Memória Petrobrás
Depoimento de Amália dos Santos Rafael da Silva
Entrevistado por Inês Gouveia
São José dos Campos, 23 de Junho de 2009
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº MPET_REVAP_TM004
Transcrito por Gabriel Monteiro
P1 – Amália, pra começar então eu vou pedir que você diga o seu nome completo, seu local de nascimento e sua data de nascimento.
R – Ta, pode começar. Meu nome é Amália, nasci no Rio de Janeiro, minha data de nascimento é 14 de Janeiro de 1957.
P1 – E quando você entrou na Petrobrás, Amália?
R – Entrei na Petrobrás em 20 do 12 de 1977.
P1 – E pra trabalhar em qual área?
R – Eu trabalhava na área de telecomunicações, la no 26º andar do prédio lá do EDISE, na avenida Chile.
P1 – E aí lá você ficou por quanto tempo?
R – Lá eu trabalhei entre 26 e 25º andar, onze anos, trabalhei lá onze anos.
P1 – E como é que foi a sua vinda pra REVAP?
R – REVAP foi o seguinte: meu marido foi transferido pra cá, veio trabalhar aqui em Jacareí, e aí eu batalhei por transferência, até que eu consegui uma transferência aqui pra refinaria. Isso já faz vinte anos, estou aqui até hoje.
P1 – Mas o seu marido era da Petrobras também, não?
R – Não, ele não era da Petrobras não.
P1 – Veio pra outra...
R – É, ele na verdade tava terminando o curso de medicina, que ele tava no último ano... não, no último ano não, ele já tinha feito dois anos de residência e ele prestou um concurso pra caixa do Banco do Brasil. E aí ele passou e ele passou pra Jacareí. Aí ele trabalhou lá seis anos, depois saiu, né, que ele já tinha conseguido emprego na prefeitura e aí está lá até hoje. Banco do Brasil só trouxe ele pra cá.
P1 – E como é que foi a sua chegada aqui? Uma mudança de cidade, né, e mudança também do ambiente de trabalho, conta pra gente.
R – De cidade eu não tinha dificuldade porque a família do meu marido, ele é mais velho de nove, ele mora em Jacareí, a família dele é de Jacareí. Então a dificuldade assim de me ambientar com o local não teve muita não. Meus filhos vieram pequenos, o mais novo tinha dois anos e eu tinha a sorte de a irmã dele ficar tomando conta dos meus filhos pra eu vir trabalhar. Eu pagava a faculdade dela e ela se formou em Letras enquanto cuidava dos meus filhos. Eu gosto de dizer que a minha empregada lá em casa era professora de Letras (risos), então eu tive esses privilégios. E depois que vim trabalhar aqui na refinaria eu não senti dificuldade de me entrosar com as pessoas não, não sei se as pessoas tiveram dificuldade de se entrosar com a gente porque carioca... agora que eu moro aqui, eu reparo, carioca ri demais, é muito chato. Eu não sei se as pessoas tiveram essa dificuldade de se adaptar com a carioca! Mas com as pessoas, o pessoal é legal, foi fácil.
P1 – E chegando aqui qual foi a área?
R – Também foi telecomunicações.
P1 – E era uma coisa semelhante ao que você fazia lá?
R – Era semelhante ao que eu fazia lá.
P1 – Conta pra gente como era o cotidiano de trabalho. O que você efetivamente fazia?
R – Ixe, agora lembrar o que que a gente fazia aqui, nossa! Era uma atividade completamente diferente porque ainda não tinha introduzido computador. Depois é que começou a entrar computador nas mesas, eu lembro que a gente começou a trabalhar com IBM, todo mundo lembra do IBM, era muito bom trabalhar com o IBM. E aí a gente foi se informatizando, a gente fazia... a prestação de serviço era tudo cadastrado no computador, voe tinha que emitir os pedidos de serviço tudo pelo computador e aí eu fui aprendendo essa coisa, essa área IBM. Agora, assim no início era conserto de telefone, fazer nota fiscal, mandar equipamento pra conserto, era uma coisa assim, tinha até controle de estoque de material.
P1 – E era uma área que tinha um número grande de funcionários aqui?
R – Não, não, na área de telecomunicações eram poucas pessoas, não era um número muito grande de pessoas não.
P1 – E a parte estrutural da refinaria, como é que estava? Os prédios, enfim, tudo isso que a gente vê quando entra aqui, que é uma enormidade. Como é que tava isso na época que você veio?
