Nome do projeto: Memória Petrobras
Depoimento de Antonio Tavares
Entrevistado por Márcia de Paiva e Murilo Sebe
Local de gravação: Betim, MG
Data: 26 de agosto de 2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoente PETRO_CB477
Transcrito por: Andréa Penna
P/1 - Bom dia!
R - Bom dia!
P/1 – Eu gostaria que você nos fornecesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Antonio José Mendes Tavares, Belo Horizonte, Minas Gerais, sete de março de 1962.
P/1 - Tavares, você pode contar pra gente como você entrou pra Petrobras, quando e o que você estava fazendo antes, como é que você se decidiu, como é que você veio pra cá?
R – Pra mim, entrar na Petrobras caiu como um presente do céu, na verdade. Porque, na época, eu tava trabalhando como vigilante numa instituição bancária e eu digo pro céu porque eu não tinha costume de ler jornal, nunca gostei muito de ler jornal e as pessoas que trouxeram pra mim o edital de convocação através de jornal, me mostraram e falaram: “Olha aqui, vai abrir concurso da Petrobras, só que tá tendo uma série de exigências que eu acho que não vai dar pra gente não, porque exige certificado de primeira categoria, habilitação, curso de vigilante, essas coisas.” Então, os colega que trabalhava lá, inclusive era na Acesita, uma indústria - eu trabalhava nesse posto bancário lá dentro, nenhum deles pôde fazer o concurso. Eles eram bem mais remunerados que eu, tinham mais estabilidade no emprego, e só eu pude fazer o concurso e tive uma ótima aprovação aqui na Petrobras.
P/1 - Você já tinha todas essas exigências?
R - Todas elas.
P/1 –Requisitadas?
R - Requisitadas, justamente. Todas elas. E por isso que foi do céu, né? Porque eu não lia jornal e os caras trouxeram pra mim o edital de publicação do concurso, e eles não puderam fazer, somente eu. Quer dizer, veio de presente pra mim, né? Considero isso.
P/1 - Então você já está trabalhando aqui há quanto tempo?
R...
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Nome do projeto: Memória Petrobras
Depoimento de Antonio Tavares
Entrevistado por Márcia de Paiva e Murilo Sebe
Local de gravação: Betim, MG
Data: 26 de agosto de 2004
Realização Museu da Pessoa
Código do depoente PETRO_CB477
Transcrito por: Andréa Penna
P/1 - Bom dia!
R - Bom dia!
P/1 – Eu gostaria que você nos fornecesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Antonio José Mendes Tavares, Belo Horizonte, Minas Gerais, sete de março de 1962.
P/1 - Tavares, você pode contar pra gente como você entrou pra Petrobras, quando e o que você estava fazendo antes, como é que você se decidiu, como é que você veio pra cá?
R – Pra mim, entrar na Petrobras caiu como um presente do céu, na verdade. Porque, na época, eu tava trabalhando como vigilante numa instituição bancária e eu digo pro céu porque eu não tinha costume de ler jornal, nunca gostei muito de ler jornal e as pessoas que trouxeram pra mim o edital de convocação através de jornal, me mostraram e falaram: “Olha aqui, vai abrir concurso da Petrobras, só que tá tendo uma série de exigências que eu acho que não vai dar pra gente não, porque exige certificado de primeira categoria, habilitação, curso de vigilante, essas coisas.” Então, os colega que trabalhava lá, inclusive era na Acesita, uma indústria - eu trabalhava nesse posto bancário lá dentro, nenhum deles pôde fazer o concurso. Eles eram bem mais remunerados que eu, tinham mais estabilidade no emprego, e só eu pude fazer o concurso e tive uma ótima aprovação aqui na Petrobras.
P/1 - Você já tinha todas essas exigências?
R - Todas elas.
P/1 –Requisitadas?
R - Requisitadas, justamente. Todas elas. E por isso que foi do céu, né? Porque eu não lia jornal e os caras trouxeram pra mim o edital de publicação do concurso, e eles não puderam fazer, somente eu. Quer dizer, veio de presente pra mim, né? Considero isso.
P/1 - Então você já está trabalhando aqui há quanto tempo?
R – São quase 18 anos já.
P/1 – Fala um pouco do seu trabalho aqui dentro.
R – Pra mim, o meu trabalho aqui é muito gratificante, porque a gente lida bastante com pessoas. Eu gosto de lidar com pessoas, porque o relacionamento entre nós é muito complexo, é muito gostoso, porque nunca uma pessoa é igual à outra, cada maneira que você vai abordar, você tem que abordar a pessoa e conversar de maneira diferente.Vamos dizer assim que é um tratamento diferenciado, especial. Você primeiro procura compreender a cabeça da pessoa, pra poder ver como é que você vai comportar com ela. Eu faço muito disso. E, graças a Deus, até hoje eu sempre me dei bem.
