Meu nome é Alberto Francisco Lazer, nasci no dia 1º de agosto de 1955, que foi a madrugada mais fria do século XX em São Paulo.
Nasci bisneto de um francês com uma austríaca, neto de um alemão com uma malaguenha (espanhola) por parte de pai, e de austro-húngaros com alemães por parte de mãe, e filho de José Lazer e Izolda Dobke.
Posso dizer que nasci na Penha, na rua Padre João, na casa de minha avó, onde meus pais moravam. Bairro este pelo qual sou apaixonado, e costumo dizer que antes de ser paulista sou “penhense”.
Na verdade nasci no Hospital São José do Brás. Mudei, aos 4 anos de idade, para um bairro próximo. Fui alfabetizado pelo meu pai, que durante o trabalho aproveitava para me alfabetizar, já que trabalhava em casa. Eram pespontadores, ou seja, traziam o corte do sapato para costurar, e depois devolviam para a fábrica, que dava o acabamento final.
Aos 6 anos, como não tinha idade para entrar no primeiro ano primário em uma escola pública, fui para uma escola de fundo de quintal, em que em uma mesma classe - na verdade sala de uma casa-, ensinava-se para alunos das 4 séries primárias.
No segundo ano primário fui para uma escola municipal e terminei cursando todo o 1º grau no Externato São Vicente de Paulo, um colégio de freiras que eu odiava. Para prosseguir com os estudos no nível II, o Ginásio na época, tive que enfrentar um vestibulinho. Como as escolas particulares eram mais fracas que as públicas, tive que passar as férias toda estudando, assim ingressei no Colégio Estadual Profº Gabriel Ortiz, onde estudei até o 3º ano colegial. O sonho dos meus pais era que eu fosse médico. Como não tinham condições financeiras para isso, desejavam que eu entrasse na carreira militar, desta forma teríamos condições para tal estudo. Cheguei até mesmo a ter um militar graduado como pistolão, (como eram chamadas as pessoas que faziam indicação para o exército) para ingressar como cadete da aeronáutica. No...
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Meu nome é Alberto Francisco Lazer, nasci no dia 1º de agosto de 1955, que foi a madrugada mais fria do século XX em São Paulo.
Nasci bisneto de um francês com uma austríaca, neto de um alemão com uma malaguenha (espanhola) por parte de pai, e de austro-húngaros com alemães por parte de mãe, e filho de José Lazer e Izolda Dobke.
Posso dizer que nasci na Penha, na rua Padre João, na casa de minha avó, onde meus pais moravam. Bairro este pelo qual sou apaixonado, e costumo dizer que antes de ser paulista sou “penhense”.
Na verdade nasci no Hospital São José do Brás. Mudei, aos 4 anos de idade, para um bairro próximo. Fui alfabetizado pelo meu pai, que durante o trabalho aproveitava para me alfabetizar, já que trabalhava em casa. Eram pespontadores, ou seja, traziam o corte do sapato para costurar, e depois devolviam para a fábrica, que dava o acabamento final.
Aos 6 anos, como não tinha idade para entrar no primeiro ano primário em uma escola pública, fui para uma escola de fundo de quintal, em que em uma mesma classe - na verdade sala de uma casa-, ensinava-se para alunos das 4 séries primárias.
No segundo ano primário fui para uma escola municipal e terminei cursando todo o 1º grau no Externato São Vicente de Paulo, um colégio de freiras que eu odiava. Para prosseguir com os estudos no nível II, o Ginásio na época, tive que enfrentar um vestibulinho. Como as escolas particulares eram mais fracas que as públicas, tive que passar as férias toda estudando, assim ingressei no Colégio Estadual Profº Gabriel Ortiz, onde estudei até o 3º ano colegial. O sonho dos meus pais era que eu fosse médico. Como não tinham condições financeiras para isso, desejavam que eu entrasse na carreira militar, desta forma teríamos condições para tal estudo. Cheguei até mesmo a ter um militar graduado como pistolão, (como eram chamadas as pessoas que faziam indicação para o exército) para ingressar como cadete da aeronáutica. No entanto, estávamos em plena ditadura militar, e eu já estava contagiado por uma influência de esquerda, e não suportaria a carreira militar.
Assim, acabei por fazer o colegial na escola em que estava. Nada de exatas ou biológicas: estava contagiado pela política. Em uma primeira instância, entrei na Universidade de São Paulo, no curso de Letras, pois queria ser tradutor de Grego. Cursei apenas 6 meses e prestei novamente o vestibular. Aí sim, para minha vocação: Sociologia. Entrei novamente na Universidade de São Paulo em 1977, quando explodiu o movimento estudantil liderado pela UNE . Participei de todas as passeatas e manifestações fazendo parte do grupo “ Liberdade e Luta”, um grupo trotskista. Por estar presente mais em reuniões do que em sala de aula, cursei apenas 2 disciplinas no ano. Acabei sendo preso na invasão da PUC em 1977, pelo famigerado Coronel Erasmo Dias. Como ainda não tinha passagem pelo DOPS, fui fichado e fiquei apenas uma noite preso no batalhão Tobias de Águias, na Av. Tiradentes.