R – Olha, está do mesmo jeito hoje, não houve, assim, não me lembro assim de ter ampliações de prédios, construções de novos prédios. O que aconteceu é que, realmente, a refinaria cresceu, precisou de mais espaço, mas eles alugam containers, você pode andar pela refinaria que você vê muito container por aí.
P1 – Agora, você que já conhecia um pouco a região em função de Jacareí, essa mudança da região em função do próprio desenvolvimento da REVAP, você teve essa percepção?
R – Ah, eu percebi, assim, muita construção de prédio. Vinte anos depois você olha, por exemplo, lá no jardim Satélite, algumas vezes que eu passei por lá, nossa, cheio de prédios novos. A cidade cresceu demais, acho que em todo país isso deve ter acontecido, não é possível que tenha sido só aqui. A população acho que cresce muito e, olha, o que tem de prédio hoje aqui! Eram áreas, assim, completamente de terrenos, hoje em dia você olha e está tudo cheio de prédio, cresceu muito a cidade.
P1 – Mas grande parte das pessoas eu suponho que tenham ligação direta com a refinaria.
R – Ah, eu acredito que sim. Eu pego muito esse ônibus da Sampaio que vai pro Rio, porque eu vou muito pro Rio. Eu e marido, quando ele também vai, a gente prefer ir de ônibus, a gente acha... eu acho mais seguro, ele não, ele gosta de carro. Mas eu obrigo ele e ele às vezes me obedece, aí eu convenci ele a gente ir de ônibus. Mas tem muita gente da refinaria que mora no Rio, você entra lá e é um monte, aquelas conversas que você ouve. Outro dia eu até ouvi falando sobre a segurança na refinaria que é muito exigente, muito rígida a parte a da segurança. E a gente ouve muitas conversas, assim, é tudo referente a refinaria. Então tem muita gente que deve morar aqui, mas tem muita gente que faz essa, esse final de semana de voltar pra casa lá pro Rio.
P1 – Você falou dessa questão da segurança, pra gente que vem de fora, que não freqüenta esse ambiente, que não está acostumado, a gente logo percebe essa coisa, essa preocupação de segurança.
R – Nossa, é uma exigência!
P1 – Houve alguma mudança disso do momento que você entrou pros dias de hoje?
R – Nossa, completamente, mudo muito.
P1 – Você sabe descrever? Você lembra como era, como eram as normas de segurança na época, qual era a preocupação?
R – Você quer ver uma coisa? Eu trabalhava na área de telecomunicações. Telecomunicações e depois juntou com informática, né, e a gente recebia muito equipamento. Teve uma época que o motorista que trouxesse micro, seja lá o que for aqui pra dentro da refinaria, não podia pegar chapa na Dutra. Não pode entrar ninguém na refinaria que não seja registrado pela empresa. A pessoa pra entrar aqui, pra fazer uma montagem de uma prateleira, por exemplo, que no caso recentemente a gente está montando uma prateleira lá, a pessoa tem que apresentar o ASO, um documento lá de médico que as empresas tem que ter. E tem empresas que às vezes não tem isso, acho que é por causa do tipo do serviço, eles nem tem. Então tem todas essas exigências da refinaria porque se uma pessoa passa mal aqui ela tem que ter cobertura da empresa.
P1 – E hoje qual é a área que você trabalha?
R – Hoje eu trabalho na área de contratação de serviços, eu faço licitações, essas grandes licitações que a gente faz, que a Petrobras faz, eu faço parte da equipe.
P1 – Você pode contar um pouquinho do cotidiano do seu trabalho, pra quem não entende nada do que seja licitação?
R – Ah, não, é muito legal, eu gosto! A gente prepara os convites pra fazer licitação, sabe, a gente pega a especificação do serviço, planilha de preço, orçamentação que as gerências fazem e preparo o convite pra por na rua pra licitação. Até outro dia... aí a gente vai adquirindo essa experiência, porque isso aí ta... de vez em quando aparece na mídia por causa de corrupção, uma série de coisas, essas licitações. Outro dia eu tava no carro com os meus parentes e alguém falou assim: “Ah, a prefeitura tal pegou a especificação do serviço todinha de uma outra prefeitura”, como se isso fosse uma coisa absurda. Isso não é uma coisa absurda, se é um serviço que a prefeitura está fazendo igual ao do outra, claro que você pegar já um especificação de serviço já pronta, isso é ótimo.
P1 – Já pode pegar a empresa.
R – Você já vai ali o que que o cara redigiu ali, pensou e criou e vai melhorar aquela criação que ele fez, isso não tem nada demais. Até melhorei ali a imagem que eles tavam fazendo da licitação, né, então é isso.