P/1 – E você, trabalhando com essa área de segurança, teve algum momento assim mais difícil ou tem sido tranqüilo o trabalho?
R – É relativo, né? Conforme da situação. Porque, veja bem, igual outro dia, eu tava trabalhando aqui, aí de repente eu recebo uma ligação, telefone do empregado Emilio, de que ele não sabia o que ia fazer, porque tinha um camarada que tava do lado de fora do ônibus, com uma arma automática na mão, falando que ia matar o motorista e dentro do ônibus tava cheio de criança. Como é que eu ia me comportar naquele instante? Como é que eu ia passar, dar uma tranqüilidade pra ele, pra poder tentar evitar uma tragédia? Eu falei: “Nossa! Mais uma!” Aí eu pensei comigo: “Mais um!”. Mas só Deus pra poder me ajudar. Na hora a adrenalina vai a mil, né? Se eu falar alguma besteira ali, o cara pode perder o controle, e também, de repente, em vez de eu ajudar, eu vou atrapalhar, né? Mas aí eu lembrei: “Calma. Primeiro com fé em Deus, eu vou ver o que vou fazer aqui. Vou procurar primeiro passar tranqüilidade pra ele.” E graças a Deus, eu consegui passar tranqüilidade pra ele, assim, seguiu o que eu consegui passar pra ele, o que eu falei pra ele e deu certinho, a policia chegou lá, não deixou ninguém sair do ônibus igual eu tinha falado e o cara fugiu, e agora eu não sei o que tá. Mas a policia parece que está atrás do cara. Então, todas as situações que eu convivo aqui é essa, primeiro a adrenalina sobe, mas aí eu vejo que não adianta ir pela emoção, tem que procurar agir pelo lado mais racional. E entender a pessoa que está com o problema. Aí, seguindo essas leis, essas metas que eu coloquei, tem dado certinho até hoje.
P/1 – Esse seu trabalho requer uma atenção, né? Atenção e tensão...
R - Justamente.
P/1 - Você tem que estar atento ao que estar acontecendo e alguma hora, como você acabou de contar, que você fica mais tenso, que não adianta só resolver com adrenalina, né?
R - Justamente. E nessa hora que eu fico mais tenso é que eu tenho que transparecer que eu tô mais tranqüilo. Às vezes a pessoa olha assim que eu estou muito tranqüilo, na verdade eu não tô. Mas simplesmente pra poder maquiar a situação, pra poder a quem ta a meu redor, me auxiliando, poder me ajudar de fato. Porque, se eu transparecer que eu estou nervoso, que às vezes eu posso perder o controle, aí quem ta do meu lado aqui não vai conseguir me ajudar de forma alguma.
P/1 – Mas acontece com muita freqüência assim?
R - Principalmente em situações de emergência.
P/1 – É?
R - Sim. Situações de emergência é complicado. Igual ao ultimo acidente que teve aqui na HDT, que teve uma explosão lá, de incêndio, não sei se vocês tão sabendo. A comunidade começou a ligar pra cá direto, que tava chama lá. O pessoal tem uma visão privilegiada do bairro vizinho, porque mora no alto e aqui tá mais embaixo. Então, de noite, no escuro, aquele fogo todo depois daquela explosão, alarma todo mundo, né? E o pessoal tava ligando pra cá querendo saber o que tava acontecendo, se tinha risco deles perder as casa deles. Aí eu comecei a passar com aquela tranqüilidade, aquela voz mais calma: “A situação tá completamente sob controle, daqui a pouco vocês vão ver que não vai ter mais chama alguma, o pessoal já tá extinguindo o fogo e tal.” E deu certo, graças a Deus, porque senão tinha o risco da comunidade vir aqui, parar aqui na porta da refinaria e complicar mais ainda nosso serviço. Depois de ter criado o tumulto, se complicar é difícil. Então eu prefiro trabalhar com prevenção.
P/1 – É. E o seu trabalho, você fica localizado mais aqui na recepção, aqui pela entrada?
R – Sim. O ponto principal é aqui na recepção.
P/1 – Tavares, da história desse tempo que você também está aqui na REGAP, o que você destacaria como uma história importante, uma história interessante ou uma história engraçada? O que você recorda, o que pra você é marcante?
