não tem nada que olhar para a sua mãe não. Vem para cá que a máquina é minha, vocês podem mexer na máquina o tanto que vocês quiserem.” Aí eu deixava um pouquinho. Mas era um problema, sabe? Mas depois, graças a deus, chegou uma pessoa na minha vida que ficou comigo 32 anos, hoje ela está aposentada, cuidou muito, me ajudou muito com as crianças, da casa, tudo. Paraibana, eu acho que eu tenho alguma coisa... não é só o pai, eu tenho alguma ligação com a Paraíba. E ela ficou comigo 32 anos, e todo sábado ela me liga para saber como é que eu estou, coisa e tal. Uma pessoa maravilhosa. Foi como eu solucionei. E depois naquela época também nós não tínhamos essa facilidade que tem de creches, não existia. As escolas públicas só pegavam do primeiro ano em diante. Eles estudaram em escola pública. Mas sobreviveram, hoje como eu digo para eles: ”Eu olho para vocês, e fico muito feliz com o que eu estou vendo.”
P/1 – O que eles fazem?
R – Meu filho mais velho é Oficial do Exercito, é Coronel do Exercito. O outro é Coronel da Aeronáutica, e a minha filha é analista de sistemas.
P/1 – Olha só que beleza.
R – Só faltou ela entrar para a Marinha.
P/1 – E você já tem netos?
R – Tenho cinco netos homens. O mais velho tem 18 anos, o segundo tem 15, está bem mais alto do que eu. O pequenininho tem 10, depois do outro filho eu tenho um com nove, e outro com sete.
P/1 – Mas depois que você se aposentou, você não sossegou muito não, você voltou a trabalhar. Me conta o que você faz.
R – Naquele inicio é aquele prazer das férias remuneradas, mas depois elas começam a ficar longas demais, você começa a olhar as paredes então aquilo não... e eu trabalho desde os quinze anos, então não tinha condições mesmo. Não sou chegada, mas faço, honro meus compromissos aos serviços caseiros. Aí eu recebi o convite do presidente da AMBEP, que é o Ramiro Totes que era o presidente da AMBEP na época, para eu fazer P/1 – jornal da associação. Aí eu fui, e lá estou até hoje.
P/1 – Conta para a gente o que é a AMBEP.
R – AMBEP é a Associação de Mantenedores Beneficiários da Petro, isso que dizer, ela reúne aposentados, e pensionistas, e pessoal da ativa, da área das empresas de petróleo. Nós temos representações de Manaus, a Porto Alegre, contamos com mais de 36 mil sócios, e a gente está trabalhando no sentido de trazer agora... a nossa próxima meta é um plano de saúde para os beneficiários que não são assistidos pela assistência medica da Petrobrás. Então a gente está trabalhando nisso. Fora isso a gente tem um credenciamento medico, que aquelas pessoas que são beneficiarias, e nossos sócios que não tem a Petrobras pagam o mesmo preço da Petrobras nas consultas, exames laboratoriais, e tem um certo atendimento nos hospitais, mas isso aí já é diferente da forma como a Petrobras nós assiste. Eles pagam diretamente o serviço que eles utilizarem, nós não, nós assinamos o papel é a Petrobras desconta do nosso salário depois.
P/1 – Déa, depois você começou a fazer o jornal, e agora faz o jornal da AMBEP. Mas agora...
R – Depois em 2003 eu fui convidada para fazer parte do grupo que se candidatava a presidência, o doutor Ivan Barreto de Carvalho. Ele me convidou para ser da área social, aí eu fui, nós vencemos a eleição, depois fomos reeleitos em 2007. Agora o fim do meu período é em 2009.
P/1 – Mas hoje você está exercendo o cargo de?
R – Sou diretora social e de beneficio da AMBEP.
P/1 – Você está pensando em continuar, mudar alguma coisa? Mudar só o cargo.
R – Eu estava pensando o seguinte, eu acho que uma direção não deve ficar muito tempo, eu acho que precisa de gente nova para renovar e trazer novas idéias. E tem muitas pessoas que... eu não me enquadro nessa... que ficam parados no tempo. Eu estou sempre querendo algo mais, saber novidades, saber coisas novas que estão acontecendo. E dentro dessa minha linha eu acho que deve ser mudada a direção, acho que deve ser feita uma nova eleição, não sei como será feita. Mas eu pretendo me dedicar a um projeto, a minha tese, que como eu te falei que é exatamente com relação a essa área de comunicação, publicação empresarial. Ela já está servindo de base para muitos trabalhos na área de comunicação. Então eu quero aprimorar, atualizar, e transformas em livro. É um dos meus objetivos pós AMBEP.
P/1 – O mestrado você concluiu onde, e em que tempo, em que fase?
R – Em 88 eu fechei a minha tese, aliás, em 87. Jornalismo empresarial. Foi na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
P/1 – Na UFRJ, em comunicação social?
R – Comunicação social. Sou mestre em comunicação, só que não exerci o magistério na comunicação, mas não faz mal.
P/1 – E qual o título da tese?
R – Jornalismo Empresarial Trabalho na Petrobras: A Presença da Petrobras nas Comunidades.