P1 – Só uma curiosidade: quantas licitações, qual a periodicidade, de quanto em quanto tempo tem quantas licitações, como é que isso acontece?
R – Nossa! Nós somos lá na sala, nós somos seis pessoas, seis pessoas e um gerente pra conduzir as licitações aqui da refinaria. Agora, dizer quantidade, é difícil dizer quantidade porque varia do tamanho da especificação, varia do valor do serviço. Não sei dizer, assim, qual a quantidade não, eu sei que rola bastante, a gente não tem sossego. E o negócio é muito burocrático, é muito demorado. O problema dessas licitações que você vê aí fora, é um problema danado por causa da burocracia, é um negócio muito demorado, tem que ter muita elaboração, uma série de coisa. Então o pessoal reclama porque é praticamente uns seus meses pra ficar pronto, do início que começou a fazer, que chegou lá na gente, até estar com tudo concluído. È muito, muito demorado.
P1 – E quais são os tipos de serviços contratados com mais freqüência?
R – Ah, é serviço de manutenção dos equipamentos da refinaria, temos serviços de engenharia também, de obras, a gente faz muita licitação, mas só de valores altos.
P1 – A refinaria, inclusive, está em obras nesse momento.
R – Ta sim, ta sempre em obras, ela ta sempre se renovando, sempre melhorando, toda hora tem alguma coisa pra fazer, toda hora tem alguma coisa escangalhando. Na nossa casa também, toda hora tem uma coisa escangalhando, é claro que os valores na nossa casa não é igual aos valores da refinaria. Aqui é muito sério consertar as coisas, digamos, não pode deixar uma coisa que pode, por exemplo, causar alguma coisa pras pessoas, pro meio ambiente ou pra população. Isso não tem negociação.
P1 – Amália, quais são as principais características da REVAP?
R – Principais características, como assim?
P1 – Pois é, as que você considera principais, no aspecto que você considerar.
R – Características da refinaria?
P1 – Se tivesse que descrevê-la, como você a descreveria?
R – Bom, eu acho que... eu vou falar da REVAP, que deve ser em toda a Petrobras, é esse valor humano que dão as pessoas e as próprias pessoas acabam adquirindo como valor, uma cultura de valorizar o seu... (choro)
P1 – Quer que pare um instante? Tem água aí, tem né?
(pausa)
R – Uma característica muito grande na Petrobras é a valorização do ser humano, de preservar a saúde e aintegridade física da pessoa, né, tanto de contratado quanto de petroleiro, não tem distinção. Um valor muito grande que eu vejo hoje em dia na Petrobras é a preservação do meio-ambiente, né, a parte social também, a Petrobras faz uns trabalhos legais quanto a parte social. E eu vejo que isso atrai muito as pessoas, o petroleiro, né, você pode olhar, aqui às vezes tem petroleiro que participa de serviço voluntário ajudando pessoas, sabe, isso aí traz esse lado humano das pessoas, né, isso traz. Por isso que estou falando, isso se torna um valor também pra pessoa, não só pra Petrobras, é muito legal.
P1 – Falando nisso, falando nessa questão de meio–ambiente e também da questão dos projetos sociais, que a gente sabe que a Petrobras tem muitos, mas você teria algum pra destacar, ou alguma, enfim, alguma circunstância específica pra destacar aqui na região?
R – Aqui na região eles fazem trabalho com as comunidades de fornecer material escolar, às vezes ajuda num trabalho assim, de música, ‘não, vamos ajudar aqui essa escola, que eles querem fazer trabalho de música e com as crianças’, eles fazem o trabalho aqui na região, nesse sentido, de ajudar as pessoas.
P1 – Amália, falando agora mais especificamente da refinaria em si, quais são os produtos, os derivados que ela produz?
R – Os derivados que a refinaria produz? Ah, de cabeça assim, eu não sei. É porque eu não trabalho diretamente nessa área.
P1 – Claro.
R – Eu to mais voltada pra área de licitação. Dizer, assim de pronto, quais os produtos que a refinaria faz eu não sei.
P1 – E pensando também no aspecto contemporâneo, houve alguma alteração, assim, no cotidiano, você que lida com a parte de licitação, no cotidiano do seu trabalho em função da crise do ano passado?
R – Houve, houve sim, houve sim. Chegou até a reduzir um pouco o número de licitações e ela se tornou mais demorada ainda porque a gente tinha um limite de valor que a gente podia fazer pela refinaria. Esse limite foi reduzido, a gente pode fazer dentro daquele limite, mas a gente tem que pedir autorização pra sede, e aí vai pra diretoria lá da Petrobras, e isso se tornou um pouco demorado. Engraçado é que reduziu um pouco o numero de licitações por conta disso.