Tendo uma infância e adolescência pobres, trabalhei a vida inteira. Desde pequeno ajudava no serviço de pesponto dos meus pais; na adolescência trabalhei em diversas atividades, como auxiliar de escritório, office-boy, almoxarife etc. Nada que desse para seguir uma carreira profissional, apenas para ajudar em casa e pagar os meus estudos. Trabalhei inclusive no pronto socorro de São Miguel Paulista, mas por estar envolvido com o movimento estudantil da Universidade, minha freqüência ao trabalho era irregular, e por isso fui demitido.
Durante o curso de Sociologia, para me manter, comecei a dar aulas de História, primeiro no Colégio Objetivo e depois para cursos supletivos. Ainda durante o tempo em que estava cursando Sociologia, me casei, em 1982, com Rita de Cássia, uma professora de Educação Infantil, que hoje trabalha na EMEI Nenê do Amanhã, na vila Matilde.
Fiz colação de grau em 1985, contando com a presença do meu filho Felipe, então com 2 anos de idade. Neste período, já dava aula em duas ou três escolas de manhã e à noite, cursando a Universidade à tarde. Fui me envolvendo cada vez mais com a carreira do Magistério. No princípio, dava aula com autorização especial da Delegacia de Ensino. Após a exigência de um curso específico de História, fui obrigado a retornar à Universidade para cursar a Licenciatura de História. Cursei durante 3 anos, nos finais de semana, na Universidade de Franca.
A partir daí não havia mais retorno. Nascera uma certa paixão, tanto pela história como pelo o ato de ensinar. Ministrar aulas, para mim, passou a ser uma forma de dar consciência política às massas, o que eu não conseguiria com a Sociologia. Em 1988, durante a governo Jânio Quadros, após concluir o curso de história, que me dava condições legais, ingressei na prefeitura municipal de São Paulo. Por questões políticas, quase fui exonerado pelo secretário Paulo Zing, sendo “salvo” por uma delegada de ensino que conhecia o meu trabalho e interveio à meu favor . Na gestão da prefeita Luiza Erundina, fui convidado para compor a equipe do NAE 10 - antiga delegacia de ensino da região de São Miguel Paulista, que a partir desta gestão passou denominar NAE (Núcleo de Ação Educativa) - como coordenador de atividades culturais, cargo hoje extinto.
Durante esta gestão consegui a minha efetivação no ensino municipal na EMEF Carlos Pasquale no bairro de Itaim Paulista –SP, mas por ser muito longe da Penha, onde morava e ainda moro, me mudei no ano seguinte para a EMEF Juarez Távora. Já na gestão da prefeita Marta Suplicy fui novamente convidado para compor a equipe do NAE 9 na Região de Itaquera, quando fiz o curso de Pedagogia na Universidade Bandeirantes. Com o fim desta gestão me removi para a EMEF Brigadeiro Correia de Mello, onde fiquei por 2 anos; com a extinção do período noturno nesta escola me removi para a EMEF Otávio Mangabeira, acabei me apaixonando pela escola e provavelmente aqui ficarei até a aposentadoria.
Gosto de desenvolver o meu trabalho com alunos adolescentes, aliás, sempre me dei bem com esta faixa etária, tendo um carinho especial e uma certa identificação. O único problema com os alunos adolescentes é a falta de interesse pelos estudos, pouco empenho e a acomodação por terem a certeza que serão aprovados ao final do ano, ainda que não tenham atingido o nível de conhecimento necessário para o ano que estão cursando. De resto são apaixonantes, e de uma forma ou de outra acabam por aproveitar as aulas, além do que, sinto que eles dispensam um carinho especial por mim. A História é sem dúvida uma das minhas paixões, leio tudo que me cai na mão sobre o assunto, assino revistas, assisto documentários, enfim, tudo a respeito do tema. Devo à História o meu caráter ateu, anti-religioso e nada místico, o que divirjo de minha irmã Valéria, uma psicóloga mística, apesar de uma das precursoras na medicina ortomolecular; e devo à Sociologia a condição de análise da história em que me tornei um pesquisador.
A sala de aula é para mim realmente um prazer, entro nela para me divertir, não é um fardo, é uma interação com alunos. O professor é uma espécie de artista atuando, mesmo até como palhaço, tudo vale para passar a mensagem, o conteúdo, ensinar, ensinar para a vida, dar conscientização, e quando isso acontece é altamente gratificante e prazeroso.
(Depoimento enviado em 17 de outubro de 2008)
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