P/1 – E a gente vai encaminhando a nossa entrevista para o final. Eu gostaria de saber se tem alguma coisa que a gente não conversou aqui, que eu não te perguntei que você queria deixar registrado. Alguma coisa que tenha escapado da nossa conversa.
R – Eu acho que foi bastante abrangente, entende? E eu acho que é muito válida essa preocupação da Petrobras em deixar a memória gravada, porque eu acho que os depoimentos dos antigos registram as dificuldades que nós tínhamos na época. Que hoje está tudo mais facilitado como eu te falei. Inclusive, na ara de geologia nós temos satélites aí fazendo misérias, né? E nós também na nossa atividade não tínhamos grandes recursos, embora a Petrobras nós facilitasse em tudo, e nós desse um apoio sensacional em todas as atividades, mas eu acho que foi um trabalho pioneiro, e que foi uma sementezinha na época lançada pela Petrobras, e que a equipe regou, e ela se transformou no que hoje está sendo aí que é uma beleza. Eu acho que a Petrobras tem que fazer isso aí, divulgar o que ela faz pelo país.
P/1 – Eu não te perguntei também no inicio, que é uma coisa que a gente costuma fazer. Qual foi era a dificuldade no seu trabalho?
R – Lidar com pessoas. Tem pessoas muito difíceis, existem pessoas muito difíceis, sabe? Mas a gente supera. Eu acho que a gente tendo uma certa compreensão de vida, e de problemas que a gente já vivenciou, eu acho que a gente consegue contornar uma serie de coisas. Eu acho que a vida é muito boa, para se gastar com pouco.
P/1 – E qual foi uma grande alegria, que você como jornalista pode transmitir na revista Petrobras?
R – Olha foi tanta coisa boa. Eu acho que a Petrobras deu a todo o meu grupo muita coisa boa para nós. A Petrobras nós deu possibilidades enormes.
P/1 – Ou dessas notícias da Petrobras também, que você...
R – Quando ela fez 1 milhão de barris foi muito bom. Comprovar que uma empresa que os americanos diziam que não tinha petróleo nessa terra, né? E os nossos técnicos mostraram, e mostraram a que vieram, isso eu acho que é uma coisa muito boa para nós. Nossa tecnologia, você vê a tecnologia do mar profundo é nossa. Então isso tudo são motivos de orgulho para nós petroleiros, porque como eu te disse você não deixa de ser petroleiro.
P/1 – Você se sente uma petroleira?
R – Eu me sinto uma petroleira apesar de todas as birras que às vezes a gente está com a empresa. Mas a gente adora a empresa. Eu acho que qualquer aposentado que você... tem a magoa, tem umas magoas. Por exemplo, quando ela fez 50 anos, ela não se lembrou dos aposentados, e eles ficaram magoados. Eles ficaram muito magoados com isso.
P/1 – De não terem participado das festas...
R – Não de terem sido... necessariamente festa não. Mas de terem sido lembrados, que tenham falado pelo menos, “Hoje nós estamos aqui, porque houve um pessoal que começou, no tempo que tinha que ir a pé lá ao mato descobrir onde era região sedimentar, e coisa e tal.” Em todos os níveis, eu estou citando a parte de geologia porque é uma parte que você pode fazer o antes, e o depois hoje com os satélites. Mas eles ficaram magoados, vários. “Poxa, nem se lembraram da gente.” Mas não no sentido de ser chamado para a festa, não é isso. Ser citado pelo menos. A gente está aqui hoje com tudo isso, teve um pessoal antigo que teve... gente até anterior a mim, teve um pessoal que veio do Conselho Nacional do Petróleo, que na época em que ela foi criada, a lei foi criada em 53, mas começou a operar em 54. Então ela não tinha técnico, veio o pessoal do Conselho Nacional do Petróleo, e é gente que vibra com a empresa até hoje, vibra mesmo. Com todos os “senões”, que há “senões”. Mas isso faz parte da vida.
P/1 – E com razão também. Déa, eu queria terminar perguntando se você gostou de participar da entrevista?
R – Eu gostei, mas eu acho que eu saturei vocês com tanta falação, mas é que a gente começa a falar de Petrobras a gente realmente fica empolgado. E foi uma época como eu te disse muito boa. A empresa me deu oportunidades fantásticas, eu também me doei a empresa, está entendendo. E acho que muitos fizeram isso, não só eu, senão a maioria. Então eu acho que a gente gosta de ver a empresa despontando agora no mundo todo. Isso é bom
P/1 – Está certo Déa. Eu queria te agradecer você ter vindo até aqui e colaborado com a gente.
R – Eu que agradeço essa oportunidade, e como eu te digo fico muito feliz de poder contar o que foi o trabalho inicial da turma, eu acho que outros já deram o seu depoimento aí também, e se precisar de mim para alguma coisa estou sempre as ordens.
P/1 – Tá bom Déa, obrigado.
R – Obrigado a vocês todos desculpa a matraca.
FIM DA ENTREVISTA
Pasto(?)
Massot(?)
Araquém(?)
Edise(?)
Eliédio(?)
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