P1 – E por outro lado, em função das notícias do pré-sal, já é possível sentir alguma alteração no cotidiano de uma unidade como uma refinaria em função do pré-sal?
R – Não, não percebi, a nossa rotina continua a mesma, não interferiu em nada o pré-sal, a gente só... o que acontece é que a gente ouve falar muito do pré-sal. Ontem eu estava até vendo alguma coisa muito rápida falando sobre pré-sal que vinha internamente aqui pra nós, mas assim, dizer que interferiu, mudou alguma coisa na refinaria, não.
P1 – Você falou dessa questão interna, enfim. Internamente houve algum pronunciamento oficial direcionado aos funcionários sobre o pré-sal?
R – Eles fazem, nós temos a intranet, eles lá colocam algumas notas sobre o pré-sal, mas nada assim que diga: ‘nossa, o negócio está rendendo...’
P1 – Que diga respeito ao trabalho.
R – É, ‘ta rendendo muita grana, isso aqui vai ser fantástico’, não, eles estão falando: ‘olha, estamos descobrindo isso aqui, vamos ver o que vai acontecer, quanto vai render pro Brasil isso aqui’, entendeu? Não estão dizendo: ‘ó, isso aqui vai dar muita grana pra Petrobras’, ainda tem muita polêmica por trás disso.
P1 – A gente falou da crise e eu me lembrei de uma coisa: bom, já são vinte anos, e você se lembra de algum momento de crise econômica que o Brasil tenha passado que tenha afetado o cotidiano de trabalho aqui na REVAP?
R – Teve uma época, eu não me lembro direito, mas teve uma época eu acho que foi na época do Collor, que eles queriam demitir pessoas na Petrobras, eu não lembro agora se aconteceu de realmente demitir pessoas na Petrobras, aqui não aconteceu, aqui na refinaria. Foi a única coisa que gerou, assim, um certa expectativa entre as pessoas, ‘será que a Petrobras vai demitir pessoas’, foi uma época. Mas eu não sei se em algum lugar do país aconteceu de demitir pessoas, foi a única época assim.
P1 – Falando sobre isso, você é sindicalizada?
R – Eu fui sindicalizada até aquela greve de 30 dias em 95. Eu fui sindicalizada aquela época, participei da greve de 30 dias e aquilo me deixou tão balanceada que eu acabei saindo do sindicato uns dois anos depois, dois ou três anos. Foi um período que a gente ajudou a pagar um... contribuir com uma verba lá pros demitidos. Depois aquilo lá me deixou tão balanceada que eu acabei saindo do sindicato. O ano passado eu tentei voltar, mandei preencher até a ficha mas o negócio não deslanchou, mas eu tenho intenção de voltar pro sindicato. Foi só aquele momento que me deixou muito balanceada, aquela situação de 31 dias de greve, foi um negócio que balanceou, assim, muita gente, teve gente demitida que foi extremamente desagradável, chocante, chocante pras famílias. Foi uma época, assim, muito difícil.
P1 – Você pode contar um pouco mais sobre essas 30 dias de greve. Porque a gente fala assim: ’30 dias e tudo’, mas o cotidiano desses dias é muito sofrimento, né, você pode contar um pouco? Até sobre as manifestações...
R – Ah, não, é muito, muito angustiante porque ninguém quer perder seu emprego, mas todo mundo quer continuar, naquele momento a gente tinha uma luta e todo mundo tava lá participando da luta, eu vinha todo dia aqui na refinaria, aquilo pra mim foi extremamente estressante. Fiquei 30 dias sem receber o salário, o marido reclamou: ‘cadê o seu dinheiro?’ ‘não tem dinheiro, eles não pagaram, não vão pagar, fiquei 31 dias em greve. Depois a gente voltou, ah, que bom que a gente voltou,eu nem lembro o que era que a gente arrumou com aquilo. Acho que a gente não chegou a arrumar nada, só arrumamos confusão com aquele negócio.
P1 – Mas aí vocês vinham pra cá e faziam...
R – Não, ficava na portaria vendo desenrolar e assim foi durante 31 dias, muito difícil. Tanto é que...
P1 – Houve uma adesão grande da REVAP nessa greve?
R – Eu não sei números, não sei números, dizer assim se houve uma adesão grande, adesão grande tem mais da parte operacional, da parte administrativa não é uma adesão grande, nunca foi. Agora, da parte operacional eu diria que é 99 por cento das pessoas participam.
P1 – Amália, o que que mudou, de um modo geral, o que que mudou na Petrobras desde a sua entrada, que você pode perceber?