R- (pausa) Ah...Marcante pra mim? Eu acho que é engraçado, né? Achei engraçado foi uma atitude de um colega. Teve uma época aqui que pros empregados saírem, todos eles tinham que ter a autorização de saída. Aí veio o engenheiro e falou com um colega - que nessa época nós trabalhávamos nos postos, que hoje tá com os contratados - aí veio o engenheiro e saiu, e não trouxe esse papel. O colega abordou ele e falou: “Vem cá, cadê a sua autorização de saída?” O engenheiro respondeu pra ele: “Não. Eu não tenho porque eu sou isento de ponto.” O colega ficou nervoso com ele e o pessoal: “Pô, mas por que você está nervoso com ele?” “Porque o cara veio falando comigo com gíria.” (riso) Não teve gíria não. Ele não ia deixar ele sair, mas só que isento é porque o cara está liberado. Ele entendeu que era gíria. E o pessoal encarnando na pele dele durante muito tempo, até hoje o pessoal lembra. Então, foi muito engraçado.
P/1 – Muito bom. Dentro dos 50 anos da Petrobras, que completou ano passado, o que você destaca da empresa? Um fato importante, uma qualidade da empresa como um todo?
R- Infelizmente eu não tenho 50 anos dentro da Petrobras, mas eu gostaria de ficar até 100, 200 anos se me fosse possível. Quando eu entrei aqui, a Petrobras era a 33ª no ranking mundial. Hoje, ela está bem mais acima disso, então me sinto orgulhoso por isso e isso que eu acho que é bastante marcante, pela competência que essa empresa tem. Poucas no mundo tem, está superando aí muitas empresas de país de Primeiro Mundo. É isso aí que é o destaque nela, essa competência, essa arrancada dela. E eu tenho certeza que ela vai conseguir mais ainda.
P/2 – Tavares, você é filiado ao sindicato?
R – Sou.
P/2 – Desde quando?
R – Desde quando entrei.
P/2 – E por que esse seu interesse, já nesse primeiro momento, em se filiar ao sindicato?
R – Questão de cultura. Todo petroleiro era filiado ao sindicato, tinha liberdade nessa filiação e era importante. Por isso que eu tive esse interesse.
P/2 – Você já exerceu algum cargo dentro do sindicato?
R – Não, nunca.
P/2 – Qual foi o principal momento de luta do sindicato que você recorda desde essa época que você entrou aqui na Petrobras?
R – Aqui na Regap, na verdade, falar assim em termos de greve, que é o ponto mais marcante do sindicato, empresa, aqui é um pouquinho mais fraco. Mas o que marcou muito, que destacou muito parece que foi em 1986, quando aqui realmente chegou a fazer uma greve mais forte, quando também todas as outras unidades da Petrobras fez. E aqui, naquela época, ficaram 21 dias de greve, se não me engano, teve um impacto bastante forte aqui dentro.
P/2 – E você recorda qual foi o motivo dessa mobilização?
R – Questão salarial, principalmente. Reivindicações. Melhores condições de trabalho. Eu acho que a Petrobras, no meu ponto de vista, dá todo apoio necessário pro trabalhador. Só acho que às vezes o que vem atrapalhar um pouco é a questão social, podia ser um pouquinho melhorada. Salarial também, né? Mas sobre condições de trabalho, aqui é dez.
P/2 – Da época que você entrou até agora, você acha que nesse setor do trabalho melhorou bastante?
R – Melhorou muito. Melhorou demais.
P/2 – E essa relação do sindicato com a Petrobras, como você vê essa relação?
R – Hoje está melhor. O relacionamento do sindicato com a Petrobras hoje está bem melhor, há mais negociações, há mais conversações, procurando o ideal pra todos. Eu acho que isso nunca vai ser possível, porque se nem Jesus Cristo conseguiu agradar a todos, então não vai ser uma instituição que vai agradar, de forma alguma.
P/1 – Você acha que tem alguma coisa que poderia melhorar, que você sugeriria?
R – Eu acho que a única coisa que poderia melhorar mesmo é procurar o diálogo, cada vez mais. Só isso.
P/2 – Tavares, o que você acha de ter participado dessa entrevista?
R – Gostoso. Foi bom. Não doeu não (riso). Falaram comigo que ia doer, mas não doeu não. É que eu sou muito acanhado.
P/2 – E como foi ter contribuído para esse Projeto Memória da Petrobras?
R – Pra mim foi muito importante fazer parte disso aí. Muito bom mesmo. Do 33º pra cá, parece que já está em 11º, não sei bem a posição, mas está muito bem colocada e estou me sentindo orgulhoso disso.
P/1 – A gente queria agradecer sua participação e esperamos que você tenha gostado mesmo.
R – Gostei, com certeza. Vocês são bons profissionais que deixam a gente mais tranqüilo e à vontade para poder falar. Meus parabéns.
P/1 – Obrigada.
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