R – O que que mudou? Então, isso que eu e falei ainda pouco, essa valorização das pessoas, essa preocupação com o meio-ambiente, né, eu acho que é uma empresa extremamente séria, eu não sei porque que esta tendo essa CPI com relação a tributos. Não com relação a negócio de corrupção, isso aí a própria Petrobras tem um mecanismo de defesa disso que são as auditorias. As auditorias eles são pessoas extremamente treinadas, elas quando tem alguma coisa assim eles pegam, não tem jeito de escapar, quando alguém ta roubando alguma coisa parece que os caras tem um instinto e vai lá, vai lá naquela ferida, né. A Petrobras ela corre atrás disso e a mídia aproveita dessas coisas pra falar de um outro jeito. Tem um jeito de falar as coisas e tem um jeito que você pode falar de outro jeito de um jeito muito ruim. É o que a mídia faz e acho que é isso que vende pra imprensa, mas outro dia deu uma confusão aí de tributos de impostos. A Petrobras nunca sonegou nada, não existe isso, eu falo Petrobras porque somos nós que trabalhamos aqui na Petrobras, nós não temos o menor interesse em sonegar alguma coisa, imagina, entendeu? E ta aí na imprensa falando um monte da Petrobras. Dizer a verdade sobre as coisas não tem problema, dizer que ‘fulano de tal lá na Bacia de Campos roubou, ou lá não sei aonde, né’, eu não vejo nada... isso aí tem que ser realmente posto a limpo, mas dizer que a Petrobras sonegou não tem haver.
P1 – O que é ser petroleira, Amália?
R – Ah, ser petroleira é tão bom, olha, é tão bom trabalhar na Petrobras. Eu já vi muita coisa, já passei por tanta coisa e uma coisa que é preservado é que nunca aconteceu, assim, de atrasar o salário, entendeu? Acho que o salário pra pessoa, você ter aquele compromisso mensal, isso é uma coisa tão importante nas vidas das pessoas, acho que o petroleiro nunca se sentiu, assim, desamparado digamos, de cumprir com seu compromisso. É claro que eles extrapolam nos compromissos, isso é outro assunto, mas de cumprir o seu compromisso e saber que seu salário ta La no final do mês.
P1 – Se você tivesse que contar uma história que é a história emblemática desses anos todos de Petrobras, qual seria essa história?
R – Ah, eu tenho uma bem recente que foi bem engraçada: o meu marido é o mais velho de nove, ele é um chatonildo, ninguém suporta ele, arruma briga com todo mundo dos irmãos, parece que ele se amam só se um arrumar briga com o outro. E quando a refinaria explodiu, no dia seguinte tinha um email lá do meu genro escrevendo: ‘Amalia, eu tenho certeza que você está bem, porque deus seria muito cruel se deixasse o Olavo aí pra nós cuidarmos!’, o nome do meu marido. Foi um negócio muito engraçado que aconteceu. A refinaria explodiu e acharam que tinha morrido todo mundo. Que nada, a refinaria explodiu e não teve morte nenhuma, foi um negócio assim, a explosão foi um negócio tão monstruoso que eu nunca vi aquilo na minha vida. Eu tava no restaurante, o vidro do restaurante fez assim e voltou estilhaçando, foi um negócio assim... as pessoas tudo, assim, atordoadas e acho que teve uns poucos assim, muita feridinha, umas feridinhas muita da mixuruca, foi logo controlado o incêndio, nossa brigada é um negócio fantástico, as pessoas agiram na hora, ninguém saiu correndo. Quem saiu correndo voltou pro posto de serviço, foi um negócio muito interessante aquilo lá, muito importante.
P1 – Isso foi quando?
R – Foi em Outubro de 2003, não tenho certeza o ano, foi num mês de Outubro. E aí tava lá aquela mensagem: ‘eu tenho certeza, porque deus seria muito cruel se deixasse o seu marido para nós cuidarmos’, olha que cara chato!
P1 – Amália, infelizmente a gente está encerrando.
R – Ta bom.
P1 – Mas a última pergunta: o que você achou de participar dando o seu depoimento para o programa Memória Petrobras?
R – Ai, eu achei fantástico porque eu tenho 52 anos e 31 de Petrobras, é muita coisa, muito história. E na vida da gente, 52 anos, 31 anos de empresa, eu já trabalhei dois anos lá fora, muita coisa acontece tanto no trabalho quanto lá fora, então a gente se sente feliz de poder dar esse depoimento.
P1 – Que ótimo, obrigada.
R – Ta, obrigada.
FIM DA ENTREVISTA
Recolher